A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 17
Capítulo 16, Sob tensão




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O exército de auxiliares da Capital está trabalhando incansavelmente no curto propos intruso e ameaçador para descobrir qual a sua origem. Em algumas horas, já temos muitas informações, mas nenhuma delas nos ajuda a descobrir quem pode ter produzido tal ameaça. Werk Jones me explica tudo o que sabe até agora.

_ Chama-se Projeção Perpendicular, senhor presidente. É quando duas linhas de sinais holográficos se encontram. A primeira projeção é chamada de Matriz, sendo ela a original, ou seja, o propos da Capital. A segunda projeção é Linha Intrusa. É inserida dentro da projeção original em um determinado ponto e é nesse ponto que elas se encontram. O ponto de encontro das linhas provoca uma breve interferência em que a Matriz desaparece e dá lugar para a Linha Intrusa, dura apenas um segundo.

_ E o que significa?_ pergunto sem despregar os olhos do telão e com os lábios ainda manchados de sangue.

_ Significa que quem quer que tenha feito isso, é alguém muito inteligente, senhor, e não quer ser descoberto. A Linha Intrusa é completamente indetectável, é como uma linha fantasma. Não acho que vamos descobrir quem a criou e de onde vem, mas podemos impedir as interferências, agora.

_ Mas o televisor do meu gabinete se iniciou sozinho._ digo com uma voz trêmula, mas tento parecer mais firme._ O propos da Capital apareceu, chiou e depois sumiu.

_ Nós sabemos, mas nenhum de nós sabe explicar porque isso aconteceu, senhor. Nenhuma outra casa em toda Panem recebeu a ordem do dispositivo automático dos avisos da Capital. Apenas o seu televisor recebeu esse vídeo, senhor. E quem quer que o tenha feito, tem o controle de todos os dispositivos eletrônicos da mansão agora.

_ Se nenhum de vocês sabe explicar como aconteceu, é melhor que sejam todos demitidos._ falo furiosamente._ A Capital é a cidade da tecnologia e vocês me dizem que algum qualquer por aí conseguiu fazer minha TV ligar sozinha e projetou isso para mim?

Eu aponto para o mockingjay, que ainda brilha ameaçadoramente no telão. Jones agita a cabeça negativamente.

_ Lamento senhor. Vamos continuar trabalhando no propos para descobrir alguma coisa. Ah.
Ele hesita e olha para mim com uma sutil expressão de assombro.

_ Ahm, como foi que o senhor descobriu que tinha algo de errado? A imagem só dura um segundo e mesmo assim, não é nítida por causa da estática.

_ Eu sou o presidente de Panem. Sempre sei quando há algo errado em qualquer coisa.

Eu saio da sala, marchando para fora com passos firmes e decididos. Quem olha para mim, enxerga um sólido e invulnerável presidente, mas não é a verdade. Eu estou mergulhando no pânico. Minhas juntas doem, pois estou velho. Aflito com o que acabo de ver. Como a Capital está vulnerável, mesmo que não pareça. Há rebeldes em algum lugar, rindo de mim, por que estou apavorado com um mero vídeo de doze segundos e nele está estampado o símbolo de Everdeen. O símbolo da rebelião.

Ainda assim, insisto em atuar para todos. Não posso parecer afetado para ninguém, nem mesmo para mim, porque ficaria envergonhado. Molho meus lábios, fazendo desaparecer as marcas de sangue, mantendo meu olhar firme. Mas estou furioso, algo dentro de mim entrou em colapso e sinto vontade de quebrar tudo o que vejo. Eu já estava assim, um pouco mais cedo, quando agredi aquela ridícula organizadora de eventos, mas há algo maior, agora. Um desejo profundo e insano de assassinar com minhas próprias mãos. Quem? Não faço ideia.

Eu pretendo descansar, então não volto ao meu gabinete. Passo pelo saguão, subo as escadas e viro para o grande corredor, do lado leste da mansão, onde está o meu quarto. Assim que o alcanço, bato a porta com toda a força e começo a destruir tudo em meu caminho. Abajures, espelhos, objetos decorativos. Até mesmo a foto da minha neta vai para o chão. E na verdade, pouco me importa que ela exista. Quase não a vejo e é assim que eu prefiro...por que é estranho o modo como ela me lembra Katniss Everdeen.

Depois de transformar grande parte dos objetos em cacos, me rendo ao cansaço e me estiro em minha cama, olhando para o teto de dossel vermelho e dourado. Ofego baixinho, com mil pensamentos diferentes, vozes e imagens que me deixam confuso e amedrontado. Me pergunto o que aconteceu comigo. Os anos se passaram, o tempo abriu sua maldosa boca e levou a minha habilidade de contornar os problemas e a firmeza que eu tive quando era jovem. O que resta de Coriolanus Snow?

Sou obrigado a suspirar profundamente e torno a fazê-lo muitas outras vezes. Deve ser engraçado o modo como as pessoas me veem. Para uns, sou um bom presidente, sorridente e bondoso, que passa a vida sentado no cadeirão do gabinete, dando ordens e assinando papéis. Para outros, um homem vil e perigoso, que comanda assassinatos e conspirações e incute o medo no país enquanto transforma Panem numa ditadura repressiva. Me pergunto o que pensariam as pessoas, se me vissem estirado agora em minha cama, arfando entre os destroços de coisas que eu destruí em um momento de crise.

"Ora, vamos Snow, você precisa se recuperar disso", digo a mim mesmo. E solto uma gargalhada.

Mesmo que tenham mil propos preparados com ameaças silenciosas, os rebeldes não vão vencer. Sua heroína, como todos bem sabem, está vindo para os braços da morte. Que poderão fazer? O que acontece depois que o sangue não só de Everdeen, mas também das outras pessoas mais populares do país mancharem a terra da Arena? Há ameaça maior do que esta?

Agora parece tolice que eu tenha caído a tal ponto de ter uma crise. Era isso o que os rebeldes queriam, eu sei. Que eu entrasse em pânico, como provavelmente aconteceu com Katniss depois do anúncio do Massacre Quaternário. Eu experimentei do medo e da aflição que ela sentiu. Agora isso parece uma piada de mau gosto, mas ainda assim eu estou rindo. Aqui está alguém que eles não vão derrubar tão fácil. Eu me recupero e saio do quarto, para ordenar a execução de Juvia Strauss.

Não me importo que ela não seja uma conspiradora. Não me importo que ela tenha dito aquelas palavras sem pensar. Mas ela deve morrer assim como qualquer outra pessoa que concordar com a revolução. Eu prefiro que esse país inteiro tenha o sangue derramado à permitir que desafiem o poder da Capital. O poder de Coriolanus Snow.

Nas próximas horas, recebo mais notícias do vídeo preparado. Não havia uma mensagem oculta apenas no vídeo, mas também no hino de Panem que toca no decorrer. Em um determinado ponto, quatro notas musicais diferentes são acrescentadas quase imperceptivelmente. Eu me lembro dele. É o mesmo som que a garota Rue, do 11, destinou a ser usado como código entre ela e Katniss Everdeen, na última edição dos Jogos. É o mesmo som que muitos rebeldes tem cantado em coro, enquanto são torturados e mortos pelos pacificadores, nos relatórios em vídeo.

Enquanto isso, alguns vencedores dos Jogos Vorazes estão sendo trazidos para a Capital, para enfrentarem o Massacre Quaternário. O que me tranquiliza é que Katniss está entre eles, mergulhada numa névoa densa de desespero. Não há muita esperança. Nunca houve. É o que ela compreendeu. E com sua morte, milhares de outras pessoas também compreenderão.


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