“Elas sentem pena de você. Sua doença não ajuda a ninguém, só atrapalha a vida dos outros, principalmente Santana. Ela não quer estar ao seu lado, ela quer seguir em frente, beijar garotas normais, como Andrea.”

– Não... – murmurei, franzindo minha testa.

“Andrea é linda! Elas estão juntas sempre, rindo sempre, e andam no mesmo carro. Assim como toda garota normal, Santana namora uma garota normal. Você não é normal. Você é doente.”

­– Não...

– O que disse, querida? – mamãe perguntou, sussurrando.

“Veja como ela olha para você. Veja como ela tem dó nos olhos, por você ser doente. Acha mesmo que Santana sente algo a mais do que dó? Pena? É assim que ela olha para você, como todos os outros à sua volta. Olhe! Santana não é a única!”

Desviei meu olhar por toda a sala, alguns olhavam para mim, parecendo curiosos.

– Não. – disse um pouco mais alto, chamando a atenção de alguns.

– Rachel, algum problema? – a professora perguntou.

“Olhe, você atrapalhou a aula. Agora todos sabem que você é a culpada, que você não sabe manter sua boca fechada por um segundo, que você quer atenção o tempo inteiro.”

– Rachel... – ouvi a voz de Santana atrás.

– Não! – gritei, me levantando.

Rapidamente corri pelos corredores, procurando por um lugar vazio.

“Não adianta correr, Rachel! Isso nunca irá mudar! Você nunca deixará de ser doente! DOENTE!”

Tropecei em algo no campo de futebol, caí de bruços no chão, escondi meu rosto na grama e comecei a chorar, sentindo minha cabeça doer, junto com meus joelhos.

– Não! – gritei o mais alto que pude.

“Não chore, Rachel. Chorar só irá melhorar tudo.”

– Rachel! – ouvi a voz de longe.

“Levante seu rosto, olhe para ela. Olhe! Ela tem pena nos olhos, quer ver seu sofrimento, rir dele quando estiver com Andrea. Quinn e Brittany também rirão disso. Todas as suas amigas, rirão de você.”

Me sentei na grama e fechei meus olhos, não querendo olhar para Santana, enquanto a mesma corria em minha direção.

– Você está bem, Rachel?

Percebi que ela estava mais próxima, e que abaixava em minha frente.

– Não... – murmurei, escondendo meu rosto em meus joelhos.

– Olhe para mim, querida. Eu estou aqui.

“Olhe, Rachel! Ela quer olhar par seu rosto! Quer ver você sofrer.”

– Não.

– Por favor, Rachel. Faça isso por mim...

– Não! – gritei, me arrastando para trás, ao sentir sua mão tocar em meu braço. – Não, não, não, não, não!

– Eu não quero lhe machucar. Eu não irei lhe machucar, apenas me deixe cuidar de você.

“Acredite nela, Rachel. Deixe ela abraçar você, assim você a verá queimar. Você causa isso nas pessoas, quando lhe tocam. Você a queimará até o último minuto de sua vida!”

– Se afaste dela! – ouvi mamãe gritar. – Santana Lopez!

– Rachel, me ouça... – ela sussurrou, se aproximando. – Não quero ver você sofrer assim.

“Hahaha! Ouça o que ela tem a dizer, Rachel. Deixe sua voz ser gastada à toa. Deixe sua pele queimar!”

– Santana! – mamãe gritou, já próximo a nós duas. – Saia de perto da minha filha!

– Cale a boca, Shelby! Você vai assustar ela!

– Não ouse mandar eu me calar, garotinha insolente! Não lhe dei, e nunca lhe darei, o direito de gritar comigo!

– Cale sua maldita boca! – Santana gritou mais alto, se levantando. – Estou tentando cuidar de Rachel!

– Cuidar? – mamãe deu uma risada irônica, fazendo eu me arrepiar. – Você só faz da vida dela um inferno!

“Escute isso! Briga! Me orgulho de você, por causar todas essas coisas boas nas pessoas. Levante seu rosto e veja isso! Uma de minhas melhores cenas!”

Levantei um pouco meu rosto e vi Santana de frente com a mamãe, ambas bufando de raiva.

– Suma da vida da minha filha, ou terei que levar isso à justiça. – mamãe murmurou.

– Leve. – Santana cruzou os braços. – Faça o que quiser fazer, mas nunca me afastará de Rachel.

– É o que iremos ver.

“Isso está ficando incrível! Elas se odeiam tanto! Posso ver as faíscas saírem de seus olhos. Consegue ver, Rachel? Consegue sentir? Mostre à elas o que você pensa. Faça o que você quiser fazer, mas mostre à elas que você está aí. Mostre que você é doente, e precisa de atenção.”

– Você... – Santana começou, mas eu a interrompi com meu grito.

Eu podia sentir minha garganta arder com o som rouco e esganado sair de minha boca, podia sentir os olhos em mim, e podia sentir as lágrimas saindo mais fortes de meus olhos.

– Rachel! – mamãe gritou, me abraçando. – Viu o que você fez?

– Eu? – Santana gritou mais alto. – Você quem começou a gritar aqui!

– Saia daqui, Santana!

“Isso não termina! Continue, Rachel. Continue porque eu quero ver mais!”

Empurrei mamãe com força, me levantei e corri novamente, sentindo minhas pernas tremerem. Eu não sabia para onde correr, nem o que fazer. Corri para debaixo das arquibancadas, me apoiei na parede dura e rosnei, querendo afastar tudo de mim.

“Vamos, pequena bomba! Exploda! Destrua tudo que estiver por perto! Faça todos sofrerem, como você sempre fez!”

Cravei minhas unhas na parede, fechei meus olhos com força e bati minha testa no cimento duro, sentindo a mesma doer.

– Pare... – murmurei.

Bati minha testa mais algumas vezes, enquanto ouvia a risada divertida. Eu podia sentir meu corpo tremer forte, enquanto minha cabeça doía. Rapidamente, dois braços me envolveram, fazendo meu corpo se afastar da parede.

– Pare com isso... – Santana sussurrou em meu ouvido. – Eu prometo não gritar mais.

“Sinta como é bom um abraço. Pena que isso a queimará, eternamente. Deixe-a te tocar.”

Me debati um pouco, querendo afastar Santana de mim, mas ela não me soltava, e continuava a sussurrar coisas em meu ouvido.

“O que pensa que está fazendo? Não desista! Não deixe ela vencer! Santana não pode vencer agora!”

Senti meu corpo se acalmar, Santana parou de sussurrar coisas, mas ainda me abraçava, parecendo querer me proteger de algo. Abri meus olhos lentamente e respirei fundo, vendo a pequena mancha vermelha na parede.

– Está tudo bem. – Santana disse, tirando a força de seu abraço. – Agora passou...

Lentamente ela começou a se afastar, me virei e a vi sorrir, mesmo que com os olhos cheios de lágrimas.

– Você está chorando? – sussurrei, vendo uma lágrima cair em seu rosto.

– Isso não... – ela secou a lágrima, mas outra caiu. – Como você está?

– Com dor.

Ela sorriu e aproximou sua mão da minha testa, mas eu me afastei.

– Você precisa ir para a enfermaria.

– Não.

– Mas Rachel...

– Eu não quero.

Santana suspirou, segurou uma de minhas mãos e se aproximou.

– Suas unhas...

Puxei minhas mãos e as escondi atrás do meu corpo, Santana olhou para mim, suspirou novamente e olhou para minha boca, parecendo pensativa. Seu rosto se aproximou do meu, olhei para seus lábios e molhei os meus com minha língua.

– Você sabia que Quinn está brava com Britt? – perguntei, repentinamente.

– Sim. – ela sussurrou, se aproximando mais.

– Acho que Quinn gosta da Britt como gosta do Puck.

Seus lábios roçaram os meus lentamente, fechei meus olhos e esqueci o mundo, sentindo os lábios de Santana tocarem os meus totalmente. Quando senti seus lábios se abrindo, achei que ela estaria terminando o beijo, então comecei a me afastar, mas senti uma de suas mãos em meu pescoço e a outra em minha cintura, logo seus lábios voltaram aos meus, enquanto sua língua entrava em minha boca. Pude sentir o gosto de sua saliva, sua língua delicada tocava a minha, enquanto seus lábios sugavam os meus. Afastei meu rosto do seu rapidamente, com os olhos arregalados, me joguei na parede e vi seu rosto empalidecer.

– Rachel, e-eu... – ela sussurrou, dando um passo para trás. – Me desculpe. Devo estar louca por pensar que você iria gostar e... e-eu deveria voltar para a aula e-e...

De repente ela correu, toquei minha boca com minha mão e senti minha língua latejar, parecendo querer o toque novamente.

“Eu disse que você a queimaria, e agora você está queimando por dentro. Me ouça da próxima vez, Rachel. Eu sei o que é certo para você.”