Starlight escrita por AnaLu


Capítulo 1
Capítulo único - Revivendo uma vida


Notas iniciais do capítulo

Essa história foi inpirada na musica starlight da Taylor Swift. (http://letras.mus.br/taylor-swift/starlight/)
Essa historia eu escrevi para a escola e o tema era memória, eu gostei bastante do resultado e decidi postar.
Espero que gostem!



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Aproximei-me da pia e comecei a lavar os pratos sujos de bolo. Quase todos já haviam ido embora. Ouço passos de salto se aproximando e antes mesmo dela começar a falar já a garanti:

            - Está tudo bem, querida, pode continuar na sala, já estou terminando aqui.

            - Os anos se passam e você continua a mesma, não é mesmo mãe?- ela sorriu de lado, do mesmo jeito que seu pai costumava fazer, e pegou um pano secando os pratos que eu lavava. – um milhão pelos seus pensamentos!- falou de repente me fazendo sorrir sem graça.

            - Nada de mais querida- soltei um suspiro enquanto limpava o último prato- você se parece tanto com seu pai... - sorri involuntariamente.

            - Você sente falta dele. – não era uma pergunta – Eu me sinto mal te deixando aqui, nessa casa enorme, sozinha. Você tem certeza que não quer vir com a gente? As crianças e o André te adoram e...

            - Querida, estou bem aqui. – a cortei – eu não me incomodo de ficar sozinha, e vocês vem me visitar sempre, não se preocupe tanto.

             Ela assentiu com seu rosto delicado e então um silencio se instalou na cozinha, enquanto terminávamos de arrumá-la.

            - Bom, já é quase meia noite então me deixe lhe dizer feliz aniversario pela última vez. - ela quebrou o silencio e então enlaçou seus braços a minha volta dando-me um abraço apertado. – Afinal, só se faz setenta anos uma vez na vida, não é mesmo?- sussurrou em meu ouvido.

            - Obrigada meu bem, obrigada pelos presentes, pelo bolo, pela presença... - agradeci quando nos separamos. E como resposta, recebi aquele sorriso que eu tanto amo.

            Caminhamos até a sala de estar calmamente e La encontramos meu genro e meus netos dormindo no sofá.

            - Às vezes acredito que tenho três crianças em casa... – ela disse suspirando pesado, mas logo o sorriso voltou a estampar seu rosto.

            Depois que eles foram embora, subi as escadas lentamente, e então meus olhos pousaram naquele porta-retratos tão antigo, está naquele mesmo lugar há tempos. A foto havia sido tirada há uns trinta anos mais ou menos.

            Estávamos no quintal dessa casa, era outono, pois as folhas se encontravam espalhadas pelo gramado, o espaço não era tão grande, mas muito aconchegante, lembro- me que ele havia chego cedo do trabalho, e estava todo animado porque comprara um tripé para nossa câmera, estava ansioso para tirar uma foto de toda a família.

            Chegou correndo no quintal e ficou estático quando nos encontrou, fiquei meio preocupada, mas logo ele entrou de novo e buscou a câmera já instalada no tripé. Depois de nos cumprimentar com aquele jeito doido dele que me encantava, falou pra não nos mexermos, para apenas sorrimos, o obedecemos e ele se postou ao meu lado seguido pelo flash da câmera que enquadrou toda a felicidade que aquele momento nos trazia.  

            Voltando a realidade, já sentia as lágrimas rolarem em meu rosto, desprendi meu olhar e me direcionei á meu quarto, porém parei na porta, impedida pela saudade que sentia daquele tempo, virei às costas e entrei no outro quarto, que usávamos como escritório.

O cheiro dele ainda persistia no local, abri o armário e de La tirei uma caixa onde se encontrava todas as minhas fotografias favoritas, sentei-me no sofá que havia do lado oposto do quarto, abrindo a caixa e revivendo toda uma vida.

Sentia falta do tempo que passou, claro que sim, muita, mas ao mesmo tempo sou grata por tudo que vivi. Setenta anos são muita coisa. Conforme ia passando as fotos, lagrimas se formavam em meus olhos junto com o sorriso que surgia em meu rosto, seguidos por longos suspiros.

Minha infância foi incrível, sempre aprontava com meus irmãos. Éramos uma família muito unida, meus pais eram bem conservadores e protetores, acho que esse foi o motivo de eu ansiar tanto minha ida a faculdade, pois assim deixaria nossa casa em busca de novas experiências.

Engraçado como esse pensamento soa bobo hoje, mas essa era a minha ideologia. Me mudei para uma cidade vizinha, um pouco maior da qual eu nasci. Estava fazendo faculdade de medicina, e creio que esse fato pode mostrar um pouco da minha personalidade na época, muito estudiosa e centrada, também muito responsável, o orgulho do papai e da mamãe.

Foi então que chegaram as férias, um ano de faculdade já havia se passado e eu não podia me sentir melhor, tinha planos de visitar minha família, mas Camila, minha melhor amiga na época, insistiu muito para que eu viajasse com a nossa turma ao litoral, ela usou como argumento o fato de que eu tinha que relaxar um pouco. Aceitei, pois seria uma experiência diferente, não é mesmo?

Ficamos hospedados em uma pousada simples, perfeita para a condição financeira de todos. Todo final de tarde saia sozinha para caminhar pelo cais, para pensar um pouco, ver o por do sol e relaxar. Foi então, que em uma dessas caminhadas eu o conheci.

Não me lembro de exatamente como a conversa começou, mas precisou de apenas alguns minutos para eu me encantar. Ele se vestia de um jeito despojado, mas ainda assim charmoso, e falava sobre tudo com uma animação contagiante. No dia seguinte voltei com a esperança de vê-lo e, para minha alegria, La estava ele novamente.

Continuamos a andar e conversar, até que nos aproximamos de um grande salão, onde uma animada festa acontecia, acho que era um casamento. Fiquei surpresa quando ele perguntou: ”O que acha de entrarmos?”, quero dizer, ele estava louco? Entrarmos em uma festa de penetras? Porem quando dei por mim já havia sido puxada por ele.

Dançamos e dançamos, era como se fossemos feitos da luz das estrelas. Nunca havia me sentido daquela maneira, foi maravilhoso. Deixamos a festa e todas àquelas pessoas vestidas elegantemente para trás, e voltamos a caminhar, porem dessa vez, andávamos sobre a areia, falando sobre tudo e nada.

Lembro-me claramente de ouvi-lo dizer: “Você se preocupa de mais com as coisas que não pode mudar, passará a vida inteira se lamentando se continuar a pensar dessa forma”. Isso me pegou de surpresa, eu sabia que era certinha demais, e ele era o oposto, acho que foi isso que me deixou mais encantada.

Creio que ele notou o quanto fiquei pensativa e logo se desculpou dizendo que muitas vezes não conseguia controlar sua língua, mas eu não estava ofendida, ele tinha toda a razão. Perguntei-lhe o que poderia fazer para relaxar mais e foi a primeira vez que eu vi aquele sorriso: “Experimente sonhar com coisas impossíveis, todos os dias”. Acho que eu cheguei a babar, aquilo era tão certo que tudo que eu pensava era como poderíamos nos casar, ter dez filhos e ensiná-los a sonhar e tudo isso me parecia perfeito.

Foi desse momento em diante que eu comecei a imaginar coisas impossíveis, a possibilidade de nos casarmos era minúscula, era bem claro para mim que ele me achava uma pirralha certinha demais.

Voltei para a faculdade e para os compromissos, mas eu não era mais a mesma, eu não me sentia a mesma. Ter que dizer adeus a ele foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz, mas era preciso, não queria me iludir mais ainda.

Os anos se passaram e a filosofia de sonhar com o impossível me acompanhou pelos próximos anos de faculdade e creio que consegui equilibra-la com minhas responsabilidades. Conheci outros caras e ate namorei, mas nenhum deles tinha aquele sorriso, nenhum deles me fazia sentir daquela maneira.

Chegou o aguardado dia da minha formatura, meus pais e irmãos vieram me prestigiar e eu não podia estar mais realisada, na verdade eu podia, ou melhor, eu fiquei. Logo após a cerimônia sai com meus colegas a uma festa que teria aos formandos, e de longe eu enxerguei o sorriso com qual eu sonhava todas as noites, não era possível, era?

 “Queria garantir-me que você ainda sonha com coisas impossíveis.” Disse assim que nos aproximamos, sorri para ele e passamos a noite inteira conversando e dançando, parecia um delírio.

Começamos a namorar uma semana após o reencontro, ele se mudara para a cidade e eu vivia meu conto de fadas. Nos casamos um ano depois no mesmo salão que entramos de penetras quando nos conhecemos, me diverti muito e novamente senti que era feita da luz das estrelas.

Nossa vida de recém-casados era ótima, trabalhava em um hospital perto de casa na área infantil e ele era chef de cozinha, mas dificilmente parava em um restaurante, ate que decidiu abrir seu próprio. Dei-lhe a maior força, essa foi nossa pior época, discutíamos todos os dias, mas o importante é que sempre fazíamos as pazes antes de anoitecer.

Não tivemos dez filhos, mas com certeza os ensinamos a sonhar. Eram as três crianças mais lindas do mundo para mim, chamamos nosso primeiro filho de Miguel e dois anos depois nasceram nossas gêmeas Clara e Alicia, ambas possuíam aquele sorriso maravilhoso do pai, já nosso menino, todos diziam ser uma mistura perfeita dos dois.

Logo eles cresceram e a casa foi ficando vazia, Miguel, o mais sapeca, tornou-se fotografo e vivia viajando, Clara seguiu os passos do pai e consequentemente herdou o restaurante, e Alicia, minha eterna companheira, trabalha como professora em uma escola local.

Quando se tem esse número de filhos, tudo você deve multiplicar por três, isso é o mais lógico, mas em cada aniversario, formatura, casamento eu me sentia diferente, era incrível. E ele sempre esteve comigo, conquistamos tudo isso juntos e nunca deixamos de sonhar.

Nossos netos nasceram e foi outra festa, temos seis no total, e se tornaram a alegria das nossas vidas. E todas as noites eu agradecia a ele por ter ido a minha formatura e mudado totalmente minha vida, e como resposta ouvia “Obrigado a você por não ter deixado de sonhar com o impossível”.

Anos se passaram, já havíamos entrado na terceira idade, mas a vida quis brincar com nossa felicidade deixando um caminhoneiro bêbado ao volante esmagar o carro do meu marido.  Estava em casa quando recebi o telefonema- havia me aposentado há uns dois anos- corri para o hospital com esperança de receber aquele sorriso mais uma vez e nunca me arrependi tanto de ter escolhido medicina como profissão.

O encontrei deitado no leito do hospital, estava muito fraco e pelo seu quadro sabia que não teria muito que fazer, o caso era muito sério e eu estava desesperada, eu havia estudado aquilo sabia que as possibilidades eram mínimas e isso era terrível.

Vê-lo na UTI me deixou arrasada, não sai do seu lado nem um momento, os médicos tentavam de tudo e eu tentava sonhar com a possibilidade de ouvir sua voz mais uma vez ou ver seus olhos abrirem depois de tantos dias.

Naqueles dias que o acompanhei não deixei de pensar em tudo o que vivemos e em como eu o amava. As crianças vieram visita-lo e tentaram me distrair, mas eu não conseguia, não sem ele do meu lado.

Eu já havia dito adeus a ele e foi uma das piores coisas que eu fiz, mas eu teria de fazê-lo de novo e dessa vez, não haveria um reencontro. Fiquei péssima, e os dias logo viraram meses. Meus filhos têm sido ótimos para mim e eu sinto tanto em não poder dizer a eles que eu superei.

Meus olhos estavam mais inchados do que nunca, já tinha passado por quase todas as fotos quando uma me chamou a atenção, era uma foto minha, não fazia ideia de sua existência. Eu estava no cais, acho que era o dia que nos conhecemos, eu usava um vestido azul claro, meu cabelo estava em movimento por conta do vento, meu olhar estava preso no movimento do mar e havia uma pequena ruga entre minhas sobrancelhas, um sinal de preocupação. Ele havia tirado essa foto antes de nos conhecermos?

Fiquei muito intrigada, por que ele não havia me mostrado essa fotografia antes? E então era como se ele estivesse comigo novamente, virei o verso da fotografia e La estava escrito com sua caligrafia: Você se preocupa de mais com as coisas que não pode mudar, passará a vida inteira se lamentando se continuar a pensar dessa forma.

Novamente ele estava certo, ele sempre está. Eu o perdi, e isso eu não posso mudar, uma hora terei de superar e isso não significará que eu o esqueci, eu nunca vou esquecê-lo. Sem pensar duas vezes andei até a mesa no centro do quarto, peguei o telefone já discando o número. Fui atendida no segundo toque:

— Alô, Miguel? Sei que esta tarde, mas eu estava pensando... o que acha de viajarmos em família, todos nós, as crianças, suas irmãs? Eu conheço uma praia perfeita...                                                


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Se tiverem qualquer critica sintam-se livres para mandarem um review.
Bjos
AnaLu



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