Reasons to be Missed escrita por NallaTonks


Capítulo 2
Capítulo 2




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O peso no meu estomago se remexeu quando aproximei a mão direita do meu rosto e percebi que podia ver quase nitidamente através dos meus dedos.

O medo invadiu cada uma das minhas células. Minha respiração acelerou, mas ainda não era o bastante, precisava de mais ar. Senti o suor se formando em minha testa. Era frio.

Eu estava ficando em pânico.

O sinal do primeiro tempo começou a tocar me tirando do estado de choque. Os alunos começaram a se dispersar, indo para as salas.

Meus colegas de classes. Pessoas que eu conhecia a vida inteira, pessoas que sempre me cumprimentavam pelos corredores ou na rua, passavam por mim sem me notar. Sequer lançavam um olhar em minha direção.

Como se eu não estivesse parada bem ali.

Como se eu não existisse.

Procurei Santana e Brittany e as avistei andando para longe de mãos dadas e sorrindo uma para a outra. Como se tudo estivesse perfeitamente bem, mas não estava.

Eu estava hiperventilando.

Comecei a correr atrás delas. Desesperada. Largando o que quer que estivesse em minhas mãos.

— Santana! Brittany!

Gritava o máximo que podia para que elas parassem. Elas precisavam parar. Eu precisava delas.

Elas não pareciam me escutar. Continuavam caminhando. Sempre em frente. Nunca olhando para os lados, nem para trás.

Não importa o quanto eu gritasse.

E minha garganta já estava seca dos gritos e minha respiração ficava mais difícil.

Quanto mais eu corria - desviando dos outros estudantes que não me viam e faziam me sentir como um fantasma -, mais distantes elas ficavam.

O corredor parecia não acabar.

Desisti de tentar alcançá-las quando viraram no fim do corredor, sumindo das minhas vistas.

O suor gelado no meu rosto fazia com que todo meu corpo parecesse gelado.

Exceto meus pulmões.

Eles estavam queimando. Respiração ofegante. Lutando desesperadamente por ar.

Fechei meus olhos.

Meus braços esticados em frente ao meu corpo para que eu pudesse ver minhas mãos. Mas eu não conseguia abrir meus olhos, com medo do que veria se o fizesse.

Medo.

Ele parecia percorrer cada centímetro do meu corpo.

Me sufocava - muito mais que a falta de ar -, me deixava impotente.

O medo era frio, escuro. Como os últimos dois dias.

Eu tremia de medo.

Medo do frio que parecia vir de dentro do meu peito.

Medo da escuridão que sempre esteve nos meus pensamentos e agora cobria a cidade.

Não.

Era medo do Escuro, como quando criança. O Escuro que escondia as mais terríveis criaturas.

Medo de ficar sozinha.

E se eu abrisse os olhos?

Se minhas mãos tivessem sumido?

Se eu estivesse sumindo?

Sem que ninguém percebesse.

Sem que ninguém me visse.

Chega!

Era loucura.

Sacudi a cabeça violentamente. Tentando forçar os pensamentos desconexos a me deixarem.

Me concentrei ao máximo em respirar fundo e recuperar o ar.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Abri os olhos lentamente e tomei mais uma lufada de ar antes de olhar para baixo.

Todo o ar que tinha foi roubado e um nó se formou em minha garganta. Me engasgando.

A única coisa que via eram as mangas esverdeadas do cardigã apontadas para frente.

Vazias.

— Oh... Meu Deus! Isso não é real... Não pode ser real.

— Quinn!?

Olhei para trás rapidamente - assustada - fazendo meu pescoço doer com o estalo.

— Ra-chel?

Ela estava parada no meio do corredor- alguns passos distante-, olhando para mim com curiosidade.

O imenso corredor estava vazio aquela altura. Estávamos sozinhas.

Não se ouvi nada alem do som da nossa respiração. A minha, errática, a dela, suave.

— Pode- pode me ver?

— É claro que posso. Que pergunta idiota. Eu sempre vi você.– O modo como ela disse a ultima frase fez com que um calor reconfortante se espalhasse pelo meu corpo frio. Uma calmaria estranha que sempre se instalava no meu peito das poucas vezes que Rachel e eu conversávamos civilizadamente. Um sopro de esperança luminosa no meio da tormenta sombria em que eu estava.

Não durou muito.

O calor se foi - tão rápido quanto veio- quando uma realidade, que eu não sabia de onde vinha, surgiu gritante na minha cabeça: ‘Não é mais o bastante. É tarde demais’.

Esse pensamento fez com que a sensação de sufocamento voltasse. Eu abria e fechava a boca tentando puxar o ar, como se estivesse tendo uma crise asmática.

— Quinn? Você está bem? - Ela olhou o meu perfil de cima a baixo, preocupada.

— Eu- Parecia ser um pouco mais fácil de respirar quando ela falava. — Eu não sei. - Mesmo assim ainda era muito difícil e cansativo. Por instinto, levei a mão ao peito apertando o tecido do casaco fino.

Foi quando ela viu.

As feições preocupadas ficaram inexpressivas e o rosto moreno ganhou uma tonalidade mais pálida.

— Quinn! - Ela disse lentamente, com certo cuidado, como se estivesse lidando com um animal raivoso e sem controle. — O que houve com a sua mão?

Eu segui o seu olhar.

O tecido do cardigã estava amassado no meu peito, como se algo - minha mão - estivesse segurando.

Não havia nada além do tecido ali.

Eu podia olhar claramente por dentro da manga como se ela estivesse vazia.

Desesperada e sem ar, comecei a lutar com a barra do casaco tentando tirá-lo.

— O que você está fazendo, Quinn? Para.

— FIQUE AI! - Eu praticamente rosnei quando a vi dando um passo em minha direção e esticando os braços para me tocar. O gritos ecoando pelo corredor deserto. — NÃO CHEGA PERTO DE MIM! Fique onde está.

— Quinn, me deixa te ajudar. Só dessa vez. Pelo menos essa vez. Você precisa deixar que te ajude.

Eu a ignorei.

Porém, algo naquelas palavras fez meus olhos arderam com lágrimas não derramadas.

Ela não pode ajudar. Não mais.

Muito tarde.

Eu tirei a blusa - meu dorso protegido apenas pelo delicado sutiã de renda.

Meus braços, ombros, a linha da cintura e - muito provavelmente - minhas pernas não estavam lá. Sumiram.

Lágrimas quentes começaram a descer pelo meu rosto.

Meu Messias! O que é isso Quinn? - A voz chorosa me fez olhar para para cima encontrando os olhos castanho assustados e avermelhados, cheios de lágrimas não derramadas.

— Me ajuda. - Choraminguei. Minha garganta se fechando ainda mais por causa do choro. Minha voz não era mais alto que um sussurro. — Me ajuda, por favor.

Não posso fazer mais nada. Você nunca me deixou.– Os soluços sofridos que irromperam pelo garganta de Rachel fez com que tudo se intensificasse. Meu choro, meu medo, minha solidão.

De repente, um formigamento, que eu não tinha notado antes, tomou conta de todo meu corpo.

Queimava.

O fogo consumia as extremidades desaparecidas de mim em direção ao que ainda restava.

Eu vi o dorso desaparecendo depressa. Sendo consumido pelas chamas invisíveis.

— Socorro! - Eu tentei gritar para Rachel, que chorava, através da garganta fechada. Ela tinha o olhar aterrorizado em minha direção.

Foi quando eu vi, tão rapidamente que achei ter imaginado.

À esquerda, no meio daquela loucura, um homem alto, de cabeça baixa, parado ao lado dos armário alguns passos atrás de Rachel. Levemente moreno, os cabelos negros e curtos, pela primeira vez, perfeitamente alinhados, com roupas de um cinza escuro - quase preto - e um sobretudo negro, pesado, - tão longo que quase roçava o chão - sobre os ombros.

Finn?– Não sabia dizer se ele havia escutado, não tinha mais voz.

Ele levantou os olhos do chão e os cravou diretamente nos meus.

Olhos de um azul elétrico. Gelados.

Sem desviar o olhar, Finn negou lentamente com a cabeça antes de esticar o longo braço e pousou a mão no ombro direito de Rachel.

Não.– Nenhum centímetro do rosto dele se moveu. O som rouco da voz de Finn saiu dos lábios rosados de Rachel

— O que- quem é você? - Sentia meu corpo tremer e o fogo subindo pelo meu peito. Não tinha coragem de olhar para baixo e, mesmo que tivesse, não conseguiria deixar de olhar aqueles olhos gélidos.

Um anjo. Seu anjo. Sua existência é nada neste plano.– O gelo azul finalmente liberou meus olhos quando ele analisou meu corpo. - Você falhou com todos aqui. E com Ele. Partirá deste mundo e sua perda ninguém chorará,– Virou o rosto para Rachel, que ainda falava por ele, — Está criança não poderá ajudar. Em breve, sua passagem aqui, acabará.

E sumiu. Tão rápido quanto veio.

Olhei para Rachel - que pareceu despertar quando o toque do estranho com a aparência de Finn se rompeu - quando o fogo alcançou o meu rosto e tudo ficou escuro.

O grito apavorado foi a última coisa que ouvi antes de perder completamente a consciência.

Um grito que não era meu.


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