A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 11
Capítulo 10, Não




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A sala de chá tornou-se um retiro para mim. Eu a visito diariamente e às vezes durante a noite. Estou mais calmo e transmito tranquilidade para todos os que me cercam. Ela está empoeirada, exatamente como eu a encontrei, mas não me importo. Quero que ela esteja assim, sempre. Uma de minhas auxiliares se oferece para cuidar do cômodo e eu a corto imediatamente.

_ Qualquer um que pisar naquela sala além de mim será imediatamente condenado.

Ela engole em seco e vai embora, com os olhos arregalados. Foi o comportamento mais agressivo que tenho manifestado durante esses dias. Eu sei que um novo conflito pode acontecer imediatamente, mas quanto a isso...sei que meus auxiliares estão trabalhando para que não aconteça.

Não visito meu gabinete há dias. Estou tentando fugir dessa rotina. Prefiro ler livros na poltrona da Sala de Chá. Ah, sim. Agora eu mesmo faço meu chá e levo até a sala. A Capital sente que eu estou no controle porque estou recuperando a minha estabilidade. Lá fora também, apesar dos levantes, as coisas retornam lentamente aos seus lugares. A vigilância sobre os distritos está sendo dobrada, novos recrutamentos, atualização de armamentos...

Enquanto isso, Katniss se aproxima da Capital. Em alguns dias ela estará aqui para o último dia do Tour da Vitória. Quanto ao nosso combinado...eu não sei. Ela está tentando desesperadamente fazer parecer que está morrendo de amores pelo rapaz Mellark, mas muitos não se convenceram. Eu só percebo a gravidade real disso quando decido finalmente visitar o gabinete presidencial.

É noite e estou caminhando para o meu quarto quando ouço o televisor do gabinete ressoar o hino de Panem. Empurro a porta, me perguntando quem estaria ali e me deparo com Plutarco Heavensbee. Ele assiste um soldado que faz um breve resumo dos últimos levantes distritais. Quando ele me vê, suspira de modo que eu percebo o quanto ele está cansado.

_ Está acontecendo, senhor presidente._ me diz.

_ Eu sei._ entro na sala também e coloco a bandeja com o bule vazio sobre a mesa. De repente estamos sentados os dois, assistindo imagens de aerobarcos sobrevoando os distritos e descendo soldados em escadas de corda.

_ Acha que ela vai conseguir? Calar essa multidão?_ ele me pergunta hesitante.

_ Ela está dando o seu melhor._ não minto quando digo isso.

Ele compreende isso como um "não" e volta os olhos para a tela. Volto meu pensamento para os revolucionários. Eles devem me odiar tanto. Provavelmente imaginam que sou eu quem está comandando essa repressão sobre os distritos, mas na verdade, não estou movendo uma palha. Meus auxiliares estão cuidando disso tudo enquanto eu tomo chá e leio na minha sala particular. Ninguém aqui na Capital me critica por isso. Pensam que eu devo ser deixado em paz já que sou um velho moribundo. Não me agrada que pensem isso de mim e eu decido que é hora de retomar o controle.

_ Ela chega em dois dias, senhor.

_ Ah, eu sei, Plutarco. Estaremos preparados para recebê-la.

Ele hesita e se despede com um aceno formal. Depois me deixa só na sala escura, com aquela luz pálida e oscilante do televisor projetando sombras irregulares nas paredes.

Nos dois dias que se seguem eu não visito a sala de chá. Estou recuperando o tempo que perdi, acompanhando as redações a respeito das revoltas. Não há muitas novidades sobre isso, mas devo ficar atento. Katniss está prestes a chegar. Chegará a hora em que eu devo encará-la novamente, diante da multidão. E quando acontecer, eu espero que ela sinta o que está por vir.

O trem chega e ela é muito bem recebida. Há cerimônias formais, festas e reuniões entre admiradores do casal. À noite ela vai ao ar, no show de Caesar Flickerman. E é nesse tempo que nos veremos novamente. O que se segue é tão patético e desesperado que eu desejo rir. Estou estou assistindo o show quando Peeta se joga de joelhos aos pés de Katniss.

_ ...poderá preencher o vazio dentro de mim. Você quer se casar comigo?

_ Oh, Peeta, querido. É claro que eu aceito!

A multidão explode de alegria. Nesse momento eu estou indo até eles. Cuido para estampar o melhor sorriso que posso produzir e meus passos me conduzem até o casal. Ambos estão radiantes, felizes demais, mas eu sei que é tudo um show. E eles também sabem. Nós estamos nos encarando, abraçando, apertando mãos. Beijo o rosto de Katniss, não por afeição é claro, mas porque quero que ela sinta a rosa branca pressionada entre nossos corpos.

Ela me encara. Está sorrindo, mas clama desesperadamente pela minha resposta. Vejo no seu olhar a pergunta que a queima por dentro. E tudo o que eu faço é acenar com a cabeça negativamente, o que faz com que seu sorriso murche um pouco. Mas ela permanece decidida a manter o show e continua forçando lágrimas de emoção a pingarem dos olhos.

Não, Katniss você não fez o suficiente. Pior, você acabou com a única chance que tinha de se salvar. É a hora em que começo a pensar o que farei a respeito. E ela, eu observo até que a entrevista acabe, também está pensativa. Provavelmente se perguntando de que outro modo estúpido ela pode tentar permanecer viva.


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