Um aroma adocicado invadiu minhas narinas, eu queria protestar, mas por mais enjoativo que fosse o aroma era muito bom. Agora para se juntar ao incomodo anterior, alguém abriu as cortinas deixando o sol bater no meu rosto.

— Bom dia milady. — Uma voz rouca e atraente ecoou perto do meu ouvido.

— Não me chame assim pela manhã. — Resmunguei enquanto bocejava e me erguia dos travesseiros com um esforço hercúleo.

— Desculpe milady. — Por que eu ainda peço as coisas para esse cara?

Espreguicei-me e cocei os olhos abrindo um de cada vez e piscando repetidamente por causa da claridade. Quando meus olhos se acostumaram pude encarar o moreno de pele branca como a minha, olhos vermelhos misteriosos e um pequeno sorriso sarcástico me entregando uma xícara de porcelana.

— Como a senhorita sempre me pede uma xícara de chocolate quente com marshmallows e para acompanhar uma torta de amoras com creme fresco.

Ainda sonolenta absorvi o líquido marrom e ignorei o pequeno pedaço da torta que ele oferecia e peguei um quase o triplo do tamanho e comecei a comer. Essa mania de me acordar com comida me irritava profundamente, assim ele não me deixava voltar a dormir.

— Você tem uma reunião sobre a empresa às 10h, almoço com o Marketing às 13h, aulas de dança às 16h e canto às 17h. — O homem vestido de preto apontou me tirando o apetite. Café da manhã não é momento de discutir sobre a empresa que eu herdei.

— Se retire para que eu possa me trocar Sebastian. — Ordenei e depois de uma reverência ele saiu levando a torta inacabada.

Caminhei até o imenso closet que havia no meu quarto e escolhi uma calça de couro preta, uma camisa social bege e uma botinha de salto também bege, um colar de ouro e brincos pesados e uma bolsa de mão preta. Quando voltei ao quarto bagunçando ainda meus cabelos negros, encontro Sebastian me esperando parado bem no centro segurando uma pequena caixa em cada mão.

Pego primeiramente a caixa preta decorada em prata que continha um anel totalmente de ouro com uma grande pedra branca sendo segurada por adornos parecidos com dentes de tubarão e o coloco no dedo do meio da mão direita.

Esse anel é o símbolo de comando da minha família, desde antes da Peste Negra minha família era comandada pelas mulheres (o que era quase um crime para a época) e, como eu sou a única que restou, eu sou a líder da família.

A outra caixa era de veludo negro com um pequeno tubarão desenhado e continha um anel grosso com um escudo e uma âncora no centro com uma pequena coroa e duas espadas cruzadas ao seu lado, havia o ganhado no meu aniversário pouco antes de minha família falecer e é a última lembrança que tenho deles.

Sebastian o pegou de minha mão e depositou no meu dedo médio esquerdo ao notar que eu não me movia. Impaciente, como sempre.

— Paciência é uma virtude meu caro... — Falei suavemente enquanto me diria à penteadeira me arrumar como pede o figurino. Depois de marcar bem os olhos e a boca peguei meus óculos escuros e saí com o moreno no meu calcanhar.

— Está atrasada. — Um garoto de 13 anos com cabelos azulados e de olhos azuis todo vestido de preto me encarava da poltrona perto do grande hall de entrada.

— Como posso estar atrasada para um compromisso que nem tinha Conde de Phantomhive? — Pedi erguendo uma sobrancelha e encarando seu olho esquerdo com divertimento.

— Essa sua falta de respeito me irrita profundamente Duquesa de Summer.

— O sentimento é recíproco pirralho.

— EU NÃO SOU PIRRALHO! TENHO MAIS DE 200 ANOS!

— Kawaii! Você fez biquinho igual a uma criança mimada!

— Jovem Mestre, Milady parem de brigar. — Pediu Sebastian calmo.

— Vamos Ciel, se eu tenho que fazer coisas entediantes, você também tem. — Pedi após um suspiro.

— Por que eu tenho que ir com você?

— Primeiro, eu sou mais velha. — Antes que ele pudesse rebater continuei. — Segundo, temos um contrato que diz que você também tem que me obedecer. Terceiro, você me deve respeito por eu ser mais nobre. Quarto, enquanto você estiver sobre meu teto, você me obedece. Estamos entendidos? — Mantive o tom calmo e impassível, o que fez Ciel Phantomhive sair resmungando da sala e ir para o carro.

— Você não acha que exagerou. Milady? — Sebastian pediu preocupado ao meu lado.

— Na verdade não. Eu só o coloquei no lugar dele. A época em que ele tinha poder acabou. Não estamos mais no século XIX para que eu tenha que ouvir o que um homem fala e ficar quieta. Estamos no século XXI e eu tenho tanto direito quanto ele, aliás, eu tenho mais direito do que ele. — Terminei meu breve discurso feminista e entrei no carro sentando-me ao lado do Conde.

Vai ser uma longa viagem de carro.