May POV.

Mais uma vez, o espetáculo começa, com aqueles aplausos que nos recebem, é como sentir plumas caindo do céu, é uma visão magnífica, e a sensação maravilhosa.

Aquelas roupas coloridas, tão brilhante quanto as luzes; saltam de um lado para o outro, os balões nas mãos das crianças, o esforço dos acrobatas, tudo ao mesmo tempo, consegue perceber?

Você, sempre tão esforçado, não deixando que ninguém perceba o seu cansaço, treinou mais do que devia, ainda assim você faz tudo sem perder a pose, mas você é transparente para mim.

Quase posso ouvir o seu coração acelerado, o sorriso escondido por trás dessa máscara.

Você é o meu príncipe, eu sou sua princesa, podemos continuar sempre assim, nesse conto de fadas mal escrito, eu nunca vou te deixar.

Seus olhos, aquele tom nublado perfeito, com a aparência congelante, não podem mais me enganar, eu sei o quão doce você é.

Você se aproxima com a expressão fechada, mas posso sentir a ternura quando toca a minha mão, isso dura segundos, pois logo sou arremessada ao trapézio mais próximo, você me defende do guerreiro, para podermos ficar juntos.

Antes de começar a dançar, eu olho para baixo, vendo sua performance incrível, lutando saltando nos trampolins e as vezes tendo que se equilibrar nas traves, e ainda segurando uma espada.

O espetáculo é doce

Eu sinto

Eu saboreio

Parece um passe de mágica,

Como algumas páginas podem nos unir

Você que não gostava de mim

Eu sempre tão orgulhosa

Agradeço por tê-lo tão perto

Por vê-lo todos os dias

E por ter meu amor correspondido.

Você reconheceu meu talento.

Permitindo-me ser a nova estrela do Kaleido Stage.

-Tudo bem? – Você perguntou baixo, passando a mão pelos meus ombros, sua respiração descompassada.

Nem havia percebido que a música acabara, nem me lembrara de ter começado a dançar, minha cabeça estava longe, mas minha alma ainda estava naquela peça, pois eu não estava no mesmo trapézio.

Eu concordei com a cabeça, agora sentindo você me envolvendo fortemente.

Fim

A peça terminava assim, mas não para nós dois, quando as cortinas se fecham, nós podemos aproveitar de verdade, sem falas e atuações.

O melhor é a meia noite

quando todos vão embora

nós dois no ginásio

naquela pista de patinação

a luz da lua que invade as janelas

o nosso melhor holofote

nossa melhor performance

não tem público melhor

do que os seus olhos.

Riscamos o gelo, como se quiséssemos escrever algo, não precisamos nos esforçar com acrobacias muito radicais, mas é divertido, não ter que se preocupar em errar.

No susto abri meus olhos, estava sentada na cama, havia cochilado enquanto me perdia olhando para a caixinha de música, parece que existe um mundo secreto dentro dela, mas aquele sonho estava muito bom.

Fechando meus olhos, ainda posso ver, claramente, você e eu, patinando naquela pista de gelo.

No mundo de May Wong, as cortinas não se fecham, porque pra mim, não é fantasia.