The Son of Fear escrita por Leila Edna Mattza


Capítulo 5
I think we'll be good friends.


Notas iniciais do capítulo

Cara, nunca estive tão determinada. Sabe o que faria minha determinação ainda maior? Recomendações. A Annakely me deu uma. Por que vocês não seguem o exemplo dela?
Boa leitura.



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PERCY

A primeira coisa que notei quando acordei, foi uma voz. Era irritada e feminina, soltando resmungos e praguejando.

Abri os olhos. Estava sentado numa espreguiçadeira em uma enorme varanda, olhando ao longo de uma campina para colinas verdejantes a distância. A brisa tinha cheiro de morangos. Havia uma manta sobre minhas pernas, um travesseiro atrás do pescoço.

Ao meu lado, estava uma garota. Deveria ter a minha idade. Ela usava um casaco militar rasgado, calça de couro preto com correntes penduradas, e rímel preto. Seu cabelo era negro, curto e espetado, e os olhos, azul-elétricos. Sua aparência era atlética como uma corredora de longa distância. Era bonita, mas também intimidadora. Embora segurasse um prato com pudim. Assim que me viu, resmungou:

– Então, a Bela Adormecida está acordada.

Tentei me levantar, mas ela me empurrou de volta. Abri a boca para falar, mas ela empurrou uma colher com pudim para minha boca. Franzi a testa enquanto comia o pudim, por duas razões. 1) Essa garota estava começando a me irritar, 2) O pudim tinha gosto de pizza.

Quando engoli o pudim, falei antes que ela pudesse me impedir:

– Quem é você?

Ela me deu um olhar completamente mau. Quase sorri. Talvez ela não fosse tão ruim.

– Eu sou Thalia. – Ela resmungou. – Ou o seu pior pesadelo.

Eu ri.

– Um pouco clichê, você não acha? – Eu disse.

Ela apenas deu de ombros, com um sorriso quase imperceptível.

– Você consegue andar? – Perguntou, mais inquiridora do que preocupada.

– Claro que consigo. – Eu respondi. Odiava parecer fraco. Era enervante.

Ela sorriu divertida.

– Talvez você não seja tão molenga como eu pensei. – Ela disse.

– E você não é tão irritante como eu pensei. – Eu respondo, sorrindo de volta.

A porta se abriu, e outra garota saiu para a varanda.

Ela provavelmente também tinha a minha idade, e tinha a aparência muitíssimo atlética, como Thalia. Com seu bronzeado intenso e o seu cabelo louro cacheado, era quase exatamente como eu imaginava uma típica menina da Califórnia, a não ser pelos olhos, que não exatamente arruinavam a imagem. Eram surpreendentemente cinzentos, como nuvens de tempestades.

Ela nos olhou de sobrancelha erguida, divertida.

– Encontrou um novo amigo, Thalia? – Perguntou, sorrindo um pouco.

– Cala a boca, Chase. – Resmungou Thalia. – Era você que deveria estar aqui, não é?

A garota revirou os olhos.

– Eu tinha aula de arco e flecha, Thalia.

– E eu tinha treino com espadas, Annabeth.

– Meninas, meninas. – Eu chamei. Não costumo apartar brigas, porque geralmente estou envolvido nelas, mas estas eram duas garotas bonitas. – Por mais que eu odeie parar um briga, o que vocês acham?

Annabeth olhou para mim com desdém.

– E quem é você? – Perguntou.

– Percy Jackson. E você é...

– Annabeth Chase, filha de Atena. – Ela respondeu. – Acho que você já conhece Thalia... filha de Zeus.

Eu olhei para Thalia com a sobrancelha levantada.

– Filha de Zeus, é?

Ela fez uma careta.

– Não é como se isso importasse. – Respondeu simplesmente.

Assenti, me levantando. Senti-me tonto por um momento, mas logo me recuperei. Espreguicei-me, eu sinceramente queria continuar deitado, mas o TDAH iria me fazer levantar em algum momento.

Olhei para a vasta campina à minha frente, e vi algo se aproximando. Poderia ser um corcel branco normal, se, onde devia estar seu pescoço, não houvesse a parte de cima do meu ex-professor de latim, suavemente enxertada no tronco do cavalo.

– Quíron! – Eu exclamei, erguendo as sobrancelhas. Bem, era verdade. Meu professor tinha uma bunda de cavalo.

– Percy. – Ele sorriu quando já estava perto. – Que bom que já está acordado. Obrigado por cuidar dele, meninas.

Annabeth sorriu e Thalia resmungou. Eu ri, elas provavelmente eram como irmãs.

– Agora venha, Percy. – Disse Quíron. - Vamos conhecer os outros campistas.

Eu o segui, com Thalia no meu lado esquerdo e Annabeth no lado direito. Já havíamos andado um pouco quando me lembrei.

– Onde está Grover? – Perguntei em voz alta.

– Dá última vez que o vi, estava falando com o Sr. D. – Respondeu Thalia. – O Sr. D parecia bravo.

– O velho Dionísio não está realmente zangado. – Disse Quíron. – Ele apenas detesta seu trabalho.

Não perguntei nada sobre eles terem um deus no Acampamento, e ainda o chamarem de “Sr. D” (eu não sei, parecia apenas tão ridículo).

Olhei para a casa de fazenda atrás de mim. Era muito maior do que eu pensara, tendo quatro andares, azul-céu com acabamento em branco, como um hotel de veraneio de primeira classe à beira-mar. Eu estava conferindo o cata-vento de latão em forma de águia no topo quando algo me chamou a atenção, uma sombra na janela mais alta do sótão. Alguma coisa havia mexido na cortina, só por um segundo, e tive a nítida impressão de que estava sendo observado.

– O que há lá em cima? – Sussurrei para Annabeth.

Ela olhou para onde eu estava apontando e seu sorriso desapareceu.

– Apenas o sótão.

– Mora alguém lá?

– Não. – Seu tom era definitivo. – Nem uma única coisa viva. – Ela olhou para mim. – Por que estamos sussurrando?

– Eu não sei. – Sorri. Tive a sensação de que ela falara a verdade sobre o sótão, mas também tinha certeza de que algo havia mexido naquela cortina.

Caminhamos pelos campos de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu.

Quíron me contou que o acampamento cultivava uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo. Segundo ele, paga as despesas do acampamento e não exige quase nenhum esforço. Ele disse que Dionísio produzia esse efeito sobre plantas frutíferas: elas simplesmente enlouqueciam quando ele estava por perto. Funcionava melhor com as vinhas, mas o Sr. D estava proibido de cultivá-las (por causa de um castigo de Zeus que Quíron mencionou), portanto, em vez de cultivá-las, eles plantavam morangos.

A floresta era enorme. Tomava pelo menos um quanto do vale, com árvores tão altas e largas que a impressão era de que ninguém entrara lá desde os nativos americanos.

Quíron disse:

– Os bosques têm provisões, se você quiser tentar a sorte, mas vá armado.

– Provisões de quê? – Perguntei.

– O jogo de Capture a Bandeira é na sexta-feira à noite. – Disse Thalia. – Você tem a sua própria arma?

Levei a mão ao pescoço e apertei o pingente do colar. Timore apareceu em minha mão, e Thalia assoviou.

– Incrível. – Disse.

– Muito bonita. – Concordou Annabeth.

– E mortal. – Completou Quíron. – Um presente de seu pai, eu suponho.

– É. – Resmunguei. – Deve ser.

O passeio continuou. Vimos a linha de tiro com arco e flecha, o lago de canoagem, os estábulos (dos quais Quíron não parecia gostar muito), a linha de lançamento de dardo, o anfiteatro para cantoria, e a arena onde Quíron disse que se realizava lutas de espadas e lanças. Hum, interessante.

– Você provavelmente é filho de Ares. – Disse Annabeth. – Parece gostar de combate. Você brigava com alguém na escola?

– Brigaria, se alguém chegasse perto. – Respondi, indiferente.

– O que quer dizer? – Thalia franziu a testa.

Suspirei.

– Nada.

Thalia e Annabeth pareceram preocupadas, o que me surpreendeu. Ninguém, além de minha mãe, já se preocupou comigo. Talvez, apenas talvez, eu tivesse encontrado alguém que se importasse.

O refeitório era um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado. Sem paredes.

– O que vocês fazem quando chove? – Perguntei.

Annabeth me olhou como se eu fosse maluco.

– Ainda assim temos de comer, não temos?

Resolvi deixar para lá.

Finalmente, Quíron me mostrou os chalés. Havia doze deles aninhados no bosque junto ao lago. Estavam dispostos em U, dois na frente e cinco enfileirados de cada lado. E eram, sem dúvida, o mais estranho conjunto de construções que eu já vi.

A não ser pelo fato de cada um ter um grande número de latão acima da porta (ímpares do lado esquerdo, pares do direito), eram totalmente diferentes um do outro. O número 9 tinha chaminés, como uma minúscula fábrica. O número 4 tinha tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de grama de verdade. O 7 parecia feito de ouro sólido que reluzia tanto a luz do sol que era quase impossível de se olhar. Todos davam para uma área comum mais ou menos do tamanho de um campo de futebol, pontilhada de estátuas gregas, fontes, canteiros de flores e um par de cestos de basquete (o que era mais a minha praia).

No centro do campo havia uma enorme área de pedras com uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de mogo lento. Uma menina com cerca de nove anos estava cuidando das chamas, cutucando os carvões com uma vara.

O par de chalés à cabeceira do campo, os números 1 e 2 pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente.

O chalé 1 era o maior e mais magnífico dos 12. As portas de bronze polido cintilavam como um holograma, de tal modo que, vistas de ângulos diferentes, raios pareciam atravessá-las. Imaginei que fosse o chalé de Zeus, onde Thalia morava.

O chalé 2 era de certo modo mais gracioso, com colunas mais finas encimadas com romãs e flores. As paredes eram entalhadas com imagens de pavões. Provavelmente o de Hera.

O chalé 3 não era alto e imponente como o chalé 1, mas comprido, baixo e sólido. As paredes externas eram de pedras cinzentas rústicas salpicadas de pedaços de conchas e coral, como se as pedras tivessem sido cortadas diretamente do fundo do oceano.

O chalé 5 era vermelho vivo. O telhado era forrado de arame farpado. Uma cabeça de javali empalhada estava pendurada acima da porta e seus olhos pareciam me seguir. Dentro pude ver um bando de meninos e meninas mal-encarados, disputando queda de braço e discutindo enquanto o rock tocava às alturas. Eu não sei por que, mas gostei do chalé.

– De quem é o chalé? – Perguntei.

– É o chalé de Ares, o deus da guerra. – Disse Thalia, antes de sorrir. – Você parece gostar. Annabeth provavelmente está certa. Você deve ser um filho de Ares.

Dei de ombros.

– Parece legal.

– Acho que ele seria maior de fosse um garoto de Ares. – Disse Annabeth.

– Ei. Ainda sou mais alto que você.

Nós rimos, e eu tive a impressão de que Quíron também sorriu, mas ele estava de costas para nós.

Nós paramos em frente ao chalé 11.

– Bem, eu tenho aula de arco e flecha para mestres ao meio-dia. Vocês podem cuidar de Percy a partir daqui?

– Sim, senhor. – Responderam Thalia e Annabeth.

Bufei e cruzei os braços sobre o peito. Como se eu precisasse de alguém para cuidar de mim. Coloquei de volta meus óculos, que ainda estavam no bolso de dentro de minha jaqueta. Não queria fazer uma primeira má impressão, embora tivesse a sensação de que não iria adiantar muita coisa.

– Chalé 11. – Quíron disse para mim, fazendo um gesto em direção à porta. – Sinta-se em casa. – Ele foi embora galopando rumo à linha de arco e flecha.

Entre todos os chalés, o 11 era o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento de verão, com ênfase no velho. A soleira estava desgastada, a pintura marrom, descascando. Acima do vão da porta havia um daqueles símbolos de médico, um bastão alado com duas serpentes enroscadas nele. Um caduceu.

Dentro, estava abarrotado de gente, meninos e meninas, em muito maior número do que os beliches. Sacos de dormir estavam espalhados por todo o piso. Parecia um ginásio onde a Cruz Vermelha estabelecera um centro de refugiados.

Fiquei com Thalia e Annabeth de pé no vão da porta, olhando para a garotada. Olhavam para mim, medindo-me com os olhos. Conheço essa rotina, mas não posso dizer que estava acostumado com isso. Ninguém jamais havia tentado olhar na minha cara sem ficar com medo. Deve ser os óculos.

Enfim, Annabeth respirou fundo.

– Bem. – Ela descruzou os braços e começou a se virar. – Acho que tenho aula de grego antigo agora. Boa sorte.

– Você é uma inútil, Chase. – Rosnou Thalia.

Annabeth apenas sorriu e foi embora.

Thalia resmungou e olhou para mim.

– E então? – Instigou. – Vá em frente.

Entramos no chalé, e Thalia anunciou:

– Percy Jackson, apresento-lhe o chalé 11.

– Normal ou indeterminado? – Perguntei alguém.

– Indeterminado. – Respondeu Thalia.

Alguns gemeram, outros engoliram em seco visivelmente. A isso eu estava acostumado.

Um cara que era um pouco mais velho que o restante chegou para a frente.

– Vamos, vamos, campistas. – Ele disse. – É para isso que estamos aqui. Bem-vindo, Percy. Você pode ficar com aquele ponto no chão, logo ali.

O cara tinha cerca de dezessete anos e parecia legal. Era alto e musculoso, com cabelo com cor de areia aparado curto e um sorriso amigável. Usava uma camiseta regata laranja, calças cortadas, sandálias e um colar de couro com cinco contas de argila em cores diferentes, como os de Annabeth e Thalia. A cicatriz grossa e branca, que corria desde logo abaixo do olho direito até o queixo, deveria perturbar qualquer um, mas não a mim. Nada poderia me perturbar.

– Este é Luke. – Disse Thalia, e sua voz pareceu mudar um pouco. Dei uma olhada nela e vi que estava corando. Ergui uma sobrancelha para isso. Ele me viu olhando e sua expressão endureceu de novo. – Ele é seu conselheiro por enquanto.

– Por enquanto? – Perguntei.

– Você é indeterminado. – Explicou Luke pacientemente. – Eles não sabem em que chalé acomodá-lo, então você está aqui. O chalé 11 recebe todos os recém-chegados, todos os viajantes. Naturalmente. Hermes, o nosso patrono, é o deus dos viajantes.

Olhei para o minúsculo espaço de chão que eles me deram. Eu não tinha nada para pôr ali e marcá-lo como meu, nenhuma bagagem, nenhuma roupa, nenhum saco de dormir. Havia perdido minha mochila em algum lugar da colina. Mesmo que tivesse, acho que não colocaria ali, já que Hermes era o deus dos ladrões também.

– Quanto tempo vou ficar aqui? - Perguntei.

– Boa pergunta. – Disse Luke. – Até você ser determinado.

– Você quer dizer, até meu pai me reclamar?

– Exatamente. – Ele me observou por alguns segundos. – Por que os óculos?

– Você quer que eu tire?

– Seria tão ruim assim?

Dei de ombros. Se ele queria ver, por que impedi-lo? Além disso, sem meus óculos, eu poderia usar meus poderes. Não só apavorar as pessoas, mas também saber um pouco sobre elas através de seus medos. Sorri, e tirei os óculos escuros.

Houve suspiros e goles de todas as direções. Apenas Luke e Thalia não estavam surpresos; ela já havia visto, e ele, bem, eu não sei. Mas fora ela, todos pareciam apavorados. Olhos de chamas não eram exatamente normais, não é?

– Bem. – Luke quebrou o silêncio, sorrindo. – Bem-vindo ao Acampamento Meio-Sangue, Percy.

Eu sorri para ele. Acho que seremos bons amigos.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Comentem! Me ajudem, gente! O que essa amizade vai significar para o futuro do Olimpo?!
Beijos!
P.s.: Comentem, favoritem e recomendem!