Patrick e eu combinamos de deixar Jullie dormir no quarto de hóspedes, ela ficaria conosco durante o final de semana.

Ela perguntou a mim e a Patrick como e quando ficamos juntos.

– Ele estava noivo de outra,- Eu disse.- mas daí eu fui parar no hospital porque estava com depressão e desmaiando muito e lá ele se declarou. Estamos juntos desde então.

– Muito fofo, mesmo.- Ela disse com os olhos brilhando.- Vocês se lembram de quando a Vick contou ao Patrick que gostava dele?

– Eu lembro…- Patrick disse.

~Flashback do Patrick on~

– Patrick, posso falar com você?- Vick disse.

– Pode.- Respondi.

– Bom, eu… Eu meio que… Eu to gostando de você. Muito.

– Ah… Olha só. Que coisa inesperada.

– É. Promete que nada vai mudar, vamos continuar sendo amigos?

– Prometo. Amigos.

~Flashback of~

– Foi bem constrangedor. Eu sabia que ele não sentia o mesmo.- Fiquei triste lembrando disso. Dizer essas coisas não era legal.

– Mas agora eu sinto, então para com essa cara triste porque senão eu vou chorar.- Patrick disse tirando cuidadosamente o cabelo do meu rosto.

– Ai que fofo! Isso é tão lindo.- Jullie estava nos encarando com uma expressão sonhadora.- Seria muito ruim se eu pedisse pra vocês se beijarem? Quero ver de novo, ainda não acredito que estão juntos!- Nós concordamos.- Mas tem que ser fofo, tipo, vocês se declaram e fazem tudo bem romântico.

– Ta… Vick, eu te amo. Te amo muito mesmo. Você é minha vida, a razão pra minha felicidade e admito com toda a minha sinceridade que sem você não sou nada.- Patrick disse, que fofo. Mas a Jullie é… Caramba! Não que eu esteja reclamando de beijar o Patrick, por que não estou.

– Patrick, eu não tenho mais motivos pra chorar ou pra sofrer. Não com você… Eu te amo.- Ele colocou uma das mãos no meu rosto, acariciando devagar. Jullie estava cada vez mais feliz. Eu segurei sua nuca e nós nos beijamos calmamente até faltar ar.

– É assim que eu gosto!- Jullie disse animada. Realmente, foi o melhor favor que ela já me pediu.

Havia já um tempo que eu não sentia aquele chato desconforto que parece mais com cólica… Realmente fica muito difícil distinguir. Me lembro da primeira vez que aquilo aconteceu.

~Flashback on~

Eu estava bem triste, não comia, não dormia, não fazia nada. Meus pensamentos estavam todos voltados pra ele. Pra como eu queria que isso não tivesse acontecido. Porque aí, teríamos o melhor laço do mundo entre nós. Eu era muito jovem pra ter filhos, verdade, mas eu não escolheria as coisas desse jeito. Aliás se eu pudesse, mudaria toda a minha vida. Literalmente TUDO.

Já eram quase 4h30min a.m e eu não conseguia dormir. Então, senti uma dor mais profunda do que a que senti quando perdi o bebê. Era como se alguém estivesse enfiando um cabo de vassoura no meu estômago, mas não conseguisse perfurar. Eu já estava praticamente gritando quando a Jullie entrou no quarto.

– Vick, o que foi? O que ta acontecendo com você?- Ela perguntou com cara de sono, adentrando no qarto.

– Eu. To. Sentindo. Uma. Dor. Muito. Forte. Aqui.- Disse pausadamente com a mão na região da barriga.

– Calma, vem comigo.- Ela disse e me ajudou a levantar.

Fomos até o hospital e o médico disse que eu precisaria de uma cirurgia. Aproveitamos e já agendamos.

~Flashback of~

– Bom, agora que você já viu o quanto nos amamos…- Patrick disse.

– Nem vem!- A Jullie interrompeu.- Ainda quero saber de uma coisa.

– Não faça isso.- Ele disse com a mão no rosto.

– Ah, tarde demais. Vick e Patrick, como foi?

– O que?- Me fiz de desentendida, mas sabia exatamente do que ela estava falando.

– A primeira vez de vocês ué!- Ela disse como se fosse óbvio.- Vocês já tinham feito aquilo antes?

– Anh… Não.- Patrick corou, ele ficava sempre muito vermelho quanto tocavam nesse assunto.

– E foi legal? Vocês gostaram?- Patrick parecia que iria explodir e eu olhei pra Jullie com aquela cara de peixe morto (segundo ela).

– S- sim… Er, eu pelo menos.- Patrick respondeu.

– Que bom. Agora deixa eu te perguntar, o que você foi fazer na casa da Vick naquele dia?

– Eu fui tentar reconquistar ela.

– Hum, e pelo jeito conseguiu.- Jullie disse num tom malicioso. Ela começou a rir com o tom de vermelho na cara do Patrick.- Calma, não precisa ficar com vergonha. Todos nós passamos por isso um dia. Vocês devem passar por isso todo dia.

– Jullie!- Repreendi

– Brincadeira. Ei Patrick posso falar com você?

– Pode.- Ele respondeu indo até a cozinha com ele, me preocupei.

Será que era agora que a Jullie contava tudo ao Patrick? Que merda. Eles voltaram depois de um tempo e Patrick me puxou até o quarto.

– Você tava pensando no que? Ficou maluca?- Ele disse quando chegamos lá.

– Ela contou não contou?- Mais afirmei do que perguntei

– Contou. Você fez isso… Por que?

– Porque eu não conseguia mais sofrer Patrick. Era muita coisa pra mim!

– Mas precisava se cortar por isso?

– Você não entende como é esse tipo de dor.

– Você acha? Então o fato de eu ter tentado me matar não é entender esse tipo de dor? Eu nunca perdi um filho?

– Você tentou se matar? Como assim você tentou se matar?

– Logo depois que você me contou que tinha perdido o bebê, eu fiquei arrasado.

~Flashback do Patrick on~

Peguei um pote cheio de comprimidos e comecei a engoli-los. Engolia um por um, bem rápido. Quando Dylan chegou e tirou tudo da minha mão./

– Que merda você ta fazendo cara?- Ele perguntou.

– Não vou aguentar essa dor desgraçada no meu coração. Perdi a mulher que amo e agora perdi um filho. Como você acha que eu me sinto?

– Nada que te faça cometer uma besteira, jumento! Você não pode ficar engolindo um comprimido pra cada um dos seus problemas. Vem, precisamos ir pro hospital, rápido!

– Não!

– Você não tem escolha.- Ele me levou a marra pro hospital.

~Flashback of~

– Patrick, você… Você tentou se matar.

– Não queria mais sofrer.

– Eu sinto muito.

– Eu também.

Nos abraçamos. Eu pude perceber que ele tentava de verdade não chorar na minha frente. Acho que era pra não parecer fraco ou sei lá… Mas me doía muito vê-lo assim.

– Me desculpa Vick, eu não devia ter feito aposta nenhuma. Não devia ter ficado noivo de alguém que não amava, tudo acaba sempre sendo minha culpa. Eu devia ter lembrado de usar o correto naquele dia, mas a felicidade me tomou por completo. Tudo culpa minha…

– Patrick para. Nada disso foi culpa sua. Não foi culpa sua eu ter me apaixonado por você, eu escolhi isso. E não me arrependo, apesar de tudo, ainda tenho você.

– Me desculpa, eu tenho que parar de maltratar quem eu amo.

– Para de se culpar, para.- Eu o beijei, na tentativa de consola-lo mas outra coisa aconteceu na verdade. Aquilo que todos já devem saber o que é.

Depois de um tempo nos vestimos e voltamos pra sala. Jullie estava sentada no sofá.

– O que vocês estavam fazendo? Por que demoraram tanto?- Jullie perguntou. Patrick ficou muito vermelho, ele corava com muita facilidade. Eu coçei a cabeça e a Jullie pareceu finalmente entender.- Ah… E isso lá é hora de fazer um troço desses? Mais que coisa, é o amor né. Nossa.

Patrick virou de costas, a vergonha dele era muita. O cara estava querendo chorar de tanta vergonha.

– Ei cara calma.- Jullie disse.- Isso é normal, não é como se o FBI fosse te prender toda vez que você…

– Jullie!- A interrompi.- Cala a boca.

– Ok, ok. Só to dizendo.

Fui até Patrick.

– Patrick? Fica calmo, ninguém vai matar você por isso. Por que você tem tanta vergonha?

– Não é isso… É só que toda vez que falam desse tipo de coisa eu me lembro do colegial e de como os moleques ficaram me enchendo o saco depois que eu te beijei na festa junina. Aí sabe como é né, trauma.

~Flashback on~

– Aê, olha o beijoqueiro!

– Quer mais? Bitoquinha!

– Canta pra gente ouvir Elvis?

~Flashback of~

– Eles era idiotas.

– Eu também.

– Preciso negar?

– Não.

Jullie, Patrick e eu decidimos uma coisa: Sem segredos sobre o passado. E como a Jullie estava lá na maioria das vezes, ela jurou nos contar tudo que precisávamos saber.

– Ta bom… Por onde eu começo?- Ela perguntou.

– Ahn, você devia contar pra Vick sobre como eu fiquei depois que ela "terminou" comigo.- Patrick disse. Eu nem cheguei a terminar realmente com ele, ao pé da letra, nunca paramos de namorar.

– Ok.

~Flashback da Jullie on~

– Patrick? Você ta bem?- Disse.

– Eu to ótimo.- Ele respondeu.

– Tem certeza?/

– Bem ou não, não vou chorar na sua frente.

– Para com isso! Você chorou na frente do Dylan.

– Mas o Dylan é meu melhor amigo.

– E eu sou menina! Olha, você tem que por pra fora senão vai ser muito pior.

– NÃO LIGO!

– Nossa, ta bom.- Saí de perto e ele me puxou pelo braço.

– Desculpa.- Ele estava se segurando pra não chorar.

– Tudo bem, pode chorar. Eu sei que você quer.

– Eu quero esquecer a Vick, mas eu não consigo!

– Você não precisa esquecer dela. Ela foi o primeiro amor da sua vida.

– Primeira garota que beijei.

– Oi? Como assim "primeira garota que beijei"? Que história é essa?

– Noite do baile, queria que ela fosse a primeira garota que eu beijaria desde que comecei a gostar dela. Coragem era o que faltava, mas ela tava tão linda naquela noite. Eu não resisti.- Uma lágrima insistia em escorrer.

– Patrick para de segurar e chora logo!

– Você realmente quer me ver chorar.

– Não é nada disso! Você prefere chorar aqui na minha frente ou na frente da Vick quando for reconquistar ela?

– Reconquistar ela?

– É. Domingo a mãe dela vai sair com a minha mãe e a da Gaby.

– Pensei que ela e a Gaby fossem irmãs.

– Por parte de pai. Enfim, ela vai sair. Só vai voltar no dia seguinte, a mãe da Vick vai mudar pra outro apartamento e a Vick vai morar sozinha. Isso te traz muitas oportunidades.

– Mas a Vick vai fazer faculdade. Daqui a muito pouco tempo.

– Ah… Patrick a faculdade é em New York.

– O que? Como assim? Ela vai sair da cidade? Que merda é essa?- Aí ele finalmente começou a chorar.

– Finalmente chorando. Ela vai seguir o sonho dela, e você tem a chance de ser a coisa que vai deixar mais lembranças na nova vida dela, se apresse.

– Ela… Vai se mudar pra outra cidade? Me deixar de novo? Não…

– Shhh.- Interrompi.- Vai ficar tudo bem. Ela ainda te ama, eu sei que ama.

Ele ficou lá, chorando e chorando. Até ficar com a cara roxa e inchada. Nunca tinha o visto assim antes, me preocupou.

~Flashback da Jullie of~

Encarei Patrick. Ele deu um sorrisinho fraco de canto.

– Patrick…- Disse.- Você sofreu tanto assim por mim? Eu…

– É. Sofreu. Isso que eu contei não é nem metade do que ele sofreu por sua causa.- Jullie disse.- Foi também esse o dia que contei o destino da sua faculdade pra ele. Acho que você percebeu.

– Percebi.- Eu estava encarando Patrick. Ele parecia ficar triste só com a lembrança.

– Eu já volto.- Patrick se levantou.

– Vick você deveria ir com ele.- Jullie aconselhou.

Eu fui.

Abri devagar a porta do banheiro, Patrick estava sentado no chão, com a cabeça encostada na parede, de olhos vermelhos e ameaçando chorar.

– Você não é a única que cansou de chorar.- Ele disse sem se mover.

– Eu sei. Desculpa. Você não é o único culpado.

– De certa forma sou sim.

– Você não vai tentar se matar de novo, vai?

– Não. Nunca faria isso com você, preciso de você.

– Que bom, porque eu também preciso de você. Vamos voltar pra sala, tem ainda muita coisa que eu quero saber.

Voltamos e quem estava chorando era a Jullie.

– Jullie o que foi?- Eu disse correndo até ela.

– Desculpa Vick!- Ela disse.

– Pelo que?

– Eu beijei o Patrick!

– Como é?