Abri meu armário rapidamente, peguei o livro da primeira aula e ouvi alguns múrmuros. Ao me virar, vi algumas pessoas abrirem passagem para Rachel, eu sorri e dei um passo em sua direção, mas logo franzi minha testa, vendo Shelby logo atrás.

– Oi, Rachel. – tentei.

Rachel não respondeu, nem levantou a cabeça, apenas seguiu em frente, agarrada aos seus livros, olhando fixamente para o chão. Percebi Shelby olhar para mim pelo canto de olho, me fazendo arrepiar com o olhar.

– Santana! – ouvi Andrea gritar, correndo até mim. – Ficou sabendo que Rachel...

– Voltou? Sim, fiquei sabendo. Mas...

– Ela me parece estranha. – fechei meu armário e me apoiei nele. – Está séria demais.

– Ela não me respondeu. – murmurei, olhando para onde ela foi. – Eu falei com ela, mas Rachel me ignorou.

– Ela ainda deve estar irritada, sabe? Não se preocupe, logo ela vai sorrir para você.

Caminhei preguiçosamente até minha primeira aula, Andrea fazia a mesma comigo, então sentou ao meu lado. Em minutos, a professora passou a explicar uma matéria, fazendo com que alguns anotassem, mas minha mente permanecia em Rachel, e em como ela estava diferente. Era como se Rachel tivesse voltado à antes de começarmos a nos conhecermos melhor, e ignorasse tudo e todos.

Me assustei quando ouvi o som do sinal, indicando o termino da primeira aula, me levantei rapidamente e corri para meu armário, para pegar o material para a próxima aula. Rachel estaria nessa aula, e eu me sentia obrigada a perguntar como ela estava. Quando entrei na sala, vi o professor já começar a anotar coisas no quadro branco, me sentei no mesmo lugar de sempre e abri meu caderno, fingindo começar a anotar.

Esperei a aula inteira, Rachel entrar pela porta e sentar à minha frente, como sempre fazia, mas naquele dia, ela não entrou. Estranhei, por eu tê-la visto naquele dia, mas nada disse. No final da aula, vi uma garota entrar com um papel em mãos, ela o entregou ao professor e ele leu, afirmando com a cabeça em seguida.

– Diga à ela que conversaremos depois. – o professor disse, olhando para a garota. – E diga para ela não se preocupar quanto à nota de Rachel. Ela é uma boa menina, sei que conseguirá recuperar tudo logo.

Vi a garota correr para fora, me levantei rapidamente e murmurei um “Volto logo”, fazendo o professor gritar por meu nome, mas eu o ignorei. Segui a menina até uma sala, olhei pela brecha da porta e vi Rachel sentada ao lado de Shelby, anotando algo em seu caderno. Ela não estava bem. Sua testa estava franzida, indicando sua irritação por algo, ou alguém.

– Pois não?

Pulei para trás, me assustando, a professora daquela aula arqueou suas sobrancelhas para mim e indicou para que eu respondesse.

– Hum... Que aula é essa? – perguntei, me fingindo confusa.

– Francês. – ela respondeu, também confusa.

– Bem... Andrea está aí?

– Andrea?

– É! Andrea... Beckendorff.

– Não. Creio que esteja perdida no momento, pois não há nenhuma Andrea aqui.

– Então... Obrigada, de qualquer forma. – dei um passo para trás e vi Rachel olhar para mim, seus olhos brilhavam, me fazendo sorrir. – Talvez eu deva voltar para a minha aula.

– Talvez você esteja certa.

***

Ao ouvir o som do final das aulas, corri para fora da escola, indo diretamente ao carro de Shelby, que já entrava no mesmo.

– Rachel! – gritei, chamando a atenção de alguns. – Rachel, espere!

Shelby deu a partida, mas pulei em frente ao carro, fazendo ela frear rapidamente.

– Ficou louca? – ela gritou, saindo do carro. – Você poderia ter morrido!

– Eu preciso falar com Rachel. – respondi, ainda em frente ao carro. – Rachel, eu...

– O que você quer com minha filha? – estranhei a pergunta, mas não respondi. – Deixe Rachel em paz!

– Shelby! – a repreendi, sem perceber.

– Não use esse tom comigo. Você não tem o direito.

– Mas...

– Saia da frente do meu carro e me deixe ir embora.

Ela entrou no carro novamente, me deixando sem reação.

– Rachel... – tentei novamente, mas Shelby buzinou, chamando a atenção dos outros.

– Saia, Santana!

– M-mas...

– Santana... – Rachel murmurou, parecendo pedir para eu obedecer sua mãe.

– Passe por cima, se quiser sair. – respondi, sentindo meus olhos arderem.

– Ainda por cima é respondona. – Shelby murmurou, saindo novamente do carro. – Saia daí, ou lhe tirarei à força.

– Eu saio. – respondi, cruzando os braços. – Apenas se você me responder, o porquê de estar assim.

– Assim como?

– Me afastando de Rachel. – vi Andrea se aproximar no meio da multidão já formada. – Me proibindo de me aproximar.

– Não quero que você leve minha menina para o caminho errado.

– Como? – me assustei, descruzando os braços.

– Acha que não sei o que você fez?

– O que eu fiz? – perguntei, bastante confusa.

– Você é uma manipuladora e molestadora, que só quer se aproveitar da minha filha.

– Espere! – gritei, me sentindo ofendida. – O que você disse?

– Exatamente o que você ouviu.

Andei até Shelby e coloquei minhas mãos em minha cintura, me segurando para não avançar nela.

– Por que isso? Por que está me insultando, se até dias atrás, me amava?

– Eu sei o que você fez.

– Então me diga, porque eu não sei!

– Você beijou minha filha! – ela gritou mais alto.

Arregalei meus olhos, sentindo os mesmos se encherem de lágrimas, olhei para Rachel e a vi com os ouvidos tampados, murmurando algo para si mesma.

– E-eu não...

– Não tente me enganar, Santana. Brittany me disse isso.

– Mas eu... ela...

– Eu sei. Rachel é ingênua demais, fácil de cair em suas palavras, mas ela tem uma mãe, que não deixará isso acontecer novamente.

– R-Rachel...

Rachel fechou os olhos e começou a gemer algo, tentando não ouvir mais os gritos, Shelby entrou no carro novamente e o ligou.

– Está tudo bem, querida. – Shelby disse, colocando o cinto de segurança. – Mamãe está aqui e lhe protegerá.

– Shelby! – tentei.

– Não vá atrás dela, ou terei que resolver isso.

– O que você faria? Me denunciaria por algo que não fiz?

– Colocarei Rachel em outra escola e nos mudaremos para outra cidade.

Perdi o ar ao ouvir sua resposta, Shelby deu a partida e sumiu, enquanto Andrea corria para me segurar, ao perceber que meu corpo tombava para o lado, perdendo o equilíbrio.