O alvoroço preenchia aquele espaço e qualquer outro de mesmo âmbito naquele horário, afinal, é sempre assim quando o sinal toca em uma escola, principalmente quando falamos da hora do recreio. Pois bem, é este momento na Escola de Ensino Médio Okamoto. Apesar de adolescentes já não brincarem mais como as crianças no intervalo, não deixam de fazer barulho e confusão. Estudantes crescem, seus gostos mudam, mas a algazarra que provocam sempre é a mesma em uma escola. Também há aqueles que crescem e emudecem. Talvez fossem a criança mais arteira do ensino fundamental, então vem a idade, as explosões da nova fase, da adolescência e cria um caos em seu interior, algo tão grande que faz com que tenham medo do que são, tentando ser o menos notado possível, crescendo na insegurança, no receio de não serem aceitos diante das mudanças de seu corpo, de seus pensamentos. Uma dessas pessoas é Naoto Watanabe, um garoto de 15 anos, aluno do nono ano. Bastante altruísta, tem um pequeno e sincero círculo de amizades, é tímido, nervoso e quieto, não gosta de como é, se pudesse, gostaria de ser como os meninos populares de sua escola, entretanto se vê muito inseguro para chegar a um nível desses. Quanto a sua aparência, possui cabelos castanhos e lisos com uma franja desfiada até os olhos, que também são da mesma cor, é magro e de estatura mediana.

E como sempre, Naoto estava nesse momento junto aos seus amigos, observando o grupo dos alunos populares disputarem uma partida de vôlei. Faziam isso, devido ao fato de que desde que Watanabe adentrou em Okamoto, ficou apaixonado por uma das garotas populares, Sayo, que era totalmente o oposto do menino e também misteriosa, no quesito personalidade. Sua beleza exuberante composta de longos cabelos brancos com franja, corpo curvilíneo, sedutores olhos roxos, pele um pouco bronzeada e roupas geralmente provocantes e estilosas faziam com que chamasse a atenção da maioria dos meninos. Era um sonho impossível para quem não fazia parte do grupo dos populares.

Sentados na grama verde e bem cuidada do pátio da escola, Naoto parecia em outro mundo, de pernas cruzadas como borboleta, cotovelo esquerdo apoiado sobre a coxa e a mão esquerda a apoiar a cabeça e um olhar taciturno. Tudo mirado a Sayo, que pulava para lá e para cá com a bola de vôlei.

― O amoooooorrrrrrr é uma droga que o Naoto senteeeeeee, no fundo do coração falido deleeeeee, e sente por alguém que nunca vai dividir um takoyakiiiiiiiiiii com ele! Lá lá lá lá lá...

Uma gota d'água apareceu ao lado do rosto de Naoto ao ouvir aquilo. Olhou para trás, já que estava mais a frente de seus amigos, para ver qual era o retardado que havia começado com aquela cantoria mais retardada ainda. Sem espanto ao constatar que era seu irmão mais velho, Kingo, bufou.

O filho mais velho dos Watanabe tem 17 anos e é repetente do nono ano, apesar de ser esperto, não lida muito bem com a escola. Tem fama de pervertido e é bastante descontraído. Gosta de escrever e sonha em lançar muitos best-sellers. Difere de seu irmão no físico, com o cabelo que é preto, possuindo uma franja dividida ao meio e a altura, pois é bem maior que Naoto.

― Deixe-o sonhar, Kingo-kun! ― interpelou Masaki num tom jocoso.

Masaki Hara é amigo de Naoto desde que eram crianças, pois moram um perto do outro. É uma versão pocket de Kingo, mas é tímido como o Watanabe mais novo e baixinho. Tem cabelos ruivos com uma rala franja e olhos castanhos.

Pensando bem, os três formavam uma escadinha.

― Por que não faz uma canção para o amor platônico do Masaki, Kingo? ― disse Naoto irritado.

― Não tem graça... O Hara-kun já aceitou que é um falido no amor e que nunca vai ficar com a Kudo-san, enquanto você ainda nutre uma enorme esperança de um dia beijar a Sayo. ― ponderou Kingo, debochando dos dois meninos.

Mais enervado ainda, Naoto ficou de pé, pronto para voar contra o irmão, só que algo voou primeiro e acertou em cheio sua cabeça antes de qualquer reação. Desequilibrando, desabou de cara no gramado. Enquanto levantava, tirando a sujeira de seu uniforme, cuspindo grama, viu seu irmão e Masaki rolando de rir. “Nem para me ajudar a levantar esses panacas prestam!”, praguejou para si. Ao ver algo próximo dos amigos, Watanabe retesou com os olhos esbugalhados: uma bola de vôlei estava no gramado ali perto. “Então isso deve ter me acertado, m-mas então quem jogou foi...”, seu pensamento foi cortado com a voz que provinha de trás dele.

― Ei, poderia me devolver a bola? ­― soou seriamente uma voz feminina.

Kingo e Masaki cessaram com os risos, olhando pasmos para Naoto.

“É-é... Ela!”.