O Sol da Meia Noite

Cap.I _______________________________________________________________________

Debruçada em antigos feitiços de papiro, Minerva se perdia em seus pensamentos em frente a janela de seu aposento, e como não o poderia; se a vista era tão bela, duas faixas azuis cobriam o horizonte... a mais clara pertencendo ao céu, a mais escura ao mar. De longe via a primeira aula de voo a ser lecionada aos alunos do primeiro ano, diante disso...deixou-se levar por longínquas lembranças de seu passado... E lá estava ela, uma bruxa recém chegada a Hogwarts, tímida sim ela era, e muito... apesar de presentemente ocupar o cargo de diretora de Grifinória, o chapéu seletor a designou para casa verde Sonserina; filha de ambos pais bruxos, e extremamente poderosa e sábia, a pequena criança desconhecia o destino do qual fora escolhida e seus poderes ainda a serem desenvolvidos, ela seria uma das principais bruxas a ter que enfrentar as artes das trevas e seus bruxos negros... ela apenas ainda desconhecia essa parte da sua tarefa.

Desde cedo, mostrou-se diferente dos demais, a primeira da turma ela seria, sem muito esforço; já que passava horas nos arredores de Hogwarts em companhia de uma série de livros de feitiços, poções e uma pequena gatinha da qual, era a única a aceitar amizade, já que a acompanhava em quase todos os lugares. Descobriu por intermédio desta mesma gata seu poder de transfiguração, ela era pois, uma animaga, conseguia; sem muito esforço torna-se como sua amiga, utilizava-se desta magia, sempre que queria definitivamente estar sozinha; pois, nem mesmo sua gatinha ao seu lado ficava após sua transfiguração...corria para longe. Dentre todas as suas qualidades como bruxa, desde cedo destacou-se na aula de voo, devida sua rápida agilidade e velocidade, tornou-se em pouco tempo a apanhadora de sua casa. Em um dos jogos, após vencerem o primeiro jogo do ano, sem motivo algum... encontrava-se triste e solitária pela primeira vez, afastou-se do grupo afim de procurar aconchego perto ao salgueiro, outro lugar que quase ninguém frequentava justamente por se tratar do salgueiro lutador, outro antissocial, e por ser assim; só aceitava ao seu lado outros antissociais assim como ela; largou a vassoura em meio ao gramado e sentou-se...lá permaneceu por muito tempo, chegou até a cochilar, até ter a sensação de que...estaria sendo observada? Como poderia? Ninguém vem aqui! Pensou, levantou-se transtornada com tal sensação, apesar de captar as intenções do observador... olhar de admiração, carinho...talvez... talvez nada; pensou, retirou-se bruscamente do local, pisando duro.

Alguns dias se passaram desde esse episódio, ao salgueiro deixou de retornar, e sim ainda se sentia observada; isso a incomodava demais, e então pensou, por que não passar a observar? Transfigurou-se e passou a caminhar pelo castelo despercebida, à procura de seu observador; isso durou algumas semanas; sem efeito, e cansada do jogo de gato e rato, - Tenho mais o que fazer, me preocupar com um desocupado, dizendo isso como um meio de auto afirmação para si mesma; - Vamos deixar para lá, preciso é encontrar minha vassoura, se o salgueiro lutador já não pôs um fim a ela.

Fim de semana, lá estava ela, a procura de uma nova vassoura no mercado de bruxos; parou em frente a vitrine da loja, afim de observar o que lhe oferecia, foi quando pela mesma vitrine viu uma moça se aproximar, trajando a mesma capa que a sua, só que vermelha, bem mais alta esboçando um largo sorriso nos lábios carnudos levemente avermelhados por um batom cor de cereja, eis que ela segurava um vassoura...a sua vassoura:

- Acho que isso lhe pertence – disse a moça com forte sotaque inglês e voz grave, mas, ainda sim feminina.

- Você achou minha vassoura! Onde estava? Porque demorou tanto! Obrigada! - Ai! –pensou, os livros são realmente ótimos companheiros, única desvantagem é que, ao passar tanto tempo com eles, sua inabilidade social apenas se acentuou; pediu desculpas meio sem jeito, e logo, baixou a fronte, olhando para a vassoura. A moça, apesar de pouco tempo mais velha que ela, um ano apenas, sorriu soltando um leve som, e; delicadamente ergueu sua face olhando fundo em seus olhos azuis... tal olhar a fez estremecer, mas...por que?

- Não há do que se preocupar, reconheço sua preocupação; é uma apanhadora e tanto, como poderia desempenhar tão bem o seu trabalho, sem o instrumento que o conduz?

Minerva petrificou! Pelo inglês incorrigível, pela postura da moça, pela voz, pela beleza... pelo...

-Já que estamos aqui, aceitaria um suco de abóbora? Acredito que cerveja amanteigada não seria recomendável.

- Longa pausa fora feita até a resposta, sim ela ainda estava perplexa com a abordagem da distinta garota, a moça, parecia ainda mais velha.

- É... você esta...

- Claro! Vamos! Adoro suco de abóbora – disse correndo quase gritando, mentalmente se xingando pela falta de boas maneiras, principalmente... em frente a ela.

- srsrsr vamos então, adoraria conversar com você!

...

Sentaram-se na mesa, ambas acompanhadas de um grande copo de suco, Minerva bebericava em grande goladas, afim de se acalmar, havia pedido com mistura de camomila para este mesmo fim.

- Você é nova não é mesmo? Vi sua seleção, esta gostando daqui?

- Sim e muito! A escola, os professores, os bosques, a magia, tudo me fascina aqui! Você já esta aqui a quanto tempo?

- Estou no segundo ano apenas, só um ano a mais que você, esta é como minha segunda casa, se pudesse; não mais deixaria Hogwarts, minha aula preferida é de feitiços e poções e você?

- Adoro feitiços! Apesar de que estou com problemas em executar alguns, acho que é a maneira que falo, já fui na Olivaras mas minha varinha não apresenta nenhum defeito.

- Ahh isso não tem problema! Modesta a parte vou muito bem nessa aula, se quiser posso lhe ajudar, lhe ensinar nas horas vagas o que acha?

- Perfeito! Que dia você pode? Estou livre todos os dias exceto as quartas que treino quadribol.

- Todos os outros dias também, exceto quarta que leciono reforço na biblioteca; a propósito... me chamo Cathlyn.

- Prazer Cathlyn, sou Minerva.

...

Perguntava-se do por que, do nada lhe vieram tais lembranças a mente... logicamente, sempre se recordava dela mas, naqueles dias... suas lembranças estavam mais vividas do que em anos, nunca estiveram.

...

Inicialmente encontravam-se todas as segundas e quintas para treinar, o que não demorou muito para passar a ser toda a semana, inclusive fins de semana, a relação aluna mais velha auxiliando a mais nova e inexperiente, passara a ser de amizade e companheirismo, dividiam segredos, pensamentos e opiniões; pelo fato de Cathlyn ser mais velha, e ela, Minerva, muito inteligente; esta aprendeu matérias do segundo ano em conjunto com o primeiro, inúmeros feitiços, poções, contrafeitiços; além do fato de agora, ter uma amiga, que; ao contrario de outros, que só se aproximavam por interesse ou reverencia pelo fato de Minerva carregar o emblema de Sonseria, Cathlyn gostava dela da maneira como ela realmente era... ela mesma...por si só. Minerva, toda noite; sentava-se na cama e ao lançar seu olhar para a foto que tiraram juntas no dia das bruxas, Cathlyn e ela... pensava longamente no motivo do qual, uma garota, ainda mais, sendo mais velha iria querer ter amizade com uma mais nova, ainda sendo de outra casa, Sonserina; todas as lendas que rodeavam esta casa, só faziam aumentar o preconceito que as pessoas tinham contra as pessoas que carregavam seu emblema, mas; Cahlyn, parecia não se importar com nada disso, na verdade sempre fora superior a tudo e a todos os comentários da casa e de todo o resto; admirava-a ainda mais por isso, não se importava com a opinião alheia, se riam dela pelas costas ou pela sua frente por algum comentário mal interpretado, ela simplesmente parava e encarava a pessoa, até que esta, ficasse sem jeito. Cathlyn apesar de ser uma ano mais velha, apresentava um corpo bem mais desenvolvido, curvilíneo, rosto de mulher, delicado, salpicado de pequenas pintas cor de mel, tão diminutas que somente vendo-as de muito perto as perceberia; olhos amendoados, negros como a noite, cabelos escuros longos ate o ombros, se não fossem pelas franjas irreverentes que lhe caiam a face à cada brisa ou movimento, dando-lhe ar jovial; sua aparência seria a de uma mulher feita, pois o corpo já lhe condizia.

Uma noite, minerva recebeu a visita de uma coruja em sua janela, sabia ser a coruja de Cathlyn, e pertencendo ambas de casas distintas e sendo tarde da noite, não poderiam mais sair de seus aposentos, muito menos uma ir visitar a outra; o recado dizia para encontra-la ao final do corredor dos quartos; Minerva não entendeu o porque disso, mas se tratando de Cat, como a chamava, não seria para inutilidade nenhuma faze-la correr o risco de perder pontos saindo a meia noite. Colocando seu robe, saiu de ponta de pés até o corredor, Não viu ninguém.

-Estranho, ela devia estar aqui....

- Buuu! - Disse uma cabeça voadora e meia mão segurando uma vela, o susto que Minerva levou ao ver a ausência do corpo de sua amiga fora tanto que só não gritou porque seria pior a corrigenda do que a brincadeira desta.

- Onde conseguiu a capa de invisibilidade! E que susto! Esta louca se grito...

- Mas não gritou! Peguei emprestada de um amigo, venha vamos quer lhe mostrar uma coisa.

Entrando debaixo da capa, segurou a vela e passou o braço pela cintura da amiga afim de ambas serem cobertas pela capa; sentia-se amparada com a proximidade do corpo dela, parte de sua blusa descobrira sua cintura, pelo fato de estar com as mão levantadas segurando a capa; e Minerva pode sentir o quanto sua pele era macia. Passaram pelos guardas, sem serem percebidas, caminharam até a biblioteca onde Cat, retirando um livro vermelho do lugar, uma parte da estante se abriu, dando visão a uma passagem para uma parte escondida da biblioteca. Desceram as escadas de pedras, em formato de livros ate chegarem em um novo recint;, Cat retirou a capa, deixando-a com uma mão cabide que se movia gentilmente que passou a segurar a capa. Um amplo local, com estantes de livros onde não se via o fim, literalmente não se via o fim das estantes! Grosso carpete vermelho macio forrava o local, poltronas, sofás e mesas espalhadas, lâmpadas e abajures por todos os lados, bolos, cafés e doces estavam prontos a serem servidos ao mínimo pedido, as gostosuras encontravam ao ar exalando seu perfume pelo local... uma perfeita biblioteca!

- Esta, é a parte da biblioteca onde nenhum aluno tem acesso, vários livros que não estão lá ficam aqui, por isso sei tantos feitiços até os que não lecionam, ficam aqui.

- Isso é muito legal! Como você descobriu? Por que não deixam esses livros lá! – Disse

Minerva perplexa e apaixonada pelo que via.

- O por que ainda não sei, só sei que Hogwarts é um recinto cheio de surpresas, passagens secretas aos montes! Nem mesmo os professores sabem ao certo quantas tem, um lugar de mais de mil anos e mágico ainda, vários foram os bruxos que por aqui passaram e feitiços fizeram para criar salas, esconderijos etc.. essa é uma delas. Eu achei sem querer, puxando esse mesmo livro, sei que mais ninguém sabe dela, por que a parte onde fica essa sala, na biblioteca é onde ficam os livros mais antigos e empoeirados, os alunos preferem edições mais novas.

- Por isso que eu adoro esse lugar, sempre com surpresas inesperadas, quer dizer que ninguém mais sabe? Só nós?

- Sim apenas nós duas, descobri esse lugar logo que cheguei e nunca ninguém sobre ele comentou, muitas horas do dia passava aqui, lendo, é meu lugar preferido, cheio de livros, conhecimento, silencioso... sendo para mim um local muito especial, e quis compartilhar com uma pessoa que para mim, se tornou mais especial que este lugar... você é a primeira pessoa que trago aqui, e será a única. Minerva parou, e a encarou por alguns instantes, e antes que pudesse dizer alguma coisa Cat continuou.

- Não sei se para você isso seria estranho mas, venho a observando desde que entrou na escola, e torci para que o chapéu seletor a colocasse em minha casa, o que não ocorreu; desta maneira ficaria mais próxima de você. Mas você sempre foi tão fechada e isolada, todas as vezes que conseguia encontra-la, ao me aproximar você logo se retirava, sei de cor e salteado os lugares que vai, que foge das pessoas, o único momento que pude enfim ficar frente a frente com você, foi tendo um motivo... e este fora, lhe entregando um pertence seu, naquele dia em que você percebeu estar sendo observada, agora você já sabe por quem era... era eu que a observava sempre.

- Catlyn...

- Não, deixe eu continuar, se eu não falar agora... não falo mais... a única maneira de ficar ao seu lado, foi através dos estudos, coisa que ambas gostamos até ficar sua amiga, para enfim tentar algo mais... sempre achei que fosse uma pessoa diferente e especial... agora, com nossa aproximação, tive mais certeza ainda, você é única... a única mulher que desejo ao meu lado....

- Cathlyn você esta confundindo as coisas, não é possível nossa amizade é muito especial para mim para acabar dessa maneira...

- Confundindo? Eu? Minerva, eu a observo a tempos, eu sei quem é a gata que me visita toda noite antes de dormir, do porque que essa gata passou a vir me ver assim que soube quem eu era e onde era meu quarto, porque teria tanta coincidência num fato desses então?

Minerva petrificou ao ouvir tal revelação... se ela a observava, sabia de seu poder de transformação, e que sim, ela passou a ir todas as noites no quarto da amiga sem dizer sua real identidade afim de mais tempo passar com ela, passava horas sob as carícias da Cat em seu colo, ouvindo as confidências de seu dia, vendo-a escrever cartas aos parentes.

- Eu sei o que você queria transformada em gata, e digo agora, que não precisa mudar sua forma para estar comigo da maneira que você quer, pode me ter agora da maneira como esta, pois eu também quero a mesma coisa que você...

Disse isso se aproximando lentamente dela, olhando fixamente em seus olhos erguendo as mãos afim de toca-la, mas Minerva, assustada cada vez ia mais para trás...

- Calma, eu não vou fazer nada, sente-se...

Pegando em suas mãos, a colocou sentada na poltrona da qual estava prestes a cair em cima devido a tantos passos, e se ajoelhou em sua frente, ficando a sua mesma altura.

- Estou morrendo de vergonha, você sempre soube que era eu e mesmo assim não disse...

- O que eu quero dizer, direi agora em seus lábios...

E um longo e primeiro beijo teve inicio naquela noite, começando devagar e cauteloso, até aquela sentir a aceitação da outra, e ambas se beijarem com o mesmo desejo e intensidade. Ao perceber Minerva mais relaxada, Cat escorregou delicadamente as mãos por entre seus cabelos loiros, até seus ombros, seguindo a forma de seu corpo esguio até a cintura, onde; a puxou para mais perto de sí, fazendo seus corpos se encaixarem perfeitamente; Minerva acariciava os negros cabelos de Cat, ainda úmidos recendendo a jasmim, do banho recém tomado. Difícil o instante para se separarem, durante longos minutos ambas se encararam carinhosamente, nada poderia ser dito naquele momento que substitui-se o poder de um olhar como aquele.

De repente, um toque a porta trouxe Minerva de volta a presente época em que se encontrava, com o susto deixou o tinteiro cair no chão manchando o tapete persa aos seus pés; Dumbledor a chamava para jantar com os alunos:

- Não vamos nos atrasar Minerva, sabe que hoje teremos sobremesa de abóbora.

- Já estou descendo professor, antes; reparus! – Disse segurando a varinha, retornando o tinteiro e a tinta ao seu devido lugar... em cima da mesa.

Descendo as escadas junto a Dumbledor rumo ao salão principal, ainda se encontrava perdida nos mesmos pensamentos, apesar de passados tantos anos... ainda não havia superado os acontecimentos ocorridos após aquele longo e doce beijo, que nunca esquecera... e nunca... o esquecerá.