Why'd You Only Call Me When You're Drunk? escrita por Mademoiselle Of The West


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Baseei-me na música Why'd You Only Call Me When You're High? de Arctic Monkeys, uma das minhas bandas preferidas. E agradeço a paciência da Yuu Grantaine por sempre ler primeiro as minhas fanfics e ajudar-me a arruma-las.



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Até quando vou correr atrás você?

Kasper jogara-se no sofá, cantando vitória. Não sabia como, mas havia conseguido sobreviver a aquela semana insana. Quase não havia parado em casa, correndo de um lado para o outro, tentando atender todos os egoísmos daquele escritor pirralho - que sinceramente, não fazia ideia como estava conseguindo atura-lo -. Mas o que importava era que poderia cair em sua fofa cama, claro que após um longo banho e uns goles de cerveja preta. Finalmente teria aqueles preciosos dois dias de folga.

Enrolara para levantar-se do estofado, só o fazendo quando ouvira um grunhido que vinha do próprio estomago que reclamava a ausência de alimentos, com certeza já estava cansado de preparar-se e não cair nada. O nipo-britânico não fazia ideia como não desenvolvera uma gastrite nos últimos anos, passara dias e dias mascando chicletes e sem contar o estresse diário. Sentara-se, e preguiçosamente retirou os sapatos e as meias. Assim caminhou descalço até a cozinha.

Deveria pedir comida chinesa? Ou arriscaria fazer um sanduíche com frios que nem fazia ideia se haviam vencidos? Era um dilema bobo, mas gastara uns dez minutos pensando sobre e procurando algo mais seguro para comer. Encontrara uma latinha de atum e maionese no cantinho mais obscuro do armário, seria muito mais seguro comer aquilo do que ter uma intoxicação alimentar. Conferira a data de validade, droga, estava vencida a mais de duas semanas. Suspirou fundo, teria de caçar o número daquele restaurante chinês.

Gostava de comida chinesa, alias, desde que começara a morar sozinho, lá pelos dezesseis anos, estava habituado a encomendar yakissoba e guioza – uma espécie de bolinho de carne bovina com algumas ervas e muito repolho-. Era prático e gostoso, mas conseguia enjoar-se com facilidade, desse modo recorrendo a comida indiana.

Voltara o olhar para a geladeira, que estava coberta de imãs com números de restaurantes e post its que continham lembretes, enquanto uma das mãos retirava o celular do bolso da calça e o ligava. Costumava deixa-lo desligado durante o percurso da empresa até o apartamento, pois não tinha a mínima vontade de voltar no meio do caminho para o trabalho. Sendo comum chegarem ao mesmo tempo inúmeras mensagens.

Deslizara o dedo indicador sobre a tela do aparelho, vendo com atenção quem eram os remetentes, nesse caso porque não estava com nenhuma vontade de ler algo sobre o trabalho. Tinha duas mensagens de Tia Claire que pedia para trazer os livros que encomendara e perguntando se estava tudo bem com a saúde dele, uma de “Roxie” que perguntava se realmente iriam se encontrar na outra semana, e cerca de cinco mensagens de uma pessoa que não gostaria de ver.

Damien... Aquele maldito nome deixava Kasper com o coração nas mãos, desamparado. O que ele queria? Teria sentido a falta do “melhor amigo”? O trouxa que estava sempre a disposição dele? Não iria ler, não queria ler nenhuma palavra doce daquele canalha, que simplesmente esquecia-se dele quando começava a namorar.

Assim deixara o celular sobre a mesa, desistindo de pedir algo e recorrendo a bebida. Tinha a plena consciência que não iria demorar a tornar-se um alcoólatra. Porém, não via nada de errado naquilo. O álcool era gentil, trazia boas sensações e nunca iria deixa-lo magoado. Até gostava daquela sensação de ressaca.

Todavia, a sensação de bem estar sumira em um piscar de olhos e o maldito aparelho debatia-se contra a mesa. Dera uma espiada e o nome do cretino saltara da tela, a vontade era ignorar, mas aquilo só iria piorar a situação.

– ...preciso de você. – Acabara de atender a ligação, e Damien parecia conseguir conquista-lo com poucas palavras. A voz rouca o deixava desnorteado. – Venha aqui, por favor...

– Boa noite para você também. – O falso bocejo seria um bom utensilio para convencê-lo que estava cansado, certo?

– Eu preciso de você. – A teimosia era de praxe e logo percebera que a voz estava mais manhosa do que sempre e arrastada, o cretino estava bêbado. – Estou com dores...

– Vá ao médico, Damien. – A resposta fora imediata, não queria mais ouvi-lo. – Adeus, então.

– Pelo amor de deus, estou te implorando... Miyabi. – Como odiava ser chamado por aquele maldito nome, merda, era sempre daquele jeito. O silêncio reinara por breve minutos, o suspiro cansado de ambos veio ao mesmo tempo e quebrara aquela tensão.

– Ok. – Era realmente um trouxa para atender ao pedido de socorro do amigo.

Usara o calçado com pressa, queria acabar logo com aquela palhaçada. Enquanto discutia com si mesmo porque sempre caia naquela conversinha mole. Ah sim, estava apaixonado por aquele maldito francês por mais de seis anos.

Nem fizera dez minutos e já estava dirigindo para a casa de Damien. Encolhido no sobretudo creme e amaldiçoando o aquecedor que havia quebrado, e ao mesmo tempo que perguntava-se porque não teria levado o carro para o conserto. Eram dias de chuva, aquilo servia como uma boa desculpa para tudo.

Por que só me liga quando está bêbado?

Kasper previa a certa situação: Damien discutira com a namorada, que se queixava não receber atenção o suficiente do francês, e talvez tivessem terminado e ambos estariam magoados, principalmente ele, que se afogava no abraço acolhedor da bebida. Não era nenhum vidente, mas depois de presenciar os finais dos relacionamentos dele, afirmaria que era isso mesmo.

Voltando a perguntar-se porque ainda corria para encontra-lo. Iria consolar? Dizer que há muitas mulheres dando sopa para ele? Acalmando-o e no final ter de ouvir: “Não sei o que faria sem você, Miyabi”. Francamente, era um completo idiota... Um completo idiota , o qual ainda tinha a esperança de que Damien percebesse em seus sentimentos algo que nunca iria acontecer, até parecia o roteiro de historinhas para adolescentes, clichê.

O mais ridículo de tudo era que estava naquela situação a mais de seis anos. Roxie estava a enlouquecer com o irmão e aquela paixão que nunca iria se realizar, chegara a apresentar a ele várias pessoas, mas no final das contas as dispensavam e voltava a correr atrás de Damien.

Estacionara em uma vaga para convidados do prédio alheio, e apressara os passos, já eram mais de dez horas e queria o mais rápido possível voltar para o conforto de casa. Durante a caminhada, pensara se era melhor ter trazido algum remédio para caso ele ficassem com alguma ressaca no dia seguinte ou algo para comer, pois Damien esquecia-se facilmente de alimentar-se, mais do que Kasper. Por um momento parou, rindo de si próprio. Era a mãe dele por acaso?

Nem precisara esperar ao bater a porta do apartamento do francês, fora puxado para dentro com uma grande facilidade. Fora recebido com o forte cheiro do álcool que se misturava com um aroma amadeirado e doce. Os olhos azuis brilhavam, denunciando que Damien havia com certeza chorado.

– Você demorou. – Queixou-se, abraçando o amigo. – Estava com saudades. - Saudades... Saudades de ser consolado? Saudades de vê-lo preocupado? Kasper afastou-se de imediato, estendendo um dos braços e encenando tossir.

– Desculpe, estou resfriado... – Mentira, não queria aproximar-se tanto dele.

Minutos depois estavam sentados sobre o sofá. Damien desabafando sobre o fim de relacionamentos e Kasper fingindo ouvir com toda atenção, mas sua mente estava concentrada na latinha de cerveja que o esperava em casa, como uma boa esposa. Enojava-se de como estava se portando com o amigo, sendo que era uma das únicas maneiras de não se machucar ao ouvir “como amo ela” sendo pronunciada pelos lábios alheios, que sonhara tantas vezes experimenta-las.

Ambos tinham dezoito anos quando tudo aquilo começou. Kasper mirrado como sempre e Damien um pouco musculoso por conta das idas constantes a academia. Já se conheciam e eram bons amigos, compartilhavam o mesmo amor por livros e esse fora o empecilho para tudo aquilo. Era uma noite chuvosa como aquela, e discutiam sobre um conto excêntrico que haviam encontrado. Naquela época era tudo mais fácil, não sentia nada por ele, ou simplesmente conseguia reprimir com pouco esforço. Era obvio, os sentimentos pelo francês não estavam tão intensos.

Não demorou para que Damien começasse a bocejar e bagunçar as próprias madeixas castanhas, tinha o habito de fazer aquilo quando estava com sono. As pálpebras alheias pareciam estar pesadas e iriam cair a qualquer momento. Um alivio para Kasper que sentia uma coceirinha para ir embora.

Despedir-se fora o problema. Demorou mais de meia hora para explicar a ele o motivo para estar indo embora, a ironia de tudo era que Damien queria que Kasper ficasse lá e bebesse com ele. Só conseguira livrar-se do bêbado após inúmeras desculpas e leva-lo até o quarto dele.

Sentia-se bem até entrar no próprio carro. Tivera de engolir todos os sentimentos que pareciam fluir do nada. Perguntando-se porque não se declarava a ele, lembrando-se que não valeria a pena estragar uma amizade de tantos anos daquela maneira. Então quais eram as opções? Esquece-lo? Tudo bem, mas de que maneira? Pondo uma distância? Não, ele daria um jeito para puxa-lo junto dele, novamente. Fugiria de qualquer jeito dele? Por que não? Já era um covarde por não confronta-lo.

Jogara a cabeça para trás de modo com que chocasse com uma certa força contra o estofado. Aos poucos sentia as lagrimas transbordarem de suas íris esverdeadas e rolarem as bochechas rosadas. Só queria esquece-lo... Só queria esquecer.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada para as pessoas que leram está história e um comentário não mata ninguém e nem custa nada (só o tempo precioso de vocês), mas por favor~ adoraria receber críticas.