Desintoxicando escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ^^



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No hospital, Ishida Ryuuken e Kurosaki Isshin sentavam no mesmo cômodo, porém, sem trocar uma só palavra; enquanto o Quincy fumava seu cigarro, o Shinigami mantinha-se olhando com curiosidade para ele. Já estava cansado de perguntar-se como ele fumava dentro de um estabelecimento como o Hospital – de onde, por sinal, ele era diretor e tudo mais –, então, não ia perder tempo fazendo a mesma pergunta.

Sentia vontade de pedir um trago, também, mas a promessa à sua esposa era de que não fumaria, exceto em seu aniversário de morte.

Esposa...

Isshin apoiou a cabeça na mão e ficou olhando para o amigo ao seu lado. Mantinha os olhos cerrados, e estava bastante concentrado no fumo. – Francamente, Ishida, por que não larga desse vício?

– Quem é você pra me julgar?!

– Bom... – Ele coçou a cabeça. – Ninguém! – Exclamou de repente. – Porque eu fumava, é claro, mas parei.

– É, só fuma no aniversário da esposa.

– De morte.

– É, isso. – Respondeu Ryuuken, fazendo pouco caso. Reabriu os orbes e olhou de esguelha para Isshin, vendo-o meio embaçado porque o óculos não pegava aquele ângulo. Virou a cabeça, então, para poder vê-lo com perfeição. – Como quiser.

O homem dos cabelos grisalhos pôs-se de pé, saindo da frente da escrivaninha e caminhou pelo ambiente. Não parecia estar confortável, mas bem, ele sempre tinha aquela cara de “não quero estar aqui”, então Kurosaki não cria que havia algo fora do normal. Mas havia.

Até porque, Ishida fumava apenas porque Isshin costumava fumar, também. Em épocas de jovialidade, os dois começaram a fumar juntos, mas ao contrário do amigo, Ryuuken jamais largou o vício. Mesmo depois da morte da mãe de Uryuu, ou qualquer outra fatalidade do tipo. Sempre ficou preso ao bendito cigarro porque fazia lembrar de Isshin. Era uma boa memória. Aquele paspalho era seu amigo, no final das contas. Desde que seus cabelos não eram brancos.

Agora, que conviviam mais, Ryuuken costumava cogitar a possibilidade de largar o vício, mas sempre que encontrava com o Kurosaki, acabava sentindo uma vontade doente de acender um cigarro, e então, sucumbia aos seus desejos. A esses, é claro.

Ligeiramente incomodado com a movimentação estranha do menor, Isshin observou-o cuidadosamente até que ele percebesse a atenção voltada para si. – O quê?!

– O que o quê?

– O que você tá olhando? – Retrucou um Ryuuken cuja jugular saltava no pescoço.

– E você, por que tá andando de um lado pro outro assim?!

Ishida revirou os olhos e apagou o cigarro em seu cinzeiro portátil – ou seja lá qual for o nome daquele objeto – e guardou-o de volta no bolso. – Não sei.

Virou-se de costas para Isshin, mantendo as mãos no bolso. De repente, sentia-se mais incomodado do que o costume com a presença constante do Kurosaki ao seu redor. Geralmente eles conversavam, não que fosse lá um super bate-papo animado nem nada do tipo, mas por que agora o idiota parecia não ter o que falar além de lhe atormentar a vida?

Quando decidiu virar-se para o maior novamente, deu de cara com o peito dele. Ergueu o olhar e Isshin estava parado diante de Ryuuken, carregando um sorriso dócil nos lábios. Ishida corou tão levemente que, de certo, o outro nem ia perceber. – O que você está fazendo, Kurosaki?!

Isshin não se deu ao trabalho de responder. Ergueu a mão para tocar o alto da cabeça de Ryuuken e bagunçou-lhe os fios grisalhos de cabelo macio. Mas que diabos? Ele não era uma criança! – Kurosaki?!

– Por que você fuma, Ishida?

– Preciso de um motivo?

Sustentaram o olhar por um instante; caramba, parecia que Kurosaki não havia crescido mentalmente sequer um pouquinho, às vezes. Mas naquele momento ele parecia menos estúpido e mais preocupado com qualquer coisa que fosse. Era como sua segunda personalidade de Shinigami, não de pai histérico. – Claro que precisa, gênio!

Falou cedo demais.

– Eu fumo porque eu preciso relaxar com alguma coisa. Meu trabalho é estressante. Cuidar de um hospital não é fácil, creio que você saiba, Kurosaki.

– Ah, então seu problema é o stress! Eu já devia ter desconfiado, você e esse seu jeito esnobe, arrogante, e—

– Obrigado pelos elogios. – Ryuuken passou pelo lado do corpo de Isshin e quando ia se afastar dele, acabou sendo puxado de volta pelo braço.

Parou bem de frente com o maior, e os corpos se bateram com o impulso. Ryuuken hesitou um passo atrás e Isshin avançou o mesmo espaço adiante. E fizeram de novo, até que Ishida deu um tropeço e caiu sentado no sofá da sala. O moreno manteve-se de pé diante do Quincy e sorriu novamente em sua direção, tocando-lhe o alto da cabeça.

– Eu aprendi a relaxar do meu trabalho com meus filhos, Ishida. Você não tem a mesma dádiva, certo?

Ryuuken suspirou; seu relacionamento com Uryuu não era dos melhores, é claro. Não era como se ele pudesse sair num fim de semana com o filho para poderem conversar e esfriar a cabeça. Acabou assentindo com a pergunta quase retórica feita por Kurosaki.

– Pois é... Mas não pode ser que não exista coisa alguma que te faça relaxar um pouco! E que não seja o cigarro, é óbvio.

Pensando bem, até que a presença de Isshin ajudava um pouco a relaxar. Apesar de algumas tensões de vez em quando. Não respondeu, e seu foco desviou do rosto do maior para seu umbigo – que estava bem diante dos olhos de Ryuuken. O moreno o observou por uns instantes até que o segurou pela cabeça e pelas costas, num abraço meio desproporcional.

Ryuuken, com a testa afundada no abdômen de Isshin, pestanejou confuso para o toque repentino. E sem justificativa.

– Posso te ajudar a ficar mais tranquilo?

Ah... A solidão.

É sempre o primeiro ponto a ser ferido em uma pessoa como Ryuuken, ao ouvir palavras como aquelas. Ishida franziu a sobrancelha, com o coração disparado no peito e ergueu as duas mãos para alcançar as vestes de Isshin, nas costas, agarrando o tecido entre os dedos.

– E como fará isso, idiota? – Resmungou Ishida, de repente, sentindo-se como se tivesse seus vinte e poucos novamente. Duvidava de qualquer coisa que viesse do Kurosaki naquele instante, afinal de contas, ele sempre foi um tapado quando se tratava de Masaki, sua falecida mulher.

Entretanto, quebrando a ideia que Ryuuken fez do momento, Isshin voltou a tocar no alto da cabeça do outro e escorregou a mão até a nuca, fazendo-o assim erguer o olhar para o maior. – Desfrutar da minha companhia não é o suficiente, Ishida?! – Ele disse com um tom de pesar e aborrecimento na voz, embora fosse claramente irônico. O Quincy soltou o tecido da camisa do Kurosaki e espalmou-lhe o braço para longe de si, o que fez com que Isshin automaticamente recolhesse a outra mão.

Pôs-se de pé, após ter um espaço liberado para poder fazê-lo. – Já desfruto de sua companhia periodicamente, e isso não me ajuda a relaxar.

– Ah... – Isshin suspirou. – Você é exigente!

– Huh? – Ryuuken estreitou os olhos na direção do outro, tendo, repentinamente, seu rosto segurado pelas mãos gigantescas que tinha o Shinigami. O encarou por um instante. – O que você acha que eu quero?

Um sorriso daqueles largos que Isshin costumava dar abriu-se em seu rosto, ao passo em que ele segurou o rosto de Ryuuken com um pouco mais de força e trouxe o rosto do Quincy para perto do seu. – Kurosaki...

– Humm?

– E quanto ao seu amor pela Masaki-san?

O Shinigami ergueu os olhos, mudando seu campo de visão para o “nada” que havia em cima da cabeça do menor. Ele deu um longo suspiro, diminuindo o tamanho de seu sorriso. – Masaki sempre será a mulher da minha vida.

Ryuuken encolheu os ombros e sentiu o rosto aquecer.

– E exatamente por esse motivo, acredito que uma mulher tão boa quanto ela não ia querer ver um cara como você com essa cara de quem comeu e não gostou. – Ele disse repentinamente, voltando a olhar Ishida com aquela cara de palerma dele. Ryuuken arqueou a sobrancelha, aborrecido. – E ia querer que eu te ajudasse com isso!

– Não quero que me ajude se a mulher da sua vida é a Masaki-san.

– E você é uma mulher?!

Hum... Agora o rosto do Quincy virou verdadeiramente vermelho.

– Foi o que eu pensei. – Ele moveu as sobrancelhas para cima e para baixo, mostrando sua vitória sobre Ryuuken. Este mesmo revirou os olhos e crispou os lábios de leve na direção do outro.

Isshin trouxe o rosto do menor para perto de si novamente, erguendo o queixo um tanto e roçando-o pela ponte do nariz do Quincy. Ishida torceu o rosto com a cócega provocada pela barba por fazer do Shinigami, ao passo em que Kurosaki baixava o rosto um tanto mais, passando o queixo pelos lábios de Ryuuken, até que os lábios se encontrassem, como se fosse apenas uma consequência da movimentação.

Ficaram parados por alguns instantes até que Isshin se moveu para beijá-lo de verdade, não apenas aparentar. As bocas mantiveram-se fechadas até que o moreno tomasse a decisão de separar os lábios para que as línguas se encontrassem, num beijo inicialmente calmo, como deveria ser. Além do mais, assim como Uryuu, Ryuuken tinha a tendência de ser um pouco tímido com essas coisas, embora não deixasse transparecer.

O que ele deixava transparecer sobre essa sorte de assuntos, afinal?

O toque calmo das línguas foi realmente hábil a relaxar os músculos do Quincy, que permaneceu travado pelos primeiros segundos. De qualquer forma, Ishida ergueu uma das mãos ao rosto de Isshin – visivelmente mostrando-se entregue à situação – e tocou-lhe perto do queixo, sentindo a aspereza da barba em seus dedos. Nesse momento, Kurosaki baixou os braços e o segurou pela cintura.

Não bruscamente ou com desespero, estava mais calmo do que geralmente aparentava ser. Bom, é claro... No momento, a ideia era ajudar Ryuuken a relaxar, certo? Se saísse devorando-lhe os lábios de uma vez só, era capaz de deixar o Quincy ainda mais tenso do que já costumava ser.

Quando se afastaram, Ishida abaixou o rosto levemente e seus olhos focaram-se na curva do pescoço de Isshin. Já este, por sua vez, tocou os lábios na testa do menor. – Será que eu, mero Kurosaki, tenho alguma capacidade pra te deixar menos estressadinho? – Resmungou com uma voz engraçada, já que a boca estava colada na pele de Ryuuken, e fazendo questão de ressaltar seu sobrenome no mesmo tom retraído que o outro usava.

– Tudo o que você faz é me estressar, Kurosaki.

– Ahhh! Não seja tão ingrato! – Ele afastou-se de repente, olhando para Ishida com uma expressão tristonha. Ryuuken o encarou por alguns instantes antes de cerrar os olhos atrás das lentes dos óculos, e curvar os lábios num sorriso tranquilo.

– Mas de vez em quando, até que você consegue me acalmar.


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