Primeiro encontro com Rachel... Essa frase soava tão estranhamente em minha cabeça. Não que, sair com Rachel seria estranho, mas sair com uma garota autista, a qual estou apaixonada, me assustava um pouco.

Rachel passou a manhã inteira sorrindo, todos estranhavam isso, ainda mais quando ela sorria mais, conversando comigo. O que tinha de estranho em Rachel conversar comigo?

Quando o sinal de ir embora soou, vi muitos correrem para fora, mas uma pessoa correu para dentro da sala, com os olhos arregalados, o rosto suado, os cabelos um pouco bagunçados e os lábios um pouco abertos, me dando uma louca vontade de beijar os mesmos.

– Você já está pronta? - Rachel perguntou, com a voz rouca.

– Quase.

– Você acha que haverá sereias lá?

– Creio que não. - eu ri, pegando minhas coisas. - Você correu até aqui?

– Sim. Não. Talvez...

Seu rosto corou um pouco, eu sorri e me aproximei dela, sentindo seu perfume.

– Gosto do seu perfume. - murmurei, sem perceber. - Quero dizer, ele tem um aroma que...

– Gosto do seu gloss. - ela respondeu, me fazendo suspirar. - Quando você o usa.

– Obrigada... eu acho.

Eu sabia que meu rosto começava a corar, mas parecia que ela não tinha percebido, já que desviou seu olhar para o relógio de parede da sala.

– As meninas devem estar lá fora nos esperando. - ela segurou minha mão com força e me puxou para fora, fazendo meu corpo tremer. - Vamos, Santana!

Pisquei algumas vezes e perebi que Rachel corria pelo corredor cheio, me deixando para trás.

***

O som dos pneus das bicicletas soaram, Rachel sorriu mais ainda, ela estava sentada em um tipo de banco preso na bicicleta de Quinn, com apoiadores para braços e cinto na cintura. O banco, obviamente rosa, balançava algumas vezes, mas Rachel não parecia ter medo.

– Aquário... - ela cantarolou, batendo palmas, nos fazendo rir.

À cada minuto que eu passava com ela, sentia a necessidade de ouvir sua voz e sua risada.

– Vamos guardar nossas bicicletas e comprar logo as entradas. - Quinn disse. - Estou louca para ver os tubarões!

– Tubarões? - Rachel perguntou, saindo da bicicleta. - Ninguém

me disse sobre tubarões.

– Eles não são perigosos aqui. - respondi, empurrando minha bicicleta, seguindo Quinn e Brittany.

– Mas... tubarões matam pessoas, não?

– Surfistas. - Quinn disse, sorrindo. - É por isso que eu não surfo.

– Já pensou em surfar, Quinn? - perguntei.

– Sim, mas não quero morrer.

Prendemos nossas bicicletas em alguns ferros próprios para aquilo, Quinn pegou um dinheiro de sua mochila e segurou a mão de Brittany, logo as duas se afastaram.

– Vamos comprar as entradas. - ela disse, já longe. - Nos esperem na entrada.

Rachel sorriu em resposta, nós caminhamos até a pequena fila para entrar e, vimos um garoto pular de animação, fazendo Rachel rir.

– Você sabia que há tubarões aqui? - ela perguntou para o garoto, que negou com a cabeça. - Quinn disse que eles matam os surfistas. Eu gosto de surfe, mas não quero morrer. Gosta de Baseball?

– Sim! - o garoto respondeu, parecendo mais animado. - Gosto dos Yankees.

– Prefiro Boston. Mas Santana torce para os Yankees.

A mãe do menino, que à até minutos antes não prestava atenção, olhou para Rachel com um sorriso.

– Eu soube que há golfinhos também. - o garoto respondeu.

– Golfinhos! - Rachel gritou, se virando para mim. - Veremos golfinhos? Por favor, me diga que veremos golfinhos, Santana!

– Nós veremos golfinhos.

Ela sorriu mais ainda e se virou para o garoto, voltando a falar algo.

– Ela parece gostar de crianças. - a mãe do garoto disse.

– Você não tem ideia. - murmurei.

Rachel olhou em volta, procurando pelas meninas, olhou para mim e rapidamente ficou séria.

– Não... - sussurrei. - Não, não, não, não...

Em um movimento rápido, Rachel se ajoelhou no chão e se encolheu o máximo que pôde. Parecia que ela estivesse inventando uma proteção contra tudo e todos.

– O que ela tem? - a mãe do garoto perguntou, um pouco séria.

– Ela... ela é autista.

A mulher rapidamente puxou seu filho para longe de Rachel, como se ela fosse leprosa, ou algo do tipo. Revirei meus olhos para a mulher e me abaixei, vendo os lábios de Rachel se franzirem.

– Hey... Eu estou aqui. - sussurrei para ela. - Está tudo bem.

Ela fechou os olhos e começou a murmurar algo. Algumas pessoas começaram a nos encarar, ouvi as vozes das meninas se aproximando, mais ainda pareciam um pouco longe.

– Rachel... você quer ver os golfinhos? - ela continuou quieta. - E as estrelas do mar? Que tal os peixes?

– Quinn tem peixes. - ela respondeu, ainda de olhos fechados, me fazendo sorrir.

– Quais peixes ela tem? - ela abriu os olhos e suspirou.

– D-dois peixes Betta e dois peixes Plati.

– Mesmo? Lá dentro tem outros peixes. Você quer vê-los?

Percebi o silêncio em volta, Rachel levantou um pouco sua cabeça e o inevitável aconteceu. Por meros dois segundos, Rachel me encarou, seus olhos estavam cravados em mim, como se estivessem me estudando. Logo ela desviou seus olhos e deu um pequeno sorriso, olhando para os meus lábios.

– Eu quero ver outros peixes.

Eu sorri e me aproximei mais dela, vendo seu sorriso sumir. Eu queria beijá-la. Queria loucamente possuir aqueles lábios nos meus.

– Santana? - Quinn chamou, me assustando.

Pisquei algumas vezes e percebi o quão perto eu estava de Rachel, quase fazendo nossos narizes se tocarem. Me levantei rapidamente e tentei respirar, vendo Rachel se levantar em seguida, com o mesmo sorriso lindo de sempre.

– Golfinhos! - ela gritou, se virando e entrando no aquário.

– Isso está ficando torturante. - murmurei para mim mesma.

– Não se preocupe. - Brittany disse. - Ela conseguiu te encarar, isso quer dizer que confia em você.

– Eu a quero, mais do que sua confiança.

– Dê tempo ao tempo. - Quinn disse, passando por mim. - Você vem ou não?