Acordo sentada numa cadeira endurecida. Meus olhos ainda não se acostumaram muito com a claridade. Levanto da cadeira ainda zonza por causa do morfinaceo, ando pelo lugar tentando compreender aonde estava. Caio por cima de alguém, alguém numa cama, uma cama de hospital. Seu cheiro é familiar, cheiro de lírios – minhas flores favoritas – amarro-me ao desconhecido e durmo mais um pouco.

Depois de um tempo uma enfermeira me acorda. Não sei se passei horas, dias, semanas, só sei que estava no mesmo lugar, abraçada com a mesma pessoa.

Centralizo a visão na cama e percebo que estava abraçada a quem sempre amei. Phillip estava num estado decadente. Com seus braços queimados e sua cara deformada por cortes e arranhões. Seu cabelo foi cortado de lado mostrando uma cicatriz horrenda e seus lábios estavam secos.

– Você estava muito nervosa... Precisamos lhe acalmar! – A enfermeira se dirige a mim.

– Achei melhor mesmo, eu poderia ter piorado as coisas... – Respondo.

– Ele irá ficar bem não se preocupe... – Ela solta um risinho e sai do leito hospitalar.

Viro-me para ele que está desacordado desde que o vi. Espero tanto por esse momento. De rever seus olhos escuros e escutar sua voz novamente. Espero que ele continue pensando em mim, pois eu não paro de pensar nele.

O doutor disse que Phil está bem e muito vivo. Ele só está adormecido, uma espécie de paralisia da mente. Acho que o torturaram ou lavaram sua mente, da Capital não podemos esperar nada. O Doutor disse que ele irá ficar bem, pode-se demorar dias, meses, anos, mas ele irá voltar a ser o Phil. Acho. E enquanto ele estiver dormindo eu estarei aqui ao seu lado, não deixarei morrer sozinho novamente.

Os dias foram passando, as semanas indo embora e quando vi já havia se passado um mês. Minha rotina de Tenente era bem restrita. Treinamentos para combate, reuniões para a revolução e ficar no leito hospitalar de Phil. Não me dei conta que os Tributos vivos chegaram, muitas vezes via Gale levando o tordo numa das macas pelos corredores, Finnick dando nós em uma corda e o cara estranho do 3 andando numa cadeira de rodas.

O tempo não me deixava ver como eles estavam. Parecia que toda a responsabilidade da revolução estava sobre mim, e eu não queria isso. Eu só era uma garota desesperada por vingança. Mas sei lá, eles conseguiram me transformar em algo mais maduro, algo que não consegue deixar de crescer dentro de mim.

Muitas vezes ligava a TV e via Snow dando seus pronunciamentos de sempre, mas uma vez algo foi diferente. A transmissão de um dos discursos de Snow foi cortada e a imagem de Katniss Everdeen surgiu na tela. Ela estava com um arco e com a cara meio desesperada.

– Isso dai é o Distrito 8! – Anna sibila ao entrar no leito de Phil e assistir comigo. – Eles foram ontem para lá!

– Como eles... Como eles conseguiram se infiltrar nas transmissões da Capital? – Pergunto ajeitando meu corpo na cadeira.

– O cara do 3, ele tem muitos truques! – Anna ri. – Falando no cara do 3, ele está lhe chamando no final do corredor...

Uma expressão de ”hã” vem a minha cara. Anna sorri. Dou um beijinho em sua testa esaio da sala. Ao sair pela porta a ultima coisa que escuto da TV é o tordo gritando.

SE NÓS QUEIMARMOS, VOCÊ QUEIMARÁ CONOSCO!

Mensagem para nosso querido Snow obviamente. Solto um sorriso ao ouvir a frase e ando em direção ao corredor. Encaro os óculos fundo de garrafa do gênio no 3. A única coisa que sabia sobre ele era que sua inteligência conseguia matar alguém. Meus passos vão ficando lentos ate que chego a ele.

– Bom lhe ver Srt. White! – Ele fala com uma voz suave. – Beetee prazer em conhece-lá!

– O prazer é todo meu! – Responto.

– Siga-me por favor! – Ele se vira de costas e anda lentamente com sua cadeira de rodas. – Fiquei sabendo de seu titulo aqui no 13!

– De Tenente? – Pergunto.

– Sim, então resolvi criar algo especial para você! – Ela me leva ate uma parte inferior do 13, não sei muito bem aonde estamos, nunca estive aqui. Algumas maquinas estranhas estão por todos os lados e ele me entrega duas facas afiadas.

– Use em combate! – Ele ri e entrega em minha mão.

– Sabe Beetee, não sou muito de usar essas faquinhas e essas lanças fora da arena... – Digo rindo.

– Sei oque quer dizer, prefere armamento pesado, danada! – Ele ri. – Tenho algo mais sofisticado ao seu gosto Tenente.

Ele me entrega uma arma meio esquisita. “Ela transforma a luz solar em munição, é como a dos pacificadores, mas tem uma potencia muito maior!” Ele diz para mim.

– Por precauções ficarei com os dois! – Digo guardando as facas no bolso e empunhando a arma.

– Esperta, Tenente, esperta! A revolução começou e só os fortes conseguiram sobreviver! – Ele fala.

– Espero que os antigos fracos descubram que são os novos e revolucionários fortes, foi bom lhe conhecer! – Digo voltando para cima.

Beetee era alguém tão inteligente que os outros se sentiam bem ao receber um elogio de sua pessoa. Subi o elevador com a arma em punho, mas decidi esconde-lá para evitar transtornos. Guardo minha munição no leito hospitalar de Phil que agora é basicamente meu quarto.

– Para que tanta arma assim, nossa! – Anna se espanta.

– Anna, no mundo em que vivemos armas como essas não ferem tanto quanto palavras, els são inofensivas aos olhos de quem a ver! – Falo.

– Tenente White? – Um soldado chega a porta. – O paciente Matias trouxe seus itens pessoais e achamos nada mais justo do que deixar com você, pois não achamos ninguemmais “próximo” dele!

– Claro soldado, sem problemas! – Ele me entrega um caixote cor de vinho e some.

Oque será que tem dentro? Não irei abrir, isso não é meu. Mas será que Phil deixou algo para mim? Será que tem alguma carta ai dentro? Se houver vai ficar empoeirada até ele acordar de vez.

Depois daquela noite no leito hospitalar junto a Anna e o corpo adormecido de Phil, acordei com as costas endurecidas e com as mãos de dois soldados sobre minha boca.