O Deus Sem Nome e o Deus Perdido escrita por Luiza


Capítulo 5
Meus irmãos me acusam de assassinato


Notas iniciais do capítulo

Gente linda do meu coração!!! Eu sei que demorei, mas viajei meio de última hora para São Paulo, e acabou que não consegui postar, mas eu escrevi quatro capítulos adiante, tenho MUITAS surpresas para vocês. Hey, façam perguntas lá no melrosing, sim? Eu estou com saudades de responder vocês, e mandem as músicas, vou postar a playlist junto com o próximo capítulo (provavelmente sábado)

*Capítulo betado pela minha diva Annabeth73

Boa leitura!

~Lu



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As duas primeiras semanas e meia que passei no Acampamento voaram. Tudo o que eu fiz me pareceu surpreendentemente normal. Bom, o quão normal qualquer coisa em um acampamento para semideuses pode ser.

Capturamos a bandeira (caso esteja se perguntando, sim, eu mantive meu título de capturadora, mas apenas no primeiro jogo. O chalé de Atena estava com tudo no outro fim de semana), escalamos as paredes de lava e disparamos muitas flechas. Os gêmeos, David e Daniel, estavam fazendo seu melhor para não me deixar sentir falta de Dylan. De alguma forma, acho que não queriam que seu lugar como meu irmão-amigo, aquele com quem eu podia conversar e contar, ficasse em branco. Estavam fazendo aquele papel de irmãos super-preocupados, mesmo não tendo nada com o que se preocupar. Eu apreciava o que estavam tentando fazer por mim, de verdade, mas aquela cama vazia do outro lado do chalé estava me atormentando e não havia nada que ninguém pudesse fazer sobre isso.

Quase não falei com Tanner durante todos esses dias, ou porque ele estava com Ruby, ou porque algum de nós tinha algo a fazer. Na verdade, eu não tinha nada de verdade para fazer, apenas dizia que tinha.Mas por que?, você me pergunta, e eu respondo: Porque se ele tem o direito de me trocar pela nova namoradinha, eu tenho o direito de trocá-lo por qualquer outra coisa que venha na minha cabeça!

"Tenho treino de esgrima","Ainda não aprendi o repertório do coral","Não fomos bem na inspeção, teremos que lavar a louça", foram algumas da desculpas que usamos para adiar o encontro, se é que posso chamar assim. Essa enrolação se estendeu até a manhã em que Quíron resolveu que o luto por meu irmão havia acabado.

Estávamos no refeitório tomando café quando ele, com suas pernas brancas de cavalo, levantou-se de seu lugar ao lado de Rachel na mesa dos funcionários e bateu os cascos no chão de mármore do pavilhão. Como de costume, todos os campistas viraram o olhar em sua direção.

—Como bem se lembram— começou o centauro, sua voz grave espalhando-se por todo o recinto—, perdemos um campista querido ano passado.

Uma pontada dolorida acertou meu coração como se os alvos nos quais eu disparava todas as manhãs houvessem se rebelado e agora estivessem me acertando com minhas próprias flechas. Pude perceber vários rostos se voltando para os pratos. Falar disso ainda doía, não apenas em mim, mas em todos que lhe eram próximos.

— Entretanto— continuou o diretor de atividades—, o posto de conselheiro do chalé de Apolo está livre há muito tempo, e isso não pode ficar assim -Vi Todd dar um sorriso fraco ao meu lado. Não estava feliz de perder o irmão e melhor amigo, mas, como mais velho do chalé agora que Dylan se fora, o posto seria dele. Quíron olhou diretamente para nós— O pai de vocês mandou uma mensagem de Íris. Ele quer que Rose assuma o cargo imediatamente.

Congelei, sentindo os murmúrios ao meu redor.

— Quíron, eu não...— balbuciei quase inaudivelmente — Não acho que...

— Já está decidido. — interrompeu-me ele— É o desejo de seu pai e, particularmente, acho que é para o bem de vocês.

De cabeça baixa, assenti. Uma certa tensão tomou conta da mesa enquanto todos os outros campistas deixavam o refeitório. Todd deu uma risada debochada.

— Mas é claro!— exclamou ele com um sorriso nada amigável no rosto— Eu deveria saber.

— O que quer dizer?— perguntei com as mãos tremendo de raiva.

— Ele quer dizer que você sempre fica com tudo!— gritou Aria— Ah, sim. A famosa Rose Leonards, heroína do Olimpo.

— E sabe qual a pior parte?— indagou-me Bridget, entrando na onda de insultos— Nosso pai não faz a menos questão de esconder seu favoritismo por você.

Eu me sentia como se os três tivessem feito uma fila e, lentamente, me estapeado na cara, um de cada vez.

— Vocês não sabem do que estão falando.— disse David, tentando me defender.

— Ele tem razão— concordou Dan com o irmão gêmeo— Nenhum de vocês nuca saiu em uma missão, não sabem o quão assustador é. Se soubessem, acreditem, iriam ficar agradecidos por estarem sendo excluídos disso.

— Não ficamos aqui enquanto vocês saíam e faziam todo o trabalho duro por escolha própria, Daniel!— bradou Todd novamente— Não temos escolha! Ficamos aqui, enquanto nosso irmão é morto e ela leva todo o crédito! Quer dizer, eu nem sei mais como acreditar no que ela diz.

Essa foi a gota d'água. Não demorou muito para que algumas lágrimas começassem a escorrer por meu rosto.

— O que está insinuando?— perguntei lentamente, enquanto me erguia de meu lugar. Ele demorou para responder, e mesmo que eu já soubesse qual seria a resposta, ela me atingiu como um soco no estômago.

— Como foi mesmo que você disse que o Dylan morreu, Rose?

Nem os reflexos mais velozes do planeta poderiam ter previsto o que eu faria. O súbito pulo que dei derrubou meu irmão mais velho no chão frio com facilidade, e o soco desferido logo em seguida fez com que seu nariz sangrasse muito e muito rapidamente. Segurando com firmeza a gola de sua camiseta laranja, bati com força sua cabeça no chão.

— Você não pode mesmo estar sugerindo que eu o matei. Não pode, porque se estiver...

— Rose.— chamou uma voz conhecida. A única voz capaz de me acalmar naquele momento. Tanner me segurou pelos braços e me arrastou para longe de Todd. Eu tentei lutar, mas era inútil, ele era incrivelmente mais forte que eu.

Aria e Bridget ajudaram o traidor a ficar de pé, o que me deu a oportunidade perfeita para olhar em seus olhos.

— Se eu pudesse, juro que passaria todas as minhas responsabilidades para você. Todos os pesadelos, todas as dúvidas, todos os fardos as cicatrizes, tudo!— eu gritava e esperneava, e, com toda certeza, nunca tinha perdido o controle daquele jeito. Agora as lágrimas escorriam desenfreadas por meu rosto com respingos de sangue que, pela primeira vez na vida, não era meu— Quem sabe desse jeito eu conseguiria ter uma vida, Todd. É isso que você quer? Você quer a atenção dos deuses? Bom, espero que consiga, e talvez você aprenda a CALAR A BOCA!

Era a vez dele de ficar sem palavras. Seu nariz ainda escorria, mas ele não daria as costas a mim e daria-se por vencido.

Soltei uma risada sarcástica, infinitamente mais fria do que a que ele tinha dado apenas minutos mais cedo.

— Vocês estão me dando tanto nojo agora. Apenas... Apenas vão embora.

E assim os três fizeram, descendo a colina em direção à enfermaria. Assim que saíram de vista, desabei novamente. Tanner me abraçou, e isso me fez sentir um pouco melhor, mas não muito.

— Deixem ela comigo— disse ele para David e Daniel. Eu nunca fui tão grata a eles antes.Quando eles também já haviam desaparecido, Tan me afastou de seu peito e me colocou sentada no banco de piquenique de pedra— O que foi isso?

Suspirei pesadamente.

— Não faço ideia. Dá pra acreditar que ele estava me acusando de... de...

Era tão absurdo que eu nem conseguia falar. De onde ele havia tirado aquela ideia?

— Não, não dá.— concordou— Ainda bem que eu estava aqui, porque não acho que Dan e David fariam algo para te impedir e... Nunca pensei que diria isso, mas Rose Leonards, você acabaria com ele.

Por incrível que pareça, consegui rir. Tan ajoelhou-se em minha frente e limpou minhas lágrimas com o polegar.

— Acha que quebrei o nariz dele?— perguntei com um sorriso.

— Não sei, mas seria merecido. De qualquer forma, eu fiquei apenas para dar os parabéns.

—Pelo quê?

— Bom, pelo seu novo cargo.

Eu havia ficado tão envolvida no que acabara de acontecer que esquecera completamente o que causara tudo aquilo: eu era a nova conselheira.

— Não acho que eu tenha muitos motivos para comemorar. Para ser sincera, também já estou cansada de tudo ser sobre mim.

Ele deu de ombros.

— Pelo menos agora nós dois somos conselheiros.

Ergui uma sobrancelha e ri.

— Você não é conselheiro. Valerie é.

Era.— corrigiu-me.

—Mas... Eu pensei que a única forma de tomar o lugar de um conselheiro era com uma espécie de duelo.

Tanner encarou-me por alguns segundos até que eu entendi: ele havia duelado com Valerie pelo posto, e ganhado.

— Nossa.— murmurei— Eu é que tenho que parabenizar você. Não tinha me contado isso.

— Você não tinha perguntado.— eu ri. depois de um tempo, ele prosseguiu— O que acha de fazermos aquele piquenique hoje?

Abri a boca para dizer alguma coisa, mas algo em seus olhos me fez perder o fôlego, então me contentei em assentir.

Ouvi uma voz ao longe e avistei uma garota enorme e carrancuda, com os cabelos castanhos oleosos presos para trás num rabo de cavalo, no pé da colina na qual se encontrava o pavilhão refeitório.

— Falando no diabo...— murmurei.

— Tenho que ir— disse ele, plantando um beijo em minha testa— Vejo você depois. E não se preocupe em levar nada, deixe isso comigo.

E desapareceu entre os campos verdes do Acampamento.

_____________

Participei das atividades do chalé de Éolo, junto com Joonie, tentando fugir de meus irmãos. Pelo que Daniel me disse durante o almoço, o nariz de Todd, infelizmente, não estava quebrado, mas eu havia causado um estrago e tanto. Isso, admito, fez o meu dia um pouquinho melhor.

Quando sabia que não teria ninguém no chalé, fui até lá me arrumar. Tomei banho, vesti uma camiseta laranja novinha e um short jeans limpo com os all star pretos surrados. Por um milagre, penteei os cabelos, desembaraçando os cachos que insistiam em voltar a se formar.

Subi a colina que dava na plantação de morangos quando o sol já se punha atrás do mar no estreito de Long Island ao longe. Tan ajoelhava-se sobre uma toalha xadrez de azul, preto e branco, arrumando lanches dentro de uma cesta de palha trançada sob uma árvore de flores muito amarelas.

Estranho, eu podia jurar que eram cor-de-rosa da última vez em que estive lá.

Fiquei um tempo o observando, tentando controlar meu coração acelerado até que ele notou minha presença e sorriu. Que droga, por que ele não parava de sorrir? Ele não sabia que isso tirava totalmente a minha concentração?

— Oi.— murmurei enquanto me aproximava.

— Oi.— respondeu ainda com o sorriso torto no rosto.

Rose Leonards, pare agora mesmo com essa bobagem!, ordenei a mim mesma. É só o Tanner.

Sentei-me sobre a toalha, escorada no enorme tronco da árvore florida, a luz do sol distorcendo suas cores até que adquirissem um bonito tom alaranjado. Tan sentou-se ao meu lado, e ficamos alguns incontáveis instantes em silêncio, admirando o horizonte e apreciando os sanduíches de pasta de amendoim e geleia que ele preparara.

Depois do que pareceu uma eternidade, ele quebrou o silêncio:

— Presumindo que você não queira falar sobre o que aconteceu de manhã, vou fazer outra pergunta, certo? Como se sente?

Eu sorri de leve. Ele estava certo, eu não queria falar sobre o que acontecera mais cedo.

— Sobre o que?— indaguei sem tirar os olhos dos campos que se estendiam milhares de metros à minha frente.

— Ah, você sabe. Faltam quatro dias para o solstício, dez para o seu aniversário e nada aconteceu. Nada de missão, nada de monstros, nada de Deus Sem Nome. Apenas paz, tranquilidade e irmãos malucos.

Demorei bastante para dar uma resposta, pois não tinha pensado naquilo.

— Não sei.— falei, sinceramente— Não parece real. Tudo que consigo pensar é que é um truque. Que ele está aguardando o momento certo.

— Hey.— murmurou Tan, pegando minha mão. Obviamente, essa não era a resposta que ele queria ouvir— Não se preocupe. Se ele fizer algo, vou estar aqui om você, como sempre.

Sorri. Pelo menos aquilo nunca mudaria. Ele estaria comigo aconteça o que acontecer.

— Então.— falei, mudando de assunto— Você e a Ruby... Como se conheceram?

Ele soltou minha mão, e eu desejei que não o tivesse feito.

Tanner deu de ombros.

— Tinha um sátiro no meu colégio, o Flynn.— disse ele— Não demorei muito a percebê-lo. Avisei que ele não precisava ficar, que eu podia me cuidar sozinho e que sabia o caminho para o Acampamento, mas ele não estava lá por mim.

— Era o protetor de Ruby.— deduzi e ele assentiu.

— Dela e de sua irmã mais nova, Havanna. Eu disse a ele que ajudaria a ficar de olho nelas, sabe, por causa dos monstros de Dárion. Ruby e eu fomos ao, ahn... Baile de Inverno juntos. Ela é legal, acredite.

— Eu acredito.

— Mentirosa!

Suspirei. Certo, eu não acreditava.

— É só que...— tentei me explicar— Ela não me parece muito o seu tipo.

Ele riu.

— E qual é o meu tipo, Melrose?

Encolhi os ombros lentamente.

— Não sei. Você...— minha voz falhou— Uma vez você disse que gostava de loiras.

Olhei sem jeito para ele que me encarava, os grandes olhos castanhos brilhando à luz do sol poente.

Ficamos assim por um tempo, apenas observando um ao outro, frente a frente, olho no olho. Meus coração martelava tão forte que eu conseguia senti-lo bater até nas pontas dos pés.

Tanner esticou o braço lentamente em minha direção e tocou meu ombro, tirando de lá uma flor perfeitamente amarela que estendeu diante de meus olhos.

Ele deixou a flor ser levada pela brisa fresca de verão e, para minha surpresa, tocou minha bochecha, descendo para meu pescoço lentamente - tão lentamente que doía - e puxando meu rosto para perto do seu. Estávamos a centímetros de distância agora, ainda de olhos abertos, os seus castanhos nos meus azuis. Sua respiração quente e seu hálito de melão fizeram meu cérebro entrar em curto circuito.

Nossos lábios se roçaram de leve antes de eu o afastar delicadamente com a mão e me pôr de pé.

— Me desculpe.— minha voz saiu tão baixa que eu duvidava que ele tivesse escutado, mas escutou, e também ficou de pé. Eu repeti:— Me desculpe, não foi minha intenção.

— Sua intenção?— perguntou. Sua voz também soava baixa e triste.

— Você tem uma namorada, e parece feliz. Sinto muito, estou dando uma de melhor amiga ciumenta. A última coisa que eu quero é arruinar nossa amizade por algo tão bobo.

— Não foi sua culpa.

Abaixei a cabeça. As batidas de meu coração eram tão extremamente fortes que chegavam a machucar meu peito.

— Não foi culpa de ninguém.— falei— Podemos esquecer que isso aconteceu?

Ele assentiu, a testa franzida, enquanto eu me preparava para descer a colina. Antes que eu pudesse fazê-lo, Tan segurou minha mão. Algo dentro de mim doeu, e tudo que eu tinha vontade de fazer era voltar alguns segundos no tempo e não o ter interrompido.

— Mas estamos bem, certo?— perguntou e eu afirmei sofregamente, forçando um sorriso.

—Sim, estamos bem.


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Notas finais do capítulo

ME AMEM OU ME ODEIEM, O QUE VAI SER?? Deixem seus comentários divosos para mim :D

~Lu



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