12

A garota de cabelos róseos acompanhou uma gota de água descer lentamente pela janela, formando desenhos desconexos no vidro até sumirem no lado de fora. O ritmo da chuva combinava perfeitamente com o estado de espírito da garota.

“Que tipo de pessoa eu era no primeiro mundo?” ela pensou, com os olhos frios e sem vida fitando os galhos no exterior do hospital “O que foi aquilo que Kurenai me fez ver? Realmente...” ela mudou o olhar para seus companheiros de equipe, que dormiam serenamente nos leitos ao lado do seu.

É por isso que você precisa vencer – a voz da professora de cabelos negros repetiu a frase na sua cabeça, apesar da mesma estar morta há algum tempo.

“Realmente... antes eu só matava para não morrer” ela divagou, baixando o olhar para os lençóis brancos “Na verdade, eu não estava sendo sincera com Lee ou com o Kakashi-sensei. Eu não queria vencer como eles. Não queria matar ninguém. Mas também não queria morrer...”

“Só que agora, olhando para o rosto de vocês dois, e relembrando todas as imagens que ela me forçou a lembrar... não tenho certeza se são reais ou não, honestas ou não, mas definitivamente não vou deixar que se realizem nesse mundo”

Algumas batidas na porta fizeram Sakura parar com seus pensamentos tristes, e ela somente murmurou um mero “entre” que se não fosse Hatake Kakashi o visitante, com certeza não seria ouvido.

– Ah, você acordou. Como está se sentindo?

Ela repuxou os lábios em um sorriso torto e sem emoção.

– Um lixo.

– Já é um avanço – ele retirou o livro laranja do bolso e sentou na cadeira ao lado da cama dela.

Um silêncio se passou enquanto a rosada voltou a sua atividade melancólica de observação às gotas de chuva, dessa vez contando uma a uma antes que desaparecessem. Foi pouco mais de cinco minutos depois que sua curiosidade teve o melhor dela:

– Quanto tempo eu estive aqui?

– Em torno de uma semana – respondeu sem desgrudar os olhos da página.

– E quanto a Kurenai? E Hiashi?

Ela não teve muito tempo para saber sobre os dois jogadores citados, pois desmaiou antes mesmo que pudesse abrir os olhos para o mundo real.

– Hiashi faleceu um tempo depois de voltarmos ao mundo real, e Yukiteru-sama já se encarregou de cuidar do corpo – ele explicou, jogando o pergaminho de Hiashi no colo da Haruno – Não tive notícias sobre Kurenai. Provavelmente morreu, no entanto seu diário não foi encontrado em lugar algum.

– Enquanto aos outros Hyuugas controlados?

– A maioria está viva. Inclusive Hinata Hyuuga, que está internada nesse hospital.

Kakashi espiou o rosto da menina brevemente, adivinhando o que ela estava pensando.

– Sim, você deveria falar com ela.

Sakura sorriu um pouco tímida.

– Agora eu preciso falar com o hokage – o jonin levantou da cadeira e guardou o livro no mesmo lugar de sempre, preparando-se para sair do hospital – Volto daqui a alguns minutos, quando Naruto e Sasuke acordarem.

– Como você...

Ele indicou o seu próprio diário, calando a rosada. “Às vezes eu esqueço que ele tem um também” pensou.

Quando o Hatake finalmente saiu, Sakura voltou a olhar para seus companheiros de equipe. Eles três foram posicionados na mesma sala propositalmente.

“Quem eram vocês no primeiro mundo?” ela pediu em silêncio, relembrando a aparência de Sasuke durante seus flashbacks. Ele não estava usando a bandana de Konoha.

Por falar no moreno, este começou a se mexer desconfortavelmente no leito. Por um momento ela pensou que ele acordaria, mas percebeu que Sasuke continuava dormindo enquanto usava uma expressão horrível no rosto.

Preocupada, ela tentou levantar, só para ser impedida pelos soros ligados a seus braços.

O inferno com essas agulhas! Murmur gritou, agindo perfeitamente como Inner Sakura. A rosada resolveu seguir seu conselho e puxou os tubos com força, libertando-os das diversas agulhas penetradas e fazendo-o sangrar.

Ela retorceu a face com a dor, mas ignorou de qualquer jeito e continuou a andar até o moreno, de vez em quando vacilando nos seus passos.

– Sasuke? – chamou, mas nenhum som veio de volta e ele continuou se contorcendo na cama.

“Um pesadelo?” pensou alarmada “Não. Não pode ser qualquer pesadelo”

Com base nesse pensamento, ela sacudiu o corpo do Uchiha mais forte do que antes, berrando seu nome mais alto. Chegou um ponto em que foi preciso pegar uma kunai jogada sobre a mesa e perfurar superficialmente a bochecha do moreno.

“Não adianta! Ele não acorda!” a rosada estava realmente desesperada, pois sabia que Sasuke tinha um sono muito leve. Para não estar despertando assim...

Ela se aproximou mais e tocou na sua testa, que estava molhada e cheia de fios escuros grudados por conta do suor.

Quente. Morno, na verdade.

“Então é isso” ela suspirou “Ele está no plano astral. Será que o Irreverente... ? Não, impossível. Ele mesmo nunca quis envolver inocentes”

Provavelmente morreu, no entanto seu diário não foi encontrado em lugar algum.

“Se o diário nunca foi encontrado, não há evidências concretas de que o portador morreu de verdade” ela relembrou, mirando o rosto contorcido do menino.

“Kurenai... você está mesmo dentro do Sasuke?”

Essa teoria é patética, Murmur voltou a falar, parecendo bem mais disposta a conversar com a Primeira que nos últimos dias.

“Há uma forma de saber” juntou as mãos, tentando copiar os movimentos da Yamanaka “Ino fez uma coisa parecida para que eu entre na minha mente meses atrás (capítulo 3). Vamos ver se funciona com outras pessoas...”

– Arte ninja! Técnica da viagem mental! – realizou, pensando no mesmo ponto abaixo do seu antebraço.

Ela ainda estava em processo de recuperação por conta do genjutsu de Kurenai, então sabia que teria menos de cinco minutos para estar dentro da mente de Sasuke e possivelmente ver o que ele estava vendo.

*

– Onii-sama!

Itachi Uchiha interrompeu seu lançamento de estrelas ninja e virou para olhar ao redor. Na sua linha de visão, havia Sasuke, correndo com todas as suas forças na direção dele e de vez em quanto parando para ofegar um pouco.

– Onii-sama! Eu posso treinar com você hoje? Por favor! – ele pediu juntando as mãos e olhando diretamente nas orbes negras do mais velho.

– Desculpe Sasuke, mas você não pode – o moreno disse seriamente.

A expressão do pequeno Uchiha caiu na mesma hora. Todos os dias ele testemunhava as habilidades incríveis do seu irmão de dez anos, entretanto quando pedia para que ele lhe ensinasse alguns truques, Itachi dizia a mesma coisa: “Desculpe Sasuke, mas você não pode”

– Por que não? – insistiu com sua teimosia de pirralho.

– Porque você é muito novo e pode se machucar – ele falou como se fosse óbvio. O pequeno desanimou um pouco, pois a resposta parecia perfeitamente plausível, mas mesmo assim ele continuou com a argumentação:

– Eu ouvi o tou-sama dizer para a Uruchi-san que você se formou na Academia com seis anos! – ele enfatizou, representando sua sentença com os dedos da mão – Só um ano mais velho que eu!

Itachi estava prestes a derrubar o ponto de vista do seu irmãozinho quando viu determinação pura nos seus olhos ônix.

Suspiro.

Ele sabia que isso não iria a lugar nenhum; o pivete nunca desistiria de insistir.

– Tudo bem – o moreno levantou o dedo – Mas – cortou – Você tem que estar aqui exatamente às seis horas bem cedo amanhã. Nenhum minuto a mais, nem a menos. Se você for bem, continuarei a te treinar pelo resto da sua formação.

O pequenino bateu continência, olhando sério apesar de estar totalmente eufórico por dentro. Porque, mesmo que tivesse somente cinco anos de idade, orgulho era fundamental para um Uchiha.

– Vá para casa.

A cena mudou e agora estava tudo escuro. Entre uma sombra e outra, encontrava-se o menino de seis anos, correndo animadamente para a sua residência. Ele simplesmente estava contente demais para notar que o distrito Uchiha andava anormalmente silencioso, apesar de serem somente oito horas da noite.

– Tou-sama! Okaa-sama! Nii-sama! Eu sou o primeiro da classe, olhem meu bole-

O cheiro metálico envolveu os sentidos de Sasuke no mesmo minuto, fazendo-o parar a sua declaração repentina. Era um cheiro muito familiar; ele já sentira diversas vezes durante seus treinos com Itachi. No entanto, era sempre em pouca quantidade e rapidamente se dissipava no ar.

Mas agora, a entrada da sua casa estava simplesmente submersa nesse cheiro. Um cheiro enjoativo e forte, muito forte.

A respiração do Uchiha aumentou subitamente quando ele parou na frente da porta. Um mau pressentimento, no mínimo. Parecia perceber só agora a quietude do lugar. Onde estava a sua kaa-sama o repreendendo por entrar correndo? Onde estava seu tou-sama espiando sua chegada pela fresta do jornal? Onde estava seu nii-sama suado após uma missão perigosa, mas bem sucedida?

Ele colocou o pé no primeiro degrau, só para sentir o líquido pegajoso inundar suas sandálias. O coração acelerou e a mente gritava para sair daquele lugar. Porém, o orgulho e curiosidade não permitiriam tão cedo.

Ele engoliu em seco e deu mais um passo.

Os pés afundaram no piso encharcado de vermelho. Hesitação estampada na sua face antes de encarar o material de madeira, que parecia zombar do seu receio. De repente, uma forte e súbita presença o deixou alarmado de imediato

“Alguém está lá dentro” seu corpo congelou de medo. Ele podia dar meia volta, ninguém está por perto para ver “Não” balançou a cabeça para os lados “Eu tenho que fazer alguma coisa!”

Ele obrigou a si mesmo a empurrar a porta. Como se arrependeu.

– Mãe! Pai! – gritou, sabendo perfeitamente que alguém o observava das sombras. Essa mesma pessoa se posicionava poucos passos longe dos Uchihas ensanguentados no chão.

Ele chegou mais perto, deixando a luz do luar brilhar sobre seu rosto e relevar sua identidade.

– Nii-sama! Kaa-sama e tou-sama estão... eu não entendo. Quem poderia ter feito isso? – ele chorou, buscando algum apoio no mais velho.

De repente, uma shuriken deslizou na direção de Sasuke, que por estar perturbado demais demorou a perceber a arma até que esta havia cortado levemente seu pulso.

– Espera um segundo... foi você quem... – a voz morreu quando a ficha finalmente caiu – O-O que... você fez?!

– Irmãozinho tolo... – ele zombou – Eu quase tive pena de você...

Itachi fechou os olhos por um momento e, quando abriu momentos depois, eles estavam mudando de forma.

– Mongekyou Sharingan.

*

Sakura retirou a mão da testa de Sasuke com rapidez devido à dor de cabeça forte.

“Foi isso que aconteceu com os Uchihas?” pensou abismada “O irmão dele... eu conheço aquele homem...”

Ponderou sobre continuar com o jutsu, mas se esforçar tanto durante o processo de recuperação desgastava seu chakra duas vezes mais.

Além disso, Sasuke perceberia hora ou outra se alguém estivesse na sua mente. Ele era um Uchiha, afinal.

– Sakura – a voz de Kakashi assustou a rosada. Ele repentinamente apareceu na janela – Está tudo bem com o Sasuke?

– Ele está tendo um pesadelo – respondeu – Por que já está aqui? Pensei que falaria com o hokage.

– E eu falei – ele tinha alguns papéis na mão, mas Sakura não havia prestado atenção nisto –Mas a previsão do meu diário sobre Sasuke mudou. E você sabe que quando isso acontece...

– ...é porque alguém alterou o futuro – ela completou tensa – Um jogador do jogo de sobrevivência está por perto.

– Não só isso, mas ele estava muito próximo – disse Kakashi – Ele estava nessa sala.

– Provavelmente durante o período em que estávamos desmaiados.

“Mas... mesmo que ele estivesse mesmo aqui...” pensou a Haruno “Por que não fez nada comigo? Eu sou a Primeira. Sasuke... ele não tem nada a ver com isso”

– Isso mesmo. Onde está seu diário?

– Aqui – ela apontou para a mesinha com suas roupas vermelhas – Talvez haja algum registro sobre as pessoas que vieram aqui.

Ela abriu o caderno rosa e folheou, buscando nomes suspeitos em cada página. Enquanto isso, o professor voltou seu olhar sob Sasuke:

– Ele não parece estar tendo um simples pesadelo.

– Sasuke está no mundo astral – soprou ainda concentrada nas folhas. O jonin piscou, surpreso.

– Não é possível que Yukiteru-sama tenha sido o responsável. E sabemos que um dono de diário esteve aqui.

– Você está querendo dizer que quem chamou o Sasuke para o Mundo Astral é o mesmo jogador que visitou nossa sala?

– É uma possibilidade.

– É impossível – disse – O Irreverente me falou que nenhum mortal pode ir ao mundo dos espíritos sem que ele mesmo o chame.

– Não exatamente. Há vários tipos de planos astrais. Depois, humanos podem chamar outros humanos, por vezes até os obrigando a ir, desde que tenha um poder mental muito grande.

“Kurenai me levou para lá durante o caso Hyuuga” lembrou Sakura, se sentindo estúpida.

– Então, hipoteticamente – ela sugeriu – O jogador, que também hipnotizou Sasuke, tem um poder mental muito forte, além de estar interessado não em mim, mas sim no Uchiha, correto?

– Eu só conheço três pessoas que têm um poder com genjutsu tão forte, Sakura – Kakashi falou seriamente – E uma delas está fora de jogo. As outras duas, no entanto, fariam muito sentido.

–E quem são essas pessoas? – pediu a rosada, mas antes que ele pudesse responder, o mirai nikki cor de rosa assobiou e Sakura baixou seu olhar:

– Sasuke acordará em exatamente cinco minutos – leu – Naruto ainda vai demorar dez.

– Nós falamos sobre isso depois – sussurrou o jonin – Volte para sua cama e recoloque as agulhas. Eu sei que você sabe como fazer isso.

Mirai Nikki no Sakura

Dez minutos depois, os pivetes do time sete estavam todos despertos e confusos. Para não levantar suspeita, Sakura também fingiu estar desnorteada com a confusão. Restou a Kakashi explicar o que aconteceu, deixando de fora várias partes do ocorrido:

– ...no final, foi Kurenai Yuuhi o responsável pelo genjutsu.

A rosada rezou para que nenhum dos meninos tenham desconfiado de nada.

– Faz sentido – Naruto comentou, virando para Sakura logo depois – Você está bem? O que aconteceu quando aquele poste caiu?

Sasuke voltou sua atenção para a menina, igualmente curioso.

– Está tudo bem – sorriu – Lee estava passando por perto e me salvou. Como ele era muito rápido, vocês não devem ter visto.

“Claro que o sobrancelhudo” o moreno revirou os olhos.

– Aliás, teme – o loirinho gritou – O que aconteceu quando você foi sequestrado?

O sangue de Kakashi gelou.

– Você foi sequestrado?

– Acho que sim – disse – Um dos Hyuugas atacaram Naruto e eu quando entramos no genjutsu, embora eu não lembre o que aconteceu depois.

O professor mandou um olhar de advertência para sua aluna, que revidou no mesmo instante.

Nesse momento, a porta abriu e saiu de lá uma enfermeira ruiva com o rosto sorridente:

– Oi, Sakura-chan ~ Eu não esperava te encontrar por aqui.

Todos fitaram a mulher com estranheza, tirando Sakura. Obviamente, ela reconhecia a enfermeira que havia ajudado na época em que conheceu Tsunade (vide capítulo 7)

– Oi, Saya-san – cumprimentou com um sorriso educado – É bom revê-la. Soube que Saito-san melhorou.

– E minhas costelas sobreviveram! – comentou histérica, ainda não acreditando na sua sorte – Você salvou minha vida! Eu nunca tive a oportunidade de agradecer pessoalmente!

– Não foi nada, sério.

– Tão modesta! Mas você foi espetacular. Ah, é, e eu já falei para o Saito-kun sobre você – ela sorriu, entregando um papel para a menina – Pode não parecer, mas ele é uma pessoa muito legal. Você pareceu preocupada no dia em que nos encontramos... se tiver algum problema, fale com ele. Tenho certeza absoluta que pode ser de ajuda.

– Unh, manterei isso em mente – ela pegou o papel das mãos da ruiva, que agradeceu mais uma vez e finalmente saiu.

– Do que ela estava falando? – Sasuke exigiu, ganhando apoio por parte dos dois outros ninjas.

Sakura riu nervosamente.

– Oh, nada, somente um favor especial.

– Enfim, o que importa é que a missão foi um sucesso, e o hokage está satisfeito com a atuação de todo mundo – o jonin voltou a falar, atraindo a atenção das crianças para si – Por isso ele aceitou minha recomendação de vocês três.

– Recomendação para quê? – Naruto perguntou eufórico. O Hatake sorriu:

– Para os exames chunnin.