The rose in solitude escrita por Mione St


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Nada é tão fácil...



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As horas passaram lentamente. Ainda na sala vazia do hospital, Anna fitava a parede, pensando no que havia acontecido naquela noite. O soro estava quase no fim, ela iria embora do hospital a qualquer minuto. Quatro horas da manhã. Céus, como estava tarde. Seus pais estariam chegando em casa naquele momento.
Ela recordou dos dois beijos que havia trocado com Shaka. Sorriu ao lembrar de cada um deles e o sorriso substitiu pela angústia. Não era ela que queria um amor a todo o custo? Então por que rejeitara um homem que parecia querer apenas o que ela lhe oferecia?
Anna: (pensando) Você fez isso porque... você se preocupa com ele. E amar também é renunciar... não é o que dizem?
Quem ouvisse seu pensamento diria que ela apenas seguia os passos de algo determinado, como se tentasse fazer tudo direito para provar que amava alguém. Mas... não era assim. Ela soube, no momento em que havia beijado Shaka que o encontro dos dois estava escrito nas linhas do destino há muito tempo. E que, como ele dissera? Ela o conhecia desde sempre.
Anna: (pensando) Shaka não acredita nisso, ele vai se esquecer de tudo em breve... eu fiz o certo. E... se contente Anna. Sua vida, pelo menos essa, será um absoluto e completo vazio... você não pode amar nem fazer alguém se apaixonar por você. É injusto demais com a pessoa. Se conforme.
Ela fechou os olhos e deixou a cabeça se recostar na parede. Era mais difícil do que previra... enfrentar aquele inferno sozinha... talvez Luna pudesse ajudá-la... embora naquele momento não precisasse de consolo.

Luna tomava seu tradicional café com doses imensas de adoçante. A cirurgia havia sido complicada e o estado de Saga era grave. Ele agora dormia no quarto, e apenas sua determinação o salvaria. Ela suspirou, bebendo o café. Como podia não ter se lembrado dele antes?
Está certo, fazia anos que o havia visto... era uma adolescente e ele também... mas não podia ter se esquecido assim.
Será que ele não havia se enganado? Sonhado?
Quantas pessoas se encontravam embaixo de uma castanheira? Não muitas, foi o que ela concluiu. E ainda bebendo o café, as imagens não muito clara na sua mente.

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Flashback

Há alguns anos atrás, em uma manhã fria de inverno, uma jovem de uns 16 anos chorava com o rosto escondido nas mãos. Luna havia visto mais uma vez a mãe sendo espancada e humilhada pelo padastro. Ela não havia aguentado ver a mãe, com o rosto cheio de hematomas, se erguer do chão e se preparar para servir o jantar para o marido. Antes que a mãe pudesse chamá-la ou o padastro ofendê-la, Luna se levantara da cadeira e ganhara a rua, tentando esconder de si a visão da mãe caindo no chão implorando para o marido parar.
Agora ela estava lá, chorando, pensando em seu futuro. Não havia perspectiva para ela. Como uma jovem pobre, de uma família deturpada emocionalmente poderia ter futuro? Era provável que terminasse sozinha ou como a mãe, o que seria pior. Talvez acontecesse com ela o que acontecia com muitas jovens da sua classe, violência sexual em casa. Ela já havia notado os olhares que o padastro lhe lançava e já havia aprendido que a sua mãe era uma fraca.
O que faria? Chorar não era uma alternativa, mas ela nada mais podia fazer.

Tentou ser forte, mas não conseguia. Fitou ao longe um casal de namorados se beijando e se perguntou se a garota sabia que a aguardava. Que os homens, depois que as conquistavam, mostravam sua verdadeira face. Dos animais que realmente eram, como seu padastro havia feito. Então, ela olhou para o horizonte, tomando a resolução de nunca deixar um homem interferir em sua vida. Nunca um homem a faria chorar.
Mas as lágrimas dela ainda caíam livremente, e enquanto fitava seus pés, tentando recuperar a serenidade, viu uma mão estendida, segurando um lenço de seda. Ela ergueu a cabeça e viu um rapaz, um pouco mais velho que ela estendendo o lenço.
Saga: Não chore. Não sei o motivo que a leva a chorar mas... seja lá o que for, não merece as suas lágrimas.
Luna: Como pode saber?
Saga: Por que você é linda demais para chorar. Mas se quiser me dizer o motivo de suas lágrimas, quem sabe eu possa ajudar.
Luna: Você não pode me ajudar. Você é um homem. E os homens são os que fazem as mulheres chorarem.
Ela limpou as lágrimas com o lenço.
Saga: Quem foi que a machucou dessa maneira? Que o seu ex fez para você?
Luna: Não tenho, nunca tive nem nunca terei namorado. Nunca vou me apaixonar.
Saga: E posso saber o que a fez tomar tal decisão?
Luna: A vida. É só isso que devo dizer.
Ela se levantou e não olhou para ele. Era jovem e frágil, e impulsiva, como toda a adolescente. Saga sorriu para ela.
Saga: A vida é longa demais para você tomar tais decisões com tão pouca idade.
Luna: Não sou tão criança assim. Tenho 16 anos. (zangada)
Saga: Jovem demais. Mas eu também sou. Por que você é amargurada com tão pouca idade?
Luna: Porque a vida me fez assim.
Saga: Vejo que não é de muita conversa... (ele sorriu) mas sabe, posso ver que está enganada. A vida não a fez amargurada e dentro de algum tempo, você descobrirá que existe muita luz e alegria para se poder desfrutar.

Luna: E como você sabe disso? Um anjo te contou?
Saga: Não. Costuma-se dizer que as castanheiras do Oriente tem poderes e que pessoas sensíveis podem adivinhar o futuro. Estou adivinhando o seu.
Luna: Pois acho que está enganado. Só vejo trevas na minha vida.
Saga: Nesse momento, realmente. Mas daqui a uns anos... você terá uma surpresa. Será uma mulher de destaque, uma mulher linda e conquistará todos os seus sonhos. E também, embora esteja renegando o amor, o conhecerá... novamente.
Luna: Novamente?
Saga: Você já o está experimentando neste momento. Também dizem que essas castanheiras trazem a tonas sentimentos profundos, incrustrados dentro da nossa alma.
Luna apenas o observou com desdém.
Luna: Não acredito em lendas. Embora suas palavras me consolem, sei que são apenas isso: consolo. Então por favor... pare com esse jogo.
Saga: Oh céus... com tantas moças ingênuas no mundo, me deparo com uma cética fria e calculista... sabia que a frieza é apenas uma arma contra o medo?
Luna: E você sabia que eu tenho muita coisa para temer e me proteger?
Ele não respondeu. Tocou o rosto dela com as pontas dos dedos, fazendo Luna recuar. Aquilo era apenas um jogo dos homens. Ela sabia disso melhor do que ninguém.
Saga: Eu já diria que você precisa de alguém que te proteja e que te diga que não há nada para temer.
Luna: Sou uma criatura solitária. Sei me virar sozinha.
Saga: Esse é o seu problema.
Luna: O que quer dizer com isso?
Ele nada respondeu. Se aproximou dela novamente e a encarou nos olhos.
Saga: Talvez nem eu mesmo saiba.
Então a beijou.

O que mais surpreendeu Luna foi a intensidade do beijo. Logo ela, que não queria se apaixonar, logo ela que dizia desde sempre que o amor era uma tolice... de repente ela se sentiu tola. Tola por não acreditar no amor, tola por se negar a viver... tola por ser pessimista, tola por tudo.
Saga interrompeu o beijo delicadamente. E sorriu com ternura para ela. Luna se perguntou se deveria dar um tapa na cara dele ou perguntar o motivo do beijo. A indecisão era tão evidente que Saga abriu o sorriso e lhe lançou um olhar estranho.
Saga: Achei que ia tomar um tapa.
Luna: Não sei porque eu não o dei ainda.
Saga: Talvez você tenha gostado da experiência. Você pode acreditar no que quiser, negar o amor mas... quando se está envolvido, ainda que um milésimo de segundo com alguém especial ou que nos faz sentir bem... tudo o que lutamos para não sentir, tudo o que acreditamos, não passam de mera tolices.
Luna: Você fez isso para provar que eu estou errada? Foi crueldade.
Saga: Não. Fiz isso porque senti que seu beijo seria diferente. E não me enganei. Eu sou jovem, posso ser impulsivo.
Luna ainda o encarou, a desconfiança era grande em seus olhos.
Saga: Tenho certeza que ambos nunca esqueceremos esse beijo. Talvez não nos lembremos do rosto... mas o cenário e o beijo, nunca nos abandonarão. Mesmo que passem anos... será uma boa lembrança.
Luna: E isso é a magia das castanheiras?
Saga: Sim.
Ela ainda o observou quando um dos amigos de Saga, segurando a bola, se aproximou dele.
Amigo: Saga Gemini , nossa partida já está há tempo demais parada por sua culpa. Sei que está interessante aqui, mas vamos voltar ao jogo?
Saga: Desculpe Shura. (se voltou para o amigo) Apenas me dê um minuto para me despedir da... (se voltou para Luna) onde ela está?
Shura apontou para uma figura que sumia em algum ponto da rua. Saga suspirou. Sim, seria apenas uma lembrança... porque Luna se recusava a tornar algo real.
Saga: (pensando) Adeus... garota desconhecida.

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Meu Deus, foi tudo o que Luna pensou quando saiu da lembrança que a consumia por tanto tempo. Como pode ser ele? Como?
Ela estava abalada. Fechou os olhos com força. Saga era aquele jovem que por um momento a tinha provado o quão estava errada... o quão ela podia ser feliz... se lembrava como se fosse ontem. Quando ele falara com o amigo, ela saíra sorrateiramente, a fim de não ser seduzida pelas palavras e promessas que saíam de seus lábios. E desde então, ela nunca mais o vira.
Luna: (pensando) E ele se lembra. Ele se lembrou. O que farei agora?
Provavelmente estava dando muita importância ao assunto. Aquilo acontecera há quanto tempo? Nove, dez anos? Nenhum dos dois eram mais adolescentes. Nenhum dos dois eram mais impulsivos.
Ela balançou a cabeça. Estava agindo como uma colegial. Era melhor apagar aquilo da cabeça, pois era o que Saga tinha feito.
Por que raios ela não acreditava naquilo?
De qualquer maneira, Luna retomou sua postura fria e dura. Anna a esperava para conversar. Era isso que ia fazer, algo de útil ao invés de perder tempo com memórias de crianças.

Ainda na sala, enquanto removiam o soro, Anna fitava a janela. Era ainda de madrugada, umas três ou quatro da manhã. O céu ainda estava estrelado e nenhuma nuvem cobria as estrelas brilhantes e faiscantes, que revelavam um futuro promissor para todas as almas.
Luna encontrou Anna encarando o céu, com um olhar perdido no rosto. Ela contornou a janela, tentando seguir as estrelas. Prestando atenção, Luna se deu conta que ela desenhava... desenhava uma rosa.
Luna conhecia Anna muito bem e sabia que ela não estava bem, ou estava deprimida. Se sentou na cadeira e fitou a única pessoa que chamava de amiga.
Luna: Um milhão pelos seus pensamentos... são interessantes demais.
Anna: São tristes demais... (suspirou ainda desenhando no ar, seguindo as estrelas).

Luna: Dia ruim? Me conte tudo.
Anna: Sim, um dia péssimo. Sabe quando você toma decisões erradas e elas custam caro? Pois bem, estou lidando com minhas decisões erradas hoje e de quebra tive uma das minhas suaves dores de cabeça.
Luna se sentou na cadeira, de frente para Anna. Ela parou de desenhar nas estrelas e se voltou.
Luna: O que houve?
Anna: Conheci um rapaz. E meio que me envolvi com ele. Me tornei amiga dele. Agora, nessa noite... ele me trouxe aqui. E disse que gostava de mim.
Luna nada disse. Apenas fez sinal para Anna prosseguir.
Anna: Ele me beijou... duas vezes nessa noite. A primeira eu pensei que fosse para me consolar, mas a segunda ele confessou que estava interessado em mim. E eu... eu o afastei.
Luna: Não correspondia a ele?
Anna: Pelo contrário, eu o correspondia mas... não podia Luna. Ele me conhece pouco. Não está ainda apegado a mim. Se eu o afastar agora, ele não será mais um a sofrer com a minha doença.
Luna: Você gosta dele e desistiu dele... você que busca o amor desde sempre... por que fez essa tolice Anna?
Anna: Luna, eu vou morrer. Tudo o que eu menos quero é machucar o Shaka. Ele já perdeu a mãe, tem uma vida difícil... tudo o que ele menos precisa é de um peso que o faça sofrer mais ainda.
Luna: Anna, você não sabe se vai morrer. Deixe de ser pessimista. Há chances para você e você sabe disso. Quanto ao rapaz... Shaka, não? Ele escolhe o caminho dele. Se ele quer ficar com você, deixe ele ficar com você. Ele sofrerá bem mais tentando te tirar da cabeça do que te dando apoio e força.
Anna: Ele vai me esquecer. Ele me odiaria daqui a uns meses se eu o submetesse a dor de um relaiconamento comigo.
Luna: Te esquecer? Talvez. AS pessoas são fortes e diferentes. Talvez ele te esqueça. Agora odiar... ele vai te odiar quando começar a pensar em você sem carinho. Pelo fato de você ter se negado a dar uma chance, a viver... isso ele nunca vai te perdoar. E se você sobreviver, melhor nem pensar.


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Notas finais do capítulo

Parando por enquanto... Se der, de tardinha eu posto, ou amanhã...



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