My Impossible Girl escrita por Solaris


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Relevem qualquer erro.



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A batalha estava prestes a começar e eu estava pronta. Pronta para lutar com ele e por ele. Respirei fundo e me senti e êxtase. Olhei dentro de seus olhos que sorriram hesitantes para mim, como se temessem que alguma coisa estivesse prestes a acontecer. Tentei transferir toda a segurança possível. Logo um simpático e forçado sorriso apareceu em seus lábios. O mesmo sorriso que aparecia em momentos difíceis.

– Pronta? – Perguntou ele.

– Sempre. – Respondi casualmente, mas com mais confiança do que o habitual.

Ele olhou dentro de meus olhos e eu senti como se não estivesse acontecendo uma uma guerra. Como se fosse só eu e ele no meio de um imenso nada, sem gravidade para nos segurar, sem precisar respirar, como se só nós dois juntos fosse o suficiente para parar o tempo e destruir o espaço.

Ouvi os irritantes “exterminate” se aproximando e acordei do meu transe. Agora eu fitava o céu enquanto milhares, talvez milhões, de Daleks desciam. Doctor havia me falado sobre eles, da guerra e de tudo o que já fizeram, mas eu sentia que ele estava escondendo algo. Apesar de nunca ter visto um Dalek, de fato, eu não sentia medo. Na verdade, os achava engraçados e irritantes, apesar de toda a maldade por trás deles.

Ouvi um suspiro vindo do Doctor e, em seguida, um sorriso confiante brotar em seus lábios, que presumi ser verdadeiro dessa vez. Ele deu um passo à frente até ficar ao meu lado.

– Agora é a hora, Clara.

O Doctor era contra armas, mas dessa vez ele me deu uma. Disse que eu iria precisar. Ela era quase maior do que eu, e extremamente pesada. Uma faixa a segurava em meu ombro, que já estava começando a ficar dolorido.

Vi o Doctor correr para o lado oposto que o meu, fazendo o que tínhamos planejado. Os Daleks tinham vindo parar aqui por causa de uma fenda no tempo, então tudo o que tínhamos que fazer era jogá-los de volta na fenda. Ele desenvolveu um dispositivo que, quando jogado na fenda, puxaria de volta todos os pertencentes a ela, e esse era o meu trabalho. Ele distrairia e eu jogaria. O medo preencheu-me por um momento ao lembrar, mas ele já havia lutado contra Daleks piores, eu sabia que não tinha com o que me preocupar. Afinal, ele era o Doctor.

Corri atirando enquanto tentava desviar dos tiros dos Daleks. Continue a correr até perder o Doctor de vista, indo ao encontro da fenda. Vários Daleks continuavam a sair, o que não facilitou. Alguns deles atiraram em mim, mas eu desvie e atirei de volta, acertando-os. A minha frente, agora, só tinha carcaças de Daleks mortos, mas o céu ainda estava repleto deles. Aproveitei enquanto eles iam atrás do Doctor e corri mais depressa. Passei entre uma divisa de duas rochas e entrei. Assim que passei, foi como se todo o barulho cessasse. Agora só conseguia ouvir o som da minha respiração e dos pingos d’água que caiam da parte de cima da rocha. Olhei para o topo do mesmo, analisando a altura que eu teria que subir.

Comecei a escalar. Escorreguei de inicio, mas prossegui. Uma determinação sobre-humana tomou conta de mim, me incentivando a continuar. Depois de um tempo, consegui chegar ao topo. Olhei lá de cima e vi o Doctor driblando alguns Daleks, parecia se divertir com isso. A fenda estava um pouco abaixo de onde eu estava, então tinha que descer no rochedo, mas essa parte era praticamente lisa, não tinha como escalar.

Aproveitando a distração dos Daleks, comecei a descer. Assegurei de que o dispositivo estivesse bem preso em minha cintura antes disso. Para subir tinha sido fácil, mas para descer era mais complicado. Eu tinha amarrado uma corda em minha cintura, portanto me sentia mais segura. Tateei com o pé a superfície da rocha, a procura de um lugar firme. Continuei a descer, até ficar a cima da fenda. Eu estava segura, poderia me inclinar para trás e acertar o dispositivo na fenda, mas antes que tentasse, ouvi um Dalek chamar a atenção dos outros para mim. Ouvi o Doctor gritar algo que não entendi, mas ignorei. Continuei a tentar.

Um tiro atingiu o meu lado esquerdo, fazendo pedaços de rocha voar. Alguns pedaços me atingiram, mas ignorei a dor. Continuei a descer, até que ouvi algo explodir no ar. Olhei para baixo e vi que o Doctor tinha acabado de explodir um Dalek com uma arma, o que me surpreendeu.

– Gerônimo! – Gritou ele.

Continuei a descer, dessa vez mais confiante e com um sorriso nos lábios. Ele estava bem ali, me dando forças, isso era o suficiente para me fazer lutar contra o universo inteiro. Agora eu estava bem ao lado da fenda, pronta para lançar o dispositivo.

– Não! – Ouvi o Doctor gritar.

Ignorei, estava muito concentrada em acertar o dispositivo na fenda, mas algo me atingiu e minha visão escureceu.

Senti leve batias em meu rosto. Quando abri os olhos, tudo o que vi foram os olhos do Doctor, aparentemente preocupados. Ele segurou minhas mãos e eu pude sentir que estavam úmidas. Eu lutava para permanecer de olhos abertos.

– Lute, Clara. Lute.– Disse ele, em uma tentativa fracassada de me manter consciente.

– Eu amo você. – Murmurei fraca.

Ele abriu e fechou a boca, tentando dizer algo, mas não emitia som algum. Senti uma força maior que eu me obrigar a fechar os olhos, e a última coisa que ouvi foram múrmuros desesperados do Doctor dizendo “não” repetidas vezes.

No mesmo instante que fechei os olhos, eu os senti abertos. Doctor estava a minha frente da mesma forma que antes. Esperei suas lágrimas molharem meu rosto, mas não senti nada. Ele estava em uma fase de negação, me abraçando sem saber o que fazer. Quando percebi, eu estava deitada no chão vendo a minha própria cabeça por trás, enquanto eu era abraçada por ele.

Me levantei e fitei a mim mesma nos braços do Doctor. Ele estava alheio ao fato de seus inimigos o cercarem. Em seguida, ele pareceu tomar consciência disso. Deitou-me delicadamente no chão e se levantou lentamente, fitando-me. Se virou lentamente para os Daleks e disse em um tom de voz totalmente diferente do habitual:

– Vocês irão morrer.

Sua voz estava rouca e parecia sair com dificuldade. Carregada de ódio e dor. Rapidamente, Doctor pegou a arma que estava ao meu lado e começou a atirar sem parar. Dalek por Dalek foi deixando o céu e tocando o chão com um estrondo. Eu sabia que ele não conseguiria acabar com todos, que acabaria morrendo, então comecei a tentar pedi-lo para ir até a fenda. Eu sabia que era inútil, mas não podia ficar sem fazer nada. Quando não aguentava mais gritar, fiquei a frente da arma.

– Você irá morrer! – Gritei. – Vá até a fenda e faça o que deve ser feito.

Doctor abaixou a arma e olhou diretamente para mim, como se me ouvisse ou vesse. Ele deu um passo à frente, ficando cara-a-cara comigo. Eu gostaria de poder sentir sua respiração. Em seguida, passou direto por mim, dando-me a certeza de que não conseguia me ver. Ele colocou o dispositivo dentro da arma e mirou na fenda, acertando-a em cheio. Ele podia não saber, mas tinha conseguido me ouvir.

Os Daleks rapidamente foram puxados para dentro da fenda, porém a visão ainda estava um caos. Os Daleks mortos no chão, o cheiro de morte e destruição tomava conta do local.

Fitei meu corpo inerte no chão. Doctor pegou-o e carrego-o até a TARDIS. Ele estava todo sujo de sangue, meu sangue, e parecia devastado. Antes que ele chegasse à frente da TARDIS, a mesma abriu a porta, como se fosse uma forma de demonstrar solidariedade. Doctor me levou até uma parte mais à fundo nela, deitando-me em uma cama. Ele passou a mão delicadamente sobre a minha testa, tirando um fio de cabelo que cobria meus olhos.

– Clara. Minha Clara. Minha Oswin. Minha impossible girl. – Murmurou ele. – Eu já te pedir tantas vezes, mas prometo que essa foi à última.

Ele, aos poucos, se aproximou de meu rosto, até seus lábios gentilmente cobrirem os meus em um beijo terno. Um beijo que eu desejava tanto sentir. Uma lágrima caiu em meu rosto e, por incrível que pareça, eu senti. E senti outra, e outra. Até que, mesmo estando de olhos abertos, me senti abrir os olhos. Eu estava exatamente onde meu corpo estava, e o Doctor exatamente onde ele estava.

– Finalmente você acordou. – Disse ele, alegre.

Senti outra gota cair em meu rosto e ele riu, limpando-a. Olhei para cima ainda meio desnorteada e vi que as gotas vinham do teto, como uma goteira.

– Ora, quem disse que a máquina mais poderosa do universo não pode ter uma goteira? – Perguntou ele, mas ao ver minhas feições, perguntou parecendo preocupado. – Você está bem?

Balancei a cabeça afirmativamente.

– Eu só tive um sonho estranho.

– Foi bom?

– Não totalmente, mas teve umas partes que eu queria que fosse verdade. – Eu disse, olhando-o bem dentro dos olhos.

– Sonhos nem sempre são só sonhos. Alguns tem fragmentos de verdade.

Sorri e me sentei na cama, colocando os pés no chão. Ouvi um barulho como se algo tivesse acabado de ficar pronto.

– Fish fingers and custard! - Disse ele, animado. – Vamos Clara ou não irá sobrar nada.

Levantei-me o segui. Ele se encostou ao painel de controle e se pôs a comer. Eu apenas o observei por alguns segundos. Doctor, o meu Doctor. Com tantos segredos e tantas aventuras vividas e outras ainda por viver. Uma caixinha de surpresas do tamanho de um universo, literalmente.

– A TARDIS tem mesmo goteira? – Perguntei, tentando desviar o meus olhos dos seus.

– Não. Aquela é só a projeção de um quarto humano comum. – Ele me fitou por alguns segundos. Tentei desvendar seu olhar, mas sem sucesso. Ele desviou e perguntou, como se estivesse procurando o que dizer. – Não vai mesmo comer?


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