Ino suspirou. Crise parte dois estava a caminho. Ela nunca havia contado a Gaara o tipo de mulher que Matsuri era. Não havia se lembrado. E agora ela estava lá, pronta para criar mais um caso entre eles. Pediu aos deuses para lhe dar calma e serenidade. E um pouco de luz para Gaara.
Ino: Matsuri.
Matsuri: Mas que encontro não? Gaara meu querido, como você está?
Gaara respondeu com educação ao cumprimento de Matsuri, sob o olhar de Ino. Ela tentou perceber se havia alguma ponta de desejo da parte dele por Matsuri, mas não notou nenhum. Sorriu com a constatação.
Ino: Se você me perdoa Matsuri, estamos com pressa.
Matsuri: Mas tão cedo? O que dois amigos teriam pressa em fazer?
Gaara: Comemorar um mês de namoro talvez. Você não disse nada a ela Ino?
Ino: (sorrindo) Matsuri nunca me perguntou na verdade...
Matsuri: Oh, estão namorando. Mas que lindo. Acho isso um belo gesto. Não são muito os homens que namorariam uma mulher nas condições de Ino, não é mesmo?
Ino tremeu. Matsuri sorriu ante a reação.
Matsuri: É claro que ela nunca deixou ninguém se aproximar... nunca a julguei do tipo egoísta. Que mulher prenderia um homem ao seu lado sabendo que tem os meses contados? Não uma muito boa, suponho. Mas bem, as pessoas nos enganam.
Ino nada respondeu. Apenas abaixou a cabeça e respirou fundo. Gaara compreendeu o que acontecia. Entendia agora a insegurança de Ino. Ela havia sido sempre intimidada por aquela mulher. Tinha medo de causar mal pelas palavras venenosas dela. Ele também entendeu a reação no dia em que dissera que Matsuri era especial. Inferno, tudo fazia sentido.
Gaara: Concordo Matsuri. Por essa razão, me deu tanto trabalho conquistá-la. Tive que convencê-la de que não era egoísmo permitir-se amar por alguém e receber apoio de um namorado. Ela tentou me afastar milhares de vezes... mas eu sou bem mais teimoso do que ela. E agora, se nos dá licença, temos uma comemoração... e você não está convidada.
Dito isso, ele segurou o braço de Ino e com gentileza a afastou dali.

As juras de vingança de Matsuri e os murmúrios sobre uma morte lenta e dolorosa para Ino não foram ouvidas pelo casal. Gaara sentia Ino tremer e quando se afastaram o suficiente ele falou.
Gaara: Por que não me contou?
Ino: O que?
Gaara: O tipo de mulher que ela é. Por que não me disse?
Ino: Eu... me esqueci.
Gaara: E eu falando que ela era uma boa amiga, uma boa pessoa... especial. Agora entendo a sua reação de um mês atrás. Você deve odiá-la.
Ino: Não a odeio. Ela me odeia, eu sinto pena dela. Mas não nego que ela me faz mal.
Gaara: Como não faria? Com essas palavras venenosas... essa mulher tem rosto de anjo e destila veneno. Você devia ter me dito... teria dito umas boas verdades para ela e não teria sido educado.
Ino: Não teria adiantado nada. Palavras não mudam o que Matsuri fez, faz e fará para mim.
Ele a fitou com atenção enquanto ambos iam para o carro de Ino.
Gaara: Tem mais não?
Ino: Como?
Gaara: Ela fez mais alguma coisa para você.
Ino: Fez. Mas não quero falar disso.
Gaara: Não quer, mas vai falar. (seu tom era decidido)
Ino: Gaara...
Gaara: Não estou lhe dando opção Ino. Você guardou isso só para si por tempo demais. O que ela fez?
Ino suspirou. Entrou no carro e fechou os olhos, tentando encontrar forças para falar. Encostou-se no volante.
Gaara: Pode procurar as energias. Não temos pressas.
Ino: Se você quer realmente saber... ela... ela fez o garoto de quem eu gostava me humilhar e me trocar por ela. Satisfeito?
A dor com a qual ela falou isso o assustou. Mas havia decisão na voz de Gaara.
Gaara: Não. Quero saber os detalhes.

Ino: O que você é, um sádico? Quer ouvir toda uma dor e sofrimento?
Gaara: Não, quero que você desabafe. Há quanto tempo sofre com isso sem dizer para ninguém, remoendo a dor do que aconteceu? Você precisa colocar isso para fora e esquecer. Eu disse que estaria sempre do seu lado. Mas não posso ajudá-la sem conhecer seu coração Ino, o que você torna cada dia mais complicado de desvendar.
Ino: Mas hoje? Justamente hoje?
Gaara deu um sorriso suave enquanto fazia ela encará-lo.
Gaara: Você não é a única que não se preocupa com certo detalhes.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Ficou olhando pela janela do carro a fim de responder as dúvidas dele.
Ino: Eu tinha 18 anos. Estava encantada com esse garoto, Sai. Ele me dizia coisas lindas... dizia que gostava de mim. Eu sempre julguei bem o caráter dos outros. Mas, por ingenuidade ou imaturidade, o julguei mal. E cedendo aos apelos dele, acabamos nos beijando um dia.
Ela suspirou.
Ino: Teria sido apenas um beijo sem importância. Mas eu gostava de Sai. Ou achava que gostava dele, não sei. Então, em um dia, almoçando na cantina, vi Sai aos beijos com Matsuri. Meu mundo parou naquele momento. Quando ele me viu, disse que eu era uma farsa, uma doente, que se aproveitava dos homens. Disse que jamais ficaria com uma mulher que nem eu, mesmo que fosse saudável. Disse que lavou a boca com sabão após o beijo de nojo e de pegar a minha doença. E disse que Matsuri era o amor da vida dele e que ela sim era uma mulher de verdade.
Ela se recostou no banco e olhou para ele.
Ino: Desde então, nunca mais me aproximei dos homens. Não por medo disso acontecer, mas por medo de prender um homem a uma mulher que está morrendo. Mas acho que ao mesmo tempo tenho medo. Medo de ouvir tudo aquilo de novo... medo de estar enganando alguém de novo.
Gaara: Esse Sai... você amava ele?
Ino: O que sabe uma jovem de 18 anos sobre o amor? Eu gostava dele, mas amar... longe disso.

E de repente ela começou a chorar. Chorou tanto que seu corpo era atravessado por soluços intensos e amargos. Gaara a puxou contra si e a abraçou com força. Esperou a tormenta passar e aconchegou o corpo dela no seu, esperando aos poucos os soluços diminuírem e a calmaria chegar.
Ino: Eu sou tão idiota.. chorar por isso tanto tempo depois.
Gaara: Você foi tola por não ter chorado na época. (ele suspirou enquanto acariciava os cabelos dela) Ninguém supera uma dor remoendo a mágoa por anos. Desculpe, mas eu precisava fazer você falar. Sabia que iria pirar se não falasse.. (beijou a cabeça dela)
Ino: Eu sei. Agora eu te agradeço. Mas admito que é difícil. (limpou os olhos com as costas da mão e sorriu) Aniversário de um mês diferente não? Esperemos que o de dois meses seja melhor.
Gaara: Nada é normal do seu lado Ino. Nada. É isso que eu mais gosto em estar com você. Não caímos jamais na rotina. Mas agora vamos. Você já chorou e já me contou a história de como aquele idiota te magoou. Fico feliz que ele seja um babaca pois você poderia estar com ele nesse momento e eu estaria morrendo de tédio com a minha vida. Mas já que o rumo das coisas foram diferentes, temos que ir para a sua casa, mudar de roupa e comemorar nosso primeiro aniversário juntos. A menos claro, que você não esteja no clima.
Ino: Por favor. Deixar um idiota como Sai arruinar nosso aniversário de namoro? Não, obrigada. (ela sorriu)
Gaara: Eu apenas me pergunto... (enquanto Ino dava partida no carro) você nunca mais deixou os homens se aproximar. Entretanto, se aproximou de mim no jardim. Posso saber a razão?
Ino: Acredito que senti uma enorme tristeza vindo de você. E pensei que uma pessoa que sentisse tanta tristeza, não poderia me fazer mal.
Gaara: E você acertou. Eu realmente era triste demais. Mas não o sou mais. Entretanto, ainda não a machuquei.
Ino: Nem irá machucar acho. Mas, como dizer? Uma pessoa que pode sofrer é também uma pessoa que ama com intensidade. E eu senti isso em você. Não me pergunte mais nada. Nem eu sei a resposta.

"Eu não perguntei a resposta. Apenas conduzi o carro e a levei para casa, sentindo que os ombros de Ino estavam mais leves e seu semblante parecia menos triste. Eu agira bem. Fazer ela falar de Sai fora uma boa coisa. Ela conseguira enterrar e conviver com o passado.
Enquanto eu tomava um chá e conversava animadamente com Hinata e Naruto, Ino se aprontava. Ao contrário das outras mulheres, ela não perdia horas se arrumando. Acredito que a doença dela a ensinou não perder tempo. Mas nunca perguntei.
Esperei alguns minutos quando ouvi um barulho, indicando que Ino estava pronta. Eu não havia dito para ela onde a levaria... disse apenas para vestir o que sentisse vontade.
Quando a encarei, senti que o mundo arava de girar e tudo se resumia em contemplá-la. Ino sempre fora linda, mas naquela vez... eu não conseguia descrever a sua beleza. O vestido vermelho com duas camadas uma mais comprida que a outra caindo suavemente sobre as pernas, um pouco acima do joelho... os cabelos soltos acompanhado de brincos delicados, a corrente e os anéis combinando... mas os olhos foram o que me chamaram mais a atenção.
Ela usava uma maquiagem leve, mas aquilo não dissimulava o poder e a profundidade do olhar. Ino sempre fora franca. Eu sempre soube quando ela estava com medo ou assustada ou feliz apenas pelo olhar dela. E naquele momento vi o que eu sempre buscava nela desde que a conheci: entrega e confiança total. Sem medo do amanhã, sem anseios, sem um passado a ser questionado. Ela era completamente minha, de corpo e alma, da mesma maneira que eu sempre fui dela... desde antes de eu saber os sentimentos que nutria por ela.

"Acredito que devo ter babado ou sonhado acordado por um momento, pois ouvi o riso de Hinata e o olhar zombeteiro de Ino. Sorri enquanto estendi a mão para ela e a mantendo próxima de mim, a fitei diretamente nos olhos e transmiti a mesma entrega e segurança que ela transmitia. Ela segurou a minha mão e acredito que aquele momento foi um dos mais intensos da nossa vida. Hinata e Naruto devem ter percebido, pois ambos saíram discretamente.
Eu engoli em seco. Ela estava linda demais. Não havia elogio a altura que eu pudesse fazer para ela.
Gaara: Você está linda... (com a voz baixa)
Ino: Você também. Desde quando usa terno? (ajeitando suavemente a gravata)
Gaara: Não comemoro aniversários de namoro com frquência, Ino Yamanaka.

Ela sorriu para mim e se aproximou mais um pouco. Parecia cena de cinema. Se começasse a tocar uma música ao fundo, eu não me surpreenderia.
Ino: Certo, optei pela roupa formal/informal por não saber onde vamos. Mas pela sua pinta calculo que seja um lugar chique.
Gaara: Não necessariamente. (abrindo a porta de braço dado com ela)
Ino: Gaara... para de suspense. Onde vamos?
Gaara: Ao único lugar onde nós dois poderíamos ir...

Ela suspirou. Sabia que seria impossível arrancar uma palavra sequer de mim. Sem tentar conseguir informações, ela entrou no carro e se sentou com graça e elegância no banco de passageiro. E eu dirigi em silêncio. Havia uma formalidade naquele momento que eu não compreendi. Parecia que finalmente nos víamos de fato como casal... e era uma experiência nova para ambos. Em silêncio, segui para o único lugar onde eu poderia levá-la..."