2025 escrita por P H Oliver


Capítulo 4
O Advogado de Ninguém


Notas iniciais do capítulo

Esse é um pouco maior e apresenta, particularmente, meus personagens favoritos até agora: Aaron e Philip. Espero MUITO mesmo que gostem.



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AARON DESCIA AS ESCADAS DO CONDOMÍNIO ONDE MORAVA SUANDO FRIO. Com George morto, Aaron tinha esperanças de que Philip fosse lhe dar o trabalho de volta. Se não, ele precisaria pensar logo o que faria para sobreviver.

Tudo bem, havia Roberto, que sempre o ajudava com o bom dinheiro que recebia a partir da amiga dele, que sabia se chamar América. Mas Aaron não queria explorar Rob, ainda mais se sentindo responsável pelo cuidado dele.

Apesar de ser apenas quatro anos mais velho que Roberto, ele se achava na responsabilidade de cuidar dele como um pai cuida de um filho. Ele o acolheu oito anos atrás, quando vieram no mesmo avião para os Estados Unidos. Ainda lembrava todos os detalhes do dia em que se conheceram.

Aaron vinha de sua pequena cidade no interior da França, não visando bom emprego ou algo do gênero, apenas visando fugir de sua família judaica completamente conservadora. Não que Aaron não fosse judeu; Seguia a religião de sua família. Mas ele possuiu visões muito diferentes do que é religião, diferentes demais das de seus familiares.

Antes de sair de lá, usou seu bom dinheiro ganho como advogado para comprar um apartamento decente para ele na maravilhosa cidade de Nova York. Mas apenas conheceu seu amigo pelo fato de, num momento de pura loucura, decidir visitar o país tropical que todos falam ser um paraíso: Brasil.

E assim, ao sair de lá, se sentou no avião ao lado de um negro forte, com a cabeça raspada e olhos escuros, com dentes certinhos e reluzentes. Aaron percebeu que o rapaz só poderia ser brasileiro; Eles exalam uma energia própria, é o que ele sempre achou dos brasileiros.

– Lindo país o seu hein? – Foi a primeira coisa que o jovem advogado judeu de 23 anos falou para Roberto. E assim eles começaram a conversar, contando suas histórias de vida e seus sonhos e planos para o futuro, no maravilhoso sonho americano. E foi assim que, sem conseguir deixar aquele rapaz de 19 anos tão cheio de vida vagando pelas ruas de um país que só conhecia pelos livros e filmes, Aaron o acolheu em seu apartamento.

Oito anos depois, os dois nunca se separaram, nem mesmo uma discussão, a não ser no dia em que Roberto insistiu para que Aaron provasse a bebida quente dos deuses, segundo Rob, o café. Melhores amigos, sempre podem contar um com o outro. E é por isso que Aaron não se arrepende da ida ao Brasil, ou da decisão de abandonar sua família.

Aaron liga seu carro e dirige pelas ruas a fim de chegar a Casa Presidencial. Não é tão longe de seu apartamento, mas ele dirige com a janela aberta lentamente pelas ruas para que possa sentir a brisa no seu rosto e o sol matinal queimando agradavelmente sua pele.

Antes, mais ou menos uma década e alguns anos atrás, a antiga Casa Branca se localizava em Washington D.C. Porem, após alguns problemas não divulgados para a mídia, mudaram a localização do centro presidencial e da capital para Nova York. Mudaram também o nome: Casa Presidencial.

O prédio era um lugar bonito que sempre impressiona os cidadãos que passavam perto dele. Parecia um teatro, com uma cúpula alta, colunas segurando as paredes, o teto, sua cor bege refletindo á luz do sol. O estilo arquitetônico se parecia com o grego, talvez romanos. Por todo lado estava entalhado o novo lema presidencial em latim: Virtus, nunc virtus, omni virtute. Poder ontem, poder hoje, poder sempre.

O lema não agradou muito os cidadãos; Parecia algo muito autossuficiente. Mas tanto faz quanto tanto fez para Aaron. Ele para o carro no local destinado aos funcionários e desce para o piso de concreto. Não sabia se Philip se encontraria ali, mas precisava tentar.

Entrou no edifício de estrutura magnifica por dentro e foi direto à mesa da atual recepcionista; Algo que não havia antes.

– Bom dia. – Aaron sorri para a moça que aparenta ter 20 anos no máximo. – O Sr. Philip se encontra?

– Não, ele decidiu não participar do Conselho hoje. Não se sente bem desde a morte do Presidente. Mas se quiser, pode tentar fazer contato com ele em sua residência. Ele deixou o endereço para quem quisesse contata-lo. – Aaron apenas assente e pede o endereço.

Trinta minutos e alguns quilômetros depois, ele está parado em frente de uma casa modesta. Com um cercado, um jardim com lindas flores multicoloridas e uma casinha que mais parecia uma cabana numa clareira, a moradia exalava felicidade, energia pura. Mas algo dizia a Aaron que o dono da casa não se sentia assim.

Ele estaciona o carro em frente ao cercado e abre o pequeno portão que leva a casa. Para em frente à porta e toca a campainha. Espera cinco minutos e nada. Então toca de novo. Subitamente, quando ele estava prestes a tocar novamente a campainha, a porta se abre abruptamente e revela um jovem baixo, olhos castanhos, cabelos pretos encaracolados.

Vestia-se jovialmente, bermuda jeans e camisa de manga. Sua pele era corada, não bronzeada, mas exalava uma energia quase que vital. Mas seus olhos expressavam algo completamente diferente.

– Ah, bom dia Aaron. – A voz dele está baixa, quase um sussurro, como se falar doesse. – Posso ajuda-lo em algo?

– Bom, eu... Gostaria de dar uma palavra com você, Sr. Philip, se tiver tempo para...

– Me chame de Philip, por favor. Tenho 25 anos, sou muito novo para ser chamado de senhor não? – Ele sorri, mesmo que brevemente, e logo o sorriso some. – Pode entrar.

Aaron acena com a cabeça como que agradecendo e entra na casa. Tão aconchegante quanto o exterior da casa, o interior era mobiliado com moveis inteiramente de madeira. Vasos com flores aparentemente colhidas do jardim iluminavam a casa e exalavam um leve cheiro adocicado.

– Sente-se aqui Aaron. – Philip mostrou a ele uma poltrona localizada bem em frente ao sofá em que ele havia se sentado.

– Como sabe meu nome senhor... Quer dizer, Philip? – Aaron achava a resposta obvia, mas perguntou de qualquer maneira.

– Sou... Bem, eu era secretário do Presidente. Creio conhecer cada um profissionalmente ligado a ele.

– Eu sinto muito pela sua perda... Deve ser difícil.

– Bom, não estamos aqui para isso, assim creio, não é mesmo Aaron? Pode falar.

– Eu gostaria de saber... Agora com o presidente morto... Se continuarei trabalhando na presidência. Quem sabe para você ou para...

– Não. – Philip o corta. – Desculpe-me Aaron, mas eu não tenho forças para voltar agora para aquele lugar. O espirito dele parece estar conectado aquele prédio... Quase como se estivesse vivo. E não quero que você perca seu tempo trabalhando para Adolf. As pessoas acreditam que ele assumindo nossa presidência será algo bom, mas eu sei como ele trabalha, e esse homem é doente.

– E por que você não assume Philip? – Pergunta Aaron brandamente.

– Eu não posso. Eu não creio que consiga sentar na mesma cadeira em que ele trabalhava. Eu estou muito abalado para até pensar nessa possibilidade. Sinto muito Aaron, mas não irei lhe recomendar a Adolf. Espero que ele saia o mais cedo possível da presidência. Ou que ele nem a assuma.

– Não há nada mesmo que você possa fazer...?

– Creio que não. Perdoe-me Aaron. Mas você é um ótimo advogado, George sempre agradecia a Deus por ter alguém tão inteligente ajudando-o. – Philip se permite rir um pouco, com a lembrança ainda viva em sua mente.

– Eu agradeço Philip. Espero que você melhore logo.

Aaron sai pela porta e entra no seu carro. Olha-se no espelho retrovisor. Seus cabelos pretos mesclados com alguns fios brancos, sua pele muito clara, seus olhos grafite. Ele tinha um charme pessoal. Charme esse destruído por seus olhos lacrimejantes. Nunca havia se imaginado nessa situação antes, desempregado.

A única coisa que passava pela cabeça de Aaron ao dirigir sem rumo era “preciso achar um bar”

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Já era muito tarde quando Aaron chega ao seu apartamento. Completamente bêbado e maltrapilho. Roberto, que estava esperando por seu amigo, levanta-se do sofá e ajuda o amigo a se equilibrar.

– Ah, meu Deus Aaron, onde você estava?!

– Sem emprego e bebendo. – Diz Aaron, com sua língua enrolando a cada silaba.

Roberto o segura pelos ombros e o leva em direção ao banheiro.

– Tire esse terno e essa calça social e tome banho de água gelada. Vou preparar um café para você.

Aaron, mesmo bêbado, consegue obedecer aos comandos de Rob. Aos poucos a água gelada o acorda dos devaneios de sua mente embriagada, e o cheiro do café quente sendo preparado lhe dava forças para se enxugar e vestir um pijama.

Depois de muita dificuldade para acertar os buracos dos braços de seu pijama, ele sai de seu quarto e se senta a mesa. Com a mente um pouco mais lúcida agora, ele percebe a besteira que fez. Ficar bêbado? Era muito clichê na opinião dele.

Mas foi sentado ali, naquela mesa, às uma e meia da madrugada, com seu amigo sentado a sua frente servindo seu café, com olhos cansados de sono por estar esperando o amigo, que Aaron percebeu que nunca vai estar sozinho nesse mundo, não enquanto Roberto viver.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? Já estou trabalhando no quinto =D



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