O Quarto Massacre Quaternário - Parte 1 escrita por Paulo Abrantes


Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Ah! Eu estou adorando escrever essa fic,então espero realmente que gostem desse capítulo, tentei escrever o mais rápido possível.



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Dou a mão para meu irmão antes de sairmos de casa, assim que abro a porta vejo outras pessoas de mãos dadas. Mães e filhas, pais e filhos, irmãos e irmãs ou pessoas indo sozinhas, todos da Costura.

Nossa situação piora a cada dia, pessoas morrem de fome e desidratadas. Muitas vezes o carro que nos traz água chega com ela suja ou em escassez, eu e meu irmão vivemos do lago. Crueldade ou não, se contarmos para todos aqui seriamos descobertos na hora. Dói saber que a sobrevivência aqui é uma questão de ver seu vizinho morrer. Diferente dos Jogos, aqui é real e chega a ser uma situação cotidiana.

Josh e eu estamos caminhando em direção ao Edifício de Justiça. No meio do caminho encontro Delphis e Joshua, conversando. Delphis é branca como a neve e tem cabelos negros lisos, combinando com seus olhos, que mesmo assim nada têm de assustador. Joshua tem o nome de meu irmão, para não confundir todos do nosso Ano chamamos ele pelo nome completo e meu irmão pelo apelido. Joshua é um pouco mais alto que Delphis, tem a pele morena e olhos cinzentos.

– Acho que hoje seremos separados em Ano. – Delphis deu um pulinho de susto e olhou fundo para mim. – Perdão. – Disse rindo.

– Droppe! – Joshua disse, ele é meu melhor amigo, um dos que mais me apoia em quase tudo que faço e que quase sempre dá certo. – Então, quais são suas expectativas para hoje?

– Sua ironia não é muito bem vinda nesse momento, Joshua. – Delphis conseguiu dizer. – Como você está, Josh? – Ela perguntou para meu irmão.

– Bem, Dell. – Ele sorriu para ela, embora um pouco falso por causa do medo. Satisfeita, ela passou a mão nos cabelos dele.

– Vamos andando – Eu digo.

– Está com pressa, Droppe? – Reconheço essa voz, quase todos no nosso ano são meus amigos ou até colegas, nunca tive muitas inimizades, mas reconheço tal sarcasmo de longe.

– Manthos! – Digo, ele era um grande amigo meu, até sermos separados em Turmas diferentes, eu sou da 3ª, ele é da 1ª agora, a dos melhores alunos. – E acompanhado de Cashmere e Adolphe, como sempre.

Cashmere tem tal nome por causa da mãe, que tem problemas mentais e adora os Jogos, seu sonho é que a filha participe de um. A filha tem um pouco de gordura a mais, cabelos ruivos lisos e olhos cinzentos, de nada tem parecido com a antiga vencedora dos Jogos que tem tal nome.

– Claro! - Ela diz, soando falsidade. – Hoje é um dia muito especial, não acha, Josh? – Ela fala com meu irmão.

– Se especial você quer dizer pessoas perderem seus filhos e irmãos para lutarem até a morte, sim, acho que concordo. – O bom do meu irmão é que ele sabe se defender, igual a mim. Cashmere fez uma cara de desdém e se virou para Delphis que a olhava furiosa.

Meu irmão viu alguns de seus amigos, ele me abraço, deu-me um beijo na testa e desejou boa sorte. Eu disse que tentaria ter tal sorte. Enquanto corria eu imaginei tudo que poderia acontecer e nossas ínfimas possibilidades de ter um futuro bom.

Adolphe deu uma risada.

– Então o capacho sabe rir! – Pronto, agora fudeu. Andora chegou junto de Maylis, Lily, Doriane e Clarsy. Elas são da 2ª Turma. Eu e ela temos a relação de um ajuda o outro, não uma amizade, talvez uma necessidade. Eu as ajudo com caça e elas cozinham e fazem algumas tarefas nossas. Às vezes, Andora vem caçar comigo, ela sabe alguns de meus truques valiosos. – Desculpe Droppe, mas está tudo combinado para amanhã? – Ela estava falando da caça.

– Claro! Bem temos que ir andando. –Disse para Delphis e Joshua. – Enquanto andávamos consegui ouvir Cashmere e Doriane tendo uma conversa, digamos, calorosa.

– Sarah! – Delphis gritou. Sarah é da minha Turma, uma de minhas grandes amigas.

– O que você estava fazendo falando com a puta da Andara!? – Óbvio que ela ia falar isso comigo, elas se detestam.

– Eu já falei Sarah, minha relação com ela é profissional, meus amigos mesmo são da nossa Turma.

– Acho bom! – Ela disse rindo. Ela é ruiva, mais do que Cashmere, tem olhos cinzentos, altura de Ursa e a pele igual a de Joshua.

Chegando ao Edifício, consigo ver a redoma de vidro contendo os papéis. Depois da coleta de sangue, sou levado até um local onde já encontro algumas pessoas de meu Ano, fico na reta da minha Turma. Consigo ver meu irmão daqui, se posicionando ao lado da mãe de Sarah.

Na minha frente está reunido o décimo primeiro Ano, ali eu percebo Yuki Troyan. Ele me vê e eu viro o rosto. Sarah me abraçou, ela sabe, eu conto tudo para ela.

Todos do meu ano chegaram. Sorah bate três vezes no microfone, calando a todos e começa e falar.

– Bem vindos! – Eu me permito pensar que ele tem um problema facial pela quantidade de pó de arroz que ele usa. – Bem vindos a Centésima Edição dos Jogos Vorazes! O Quarto Massacre Quaternário! Esses Jogos serão estupendos! – Ele deu um pulinho de alegria.

Fecho os olhos, o telão começa a rodar o filme da Capital, falando de como os rebeldes perderam e tocando o hino, uma grande desgraça. Quando abro o prefeito já está começando seu discurso de todo ano. Nós sabemos que ele não concorda com tudo o que acontece e também sabemos que ele não tem culpa, que teve apenas sorte de ter seus filhos fora da colheita.

Estranhamente hoje ele fez um discurso diferente e sua voz está engasgada. Sua esposa está sentada chorando ao lado de Katniss. Claro! A filha deles é do nono Ano e ela pode ser escolhida.

– Sem mais delongas. – Sorah recomeça. Ao lado de Katniss, vejo uma figura estranha, usando tanto pó de arroz quanto ele, parece estar avaliando como Sorah faz a colheita, além de estar usando uma peruca dourada torta na cabeça. Ela e Katniss parecem estar conversando, até mesmo rindo.

Sorah se aproximou da pequena redoma de vidro, ele girou os seis pequenos papéis que tinha ali dentro e tirou um.

Ele o leu em voz alta. O prefeito deu um suspiro, a multidão soltou uns gritinhos. Algumas mães entraram em desespero na plateia e o teve grito de meu irmão, seu choro. Para a sorte do prefeito, o nono Ano não foi o escolhido. Agora, para a minha:

– Décimo Ano! – Sorah soltou um sorriso. O rosto de Sarah ao meu lado variou entre espanto e indignação, ouvi o silêncio pesado das outras Turmas. Os Pacificadores nos empurraram para cima do palanque. Eu fui o primeiro a subir.

Katniss me reconheceu, sua feição mudou, ficou mais séria.

– Muito bem! – Ouvi Sorah dizer. – O primeiro a subir! Qual o seu nome?

Não respondi, meu irmão lá embaixo me gritou, eu tentei pular, contudo dois Pacificadores me seguraram, eu gritei para meu irmão, para dizer que tudo ia ficar bem, mesmo sabendo que não.

– Meu nome é Droppe. – Ele sorriu torto.

– Muito bem, Droppe. Espero ao seu Ano bons Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!

Todos levantaram seus dedos, o nosso sinal de respeito. O indicador, o médio e o anelar direto, juntos e erguidos, levando-os aos lábios e depois a altura da cabeça. Todos pararam. Pacificadores nos empurraram para uma sala, nos separaram por turmas.

Ali estavam eu, Joshua, Audro, Sarah, Andro, Delphis, Dahlia, Ursa, Lucca, Tauro, Cadimo e Amelia. Ficamos em silêncio, Lucca então falou.

– O que vamos fazer agora? – Ele pôs a mão no rosto, quase lacrimejando.

– Vamos sobreviver. – Disse Andro.

– Claro que vamos! – Concordou Dahlia. – Mas se você não percebeu temos que matar todos das outras Turmas.

– Fácil! – Ironizou Cadimo.

– Para! – Delphis gritou. – Não é hora disso!

– Ela está certa – Argumentou Sarah. – Precisamos de uma estratégia.

– Eu não quero fazer parte disso.

– Ursa! – Audro falou. –Nessa situação você é obrigada a participar!

– Eu não quero matar ninguém! – Amelia conseguiu dizer.

– Amelia, quando chegar lá, é inevitável. – Eu disse. – Então todos fiquem quietos! Quem de nós caça?

Todos menos Joshua, Sarah, Lucca e Delphis levantaram a mão.

– Então nós temos certa vantagem.

– Vantagem? – Dahlia. – Nós caçamos animais!

– Lá eles se tornaram animais. – Tauro disse brincando. – Vocês vão ver, vai se fácil.

– Brincando ou não, - Eu completei. – Tauro está certo, muitos perdem a racionalidade nos Jogos.

– Então você deve comandar. - Joshua falou, por fim.

– Eu?

– Sim, Droppe. – Lucca. – Você sabe caçar e é o melhor de nossa Turma em estratégia.

Meu coração começou a bater desesperado, por tudo, pelo Lucca, pelo frenesi dos Jogos e por saber que eu posso levar minha Turma para a morte. Nem eu mesmo me garanto em sobreviver.

– Tudo bem, mas todos devem concordar. – Porque eu decidi comandá-los é um mistério, só acho necessário que alguém ponha ordem.

Ninguém se opôs. A porta abriu e então eu pensei no motivo de não querer fazer parte dos Jogos. Eu pensei que mesmo se sobrevivesse eu teria a chance de jogar novamente e eu pensei no meu irmão.

Assim que ele entrou, eu o abracei e o peguei no colo.

– Nada vai te acontecer. – Eu digo. – Você vai ficar bem.

Eu não chorei, eu preciso ser forte, pelo menos agora, pelo menos para ele. Vi os pais, irmãos e amigos, um abraçando o outro, chorando. Meu momento com ele foi apenas o abraço.

Pacificadores chegaram e começaram a expulsá-los. Tiraram meu irmão de meus braços, eu gritei que venceria, por ele. Antes de sair eu pedi a mãe da Sarah que cuidasse dele, ela concordou e foi expulsa da sala também, ainda chorando.

Muitos de nós estávamos abalados. Meio minuto depois, mais pacificadores entraram e nos encaminharam a uns carros pretos.

Eu entrei, do meu lado estava Joshua e Lucca. Lucca apoio a cabeça em meu ombro e começou a choramingar, eu acariciei seus cabelos lisos e negros.

O carro ainda não avançou, olhei para a janela, lá fora, vi um menino tentando vir em direção ao meu carro e tomando um choque dos guardas. Era o Yuki.

Quando os carros andaram, tudo passou bem rápido, chegamos a um trem e entramos, lá só ficou minha turma, as outras duas estavam nos trens que partiram na frente do nosso.

Quando chego a meu quarto, vejo Katniss. Ela estava sentada na borda da cama.

– Por que você..? – Tentei perguntar, lacrimejando.

– Eu já fiz minha escolha. – Ela me olhou fundo e saiu. Eu realmente não a entendo. E também não quero sua pena.

Eu deitei na cama, só com a calça bege que ganhei do meu vizinho para a colheita desse ano. Continuei chorando. Ouço duas batidas na porta.

– Não temos quartos suficientes. – Disse Lucca. Seus olhos castanhos me acalmaram, sei que estou com o rosto vermelho, só que nesse momento eu não quero tentar ficar bonito, porque ele está assim também.

– Pode entrar. – Digo.

A porta atrás dele se fechou, ele apertou o botão para trancá-la e tirou a camisa. Eu estava sentado na cama, meu coração a mil, pensamentos voando e querendo espaço em minha mente. Até que ele sentou perto de mim e me beijou. Tudo parou, não consegui pensar em mais nada, somente em seus lábios.

Nada nunca foi tão bom quanto isso. Eu o beijei de volta e nos deitamos. Nada aconteceu além de alguns minutos de beijo. No final ele deitou em meu abdómen.

– Você pode cantar, se quiser. – Falou rindo. – Eu sei que você faz isso bem.

– Você sabe que é proibido, não é?

– O quê? – Ele se faz de bobo.

– Eu e você, nós não formamos a “família tradicional”. – Falei imitando a voz da Arika, ele riu. – E as canções.

– Desde que perdi minha mãe, - Ele começa. – as últimas palavras dela ainda ecoam em minha cabeça.

– Quais foram?

– Seja feliz da sua forma, porque o mundo é triste demais para se juntar a ele.

Eu o beijo de novo. Daqui a um mês estaremos mortos, meu irmão chorando e seu pai lamentando, só que agora, em toda essa catástrofe, eu preciso ter um pouco de alegria. Mostrar para os Idealizadores que eu não faço parte dos Jogos deles.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado! ;3



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