Look After You escrita por higherxc
Notas iniciais do capítulo
Primeiro capitulo. Começo de uma era. Espero que vocês gostem.
Abra os olhos, forcei-me.
Respire, forcei-me
Pisque, forcei-me
O som do meu coração me irritava. Me irritava porque mostrava que eu ainda estava vivo, que eu ainda estava lá, na mesma dor. Senti-me pressionando a mesma tecla por repetidas vezes. Hospital, casa, festa, pensar nela, hospital, casa, festa, pensar nela. Uma rotina que eu seguia a risca, mesmo sem querer. Uma rotina que eu queria quebrar, mas parecia longe e até impossível. Meu corpo estava cansado do hospital. Minha mente estava cansadadela. Já fazia meses e eu ainda não entendia o que me fascinava tanto nela. Apesar de tudo, ela parecia ser a única coisa certa e sólida que sobrara. Eu ainda a sentia, como sempre senti. Eu ainda a ouvia, como sempre ouvi. Eu ainda a amava, como sempre amei. Ela era tudo e nada. Ela era a única coisa que me prendia àquele lugar.
Já estava naquele maldito hospital fazia semanas. Entenda, eu tenho um problema sério no fígado e passo mal com muita frequência. Não me pergunte sobre a doença, pois não sei responder. Pedi aos meus pais para que guardassem para eles mesmos, apenas sei que é no fígado e que dói. Muito. Eu não fazia questão nenhuma de informações, a única coisa que me importava era sair dali e finalmente poder me encontrar com ela de novo.
Sentei-me na cama e olhei o quarto do hospital. Somente eu. Um quarto grande com pisos de madeira e detalhes em azul claro, havia uma TV embutida na parede bem a frente da cama ao lado de um relógio. Ao meu lado tinha uma cômoda, acima dela um copo de água. Bufei. Eu não odiava nada mais além daquele quarto. Tornou-se tão insuportável observa-lo, dia após dia, semana após semana.
Apanhei o copo de água, sentindo minha garganta doer. Olhei para o relógio. 08:59. Dali a pouco a enfermeira chegaria com o meu remédio. Decorei os meus horários, até o meu sono os acompanhava.
09:00
- Bom dia Tiago – a enfermeira, Tracy, entrou com a sua habitual bandeja. Tracy era uma senhora de 50 e poucos anos, gordinha, baixinha e ruiva. Seu rosto era banhado por uma chuva de sardas. Ela sempre sorria pra mim e seus olhos mostravam uma compaixão que, pelo o que sei, ela nunca demonstrou para nenhum outro paciente – Hora do…
- Remédio, eu sei. – complementei. Ela arrastou os pés até a cama e me deu o copinho do comprimido. Peguei-o com vontade e tomei.
- Sinceramente, não sei como você toma isso sem água. Esses adolescentes.
- Tracy, acredite, isso nem passa perto do que eu já tomei antes – sorri e ela me olhou decepcionada.
- Sabe que agora você vai ter que parar com as suas festinhas né? – lhe mandei um sorriso irônico – Falo sério, Tiago. Nada de bebidas, nem drogas.
- Eu vou ficar bem, tá? Eu sei me cuidar.
- Se realmente soubesse não estaria aqui – lhe devolvi o copinho de plástico – Eu só quero o melhor pra você, meu querido.
- Eu sei – ela passou a mão enrugada em meu cabelo preto e se retirou.
Levantei-me e me dirigi a grande janela a minha esquerda. Nunca entendi a sua finalidade. É alguma coisa tipo “pode olhar, mas só olhar, você está preso aqui de qualquer forma”. O sol brilhava lá fora e tive vontade de ligar para ela, só para ouvir a sua voz ou até mesmo a sua respiração. Senti meu coração totalmente vazio.
Não tinha mais o por quê em nada.
Um barulho lá fora me tirou dos pensamentos. Havia alguma coisa na recepção do hospital:
- Cala a boca! Você sabe quem eu sou? – alguém gritava – Eu vou vê-lo agora!
Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Andei até a porta do quarto e saí para o corredor:
- Lucas? – gritei. O garoto loiro olhou-me e pude ver seus olhos se iluminarem.
- Do caralho! – ele correu até mim e me abraçou – Cara, que saudades.
- Eu sei, eu sei. – disse – Vamos entrar, ok?
Lucas se sentou na poltrona do lado direito da minha cama, com uma lata de Coca nas mãos:
- Como se sente? – ele perguntou. Lucas tinha crescido desde a última vez que o vi. Estava mais alto e suas costas mais largas, as olheiras características ainda estavam ali. O cabelo louro combinava com os olhos mais escuros que eu já vira. Tinha saudades do meu melhor amigo.
- Estou bem. Como está todo mundo?
- Preocupados com você, claro. Principalmente a Paula, não parou de chorar desde que você foi internado – ri fraco – Estão te tratando bem?
- Claro mãe – brinquei e ele gargalhou, mas logo parou e me encarou – O que foi?
- Você andou pensando nela, né? – a pergunta me pegou de surpresa e eu apenas olhei pra baixo.
- Não – sussurrei.
- É? – ele me olhou, cético.
- Qual é, cara? Ela era a melhor namorada que eu já tive, eu não vou esquecê-la assim tão rápido – Lucas de repente adquiriu uma expressão culpada – Que?
- Nada. Quando sai daqui?
- Hoje, se tudo der certo – ele sorriu, brincalhão.
- Perfeito – ele se levantou e me deu um abraço longo e forte, o senti colocar a mão nas minhas, deixando um papel nela – A gente te espera.
Ele saiu do quarto. Abri o papel amassado:
Casa do Breno.
22:00.
Vamos brincar.
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