A árvore de memórias escrita por Licht


Capítulo 10
09. A Árvore e a família.


Notas iniciais do capítulo

Olá x_x/
eu estava planejando terminar a fanfic em 10 capítulos mas isso se provou impossível. 8D
Minha nova meta é 15, mas acredito que termine antes. ehoaheuahs.
Boa leitura o/



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O final de semana enfim, havia chegado. Natsume, Itsuki e Madara estavam caminhando até a grande casa do qual ele havia pesquisado. Todos estavam nervosos, mas por motivos diferentes. Nyanko achava problemático andar até um local cujo a fama era de exorcistas poderosos, mas ao mesmo tempo seu orgulho lhe dizia que poderia se virar.

— Não sei porque sou obrigado a vir junto, humpf. - o gato reclamou como de costume, principalmente por ter que fazer uma longa caminhada.

— Você não é meu guarda-costas? - respondeu Takashi ironicamente.

— Vou querer comida como recompensa depois. Muita comida, entendeu? - replicou o gato emburrado, enquanto caminhava pesadamente.

— ... Eu poderia te proteger de graça, Natsume-san. - Itsuki inchava as bochechas em tom de raiva, enquanto olhava para os dois. Apesar de seguir e admirar Madara, ambos ainda discutiam quando o assunto era o rapaz, quem era mais importante ou eficiente para ele.

A discussão durou até se aproximarem dos muros da casa, onde Natsume riu dos dois enquanto falavam. Prometeu que os recompensaria com bastante comida, desde que fizessem tudo certo e tentassem não chamar muita atenção.

Quando chegaram nos portões que estavam abertos, avistaram um homem de longos cabelos negros varrendo o pátio do quintal. Quando este reparou na presença do rapaz, lançou um olhar inusitado, como quem não estava acostumado com visitas.

— O que quer aqui garoto? Está perdido?

— Não, na verdade eu estava procurando o senhor Endo. - Natsume, nesse momento, parou para pensar que era mais do que provável que o pai de Itsuki já estivesse morto há muito tempo e isso era um problema. Quando chamou o senhor da casa, pedia pelo membro mais velho. talvez filho, ou neto. Agora, era esperar e torcer para que ele escutasse sua história.

Quando o homem de longos cabelos negros abriu sua boca, pretendendo falar, um senhor de idade que parecia se esconder - pois ninguém havia notado sua presença até então - saiu dentre as flores e respondeu com um leve sorriso.

— Entre e suba comigo, vamos conversar.

— Pai, o que está fazendo aqui? Já não lhe disse para ficar em seu quarto descansando? Aliás, você não pode deixar um estranho entrar dessa maneira... -O homem mais novo, achando a situação um absurdo, levantou o tom de voz.

O senhor fez um sinal com as mãos, como ordenasse ao homem se acalmar e se calar ao mesmo tempo.

— Não são estranhos, são amigos. - Respondeu o velho de forma enigmática.

Natsume e o senhor andaram até o interior da casa, deixando para trás o homem mais jovem com expressão raivosa e sem entender muita coisa. Tanto Nyanko quanto Itsuki subiram em conjunto com o rapaz, preparados para agir se necessário. Durante a caminhada, Nyanko lançou um olhar para Itsuki e sussurrou:

— Acho que o homem do quintal não podia te ver.

O senhor, com os ouvidos surpreendentemente bons, interrompeu a conversa rápido, quase como se citasse uma lista de compras .

— De fato, não podia. Bom, chegamos aos meus aposentos, entrem por favor.

Os três entraram com os olhares tensos e preocupados, enquanto o senhor calmamente - e com certa dificuldade - se sentava.

— E então, qual é o assunto, meu jovem? - lançando um olhar doce para Takashi, ele perguntou.

— Ah... Bem... - O rapaz procurava a melhor forma de dizer. - Sei que pode parecer estranho, mas... Esta é Itsuki. - apontou para a yokai ao seu lado, como se a apresentasse, porque o senhor já havia deixado claro que conseguia vê-la. - E aparantemente ela tem alguma conexão com esta família. O senhor conhece a árvore da proteção?

— Você.... - O velho olhou para Itsuki com uma expressão nostálgica.

— Sei que pode parecer estranho, mas a árvore em questão é minha mãe. - Itsuki respondeu um pouco insegura.

O senhor segurou as mãos da yokai com força. - Você é a filha dele! - e após alguns segundos a soltou, se desculpando. - Perdão... Eu ainda não me apresentei. Meu nome é Endo Ryotaro, sou filho de Heishi, o homem impaciente que vocês avistaram é meu único filho, Daichi. Qual é seu nome, rapaz?

Natsume rapidamente apresentou a si e Madara. Contou a história de Itsuki desde quando havia a encontrado. O senhor parecia muito animado, apesar de abatido por estar doente. Aparentava ter uns oitenta anos, os cabelos eram brancos e o rosto cheio de manchas de idade. Ele se levantou vagarosamente e pegou algumas fotos antigas. Entregou todas para Itsuki, dizendo que o personagem delas era seu pai.

— Soube que você era minha irmã assim que te vi - tossiu - sempre soube que esse dia chegaria. - e se sentou novamente, com expressão de cansaço.

Endo Ryotaro contou a história de seu pai. Disse que era um homem da palavra, influente politicamente. Pouco tempo após conhecer a yokai da árvore, tomou-a para si, como espécie de serva. O interessante é que Ume, como a chamavam, era a primeira yokai na família que havia virado ‘serva’ por vontade própria. O senhor dizia repetidamente que ela era muito poderosa, e que amava Heishi e também era amada por ele, só que isso não era exatamente bem aceito pelo clã Endo. Quando a família desconfiou que Heishi a tratava ‘bem demais’, achou melhor casá-lo com uma humana. — Seu nome era Kin. Pouco tempo depois, eu nasci. - contou Ryotaro. - Mas duvido que Heishi tenha amado minha mãe. Pelo menos tanto quando amava Ume.

Continuou a contar a história, dessa vez de sua infância, com um olhar misturado entre dor e nostalgia. Ryotaro certamente amava seu pai, deixava isso claro, mas em sua fala apareciam os fantasmas de uma criança que o havia visto sempre muito doente até, enfim morrer - e sua mãe sempre muito enciumada abalada com isso. Havia também muita culpa em seu coração — Minha mãe sempre foi muito insegura. Tinha raiva de Ume, tinha inveja. Me disse coisas terríveis sobre yokais - ele contava rapidamente, com a voz trêmula - E depois de tanto tempo escutando aquilo, eu acreditei. Ela fez meu pai selar Ume em uma pedra logo antes de morrer...

A mãe de Ryotaro tinha um extremo medo de perder seu lugar na família. Isso a tornou uma mulher amarga, direcionando toda sua raiva aos yokais. E seu filho, um pequeno exorcista, a copiava cegamente.

Kin o acompanhou em seu treino de exorcista até pouco antes de seu pai morrer, quando também ficou doente. Na época, uma vasta epidemia chegou na cidade e muitas pessoas morreram. Era bem comum os mais pobres e mais fracos contraírem a doença misteriosa. Quando viu Kin doente, Ryotaro foi até a árvore fazer um pedido de proteção para a mãe. Ume, surpresa pelo comportamento do menino - que além de muito novo, a odiava muito - o chamou para ver enquanto dizia um encanto para Kin que dormia. Após encostar as mãos no rosto da mãe do rapaz, ela milagrosamente melhorou.

Depois disso Ryotaro passou a ter um interesse por yokais, especialmente aqueles que tinham conexão com árvores. Muitos deles tinham habilidades especiais de cura, apesar de não poderem fazer muita coisa com os casos mais graves - como ele veio descobrir mais tarde, na morte de seu pai - tal habilidade, diziam os yokais, eram normais para aqueles verdadeiramente amigos da natureza. Foi assim que Ryotaro aprendeu a manusear ervas e amar todo o tipo de vida na terra, inclusive eles.

A família Endo então, criou tradição na medicina. Ryotaro se tornou uma espécie de médico curandeiro muito famoso na época de sua juventude. Daichi, seu filho, também era médico formado e Hideki - contava agora - seu neto, estava começando a faculdade de medicina.

Enquanto o senhor Endo falava, o tempo passou rápido. Logo, o Sol começou a sumir e a conversa começou a ser gradualmente interrompida pelos roncos de Madara. Natsume se desculpou por seu gato rude, aproveitando também para se despedir porque já ficava tarde.

— Oh, eu entendo. Você me parece um jovem responsável, preocupado com o horário. - Ryotaro sorriu enquanto respondia.
— Peço perdão - respondeu o rapaz - gostaria de ficar mais algum tempo se pudesse.

— Podemos voltar algum outro dia? - Perguntou Itsuki com lágrimas nos olhos

— Mas é claro, quando quiserem - respondeu o chefe Endo calmamente - a casa é sua, afinal.

Quando os três saíram, encontraram Daichi e um outro rapaz também de cabelos negros, mas muito jovem - aparentava ter no máximo 20 anos - conversando. O senhor Endo o apresentou para Natsume como Hideki, seu neto. Natsume então fez uma rápida reverência e partiu, recebendo olhares desconfiados dos dois.

Itsuki, pouco antes de ir, deu um rápido e caloroso abraço em seu irmão, que acabara de conhecer. Se pudesse, ficaria alí ouvindo histórias de sua família para sempre. Ryotaro, por sua vez, ficou muito surpreso, mas não pode negar que estava igualmente feliz. Seu filho e neto, no entanto, ficaram confusos pois, como não conseguiam vê-la, não entendiam o motivo da felicidade do velho.

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