No momento em que escreveu aquelas palavras, Gaara fechou o caderno. Estava agoniado demais e ler sua agonia escrita no caderno não melhorava nada. Ele suspirou e fechou os olhos. Estava sozinho ali, já que Hinata precisara ir para casa sob um ataque de nervos. Ele próprio estava esgotado, mas tinha que ficar ali. Até o fim.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do sapato de Tenten. Ela quase corria pelo corredor e ele teve um lampejo de esperança. E medo. Quando ela parou na frente dele, ele a viu morder o lábio inferior. Ficou preocupado.
Gaara: Aconteceu alguma coisa?
Tenten: Nada mudou. Mas quero que você venha comigo.
Gaara: O que houve?
Tenten: Não questione Gaara. Apenas venha comigo.
Ele se levantou. Conhecia Tenten através de Ino. Mas não eram íntimos. Preocupado, ele a seguiu. Olhando para os lados, Tenten o conduziu até um quarto, do lado da UTI onde Ino estava internada, sem poder receber visitas, exceto pela visão através do vidro. Tenten passou para Gaara uma roupa de hospital, uma touca para os cabelos e uma máscara. Ele a olhou intrigado.
Gaara: O que é isso?
Tenten: Roupa para você entrar na UTI. Agora anda logo. Sakura chegará em breve.
Ele teve uma breve idéia do que Tenten ia fazer. Ele entrou no banheiro enquanto ela o esperava sentada na cama. Quando ele saiu, ela já estava impaciente.
Gaara: Tenten, isso é permitido?
Tenten: Claro que não. Mas acho que você deve entrar lá. Sabe, há alguns meses, eu vi o homem que eu amava em coma. Mesmo sendo médica e um ser humano racional e frio, fui até ele e falei com ele, sabendo que não ia dar em nada. E ele acordou. E, o resto você deve saber pela Ino. Enfim, se foi um milagre, minha voz ou a cura médica não sei. Só sei que eu tive a chance de tentar. E você deve ter a sua também.

Gaara não sabia como agradecer Tenten. Nem sabia como expressar como se sentia. Ele abriu a boca para falar algo, mas Tenten o silenciou.
Tenten: Anda logo.
Os dois saíram rapidamente e foram para a UTI. Tenten abriu a porta e deixou Gaara entrar. Sem pronunciar uma palavra, ela fechou a porta e ficou observando o corredor.
Ela não tivera fé quando falara com Neji. Talvez a fé de Gaara fizesse um milagre acontecer novamente.

Gaara se aproximou da cama com lentidão. Ino recebia um soro nas veias. Estava corada, embora aparentasse estar fraca. Ele se ajoelhou do lado dela, na cama. Acariciou os seus cabelos com carinho. A rosa que ele lhe dera havia murchado, mas continuava ali, do lado dela, intacta.
Será que a vida de Ino estava condenada a murchar como aquela rosa? Será que ela não acordaria daquele sono? Ele não queria saber. Queria que ela acordasse e lhe repetisse que tudo ia ficar bem. Que eles teriam que ser forte.
Fechando os olhos, encostou o rosto no rosto de Ino. Ela estava quente, para o espanto dele. Ele a encarou.
Gaara: Meu amor, acorde... por favor Ino acorde... não conseguirei cumprir a minha promessa, eu não sei viver sem você... por favor, acorde.
As lágrimas dele foram engolidas pela máscara, mas os soluços eram audíveis. Ele não sabia o que dizer. Apenas podia implorar para ela acordar. E ao ver que ela não atendia o pedido, ficou desesperado. Chorou com mais força.
O tempo estava se esgotando. Podia ouvir Tenten batendo na porta, alertando-o. Ele se ergueu. Não sabia mais o que fazer. Havia falhado. O milagre não acontecera. Antes de sair, contudo, ia provar mais um beijo de Ino. Mesmo que ela não correspondesse. Mesmo que ela não sentisse.
Ele lhe deu um selinho. Os lábios estavam colados e Gaara não queria romper o contato. Entretanto, a batida na porta o alertou novamente. Abrindo os olhos, Gaara se despediu silenciosamente de Ino. Mas quando ia se afastar, sentiu alguém apertando fortemente a sua mão.

Gaara se voltou. Ino segurava sua mão com tanta força que ele pensou que ela ia arrancá-la. Se voltou para ela e retirou a máscara que usava.
Gaara: Ino... meu amor... você... você acordou....
Ino sorriu. Sua voz saía tão baixa que ele mal conseguia ouví-la.
Ino: Eu te disse... te disse que tinha motivos para viver... acha mesmo que eu ia me contentar em ficar presa numa cama?
Ele não disse nada. Esquecendo do coma recente, da fragilidade de Ino, da cirurgia, ele apenas a beijou. E não conseguia parar de beijá-la. Os dois choravam tanto que as lágrimas se misturavam. Tenten abriu a porta com tanta força que podia até quebrá-la.
Tenten: Gaara... então o milagre aconteceu.
Gaara: Sim. (sem desviar o rosto de Ino) Aconteceu. (beijou Ino novamente, ainda chorando)
A própria Tenten fez um esforço para cessar as lágrimas. A cena era digna de ser filmada. Gaara e Ino chorando abraçados e Tenten segurando o choro, pensando em ligar para a família. Sakura foi a última a integrar o quadro.
Sakura: O que está acontecendo aqui? Como Gaara entrou? E... Ino?
Tenten: Ino acordou Sakura. (disse enxugando outra lágrima) Me dê a bronca depois.
Sakura apenas sorriu junto com Tenten. Mas depois recuperou a pose profissional.
Sakura: Tenten, acompanhe Gaara até a sala de espera. E ligue para os Portillo. Ino precisa ser examinada. E já.
Tenten viu que a voz de Sakura vacilava. Sorrindo, tocou no ombro da chefe e olhou para o casal, que ainda choravam abraçado entre beijos.
Tenten: Dê um tempo para eles.
Sakura apenas balançou a cabeça. Era o que esperava ouvir. Agradeceu finalmente que Tenten agisse como o ser humano doce que era. E ao lado dela, também começou a chorar ao ver a cena.

Dia Seguinte

Sakura: Não pode ser.
Era de manhã. Sakura estava com a pilha dos exames de Ino nas mãos. Não podia acreditar. Não podia ser verdade.
Ela releu e até refez os exames na esperança de ter sido um erro. Mas não. O resultado era claro e definitivo. Mas como ia dizer aquilo em voz alta? Ino estava feliz, em seu quarto, com os pais e o namorado esperando a alta. E agora, ia lhe dizer que estava condenada.
Ela estava escorada sobre a mesa quando Tenten entrou, sorrindo, com a ficha médica na mão.
Tenten: Ino está ótima. Creio que amanhã ela sairá do hospital, basta apenas analisarmos seus exames. (ao ver o olhar da chefe, Tenten ficou rígida) Sakura?
Sakura: Recebi os exames da Ino, Tenten. (fez um gesto para Tenten se sentar)
Tenten: E o que eles dizem?
Sakura: O tumor não foi contido com a cirurgia. Não houve o recesso que esperávamos. Ele voltou a se regenerar e continua atacando o cérebro de Ino, como... como se a cirurgia nunca tivesse ocorrido.
Tenten tapou a boca com as mãos. Sabia que aquilo era um risco, mas tudo era tão injusto... Ino recém havia ganhado uma batalha. E agora, perderia a guerra.
Tenten: Oh Deus. Oh Deus, não.
Sakura: Sim. Ela tinha mais ou menos seis meses de vida antes da cirurgia. Perdeu três meses e 10 dias em coma. E, devido a fragilidade do organismo, o tumor avançou com tudo. Agora ela tem... ela tem... (engoliu em seco)
Tenten: Quantos meses de vida ela tem agora Sakura?
Sakura: Não são meses Tenten, são dias. Ela tem apenas uma semana de vida.

Uma semana... sete dias. Era nisso que Tenten pensava enquanto tomava um café com um calmante. Havia abandonado os calmantes e o café excessivo ao começar a namorar Neji, mas agora sabia que precisava de um.
Céus, Ino... aquilo não era justo. Ela ia morrer. Milagres não acontecem duas vezes, não assim... Ino ia morrer depois de pensar que tudo estaria bem com ela naquele momento.
Tomou o calmante e mesmo aquilo não aliviou o sofrimento. Quando jogou a xícara fora, se deparou com o olhar de Neji, acusador e severo.
Neji: Achei que havíamos combinado que você não ia mais tomar isso. (apontando para a cartela vazia)
Tenten jogou a cartela no lixo. Sabia que estava agindo como uma fraca mas... sua única amiga, sua melhor amiga ia morrer. Tenten já lidara com a morte, mas nunca de uma pessoa como Ino.
Tenten: Sinto muito. Aconteceram coisas demais hoje e acho que não consegui suportar.
Neji, ao sentir o tom de voz, se sentou do lado dela.
Neji: O que houve?
Tenten: Ino. Ela... vai morrer em uma semana.
As palavras soaram apagadas e amargas.
Neji: Ino? Mas você não me ligou a pouco para dizer que estava tudo bem com ela?
Tenten: E estava. Mas avaliamos os exames e... houve complicações. Ela vai morrer. E não podemos fazer nada a respeito. E não sei como contar isso a família dela, ou a ela... eu não sei.
Tenten soluçou, mas não chorou. Neji acaricou os cabelos curtos tentando consolá-la.
Neji: Sinto muito. Ino é uma grande pessoa. Todos vão sentir sua perda.
Tenten: Eu mais do que ninguém. Minha única amiga, uma das poucas pessoas em quem confiei... morrendo, sendo que tinha tudo para ser feliz... a vida é injusta demais.
Neji: Não. Vivemos o que temos de viver meu amor. Ino sabe disso. Ela vai enfrentar a situação com coragem. Como você sempre disse que ela fez.
Tenten apenas soluçou novamente. Sabia que Neji tinha razão. Mas não podia deixar de sofrer.

Gaara foi o primeiro a pressentir que as coisas não estavam bem. Viu Sakura correr de um lado para o outro, seguida de Tenten que aparentemente estivera chorando. Ino estava dormindo e, ele saiu silenciosamente do quarto. Naruto e Hinata estavam na casa deles, pegando roupas e acessórios diversos.
Gaara suspirou. O que poderia ter havido de errado? O inferno não tinha acabado? Estava assustado só de pensar no que poderia estar acontecendo agora. Tentara falar com Tenten ou Sakura, mas ambas lhe deram respostas evasivas e se afastaram. Intrigado, ele estava decidido a descobrir o que acontecera, mesmo que tivesse de agir mal por isso.
Tenten estava em um corredor, junto com Sakura, as duas conversando com uma enfermeira. Ele se escondeu em um canto, a fim de não ser visto. Tenten parecia arrasada e Sakura fazia força para não trair sua pose profissional.
Sakura: Refiz os exames. Ainda tinha um fio de esperança mas... nada mudou.
Tenten: Nem uma chance?
Sakura: Os dias talvez não sejam exatos sete dias. Podem ser 10... ou três. De qualquer maneira, ela deve sair do hospital. É injusto ela passar os últimos dias dela num quarto. Não poderemos lhe dar mais tempo do que já tem.
Tenten: Ino... justamente com a Ino. Milhares de pessoas fizeram essa cirurgia, acordaram e ficaram bem. Mas ela... apenas perdeu tempo.
Sakura: Ao menos ela tentou. Ela nunca desistiu. Ino morrerá, mas lutou até o fim. Isso nos deve servir de consolo. Agora teremos... que contar aos pais dela... e ao namorado.
Tenten: Gaara é o que mais sofrerá. Sakura, sei que você é a chefe mas... prefiro eu dizer. Eu conhecia Ino, conheço o Gaara, a família... será melhor que ouçam de mim.
Sakura: A vontade. Essa não é uma missão que eu gostaria de assumir. Fico feliz que queira fazer isso.
Gaara: NÃO. ISSO NÃO PODE SER.
O berro dele ecoou pelo corredor praticamente vazio. As três mulheres se voltaram. A dor havia começado. E da pior maneira possível.

Tenten e Sakura ficaram paradas. Gaara não chorava, mas a angústia em seu rosto era tanta que era melhor que ele caísse no choro.
Gaara: Ela não pode morrer... não pode... ela sobreviveu a cirurgia...
Ele falava frases sem sentido. Vacilando, Tenten se aproximou dele.
Tenten: Ela vai morrer. Não quero aceitar isso tanto quanto você mas... não podemos fazer nada. Tudo o que fizemos foi em vão... em alguns dias, Ino morrerá. Eu sei que você está sofrendo. Deve estar sofrendo mais do que os próprios pais dela sofrerão quando souberem... mas você precisa ser forte. Precisa fazer ela feliz nestes momentos finais. Se você fraquejar agora, Ino morrerá em meio a amargura e a dor.
Gaara: EU NÃO QUERO FAZER ELA FELIZ POR ALGUNS DIAS. QUERO FAZÊ-LA FELIZ PARA SEMPRE.
Tenten: Eu sei. Eu sei. Mas você não pode.
Aos poucos, Gaara foi se acalmando. Com um tom de voz mais baixo, ele perguntou a Tenten, o coração dilacerado.
Gaara: Ela vai sofrer muito? Quero dizer, os dias finais dela serão dolorosos?
Sakura engoliu em seco. Sim, aquele era um exemplo de amor. Geralmente os entes queridos ficavam tão imersos na própria dor que não pensavam no sofrimento do paciente. Mas ali estava alguém que se preocupava com a dor final de sua namorada do que com a dor que sempre o acompanharia. Teve pena de Gaara. Não deixou Tenten responder.
Sakura: Não. Lhe juro isso. As dores de cabeça, o mal estar... tudo isso apenas dura enquanto a doença está ocorrendo em seu estado intermediário. A morte de Ino... será... (respirou fundo) quando ela menos esperar, sentirá uma forte pontada na cabeça... e morrerá. Não há como prever quando ou como. Mas ela não sentirá dor. Não dará tempo.
Gaara engoliu em seco. Estremeceu.
Gaara: Os pais dela... já sabem?
Tenten: Tencionávamos em dizer isso hoje.
Gaara: Não se incomodem. Eu faço isso.
E sem dizer mais nada, deu meia volta, mais desamparado e perdido do que nunca. Mas sem dúvida com toda a força que necessitava.