I Won't Give Up escrita por AmanditaTC


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma fic angst, com spoilers da season 3a. O título da fic vem de uma música do Jason Mraz que eu acho a cara do Stiles. Tem um trecho da música que fala "how old is your soul" e acredito mesmo que depois do que aconteceu no fim da season 3a, Stiles amadureceu muito. Muito mais até do que devia!

Se alguém tiver curiosidade, o link da música é este aqui: http://www.youtube.com/watch?v=XLOMvPC1EzQ

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Ele estava em pé ali há pelo menos vinte minutos, respirando fundo e encarando um ponto específico no mármore escuro. As letras entalhadas na pedra fria, ao lado da foto da mulher sorridente, dona daquele olhar capaz de acalmar o mundo.

- Eu devia ter trazido flores. – ele deixa escapar de seus lábios, juntamente com uma lágrima teimosa que caiu sem permissão. – Já faz algum tempo desde que vim aqui. Quer dizer, desde que vim aqui sozinho, sem ser para acompanhar Stiles no seu aniversário. Mas é só... Não sinto que você está de fato por aqui, e ver seu sorriso preso nesta pedra fria só me faz pensar que você se foi cedo demais. E parece que esse buraco aqui dentro de mim só fica maior.

John se deixou ajoelhar finalmente e ergueu a mão, traçando o nome com a ponta dos dedos e depois se permitindo calar seu lado racional e acariciar a foto de sua esposa. Um soluço balançou seus ombros e ele sentiu que não havia mais necessidade de se fingir de forte.

Sentia o calor salgado das lágrimas que riscavam sua face agora sem pudor e caíam sobre a calça, escurecendo ainda mais o verde musgo da farda.

- Me desculpe! Me desculpe, Claudia! Eu acho que falhei... – ele mordeu os lábios, sentindo as palavras se amontoarem em sua garganta, como se tivessem pressa de sair de um peito tão apertado – Stiles, nosso menino, ele está... quebrado. E é minha culpa.

Ele olha para o alto, como se o azul do céu fosse capaz de secar suas lágrimas, mas elas apenas continuaram a cair, alheias a tudo.

- Tem acontecido tanta coisa desde que você se foi. E eu ficava me perguntando qual o momento exato no meio disso tudo em que o havia perdido. Até que essa semana consegui entender que foi ali, no corredor do hospital, há quase dez anos, que deixei ele escapar. Ele escapou de mim junto com o último suspiro que escapou de você. Quando entrei no hospital e vi o vazio que o cercava, a falta de palavras, de gestos, de vida... Ele era só uma criança e eu o deixei sozinho para ver você morrer.

O xerife balançou a cabeça e baixou os olhos, sentindo vergonha de si mesmo.

- Se não bastasse ele ter que lidar com a sua perda, ainda havia a minha perda. E em vez de estar ali para ele, foi ele que esteve ali para mim. Este tempo todo... Vigiando o quanto eu bebia, o que eu comia, se certificando de que sua solidão não se tornasse ainda maior. Ele é só um menino de dezessete anos lidando com coisas que muito homem adulto e vivido não seria capaz de lidar. Lidando com coisas que eu não fui capaz de lidar.

Um suspiro mais pesado e John finalmente conseguiu secar o rosto com as costas das mãos antes de continuar seu desabafo.

- Ele me contou coisas esses dias, coisas que eu não consegui assimilar. E quando duvidei de sua palavra ele me lembrou que você jamais duvidaria dele. Ele não estava mentindo, Claudia. Você pode imaginar como me senti quando percebi isso? Quando finalmente entendi que ele não só não estava mentindo como tinha passado meses enfrentando as coisas mais absurdas do mundo completamente sozinho? E não só por causa da minha descrença, mas principalmente para me proteger de tudo o que o cercava? Seu medo de me perder era tão grande quanto a certeza que eu tenho de que já o perdi.

Ele puxou a carteira do bolso, uma foto amassada lá dentro, uma imagem dos três juntos, num Natal, quando Stiles ainda tinha cinco anos e Claudia não estava doente. Eram tão felizes juntos.

- Nós parecemos uma família de comercial de margarina nessa foto. – ele deu um sorriso torto, carregado de saudade – Estou perdido, amor! Não sei o que fazer daqui pra frente... Não sei se tem alguma coisa que eu ainda possa fazer daqui pra frente. Ele está tão crescido... Ontem fiquei uma hora sentado no chão de seu quarto, olhando os pôsteres na parede e os quadrinhos espalhados debaixo da cama, até me pegar pensando que ele não tinha razões para idolatrar mais aqueles heróis. Ele mesmo já é uma espécie de herói. E quando me dei conta disso me senti partido ao meio, dividido entre o orgulho de ter um filho como ele e a vergonha por pensar que todos os heróis vieram de famílias quebradas.

Era isso então que ele sentia e tinha medo de admitir: que seu único filho tinha se tornado um herói não porque ele foi um excelente pai, mas pelo contrário. A sua ausência, enfiado cada vez mais na delegacia ou escondido atrás de um copo de uísque fizeram seu filho crescer. Antes da hora.

- Não queria que ele estivesse passando por nada disso. – deixou os ombros caírem, em sinal de derrota – Me orgulho dele, claro. Mas quando ele entrou naquele buraco, onde Melissa, Chris e eu estávamos presos, e eu pude ver o seu olhar... Tudo o que consegui pensar foi quão mais velha havia se tornado a sua alma. Ali não estava mais aquele adolescente hiperativo, cuja principal preocupação era a nota ruim em química ou perder para Scott no Playstation. Os olhos dele, Claudia, se você pudesse ver... Era como se faltasse um pedaço de sua alma, do seu coração. Como se tivessem arrancado sua inocência e preenchido o espaço com responsabilidade. Tão mais velho do que deveria ser...

Olhou mais uma vez para a lápide e pensou que seria muito bom ouvir a voz de sua mulher pelo menos uma última vez, lhe dizendo o que fazer, com aquele sorriso único que iluminava todos os caminhos.

- Queria você aqui... – ele suspirou resignado, levantando do chão, limpando a terra dos joelhos e caminhou em direção à saída do cemitério.

Já quase no portão de ferro trabalhado, olhou a foto que carregava apertada na mão direita. As lembranças do dia que a foto foi tirada vieram como um golpe de misericórdia e o xerife sentiu o coração estilhaçar ainda mais a medida que praticamente ouvia, em sua cabeça, as vozes animadas daquela noite.

A casa enfeitada, o cheiro de biscoitos de gengibre, peru e torta de maçã, as luzes piscando na varanda e alguns poucos flocos de neve salpicando a janela e derretendo assim que encostava no parapeito. Stiles correndo por toda a casa, empolgado com a visita dos parentes e mais ainda com a presença de Scott, seu mais novo melhor amigo. E quando chegou a hora de abrir os presentes, a reação exagerada dele quando viu que uma das caixas trazia o traje completo do seu herói favorito: o Batman.

O xerife sorriu de um jeito menos triste com essa imagem: seu filho pequeno colocando a máscara do herói e o cinto de utilidades e falando que ia salvar o mundo. E quando Scott perguntou a ele se, agora que ele era o Batman, ele poderia ser o Robin, a resposta do menino foi direta:

- Não, Scott. Desculpa tá? Meu pai é o Robin. Ele sempre vai ser o Robin para mim. – e antes que o amiguinho ficasse triste ele emendou – Você pode ser o Superman! É isso, e a minha mãe é a Mulher Maravilha. Mas para ser o Superman você tem que usar a cueca por cima da roupa, vamos lá no meu quarto para você resolver isso do seu uniforme.

Havia sido hilário. Logo Scott voltava para a festa com a cueca por cima da calça de moletom, uma fronha amarrada ao pescoço e corria com Stiles fingindo caçar alguns vilões.

O pai de Stiles suspirou mais uma vez e guardou a foto na carteira. A voz de Claudia repetindo em sua cabeça, como naquele Natal, quando estavam se preparando para dormir:

- Você sempre vai ser o seu Robin. Isso é uma grande honra. Mostra que ele confia em você, te quer por perto e quer te proteger. – ela lhe deu um beijo de boa noite, mas gracejou antes de apagar a luz do abajur – Você é grande para ele, John! Mas não se empolgue muito, porque eu sou a Mulher Maravilha!

Doze anos depois e essa memória era a mais viva que ele tinha de seus momentos em família. Olhou para trás, sem ver realmente o túmulo da mulher e murmurou:

- Você é a Mulher Maravilha, amor. Dele e minha.

Só então ele saiu do cemitério e alcançou o carro, voltando para a delegacia. No caminho, uma meta em sua mente: Stiles poderia estar quebrado, poderia ter se tornado adulto mais rápido do que deveria. Não importava. Ele iria guardar sua culpa no bolso e tentar estar ao lado dele mais do que nunca. Stiles agora era para ele como um herói. E ele seria o Robin. Mais uma vez. E quantas vezes mais fosse preciso. Ainda que apenas para ser protegido, uma coisa que ele tinha certeza que seu filho sabia fazer muito bem.


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