O dia no Limoeiro amanheceu ensolarado. As duas primeiras aulas eram de Educação Física. Os garotos jogavam futebol,  enquanto as meninas disputavam uma partida de vôlei. Somente uma garota não participava da aula. Era loirinha de olhos azuis. Sim, a própria Carminha Frufru. Alegou ao professor Atíla que estava com muita cólica e preferia ser dispensada das atividades físicas. Mentira. Estava preocupada. Não com os pais e muito menos com Jê. O que atormentava a loirinha era as lembranças da tarde anterior.

Flashback

Irritado por não consumirem nada seu Joaquim acabou enxotando as garotas do bar. Ali era lugar para se comer e beber, se Denise quisesse tirar a sorte dos outros nas cartas que abrisse uma tendinha e pagasse o aluguel do ponto. Contrariadas foram para a casa de Denise. Sua mãe tinha saído. Entraram no quarto da ruivinha.

(Música Metamorfose Ambulante – Raul Seixas)

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Uma decoração nova que Carmem nunca tinha visto. Toda inspirada no esoterismo. A Cortina rosa tinha sido trocada por uma azul.  A coxa da cama de Denise tinha as estampas do Yin e Yang. Sob o criado mudo algumas pedras de cristais e runas. Em outro canto pirâmides com água e incenso.

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

As revistas de fofoca sumiram e surgiram algumas de previsões. Alguns livros sobre signos e oraculos também estavam na prateleira. Tinha pendurado uma mandalas na parede.

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Carminha – Que isso amiga? Cade aquele seu quarto todo rosa?

Denise – Feng Shui amiga... Peguei umas dicas ótimas com a madame Creuzodete*...

Carminha  (Divertida, brincando com algumas pedras. – Seu Joaquim tá certo... Você devia abrir uma tendinha... – Meio triste. - E aí, não vai querer saber o que aconteceu comigo?

Denise – Não... Já soube que seus pais se separaram...

Carmem (Surpresa) - Você também é adivinha?!

 Denise (Descolada) – Não é que antes de passar no Bardoka fui até sua casa e o segurança me deu ficha completa do que estava acontecendo... Alias muito simpático o Airton!!!

Carmem (Desiludida) – Muito linguarudo isso sim!!! – Sentam-se na cama – E aí, vai jogar as cartas ou não?  

- Agora Cacá!!! – Retira o baralho da bolsa do colégio. Entrega na mão da outra.  –Pode cortar! – Carmem obedece e retira uma carta, entrega a Denise. – Hummm... Você tirou a morte...

Carmem (Assustada) – Isso quer dizer o que? Eu vou morrer?

Denise (Tranquila)  – Aí , a louca... Não precisa ficar fervida não... A carta da morte não quer dizer a morte física em si, mas o fim de um ciclo e o começo de outro totalmente diferente... Corta de novo!!! – Retira mais uma carta e entrega. – Hummmmm mudanças a vista em amiga, você tirou A Roda da Fortuna...

Carmem – E o que quer dizer isso?

Denise – Que a vida é cíclica, amiga... Fortes mudanças podem ocorrer em sua vida... Fica ligada na sua sorte, Cacá...

Carmem – Que?

Denise – A Roda da fortuna quer dizer mudanças Carminha, sua sorte pode mudar de lado...

Ao ouvir aquilo Carmem sentiu um imenso frio na espinha arrepiou-se toda e uma corrente gelada de vento entrou pela Janela que Denise apressou em se fechar.

- Tempo maluco, maior sol aí vem um vendaval desses né? - Fecha a janela, Carmem não responde. Parece estar em...Transe. Corta o baralho mais uma vez e separa automaticamente uma carta.  – Cacá?! Tudo bem?

-Eu tenho que ir Denise, minha mãe deve estar precisando de mim!!! – Levanta-se de súbito e vai embora, deixando uma confusa Denise.

-Aí a louca!!!! Nem terminei de ler a sorte dela... – Vê a carta separada por Carmem e vira. – A Lua... – Faz um sinal negativo com a cabeça... “Isso não é bom...”

Fim de flashback

Carmem parecia estar sentada no banco novamente em transe. Acordou com a dor de uma bolada, resultado de uma cortada infeliz que Mônica tinha dado. Ficou grogue por alguns segundos e quando abriu os olhos viu um monte de cabeças espionando.

-Ela tá acordando... – Comentou Cascão. Mônica ajudou a se recompor.

-Desculpa Carminha, não queria ter machucado...

- Tudo bem... – Disse meio zonza.

“Tudo bem? Aí meu Deus, a bolada soltou um parafuso na cabeça da Cacá. Cade o siricutico que Carmem normalmente teria com uma bolada dessas?!” – Pensou Denise preocupada, mas não comentou com ninguém. Depois de tomar uma água, Carmem decidiu que seria melhor esperar a aula seguinte na classe e foi acompanhada por Mônica. A dentuça desceu dizendo que a loirinha parecia estar bem, mas não quis ir até a enfermaria. Encerraram os dois jogos, iam direto para o intervalo e depois paras as ultimas aulas. Mônica se apressou em tomar banho. Flavinho tinha combinado de encontrá-la no intervalo. No caminho dos vestiários, Denise ouviu Xaveco comentar com um garoto.

- Nossa, puro azar levar uma bolada da Mônica, hein?!

 “Puro azar mesmo”, refletiu Denise, preocupada com Carmem.

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O vestiário estava quase vazio. Cebola terminava de arrumar os cabelos. Cascão enrolado na toalha entrou no reservado, fechou a cortina e pendurou a toalha na divisória. Ligou o chuveiro e começou seu banho.

- E quando eu dei a cortada e o Xaveco escorreu e eu mandei pro gol?! Viua cara que ele fez?- Perguntou Cascão de dentro do reservado enquanto se ensaboava. Cebola, nada responde. Estava estranho desde cedo. Aéreo. O Sujinho botou a cabeça para fora do reservado pegou sua toalha e atingiu as costas do Troca Letras em cheio.

-AIIIIIIIIIIIIIII!!!

Cascão – Queria saber se tá vivo... Tá parecendo um zumbi, desde manhã... – Pendura novamente a toalha. Volta para o reservado. – Aconteceu alguma coisa?

Cebola precisava se desabafar com alguém, não estava agüentando aquela angustia sozinho. Nada melhor que seu melhor amigo para confessar.

- Cara... Acho que to apaixonado pela... Monica... – Diz meio confuso.

- Eu também acho que ele tinha que usar o 4-4-2 e por o Diego adiantado e... – Continuou falando de futebol, provavelmente não ouviu nada que o Troca Letras tinha falado. “ Se eu falasse com uma porta talvez desse maior resultado”, refletiu Cebola.

-Escutou o que eu falei, Cascão?! – Perguntou.

Cascão – Claro você disse que tava apaixonado pela Mônica, mas eu acho que se ele botasse o Love com o Orti... – Se da conta finalmente da notícia. Bota a cabeça pra fora do reservado. – Peraí, você acha que tá apaixonado pela Mônica? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!

Cebola (Nervoso) – Eu ablindo meu colação e você vem com 18 pedlas na mão, fica mangando da minha cala e...

Cascão – kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Desculpa véio... Eu não to rindo de você gostar da  kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Da dentuça... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... – Volta a tomar banho.  - Eu to rindo da tua lerdeza de só notar isso agora kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... – Percebe a carranca do outro. – Mas e então veio o que tu pretende fazer?! Por que deu esse estalo só agora?

Cebola – O que eu vou fazer?! Nada né... – Ciumento. – Agora ela vive dependurada naquele tal de Fabinho...

Cascão – Flavinho...

Cebola – Tudo a mesma coisa... Eles tão namorando?

Cascão (Provocando) – Por que não pergunta pra ela?

Cebola - Tá maluco?! – Temeroso. – Ela vai queler saber pol que eu to pelguntando...

Mais uma vez o Sujinho bota a cara pra fora.

- Fala a verdade, tá mais que na hora de vocês abrirem o jogo, jogarem a limpo, tá ligado?! Chega de ficar dando volta, vai a luta, besta!!! – O discurso de Cascão empolgou o Troca Letras que abriu um sorriso.

Cebola – Cê acha que eu tenho chance?!

Cascão (Rindo)-  E tem outro com mais chance?  Se eu fosse você tirava logo essa história a limpo desse tal de Flavinho!!!

-Tirar essa história a limpo. – Reflete em voz alta. Da um soco na própria mão, animado com a idéia. - E é isso mesmo que eu vou fazer!!!

Cascão – (Também animado)  - Vai procurar por ela agora?!

Cebola – Não!!! – Frustração de Cascão. - Eu vou provar pra ela que eu sou muito melhor do que ele!!! Eu tenho um plano e é infa...

-Não véio... – Entra no boxe. – Não quero saber, já ouvi demais essa história... Tô fora...

Cebola (Já bolando) – Muito pelo contrário. Você esta dentro!!! Dentrissimo!!!

 Cascão – Qual é, Cebola?! Já to velho pra ficar levando coelhada.

Cebola (Sonhando) – Dessa vez é diferente, sabe por quê? Porque você é o cara... – Disse massageando o ego do amigo.

Outra vez o Sujinho abre a cortina, o cabelo todo ensaboado de xampu, com o orgulho nas alturas.

- O cara?!

Cebola – Sim... O cara... Que namora a melhor amiga da Mônica e vai conseguir saber tudo desse tal de Flavinho!!!

Cascão – Você quer que eu use a Magali no plano?! – Fecha a cortina. – Tô fora!!!

Cebola – É um plano do bem... Só da uma assuntada com ela... Eu tenho que saber tudo, quem ele, onde ele anda... Eu preciso saber tudo sobre o Fabinho...

Dentro do Box, Cascão fica na ponta dos pés para pousar o frasco de xampu no peitoral da janela que era um pouco alto. A janela dava para umas classes vazias. Dentro de uma das classes viu Mônica e seu mais novo amigo. Estavam... Abraçados.

- Flavinho... –Disse em voz alta.

Cebola – Qiue seja Cas o que importa...

Cascão – Não sua besta!!! Ele e a Mônica to vendo os dois aqui da janela da pra ver eles, estão abraçados.

-Que?

Mais do que rápido Cebola invade o banho do outro.  Sem se importar com a água, ou com Cascão pelado tenta se dependurar na janela.

- Cade? – Pergunta desesperado.

- Que é isso?  - Pergunta o assustado Cascão. O Troca Letras nem aí, sem sucesso tenta espionar o encontro da dentuça. – CEBOLINHA, NÃO SEI SE DEU PRA NOTAR MAS EU TO TOMANDO BANHO! – Disse enrolando-se ligeiramente em uma toalha.  – TÁ ME ESCUTANDO?!

- Me ajuda aqui, Cascão!!!

A porta do banheiro se abre. Era Dudu. Uma cena cômica. O garoto percebe uma movimentação na cortina e ouve a discussão.

Acho bem melhor do que ficar marcando touca
Ir direto ao assunto, antes que eu vire presunto
Preciso de um remédio que me cure rapidinho
Que seja indicado "pra" falta de carinho

- SAI DAQUI!!!

- EU SÓ QUERO DAR UMA OLHADINHA!!!

- CUSTA ESPERAR UM POUQUINHO?!

-MAS É RAPIDO!!!

Porque a ferida que eu tenho é grande
Eu pergunto e ninguém responde
Quem se importa ?

- SÓ QUE EU TO PELADO!!!!

- CALA A BOCA E AGACHA AÍ!!!

- EU NÂO VOU FICAR ASSIM NEM FERRANDO!!!

A mente poluída de Dudu já tinha fabricado uma história. “Um casal se encontrando as escondidas.” -  Escondeu-se em um canto e pela abertura da cortina viu se tratar de Cascão e Cebola. Sem pensar pegou o celular e começou a filmar a cena incomum. Cascão de toalha carrega Cebola que estava encharcado espionando Mônica pela janela. Percebia que ela e Flavinho conversavam enquanto faziam gestos. Tinham algumas folhas na mão. Ele vai se aproximando aos poucos e o sofrimento de Cebola aumentando.

Um feiticeiro disse que amar não é tolice
Não, não é pecado ter você sempre ao meu lado
Disse que havia uma droga encantada
Que curava tudo e não doía nada

Cascão – VÉIO CÊ É PESADO, ANDA LOGO, TÁ DOENDO!!!

Cebola – ESPELA MAIS UM POUCO, CAS!!!

Flavinho passa a mão afagando levemente a face de Mônica. Com a outra mão junta seus dedos com o dela. Desesperado, Cebola só podia torcer.

Mônica afasta-se de Flavinho, parecia estar sofrendo. Cebola nem pisca.

Então, me descola a porção do amor

- SAI DE CIMA DE MIM!!!!

É você quem vai ter que pôr
Quem se importa ?

- CALA A BOCA!!!!

 Ela sai da sala batendo a porta para alívio do garoto. Flavinho vai até a janela e diz alguma coisa,

 Por isso põe devagar
Põe devagarinho, que é "pra" não machucar Põe bem de mansinho
Põe devagar
Põe devagarinho dentro do coração

-Que esse idiota tá falando?

Cascão – ÃH?!

A porta da classe se abre e Mônica entra novamente. Total atenção de Cebola.

Cebola - Quieto Cascão!!!

Por isso põe devagar
Põe devagarinho, que é "pra" não machucar Põe bem de mansinho
Põe devagar
Põe devagarinho dentro do coração

Flavinho se volta a Mônica. Parece secar uma lágrima de seus olhos. O Troca Letras debruça-se mais para ver melhor a cena.

Cascão – CEBOLINHA!!!

Lentamente os dedos de Flavinho descem dos olhos para a boca de Mônica.

Cebola – Filho duma... – O garoto toma os lábios de Mônica que corresponde o beijo, Cebola louco da vida tenta se dependurar na janela.

Então eu percebi
Como é difícil ser Romeu
Fiquei apaixonado
Que bicho que foi que me mordeu

 Cascão acidentalmente pisa no sabonete e escorrega.

-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

Tudo vem ao chão. Cebola, Cascão, xampu, cortina. Dudu sai de seu esconderijo e com o celular ligado finaliza seu vídeo.

- Sorria, vocês estão sendo filmados, casalzinho!

- DUDU? – Perguntam-se sem entender. Logo Cascão compreende o celular nas mãos do garoto. Tenta puxar, mas o menor é mais rápido e corre para fora. – PESTE!!! – Pragueja o Sujinho. Dá um tapa nas costas de Cebolinha. – E nunca mais invada o meu banho!!!

-Cala a boca, não tá vendo que eu to preocupado com outras coisas. – Nervoso. – Eles se beijaram!!!

Cascão – Então?!

Cebola – Eles tão juntos!!! O que eu vou fazer agora?!

- Você eu não sei, mas eu vou terminar meu banho... – Disse entrando no Box deixando um aflito Cebola para trás.

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- A prova será em dupla e eu que escolherei as... – Antes do professor Rubens terminar sua frase a porta da classe se abre. Cascão e Cebola são os ultimos da turma a chegar. O Sujinho cheio de arranhões, ganhos no patético episódio do banho invadido. Cebola encharcado da cabeça aos pés. Rubens percebe, mas prefere prosseguir com sua explicação sobre a prova. Tem coisas que é melhor nem saber. Cascão senta ao lado da namorada.

-Que é isso? – Pergunta confusa.

Cascão (Sério) – Prefiro não comentar!!!

Rubens – Bom e assim que o Cascão e a Magali me permitirem eu prossigo com a explicação das questões...

- Desculpa professor... – Disse a comilona com um sorriso amarelo. Rubens foi dividindo a classe a seu gosto. Mônica e Humberto. Cascuda e Carmem. Cascão e Xaveco. Magali e Aninha. Luca e Irene. Denise e Cebola. Assim que o Troca Letras aproximou com sua mesa, Denise não resistiu em tirar um sarro.

- Já ouvi falar em gente calorenta, mas tomar banho de roupa é exagero né , gato?!

Cebola (mal humorado) – Não enche Denise!!!

Rubens – Dorinha faz com o... – Procura por um parceiro. O único que sobrou era Do Contra. – Antonio...

- Antonimo, professor... – Corrigiu o menino. Na classe todos já sabiam da história do nome e começaram a rir. Todos menos Dorinha que não tinha gostado do companheiro de dupla. Do Contra senta-se ao seu lado. – E aí Justiceira? Beleza?!

Ele também não tinha esquecido a história do dia anterior.  Ia ficar atormentando com aquele apelido até quando?!

- Vamos fazer logo essa prova?

- Tá com pressa, jus-ti-cei-ra? – Sem falar nada a Dorinha pegou o papel.

- Da pra parar com esse apelido idiota?! – Perguntou a garota irritada. Ele estava adorando aquele jogo, sem falar nada respondia as questões. Quem visse de longe achava que discutiam sobre a prova, pois falavam baixo, mas ele provocava o tempo todo puxando assuntos que nada tinha a ver com a prova, irritando-a.

- Você tá me desconcentrando!!!

Do Contra – Qual é Dorinha?!!! Voe deve saber isso aqui de trás pra frente... Senta na frente, vive estudando... Adora bancar a nerdizinha, não é mesmo?! Olha aqui – começa a ler uma questão. - A predação é uma interação biológica na qual o predador alimenta-se de um outro indivíduo inteiro, a presa, causando a morte desta. Considerando esta definição como correta,ocorre predação quando?

Dorinha (Ditando) – É quando a... – O garoto parece estar imóvel. – Tá escrevendo Do Contra?

- Deixa para escrever quando faltar 10 minutos... Me explica pra entender melhor...

- Escreve que eu vou explicando. – disse a garota nervosa.

Do Contra (Sem pressa) – Como você é tensa hein?!

Dorinha – A gente tá perdendo tempo... Todo mundo deve estar na metade da prova, anda Do Contra...

Do Contra (Provocando) – Esquece todo mundo... Que mania de querer fazer as coisas igual a todo mundo...

- A gente tá perdendo tempo!!! – Respondeu já com raiva.

-E daí?! Nem tava a fim de fazer essa prova!!!

-COMO VOCÊ É IDIOTA DO CONTRA!!! – Explodiu em um grito para a surpresa de todos. Inclusive do professor.

- O que tá acontecendo aqui?! – Perguntou Rubens nervoso.

- Desculpa professor mas é que ele... – Tentou Dorinha, sem sucesso. Arrancou a prova da mão de Do Contra.  

 - Fora os dois!!! Não vou admitir esse tipo de coisa dentro da sala... Vou corrigir a prova do jeito que esta.

-Mas professor... – A garota tentou argumentar enquanto Do Contra a esperava do lado de fora.  Rubens irredutível fez a garota sair. Pegou a bengala e saiu sob o comentário das outras duplas. Do lado de fora Do Contra caminhava despreocupado ao seu lado.

- Vamos tomar um suco pra comemorar o sucesso de nossa parceria?!

Dorinha (Irada)– Não me dirige a palavra!!! BABACA!!! – Sai de perto do garoto que acabou sumindo. Ficou sentada em um dos bancos. Ela que sempre foi tão calma, paciente, equilibrada... Como pode dar ouvidos ao que o idiota do Do Contra diz? Babaca, infantil, crianção!!! Ele que não venha com mais gracinhas para seu lado. Ficou quase duas horas sentada no banco. Esperando tocar o sinal encerrando o dia de aula. Não teve saco para escutar as piadinhas que provavelmente rolaria na classe. Finalmente a campainha soou e os alunos começaram a descer. Sentiu cheiros familiares. Era o perfume de Magali e das meninas.

- O que foi isso hein gata?! – Perguntou Denise rindo. – Que prova foi essa?

Dorinha – Eu mato aquele idiota!!! Nem quero saber da minha nota!!!

Aninha – Poxa se eu tirasse um 10 como esse eu queria saber e muito...

Dorinha (Surpresa) – Dez?

Mônica – A qual é Dorinha?! Vai dizer que você não sabia que quando o professor pegou a prova vocês já tinham terminado...

Dorinha ( Sem entender) – Mas... Aquele idiota... - Então ele já sabia e tinha respondido. O besta só fazia onda com ela... - Começou a rir para surpresa das garotas.

Denise- Eu hein? Cada louco com sua mania...

Aninha – Da próxima deixa o idiota fazer comigo, ok?!

- Tchau Dorinha... Parabéns pela melhor nota da classe. – Despediram as outras meninas. Dorinha ficava direto para dar suas aulas. Almoçou e foi para a classe a espera das crianças e de Do Contra que devia vir para seu segundo dia. Começou a rir sozinha lembrando do escândalo na classe e depois da nota 10. Imaginando a cara do professor ao corrigir a prova. “Quem sabe com uma conversa não podiam se entender?! Não custa tentar...”  Ouviu um barulho na porta. Sentiu um cheiro de cigarro.

- Do Contra?

-Não, rs... Meu nome é Julia... – Respondeu uma voz feminina. – O Do Contra ta aí?!

Dorinha -Não. Quer deixar recado?

Julia - Avisa que eu procurei por ele.

Dorinha – Tá, você é amiga dele?

Julia – Amiga não... Namorada... Tchau, tchau... – Despediu-se.

 – Namorada? – Repetiu a garota, um tanto desconfortável.