Mycroft se levantou pela manhã, os raios de sol que passavam por entre as frestas da cortina lhe faziam cócegas no rosto, puxou o edredom de cima de si e alisou o pijama cinzento que usava. Quanto tempo ficara sem dormir? Dois, três dias e meio? Não fazia diferença, finalmente conseguira dormir por boas cinco horas, abraçado ao corpo forte de Greg. Olhou para o detetive inspetor que dormia com o rosto sério e um dos braços embaixo do travesseiro, o outro braço, que o havia mantido preso ao corpo morno, estendido na cama o convidando a voltar a se deitar e dormir por mais um par de horas. Foi até o banheiro e observou seu reflexo no espelho, trazia os cabelos despenteados pelo sono e duas manchas na pele pálida abaixo dos olhos, como se fosse um panda. Um caco, era a palavra o que o descrevia, a perda de Sherlock lhe causara sofrimento, por mais que não demonstrasse. Lavou o rosto com água fria e fez sua higiene matinal.

Gregory seguiu até o banheiro e deu um abraço pelas costas de Mycroft enquanto este refletia apoiado no balcão. O ruivo teve um pequeno sobressalto e apoiou sua cabeça no ombro do homem atrás de si.

– Dói né? – Perguntou o policial.

– Mais do que eu aparento, querido.

–Eu estou aqui, se você precisar ou não. Eu te amo. – Afirmou pela quinquiolhésima vez.

–Obrigado Gregory, também te amo – inclinou a cabeça mais para trás e sentiu Greg distribuir pequenos beijos por sua testa – Vou preparar o café.

Dito isso saiu do banheiro ajeitando os fios rebeldes com os dedos, passou pela porta do quarto e seguiu sentindo a textura do carpete do corredor nos pés descalços até a cozinha. Separou as coisas para fazer o café e se pôs a arrumar a mesa enquanto esperava Greg sair do quarto. Andou até as portas que separavam a copa da sacada e as abriu deixando que o ar fresco da manhã entrar. Foi até as grades brancas e apoiou as mãos nela enquanto olhava os outros prédios e lembrou que seus lírios precisavam de cuidados. Suspirou e voltou para a cozinha.

– Você devia prestar mais atenção Mycroft. – a voz de barítono que o vinha perseguindo em sonhos o chamou e ele teve um grande sobressalto.

O viu ali. Inteiro. Os cabelos tingidos de um ruivo alaranjado, nenhum machucado, os olhos agora de um castanho claro e tão afiados quanto antes da queda. Levou a mão ao peito e sentiu o sangue descer da cabeça. Sentou-se no chão e colocou a cabeça entre os joelhos, tentado evitar a tontura, no peito o coração batia louca e irregularmente, sentia que teria um ataque então começou a tentar controlar sua respiração. Vendo que o irmão não estava bem, andou até ele e se agachou:

– Eu me esqueci de te contar, mas só Jim morreu – Pronunciou o nome como se fosse uma serpente que pudesse picá-lo a qualquer momento – Está tudo bem?

–Como? Sherlock, por quê? – perguntou com a voz rouca por causa do nó que se formara em sua garganta – E é lógico que eu não estou bem estou quase tendo um ataque cardíaco aqui! –Gritou e, de um salto, pôs se de pé e levou a mão fechada em punho até o rosto de Sherlock que cambaleou um pouco e sacudiu a cabeça.

Mycroft sentia suas pernas bambas e Sherlock massageava o local do soco, segundos depois, sentiu-se sufocado pelos braços do irmão mais velho, que se recusavam a solta-lo. Caminharam até a mesa e alguns minutos depois, Greg apareceu pela porta e ao ver Sherlock ruivo com um olho roxo, pensou estar ficando louco e perguntou

– Tá, que droga de brincadeira é essa agora?- reparou que Sherlock havia feito algumas modificações físicas, mas ainda estava totalmente reconhecível, todavia, caso ele colocasse um par de óculos, se passaria facilmente por um jovem estudante. Sentiu um pânico crescente dentro de si.

– Greg se acalme, já não basta eu, que quase tive um ataque. – Mycroft o chamou para que este se sentasse, Greg segurou sua mão gelada por baixo da mesa e os dois confrontaram Sherlock – Bom, agora espero que você tenha uma boa explicação do por que de forjar sua morte.

– Bem, sim, eu tenho uma boa, aliás, uma ótima explicação. – Sherlock colocou o queixo apoiado na mão e começou a falar no tom e velocidade que usava quando organizava os casos em voz alta – Quando Moriarty me contou que existiam criminosos atrás das duas pessoas que sabiam o código que podia destrancar todo e qualquer cofre e invadir qualquer sistema, o que na verdade era mentira, ele só inventou isso para acabar comigo, mesmo que isso acabasse com ele também, eu percebi que precisava fazer algo, se apenas eu morresse, ele seria morto, se ele morresse eu e a as pessoas “com quem eu me preocupo” seriamos mortos, se nós dois morrêssemos as pessoas ficariam vivas. Antes disso eu achei que ele queria me matar, por isso não estava tão preocupado, quando ele mencionou vocês dois, sra. Hudson e John, bem, aí sim eu entrei em pânico, por hora não revelarei como sobrevivi a queda pois seria muito exaustivo, depois disso, eu mudei um pouco minha aparência, mantive John e sra. Hudson sob vigilância constante por câmeras e pela rede de moradores de rua, sabia que Lestrade estaria com você, então cacei os assassinos de aluguel e estou esperando para falar com você já á um tempinho para ter certeza de que está tudo bem.

–Wow, bem isso foi... Realmente convincente – Gregory respondeu vendo que Mycroft apertava os lábios em uma linha fina.

–Você poderia ter avisado mais cedo – a voz do Holmes mais velho estava meio embargada e de repente ele se colocou de pé e apontou o dedo para Sherlock – Nunca, nunca mais faça isso! Ouviu bem, William Sherlock Scott Holmes?

Greg deu um pequeno sorriso ao ver o marido furioso com o irmão e este com uma expressão mista de vergonha e diversão no rosto.

– Sim Mycroft, tudo bem eu já ouvi! – reclamou com um pequeno sorriso.

– Vai ficar para o café? – Greg perguntou.

–Não, tenho que avisar John. – respondeu alargando seu sorriso.

–Tente não matar ele com um ataque cardíaco.