A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 2
Capítulo 2, Horn of Plenty




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No telão gigantesco a frente da mansão, imagens de um homem de cabelos negros e fios grisalhos e um fino bigode bem aparado faz a multidão de moradores da Capital explodirem em palmas e berros de alegria. Sou eu quem está naquele telão. A rosa branca está atrelada à lapela do meu paletó. Aceno com um sorriso forçado e me preparo para fazer um discurso na sacada da mansão. Antes mesmo que eu possa dizer qualquer coisa, um gosto amargo invade minha boca e me faz salivar imediatamente. Eu apenas suspiro enquanto rostos ansiosos olham na minha direção.

Sangue. Acontece muito frequentemente agora, mas em breve irá melhorar. As feridas são muito recentes e eu imagino que em breve estarão cicatrizadas, com algum tratamento com um antídoto eficaz. Assim espero. Sem opção, eu engulo meu próprio sangue amargo e ele desliza pela minha garganta. Esse é o preço que devo pagar por eliminar meus inimigos. Ignoro o gosto ruim e abro minha boca.

_ Meus amigos, cidadãos de Panem. Me apresento a vocês nesta noite, como o presidente que sobreviveu a um atentado. O presidente que se recuperou e derrubou o seu conspirador. O presidente que mesmo depois de beber de um veneno letal, está vivo e forte, diante de vocês. Como representante de Panem, eu anuncio que não pereceremos facilmente. A Capital está mais forte do que nunca, unida sob a bandeira desta nação para derrubar toda e qualquer ameaça.

Uma explosão de aplausos acontece abaixo da sacada. Vejo homens e mulheres, emocionados, enxugando as lágrimas que mancham seus rostos abarrotados de maquiagem. Eles acreditam tão cegamente em minhas palavras que eu poderia cuspir meu sangue amargo sobre eles e ainda assim estariam satisfeitos. Permito uma pausa no discurso para que eles se recuperem das minhas impactantes palavras e também para que eu possa limpar minha boca. Outro suspiro e sinto novamente o líquido amargo descer lentamente para meu estômago.

_ Nossos inimigos são aqueles que se opõem à liberdade de Panem. São aqueles que, em dias negros, ameaçaram a nossa sobrevivência.

Imagens de uma grande área urbana em ruínas aparece no telão. Há cinzas e matéria escura em destroços espalhados por todos os lados. São imagens do Distrito 13, depois de sua suposta aniquilação.

_ Mas nós não permitiremos que Panem caia em desgraça outra vez. Cada um de nós deverá lutar por sua liberdade e sobrevivência, como fazem todos os anos, os jovens que batalham por suas vidas nos Jogos Vorazes. Juntos, construiremos uma verdadeira nação unida e honrada.

Mais aplausos. Fogos explodem no céu e desenham o brasão de Panem sobre nossas cabeças. O hino nacional começa a tocar e os cidadãos ridículos da Capital soluçam tomados pela energia que minhas palavras emitem. Estou sorrindo, com sinceridade agora. Talvez porque obtive sucesso em conduzir as mentes vazias de milhares de pessoas a acreditar que sobrevivi porque Panem me deu forças. Ou porque acho engraçado o modo como as pessoas depositam sua fé em meus discursos. O fato é que agora, a ordem está restabelecida. Meus inimigos em potencial foram eliminados. E eu continuo sendo o soberano.

Estou de volta ao interior da mansão.

_ As pessoas estão comentando sobre a sua rosa, senhor presidente._ fala um rapaz baixo que assim como eu, não aderiu à moda extravagante da Capital.

_ Eu esperava inspirá-los desta forma. Esta flor é o símbolo do poder de Panem, meu rapaz._ eu digo a ele.

_ As pessoas farão disso uma moda._ ele continua, tomando um gole de uma bebida espumante.

Algo estranho acontece. O olhar daquele rapaz e até mesmo o sorriso parecem suspeitos. Eu troco mais algumas palavras com ele, apanho uma taça de espumante e tomo o líquido. A bebida faz as feridas em minha boca formigarem, mas o perfume da rosa branca impede que eu sinta a dor lancinante. Memorizo seu rosto, sua aparência e lembro a mim mesmo de investigá-lo depois.

O hino ainda é entoado pela multidão lá fora. Eu cantarolo junto a eles, fazendo o espumante em minha taça rodopiar como um redemoinho. Então, caminho sozinho pelos corredores sem me importar com as festividades. Tolice. Eles nem mesmo sabem pelo que festejam.

Dias, meses e anos. Se passam mais rapidamente do que eu poderia prever. Já faz algum tempo desde que eu senti ameaça em alguém. Não existe poder maior do que o poder da rosa em minha lapela. Estou tão consciente disso que a mantenho próxima de mim, me certificando de que é minha aliada. Minha guarda. Minha defesa. Meus inimigos terão de enfrentá-la, se me confrontarem. A minha rosa branca é o inimigo mais terrível que existe. Ela é meu poder, minha força. Esta rosa, branca como a neve, sou eu.


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