Quando os Youkais Dominavam a Terra escrita por Kaoru Higurashi


Capítulo 2
Capítulo 2: Novo dono


Notas iniciais do capítulo

Inuyasha não me pertence



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Durante o resto do dia, o local fora visitado algumas vezes por um ou outro youkai, intentando comprar alguns escravos humanos. Kagome imaginava o que seria pior: ser comprada por um youkai que possivelmente a maltrataria e escravizaria até o fim de sua vida, ou ficar apodrecendo naquele lugar escuro e úmido e talvez fazer companhia aos musgos e baratas. Diante desse pensamento ela resolveu que ficar ali não era uma opção, e do jeito como iam e vinham compradores, logo ela também estaria servindo a um youkai (pensamento que não lhe agradava nem um pouco). Bem, parece que aquele não seria seu dia afinal. À medida que o dia se ia, o movimento diminuiu e após os escravos serem alimentados com algo que parecia pão amanhecido, foram deixados ali no escuro até que chegasse o dia seguinte.

Kagome imitou os outros humanos e se aconchegou em um desconfortável monte de palha, fechou os olhos... e não conseguiu dormir. Sua mente estava muito agitada e ela não conseguia parar de pensar em seu futuro e no de sua família...

- “O que será que Souta e mamãe estarão fazendo agora? Será que estão bem?” – se perguntava a todo instante em pensamento.

[...]

A claridade a pegou desprevenida, fazendo-a levar a mão aos olhos para protegê-los da luz. Quando conseguiu abri-los, viu a porta do local aberta e um certo movimento de youkais que acabavam de chegar. Nem percebera quando havia conseguido dormir na noite anterior, mas agora já era um novo dia e os sons e luzes não permitiam que os humanos dormissem mais.

Alguma coisa que pareciam horas depois, o youkai sapo entrava no estabelecimento, indo em direção às celas, falando alegremente com alguém.

- O senhor veio na hora certa Narakusama. Ontem mesmo recebi um novo carregamento de humanos. – ofereceu animadamente soltando um coaxo logo em seguida.

- Isso é bom Tsukumo. Esses humanos não duram muito, de forma que tenho sempre que comprar mais deles. – respondeu o outro com naturalidade.

Caminharam até ficar frente a frente à cela em que se encontravam Kagome e os outros humanos recém-capturados. O youkai que acompanhava o sapo tinha porte altivo e longa cabeleira negra e ondulada, seus olhos vermelhos de pupilas brancas passaram por alto os escravos na jaula analisando-os. Sorriu dando-se por satisfeito com o que viu:

- Parecem saudáveis. Levarei algumas humanas..

- Arigatou, Narakusama. É sempre um prazer fazer negócio com o senhor. -  o sapo respondeu exultante.

Kagome observou bem aquele youkai. Parecia bem menos assustador que os outros, a não ser pela cor de seus olhos, tinha a aparência igual à de um humano. Talvez não fosse tão ruim assim tê-lo como mestre durante um tempo, ao menos até arrumar um jeito de fugir. Mas por um motivo inexplicável, a garota sentiu um arrepio quando o youkai pousou os olhos sobre ela, pôde sentir uma intensa energia sobre ele... uma energia muito maligna. Era estranho, ela nunca sentira uma coisa como essa antes, mas algo lhe dizia pra ter cautela com aquele youkai...

[...]

E lá estava ela novamente em uma carroça sendo levada pra sabe-se lá onde. Após meia hora de viajem, finalmente o veículo pára e rapidamente os condutores retiram os humanos das gaiolas fazendo-os andarem em fila indiana até uma enorme propriedade.

À sua frente a garota visualizou uma grande mansão, tinha dois youkais de guarda no portão; mais à frente um pequeno caminho passando por um jardim gramado levava a porta de entrada da casa ao estilo feudal. Porém como o previsto, os humanos foram guiados até os fundos da propriedade; não se lhes era permitido entrar pela porta principal como convidados.

Lá dentro era tudo tão asseado como o lado de fora. Diversos servos e servas andavam apressados de um lado a outro, cumprindo tarefas para seu mestre, tudo com muita rapidez e um certo desespero. Uma mulher, que parecia ser a governanta se aproximou de Kagome e de outras garotas que estavam junto a ela e que também acabavam de chegar. A mulher tinha feições rígidas e sérias. Aproximou-se e foi logo dizendo:

- Vão ficar paradas aí o dia inteiro? Vamos, mexam-se! – grita a elas – Nosso mestre não gosta de esperar!

Antes que algo pudesse ser perguntado, cada escrava era mandada a uma tarefa e Kagome simplesmente ficara parada no mesmo lugar sem saber o que fazer.

- Por que está parada aí? – a governanta lhe gritou nervosa.

- E-eu... não sei o que fazer. – respondeu timidamente.

- Será que só me mandam inúteis?! – disse a si mesma – Vá até a cozinha. Deve ter algo que possa fazer lá. – disse lhe apontando um corredor.

A garota prontamente seguiu a direção indicada, chegando em uma grande cozinha, onde várias outras servas faziam diferentes tarefas.

- O-oi... – começou tímida. Prontamente algumas mulheres se voltaram pra ela – Eu sou nova aqui...

Uma das mulheres fez sinal a uma outra para que fosse falar com a novata. A jovem de cabelos castanho escuros, presos em um rabo de cavalo se aproximou de Kagome.

- Como se chama? – perguntou simpaticamente.

- Kagome. – respondeu de pronto.

- Certo, Kagome. Venha comigo. – lhe indicou o caminho dos utensílios da cozinha.

Após uma breve conversa enquanto limpavam e cozinhavam, a jovem recém-chegada aprendeu um pouco sobre o lugar que agora seria como seu ‘lar’ – não que pudesse chegar a tanto – e soube também como era seu mestre. As informações que recebera não lhe agradaram em nada. Ao que parecia, seu mestre, o qual se chamava Naraku, era muito cruel e impiedoso com seus escravos, mas poderia ser menos cruel com escravas que se dispusessem a ‘satisfazê-lo’, no pior dos sentidos. A garota com a qual conversara, a qual se apresentou como Sango, lhe disse porém que Naraku só o fazia com as servas que lhe agradassem mais, e que se ela não fosse de seu interesse não deveria se preocupar... mas ela se preocupou... Nunca se imaginou concubina de um youkai, e nunca pretendia sê-lo, preferia a morte a isso.

As duas se tornaram muito amigas nesse meio tempo. Sango era divertida e tinha temperamento forte. A jovem de cabelos chocolate confessou a nova amiga que ela já pensara em fugir daquele lugar há muito tempo, pois não pretendia ser uma escrava para sempre. Kagome lhe confidenciou que este era também seu pensamento desde o início, afinal tinha uma família viva e precisava reencontrá-la.

- Mas não pense que é fácil. Sempre tem guardas vigiando e as escravas não podem circular pelas dependências à noite. – explicou a morena.

- Mas não vou desistir Sango, preciso ir embora daqui.. – retrucava aflita.

- Então iremos juntas. – a outra animou.

[...]

A noite chegou rapidamente, e logo a jovem pôde comprovar a veracidade das palavras da amiga. As escravas foram postas em um quarto amplo com palha no chão para que dormissem sobre ela. O youkai fechou a porta do cômodo, mas não antes de avisar às recém-chegadas que se fossem pegas vagando por aí à noite seriam no mínimo punidas com muita severidade – e o mínimo quase nunca acontecia.  Kagome se deitou novamente sobre um desconfortável monte de palha e como o esperado, não dormiu durante a maior parte da noite...

[...]

Quando um youkai brutamontes irrompeu pela porta fazendo Kagome acordar de um sobressalto ela achou que alguma coisa estivesse acontecendo, tanto que olhou em volta procurando por um foco de incêndio ou coisa do tipo. A única coisa que viu fora as escravas acordando e levantando-se apressadamente, mas sem demonstrar susto ou surpresa. Viu a amiga fazendo o mesmo e decidiu que não queria ficar pra trás, a alcançou e foi logo perguntando:

- O que está havendo?

- Nada. – respondeu simplesmente. Ao ver a expressão confusa da amiga, se explicou melhor – É assim que nos acordam todos os dias.

A garota segurou uma exclamação de espanto, enquanto caminhavam olhava em volta e via que o sol mal aparecia no horizonte e todas as servas já estavam em pé e trabalhando. Sentiu-se repentinamente cansada. Seria os efeitos da insônia, que a levaram a somente adormecer pouco antes de ser tão bruscamente acordada, agora sentia os olhos arderem e o corpo dolorido por ficar naquele monte de palha.

Depois de realizar diversas tarefas ordenadas pela governanta, intitulada Kagura, só faltava preparar o chá da tarde, como era costume de praticamente todos os nobres. Sango lhe ajudou a escolher as folhas e preparar a infusão. Após dispor o pequeno bule e uma tigela rasa sobre uma bandeja, a pôs sobre a mesa para que uma serva a levasse:

- Novata! – a voz de Kagura chamou-a.

- Sim.

- Leve o chá até nosso mestre. – ordenou.

- Eu?! – indagou nervosa.

- Sim, o mestre quer ver se as escravas que ele comprou sabem executar bem seus serviços. – respondeu com olhar de desprezo, que não foi entendido pela jovem.

Kagome olhou aflita a amiga, esta lhe devolvia um olhar preocupado, mas lhe fez sinal para que fosse em frente. Ela então pegou a bandeja com o máximo de cuidado, mas como suas mãos tremiam levemente, seu trabalho era dificultado.

- Anda logo menina. Não tenho o dia todo! – ralhou Kagura.

- Me desculpe! – disse num tom quase raivoso, ao qual a governanta arqueou a sobrancelha.

- Me siga. – disse apenas.

Kagura a guiou até um cômodo reservado, provavelmente uma casa de chá. Ela puxou a porta corrida, e se posicionou do lado desta, sem entrar, fez sinal para que Kagome o fizesse. Esta, extremamente nervosa, adentrou o cômodo lentamente. Seus olhos encaravam o chão, pois como Sango havia lhe ensinado, não deveria olhar nos olhos de um youkai. Uma voz grave, porém, a chamou a atenção:

- Venha, traga meu chá. – disse sem expressar emoções.

A garota finalmente fitou o youkai. Ele estava sentado no chão, as pernas cruzadas frente ao corpo, matinha seu porte altivo e sério. À sua frente, uma pequena mesinha baixa. A garota se aproximou e depositou a bandeja na mesa e antes que pudesse se virar e sair, novamente ouviu a voz de seu mestre:

- Sirva-me.

Sem dizer uma palavra ela depositou o conteúdo do bule na pequena tigela redonda e a pôs na mesa em frente ao youkai, ainda evitando olhá-lo. Ela podia sentir aquela desconfortável energia em torno dele, uma coisa muito maligna, ela diria. O youkai deu um gole no chá e em seguida fitou a jovem. Ela, percebendo seu olhar se sentiu ainda pior, era como se a própria encarnação do mal estivesse em frente a ela, se sentiu um tanto louca por pensar essas coisas...

Depois de alguns segundos de silêncio incômodo, a garota imaginou que não era mais necessária ali. Levantou-se devagar, e ainda olhando para o chão fez uma reverência ao  youkai e se virou para sair. Mas novamente a voz grave a fez parar:

- Não lhe ordenei que saísse.

- Senhor eu... creio que não sou mais útil aqui... – disse sem se virar.

- Cale-se! – retrucou repentinamente, assustando a menina – Eu decido se deve ir ou ficar!

Kagome não se mexeu do lugar, suas mãos tremiam. De repente uma mão pesada pousou sobre seu ombro, a sobressaltando. Não havia ouvido os passos do youkai quando se aproximara dela, nem imaginava tampouco como ele levantara tão rápido. Sentiu um braço a envolver pela cintura, e logo depois uma respiração abafada em sua nuca. Ela congelou na hora, não queria admitir ou acreditar, mas sabia o que estava para acontecer, seu pior temor se tornava realidade.

O youkai plantava alguns beijos em seu pescoço enquanto descia uma das mãos ao longo de seu corpo. A garota começou a se apavorar:

- S-senhor... por favor, me solte! – pediu enquanto tentava afastá-lo.

Ele fingiu não ouvir e continuou o que estava fazendo. O nojo e repulsa daquele ser apoderaram-se de Kagome, ela transformou seu medo em coragem e o afastou com mais força:

- Me solte! – gritou.

Naraku pareceu irritado, virou-a de frente a ele. Sua expressão neutra e séria deu lugar a uma expressão raivosa. Ele segurou-a pelos braços com força e a sacudiu uma vez:

- Quieta, vadia! Você será minha!

Dizendo isso a agarrou com fúria e tentou puxar a alça do kimono velho e puído, que facilmente começava a se rasgar:

- Me solta! Socorro! – ela gritava, mas ninguém lhe ouviria, ninguém viria em seu resgate. Aquilo deveria ser muito normal por ali... era isso que Sango lhe falara afinal. E mesmo que alguma alma bondosa quisesse lhe ajudar, não poderia; ela era uma escrava e ele seu mestre... poderia fazer dela o que quisesse.

Mas não ia permitir, não ia ficar de braços cruzados deixando aquele youkai tomá-la. Mesmo que morresse tentando, usaria toda energia restante para tentar se livrar das garras da criatura maligna. A menina juntou as últimas forças que tinha e desferiu uma joelhada em uma região muito sensível do youkai. Ela se aliviou um pouco ao vê-lo se contorcer de dor e um sorriso triunfante quase se formou ao confirmar que mesmo sendo um youkai, aquele também era seu ponto fraco. Mas essa sensação de vitória só durou até ela perceber que fizera muito mal em irritar um youkai.

Naraku lhe deu um olhar assassino, e aquela aura maligna que ela sentia provindo dele se triplicou naquele instante. O youkai lhe socou a face tão forte que a garota foi jogada ao chão. Segurou prontamente o local dolorido, sentindo um gosto metálico invadindo-lhe a boca. As lágrimas rapidamente afloraram; porém, mal teve tempo de se livrar do nó que se formava em sua garganta quando sentiu um chute em suas costelas jogando-a contra a parede.

O ar faltou por uns instantes antes da dor aguda poder ser sentida. Outro chute em seu estômago a fez cuspir o líquido vermelho que já se empossava em sua boca. Sentiu-se ser levantada pelos longos e negros fios de cabelo, e outro soco a atordoou. A garota não tinha mais forças para se mexer ou reagir, sentia sua mente se perdendo lentamente:

- “Eu vou morrer... agora sei...” – pensava consigo mesma.

Sentiu ser novamente levantada pelo youkai e teve certeza que não suportaria outro golpe, fechou os olhos esperando que este viesse. Mas ao invés disso, uma batida na porta distraiu a atenção do youkai:

- Narakusama! – uma voz chamou de fora.

- O que é? – perguntou com raiva.

- Notícias urgentes. – respondeu apressado.

- É bom ser realmente urgente. – replicou num tom aborrecido.

Soltou por fim a humana no chão e se aproximou dela:

- Termino com você depois. – sussurrou antes de se virar e partir – Joguem-na na masmorra! – ordenou a dois guardas do lado de fora.


Ela mal sentiu quando os dois youkais praticamente a arrastaram para fora do aposento, só sentiu quando foi jogada ao chão duro e viu grades se fechando diante dela antes de sua visão escurecer e ela apagar.


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Notas finais do capítulo

Com preguiça de editar o capítulo e preguiça de escrever notas finais.



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