A árvore de memórias escrita por Licht


Capítulo 3
03. A árvore e a filha.


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo que mais me deu trabalho até agora, oh céus. e_e'
acho que agora ficará cada vez mais difícil hahaha~
Boa leitura. @_@'

(Edição 10/02/2014: Nada no enredo (não sei se eles acusam que houve edição) só ajeitei uns erros de concordância, palavras repetidas.)



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O outono estava prestes a chegar. A brisa leve da noite passavam pelas folhas fazendo as árvores suspirarem; Eram suspiros de canto, conversas e enigmas. As árvores falavam umas com as outras enquanto Natsume e Madara caminhavam - falavam o que não se podia entender pelos dois. Já o céu estava estrelado, sua mensagem de que estava por vir um outro dia ensolarado era bem clara. A caminhada pela floresta não foi longa, e obviamente Natsume não prestava atenção no tempo ou no canto das árvores: Estava preocupado com o próprio futuro e o futuro de seus familiares. Logo chegou diante da grande árvore - seu suspiro era mais forte e esse, Natsume podia ouvir. Era um canto triste e de morte: Uma yokai cantava pela árvore.

Ao perceber a presença dos dois, a yokai entrou em guarda. Parou seu canto triste e rapidamente passou sua mensagem “Não se aproximem”, ela disse. Apesar disso, Madara foi em frente, enquanto Natsume se posicionou atrás de uma outra árvore.
– Não se aproxime, yokai. – A mulher repetiu num tom, dessa vez, mais firme.
– ...Ou? – Madara já se encontrava em sua verdadeira forma. Sua intenção era de intimidar a ayakashi para que respondesse suas perguntas, mas tudo que ela fez foi assumir uma forma assustadora. A Yokai tinha a forma de uma pálida mulher com longos cabelos avermelhados, como as folhas do outono. Seus olhos eram de um tom perdido entre o verde e o amarelo ouro. Em sua cabeça haviam dois chifres em forma de galhos - mas se transformou numa grande forma branca onde seus olhos, ainda mais verdes se tornavam assustadores. Com sua voz diabólica, respondeu a Madara:

– Continue caminhando e pisará no chão do pior veneno. Meus galhos apertarão sua enorme garganta e sua fraca respiração será o show para as folhas decadentes. Não importa o quão grande você é, se aproxime desta árvore e irá morrer.
– Espere! – Natsume correu para a frente de seu sensei – Não viemos para lhe causar problemas, apenas queremos algumas respostas.
Madara o olhou com certo desespero. Por sua cabeça passavam pensamentos e xingamentos sobre como aquela criança humana era burra o suficiente para tomar a frente diante de tamanho perigo. Mas para sua sorte, a ayakashi voltou a forma normal.
– ...Reiko? – a voz saiu dezenas de vezes mais doce. O movimentou a cabeça em tom de dúvida, enquanto olhava para Natsume – Você está diferente... – curiosa, começou a mover-se em direção ao rapaz e a cheirá-lo. – Você tem o cheiro da Reiko e ao mesmo tempo não tem. Quem é você, Reiko-que-não-é-a-Reiko?
Madara espantou com a mudança de humor da ayakashi. Brevemente respondeu que se tratava do neto de Natsume Reiko. Explicou a preocupação do garoto e mencionou os mistérios da árvore. A ayakashi, apesar de ainda atenta a movimentos próximos de sua morada, deu um leve riso “Não vou lhe fazer mal nenhum, Natsume-san” e caminhou em direção da árvore novamente, dessa vez como se os convidasse para sua casa. “A não ser que façam algum mal à minha mãe.”, continuou.

– Como assim sua mãe? - perguntaram em coro.

A yokai olhou para a árvore e depois encarou o rapaz. Por um minuto se indagou se não era normal árvores terem filhos, e então, se sentou sobre um galho. – Houve uma época em que sua avó Reiko me ajudou muito, Natsume-san. Você parece ser igualmente confiável, talvez não haja problema em contar um segredo.

Natsume sentou-se ao pé da árvore junto a seu guarda-costas que havia voltado a sua forma de gato. O rapaz por alguns segundos fechou os olhos e ouviu o longo suspiro das árvores e do vento, que pareceram entrar em harmonia com as palavras da yokai.
– Houve uma época em que uma poderosa yokai morava aqui. Mulheres pediam proteção para seus filhos e maridos e por muito tempo, ela as atendeu. Também havia um jovem de uma família importante que veio até aqui no passado. Visitava esta árvore todos os dias e pedia que não fosse a guerra, pois seu corpo era frágil e sua pele pálida como marfim. Mas o que lhe faltava de força física lhe fora compensado em força espiritual: O jovem conseguia ver minha mãe, assim como você consegue me ver, Natsume-san. - a yokai lançou um singelo e caloroso sorriso para o jovem e seu gato. Após um leve suspiro, continuou - Não sei lhe dizer qual é a verdade nesta parte da história, pois eu ainda não existia. Alguns yokais mais antigos dizem que que os dois se envolveram, outros dizem que de alguma forma o homem aprisionou o espírito da árvore. Não muito depois eu nasci, não sei explicar como e nem o porquê. Fui cuidada por alguns yokais por um tempo, mas não posso dizer que eles têm bons sentimentos sobre mim, na verdade por muito tempo odiaram, alguns me caçaram porquê sou diferente, de uma maneira que também não sei explicar. Hoje em dia apenas me ignoram.

– Então... Como você sobreviveu esse tempo todo? - Natsume tinha um olhar triste e cheio de pena. Houve um instante que olhou para a yokai e enxergou a si mesmo.

– Como eu disse, às vezes alguns yokais cuidavam de mim. Em outras eu estava completamente sozinha, e esta árvore me dava de comer quando eu sentia fome. O vento trazia o suspiro de algumas árvores em forma de cuidados e palavras de conforto... Já houve uma época em que pensei que estava completamente só... Mas Natsume Reiko apareceu.

Takashi olhou curioso, gostava de ouvir as histórias de sua avó e de tentar imaginá-la. Sabia que era muito forte, e o livro que tinha consigo era prova disso - repleto de nomes de yokais, vencidos e enganados em algum tipo de brincadeira. – Oh, então o nome deve estar... - falou baixo olhando para seu guarda costas em forma de gato.

– Não perca seu tempo e energia, Natsume-san. Meu nome não está no livro de Natsume Reiko.

Natsume se assustou, a yokai não só tinha um belo par de ouvidos sensíveis como sabia da existência do livro que herdara de sua avó. Por outro lado, não deixou de relaxar um pouco os ombros, pois a yokai não demonstrou qualquer interesse nele. Em um segundo momento se sentiu curioso. Não era comum encontrar um yokai que tenha conhecido sua avó e não tenha pedido seu nome de volta.

– Tem certeza? - perguntou o rapaz certamente pasmo - Ela não te desafiou em algum tipo de brincadeira?

– Oh, sim. Ela fazia isso com todos, não fui exceção. - respondeu seguido de um suspiro e um olhar de desagradada. Natsume pensou por alguns segundos o quão teimosa sua avó deveria ser.

O rapaz refletiu por alguns momentos. Até o momento não havia encontrado um só yokai que tenha vencido sua avó, principalmente pois, geralmente, esses desafios incluíam a possibilidade de ela ser devorada - mas o rapaz não sabia muito sobre Reiko, nem como ela havia morrido. Talvez estivesse ao lado da responsável por sua morte.

– Oh, isso é incomum. Então você ganhou dela?

– Não, não! De forma alguma! - respondeu a yokai fazendo múltiplos sinais de "não" com a cabeça e também com os braços. - Ela escolheu não colocar meu nome no livro, talvez porque eu não seja forte o suficiente... Mas ela continuava vindo, trazia algumas frutas e continuava a me desafiar. Nunca ganhei!! - deu um sorriso obviamente forçado junto a um olhar certamente triste.

Natsume olhou-a por alguns instantes, por uma espécie de instinto levou a mão direita até o ombro da ayakashi. Nela viu a própria imagem - sem seus pais, passando de lar em lar, nunca querido por ninguém. Não havia lugar entre seres sobrenaturais, tão pouco entre humanos - pelo menos em seu passado. Agora tinha amigos de ambos os lados, uma família que o respeitava, e apesar de ter a vida um tanto caótica e viver preocupado, não podia negar que nunca fora tão feliz.

A ayakashi respondeu a ação do rapaz girando levemente o rosto com olhar de confusão - Obviamente não entendia bem dos sentimentos humanos. Takashi a olhou com determinação pois sabia que não poderia abandoná-la: foi quando, finalmente, reparou no céu que começava a clarear. Desesperou-se e se levantou, pegando o seu - muito eficiente - guarda costas que já se encontrava no sétimo sono. Precisavam com urgência voltar para casa.

– Eu realmente preciso ir! - disse o rapaz num tom desesperado enquanto se apressava - mas prometo que voltarei mais tarde... Oh! Me desculpe, mas eu sequer sei o seu nome! - o rapaz, já um tanto distante, falou em voz alta.

– Reiko me deu o nome de Itsuki. - disse enquanto acenava.

– O nome lhe cai perfeitamente. - Deu um amigável sorriso para então, sumir entre as árvores.




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Notas finais do capítulo

"Itsuki" ( 樹 ) significa basicamente "árvore" em chinês/japonês. xD