Angelic Me escrita por Thaís Fonseca


Capítulo 5
Capítulo V - Muita Informação Para Menos de 24hrs.




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Vampiro? Então Edward e sua família eram vampiros? Até a doce Alice? Meu Deus! Tudo se encaixava. As vezes em que expressou vontade de me matar, a mudança na cor dos olhos, a palidez, sua velocidade, sua força. O jeito como me salvara outro dia. Tudo estava ali, ligado.

É claro que eu sabia que havia algo errado. Que Edward não era normal. Mas daí a ser um... morto? Era muita informação para a minha cabeça.

Desliguei o computador, coloquei meu moletom velho e deitei na cama, tentando adormecer. Mais uma vez não consegui. Edward já havia me tirado muitas noites de sono, eu acabaria ficando com olheiras piores do que as dele.

Imaginei que ele fosse como um super homem ou algo assim. Que tivesse vindo de outro planeta em um meteoro, não sei. Ok, teoria idiota, mas que outra conclusão eu poderia ter?

O mais estranho de tudo isso, é que eu não estava com medo. Era como se eu já esperasse alguma coisa assim. Parecia que isso tornava as coisas mais interessantes. Agora eu entendia tudo. Ele tinha sede pelo meu sangue, isso o deixava tão nervoso. Talvez mais pelo fato de ter vontade de me matar, mas não querer. Então tudo, eu meio que o entendia. Porque ele não poderia vir dizer “Oi, não gosto de você porque sou vampiro e desejo seu sangue”. Mas também não o perdoo. Não totalmente. Quero dizer, ele poderia simplesmente ser educado. Era o mínimo não?

O resto do fim de semana passou lentamente. Fiquei em casa fazendo uns trabalhos e conversando com Reneé por e-mail. A segunda-feira veio chuvosa e úmida. Minha vontade de ver os Cullen era grande. Eu queria poder observá-los agora. Os detalhes. Meus olhos veriam além do que os outros poderiam. Aquilo me animava, me deixava eufórica.

Devido a tanta ansiedade, cheguei cedo demais à escola àquela manhã. Minha caminhonete era o único veículo no estacionamento. Fiquei no carro, me protegendo assim da chuva, e liguei o som. Uma música suave tocava. Encostei meu rosto no vidro e observei arbustos e arvores sendo molhados pela água da chuva. Fechei meus olhos em seguida, por alguns instantes, e lá estava Edward, em minha mente.

Ele dizia de forma rude “o fato de saber a verdade sobre mim, só me dá mais razões para beber seu sangue”. Não poderia contar a ele. Sabia que não. Sua reação não seria melhor que essa. Poderia ser até pior. Abri os olhos abruptamente, aspirando uma grande quantidade de ar. Essa era uma das razões que eu tinha para gostar de Forks. Sempre que estava triste, preocupada ou estressada, esse cheiro de terra molhada me fazia bem. Era como se fosse meu próprio calmante.

Olhei ao redor e os primeiros carros já haviam chego. A todo momento me pegava olhando para o canto vazio onde o Volvo prata deveria estar.

Cada vez mais veículos chegavam. A calmaria de minutos atrás já não estava presente. Ouvia-se risadas, conversas animadas, motores de carros e vez ou outra, uma buzina tímida. De repente tudo estava em seu lugar. Olhei o relógio e me dei conta de que acabaria chegando atrasada então desliguei o rádio, joguei a mochila por sobre os ombros e saí do carro.

Olhava distraída para o chão, concentrada em pisar nos lugares corretos devido ao escorregadio asfalto, molhado pela chuva. Foi quando aquele ronco feroz fez com que eu prendesse minha respiração. Eu reconheceria aquele som em qualquer lugar. Desviei meu olhar para o oeste e comprovei o que já sabia.

Não sei bem o que aconteceu, mas minhas pernas simplesmente travaram, não se moviam. Como se estivessem amarradas. Eu fiquei ali, no meio do estacionamento, estática.

As portas do carro se abriram e o primeiro que apareceu foi ele, Edward. Observei sua perfeição, perdida em minha própria mente. A pele luzia clara e pálida. A falta de sangue naquele corpo era evidente. Os cabelos brilhavam e mesmo sem nunca tê-los tocado, sabia que eram macios. E os olhos... de um dourado sem igual. Ouro derretido.

Eu realmente olhava Edward de outra forma agora. Um vampiro. O mais lindo que já vi. Não que eu tenha visto muitos, mas o suficiente para poder comparar.

Emmett era um gigante. Provavelmente o mais forte, um verdadeiro gorila. Mas era muito belo, isso era inegável. Jasper, apesar do jeito estranho, também era muito bonito com seus belíssimos cabelos louros. Carlisle então! Apesar de ser o lidar da família, era extremamente jovem e lindo. Além de amoroso e calmo.

Mas Edward... sua rudez era ainda mais atraente. O olhar cheio de ódio e o jeito como seus músculos se destacavam quando  apertava os punhos para controlar a raiva.

Ai.Meu.Deus.

Essa coisa toda de vampirismo estava me deixando maluca. Definitivamente.

- Bella? Vamos nos atrasar. – ouvi uma voz conhecida me chamando – BELLA!

Olhei para Angela, ainda confusa.

- Hã?!

- Meu Deus, Bella! Vamos, já vai começar o primeiro tempo.

Tornei a olhar no relógio. Angela estava certa, faltava pouco mais de dois minutos para a aula de inglês. Me apressei a andar, voltando a espiar os Cullen por cima dos ombros. Juro que encontrei um Edward confuso e frustrado. Aquilo só me intrigava mais e juro que se eu só fosse um pouco mais intima dele, perguntaria o que estava acontecendo. Mas não posso ser enxerida. Não mais do que já fui.

O intervalo chegou como se eu mal tivesse entrado na sala. A sensação de tempo era diferente. Eu estava tão perdida em meus pensamentos que sequer vi o tempo passar. Entrei no refeitório, sem disfarçar minha ansiedade. Sentei na mesa de costume, sem pegar nada para comer. Eu estava sem fome. Fiquei ali, olhando os Cullen falando entre si e me peguei estudando sobre os detalhes que li no site de vampiros no ultimo sábado.

Eu pegava todos os movimentos elegantes e bem calculados dos irmãos. Os sorrisos perfeitos, tudo. E foi aí que Edward se virou para mim. Ele me olhava com curiosidade, coisa que era estranha de se ver nele. Me olhava fixamente, como se quisesse ver através de mim. Eu não hesitei. Não desviei meu olhar do dele nem por um segundo. Fiquei olhando aqueles olhos amarelos, mesmo a distancia, tentando entender o que se passava por dentro daquela mente.

Ele me olhava da mesma forma, intrigado.

- Bella, está flertando com o Cullen? – Jess soltou, debochando.

- Estou apenas tentando entendê-lo.

- Entender? O Cullen? Ele é lindo, para que entender? – ela falou debochando mais uma vez.

- Estou falando sério Jess. Ser lindo não é o que me preocupa. São outras coisas...

- Que tipo de coisas? – percebi que o tom de sua voz agora era curioso. Eu tinha que ser cautelosa, não podia revelar os segredos de outros.

- Coisas... hm. Bem, meu pai pediu para eu ficar de olho neles. De uma forma positiva. E é isso que estou fazendo.

Ela deu de ombros e pareceu engolir a história. Como eu sabia que aquilo não tinha nenhum dos elementos pelos quais Jessica se interessava (dinheiro, garotos, namoros e sexo), então também sabia que ela havia se conformado em obter aquela resposta, ao invés de algo absolutamente tedioso. Voltei minha atenção a Edward e percebi que seu olhar era de ansiedade, de nervosismo. Mas por quê?

As ultimas aulas foram mais lentas, mas nada que me preocupasse. Minha mente estava ocupada, e essa já era uma grande vantagem. Confesso que quando sai do prédio e caminhei para minha caminhonete, a única coisa que me lembrava era de terminar o dever de álgebra que o professor passara.

Cruzava o estacionamento, admirando minha velha picape estacionada no lugar de sempre quando o vi passar com seus irmãos que também iam em direção ao carro dele. Nosso olhar se encontrou mais uma vez, e como no almoço, senti em seus olhos algo diferente. Eu queria lhe perguntar, mas não podia. Juro ter visto seus lábios se moverem, mas apesar da mínima distancia entre nós, não escutei nada.

Alice, seguida pelos irmãos, olhou para mim. Todos estavam com aquele olhar de curiosidade, menos ela, que ao me ver, sorriu em resposta. Eu juro que não entendo muito bem tudo isso. Afinal eu deveria estar com medo, ao saber que eles eram vampiros, mas não estava. Eu queria tanto poder entender tudo, sentar com eles e perguntar todos os detalhes, como era aquela “vida”. Sinceramente, eu parecia uma criança que acabara de ouvir a história da Cinderella, e queria desvendar seus segredos.

Fui para casa, sem nenhuma interrupção. Mal havia chego, quando o telefone gritou desesperado. Joguei minha mochila sobre o sofá e agarrei o fone.

- Alô?

Aquela voz angelical e amigável falou comigo.

- Oi Bella. Aqui é a Alice!

- Ah, oi Alice.

- Eu queria saber se posso conversar um pouco com você. Precisava te contar umas coisas... sabe, coisas de garotas. – ela deu um risinho baixo ao final.

- Er... claro. Charlie vai pescar com Harry hoje e eu ficaria sozinha, então, tudo bem.

- Ah ok, em um minuto estou aí.

Bom, um minuto não, mas dois minutos e a campainha soou. Tenho certeza de que ela esperou o máximo que pôde para tocar a campainha. Abri a porta e lá estava ela, sorridente.

- Olá!

- Oi Alice, entra.  – ela entrou e eu fechei a porta.

Sentamos no sofá em que a poucos minutos eu havia deixado minha mochila e ela me olhou ansiosa. Não sabia se perguntava ou não, então fiquei quieta, remoendo o que fazer. Mas ela, quebrou o silêncio.

- Eu sei.

- Perdão? – Não entendi o que ela quis dizer.

- Que você sabe.

Eu achei que não podia ser do que eu imaginava. Afinal, como poderia?

- Não entendo.

- Ah Bella, você sabe... do nosso segredo.

Continuei quieta, com medo de falar demais.

- Tudo bem. Eu vi você pesquisando, vi quando descobriu tudo sobre nós.

- Viu?! Como assim? Você me espionou?

Ok, aquilo sim era estranho. E ficou pior, quando ela começou a rir, sacudindo a cabeça.

- Não! Quero dizer, não exatamente. Bella, agora que você sabe que eu sou uma vampira, acho que posso te contar algumas coisas...

Ouvir ela afirmando que era vampira foi meio assustador. Existia uma grande diferença entre você descobrir algo e confirmar isso. Como continuei sem falar, ela prosseguiu.

- Quando eu disse que vi você pesquisando sobre as lendas, não foi no sentido literal da palavra. Bom, eu vejo coisas...

- Tipo ver o futuro?!

- É. Mas não o futuro certo. Eu vejo um futuro subjetivo. Algo que pode passar pela sua mente, mas que você pode acabar mudando. É como se eu fosse o Will ao invés do Going to¹.

- Espera, deixa eu ver se entendi. Você meio que vê o que se passa pela mente das pessoas, mas se elas mudam de idéia, sua visão também muda?

- Exato. Ou às vezes não muda. Tudo depende da proximidade que eu tenho com a pessoa. Eu precisava entender se você havia realmente procurado algo, pra poder confirmar minha visão. Então quando vi a maneira como nos olhava hoje, e quando Edward disse que Jessica estava pensando em como você é estranha por aceitar “vigiar” a gente, eu liguei os fatos e...

- Calma aí! A Jess não me disse que eu era estranha nem nada... ou... você falou que Edward disse que Jessica estava pensando?

- É... – ela pareceu um pouco decepcionada por ter falado demais.

- Então, Edward lê mentes ou algo assim?!

- Digamos que sim. Mas não diga a ele que eu te contei, por favor!

- Eu?! – não pude evitar, tive que rir nesse momento. – contar algo a ele? Conversar com ele? Seu irmão me odeia Alice!

- Ele não odeia Bella. Edward só... sofre.

- Ok, ele sente vontade de me matar e ainda sofre?!

- É mais complicado do que parece. Acontece que nós sentimos sede, mas nos controlamos. E o seu sangue é atrativo demais para ele.

- Mas por quê? Tem alguma coisa no meu sangue, que não tem nos outros? Tipo, tem algo de errado, algum problema comigo?!

- Bella, somos vampiros e ao invés de ter medo, se preocupa com o que seu sangue possa ter como atrativo?

- É... acho que sim. Mas, vocês também...

- Não, é só com ele. Parece que seu cheiro é mais chamativo e mais forte para ele. Ele sofre, por desejar seu sangue, mas não querer te matar. Edward não gosta de machucar ninguém. Nenhum de nós gosta. E você está sendo a maior prova de autocontrole que ele já teve em toda a vida.

- Acho que entendo... de alguma forma.

Fiquei alguns minutos repassando aquilo em minha mente, e Alice pareceu entender pois não disse nada até que eu tomasse a iniciativa.

- Então, é por isso que não vão a escola nos dias ensolarados? Viram cinzas ou o quê?

Alice riu divertida, o que me fez sentir uma criança de cinco anos perguntando se bebês vem de cegonhas.

- Sim e não. Sim, é por sermos vampiros que não vamos à escola quando o sol resolve aparecer. E não, não viramos cinzas! Esses são mitos bobos que acho que alguém inventou apenas para dar um pouco mais de fragilidade à nossa espécie. Suponho que para que um humano se sinta mais potente contra um vampiro. Como se pensasse “vou jogá-lo no sol e tudo se resolve”. A questão é que nós meio que somos... diferentes no sol. Se aparecermos, as pessoas verão que não somos ‘normais’. Nossa pele reluz...

Juro que se tivesse bebendo café ou qualquer coisa, teria cuspido tudo em cima dela. Graças a Deus, eu não estava com nada “perigoso” em mãos. Ou na boca...

- Quê?! Tipo, brilhar?

- É. Tipo brilhar.

- UAU. Isso é estranho...

- Acredite – ela riu. – nós não achamos nada divertido.

Por um momento, a imagem de um Emmett purpurinado apareceu na minha mente e eu acabei rindo comigo mesma. Um garoto daquele tamanho brilhando deveria ser tão engraçado!

- Você disse “mitos bobos” – o que já ouvi antes acrescentei em pensamento – então, alhos e crucifixos?

- Não funcionam.

- Água benta?

- De jeito nenhum!

- Ok, informação demais para menos de 24 horas.

- Compreendo. Bom, vou deixá-la terminar seu trabalho de álgebra.

Eu a olhei tipo “você me viu fazendo trabalho?”

Mas ela apenas riu, ao entender meu olhar e respondeu à pergunta.

- Edward também tem.

- Oh...

Ela se levantou, percebendo provavelmente minha incapacidade mental para compreender rapidamente histórias de terror se tornando reais, mas sem ser de terror. Ok, vamos combinar. Meu cérebro não foi criado para isso. Por Deus! São vampiros. De verdade. E são meus vizinhos!

Quando é o próximo avião para Phoenix?!

Eu me levantei também, acompanhando-a até a porta em silêncio. Abri a mesma e ao passar pelo portal, ela tornou a me olhar sorrindo.

- Descanse Bella. Sua cara de acabada amanhã vai te fazer ficar ainda mais parecida com uma de nós. Não quer olheiras para combinar com sua pele clara demais para um humano, quer?

Ela riu de sua própria ‘piada’ – quem é que brinca numa hora dessas? Pelo amor de Deus, ela era uma vampira! –, beijou meu rosto, deu um pulinho contente, virando-se de costas e de repente sumiu, deixando para trás apenas uma leve brisa  e uma grande e pesada informação que pela primeira vez desde que eu descobrira, percebi não querer ter sabido.


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Notas finais do capítulo

¹Regras gramaticais da língua inglesa.



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