Indigentes escrita por Nicolas Dias


Capítulo 1
Prelúdio - Um dia, talvez... hoje


Notas iniciais do capítulo

Não tive tempo pra revisar e é isso aí. Se gostarem, eu continuo; se não, ****-**!

P.S.: Pra ser sincero, eu improvisei. Espero que gostem.



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– Você poderia pegar o lápis pra mim? – diz a garota de olhos castanhos e cabelos curtos e da mesma cor que senta à minha frente.

Eu nem tinha notado o barulho da madeira oca contra o chão ladrilhado. Nossa, como eu estava desligado! O professor ainda está escrevendo uma série de números e símbolos confusos que eu não copiei, e que não faço mais questão de copiar.

– E então? Vai pegar ou vai fazer me fazer pegar? – continua ela, e então mostra um sorriso bobo de quem sabe a resposta.

Lanço um sorriso de insatisfação a ela e me abaixo para pegar o lápis. Minhas costas doem um pouco e parecem dormentes. Minha visão está embaçada. Será que eu dormi no meio da aula?

Quando volto para a visão acima da mesa, ela está lá, com aquele olhar indagatório, como se nunca tivesse se movido. Entrego o lápis na mão dela e me pergunto se foi só uma desculpa para falar comigo.

Não, não pode ser.

– Você é muito desligado! Chega a ser chato, sabia? – Enquanto penso o quanto estou começando a odiar aquela voz, ela toma meu olhar confuso como resposta, e então continua: – Você tem que acordar, senhor...

A voz dela some. Sua boca continua a se mover sem expelir palavras. Primeiro penso que é natural, mas então toda a imagem começa a se distorcer – números confusos e ladrilhos monocromáticos voam sem direção, o chão parece girar em todas os direções possíveis e o rosto da garota começa a derreter.

Fecho os olhos para o que parece um pesadelo infindável.

– Acorda! Acorda! Abre os olhos!

Não vou abrir. Não vou me deparar com aquela imagem novamente.

– Acorda! – E então sinto a pancada na cabeça.

Acordo ofegante e suando. Quando me arqueio, encaro os olhos castanhos que me fitam à esquerda no escuro.

– O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – grito, com a mão sobre a contusão latejante.

– Desculpa. Você estava respirando forte e... começou a... a gritar... então eu achei melhor tentar te acordar. - Os olhos da garota se enchem de lágrimas, e então ela continua: - Mas... você não acordava... - e soluça. - Eu peguei a pedra e...

– Não precisa continuar.

Eu a abraço até os soluços dela cessarem. Com o calor do corpo dela, pouco a pouco me lembro da realidade na qual me encontro. Conheço esse corpo delgado e essa voz de criança em qualquer lugar. É Leaf. Claro que não é o nome real dela; ela nem lembra, pra falar a verdade. A nomeamos assim pois ela caiu de uma árvore num dia de outono bem na nossa frente, como uma folha perdida. Ela disse que tinha subido lá pra colher frutas e acabou adormecendo numa forquilha.

Que descuidada... Andando sozinha por aí num mundo desses.

Falando nisso, tenho que me encontrar com os outros.

– Leaf, o que conseguimos hoje mesmo?

– Sete serpentes-canguru e duas andorinhas-martelo. – diz ela, e então assoa o nariz com a mão.

Serpentes-canguru. Criaturas detestáveis! Possuem um veneno mortal e rastejam por aí copulando sempre que encontram outra. São hermafroditas. Seus ovos são guardados numa bolsa perto do orifício anal. Quando essa bolsa cresce muito, fica difícil rastejar, mas seus açoites de cauda tornam-se mais mortais e precisos. Pelo menos as andorinhas-martelo são um pouco mais amigáveis; quando não abrem buracos na sua cabeça, é claro.

– Vai anoitecer em breve. É melhor irmos – continua.

A parca luminosidade que entra pela vidraça destruída denuncia o crepúsculo que se aproxima, de modo que saímos por ela mesmo, já que a porta está atolada pela areia. Quando saímos, uma paisagem familiar – e nem um pouco amigável – se mostra a nós: areia branca, prédios soterrados por ela, ligeiramente inclinados e até mesmo deitados.

O Deserto de Pedra.

Olho para o céu roxo. Essa agora é a cor que ele apresenta no arrebol. Gazes poluentes e radioativos deixaram ele assim. De dia ele fica com um amarelo da cor de nojo. Ainda prefiro esse aqui.

– Droga! Você me deixou dormir muito.

– Ah, me avisa que eu tenho que servir como despertador na próxima vez que quiser ter uma "soneca vespertina".

É, ela imitou direitinho o jeito como eu disse a expressão mais cedo; e ainda fez as aspas com os dedos. Engraçadinha.

– Pode crer que eu... – Eu teria terminado, se não fosse o ribombar forte vindo de trás.

Atrás do prédio pendido para a direita e prestes a ruir onde descansei, uma nuvem vermelha como sangue mancha o céu. Acho que o barulho foi um raio.

– Chuva de fogo, vamos logo – digo.

Chuva de fogo é um fenômeno que ocorre decorrente do calor e dos gases da atmosfera deturpada; pelo menos é o que me disseram. Diríamos que eu nunca vi uma e que eu nunca vou querer saber por que ela se chama assim.

– O que vamos fazer se encontrarmos uma formiga-elefante no caminho, Dusk?

Formigas-elefante são carnívoros em forma de verme do tamanho de um elefante comum. São mortais e possuem uma pele muito rígida, mas são noturnos e só acordam por volta desse horário. E Dusk não é meu nome. Me batizaram assim quando me desenterraram de um prédio soterrado pela areia, imerso na completa escuridão. Será por isso que gosto tanto de dormir em prédios? Não sei, mas uma coisa é certa: mais dois minutos da primeira vez e eu teria dormido pra sempre, embargado completamente do mundo pela falta de oxigênio.

– Bem, então vou ter que usar isto – digo, puxando minha espada da cintura. Eu chamo de espada, mas está mais pra um cutelo. Sei que é bom pra cortar ossos.

Leaf sorri com o sol branco a iluminando. Sua silhueta é bem pequena. Apesar de ter 16 anos, como eu, ela possui apenas 1,40m de altura – pouco mais de 20cm mais baixa do que eu. Mas não se engane; essa menina loira tem uma força titânica pro tamanho dela e uma mira sem igual. Ela só parece boba. Definitivamente não é a garota que vi no sonho.

– Vamos, então? – diz ela, correndo, incitando uma disputa de velocidade, mesmo carregando o pesado saco de estopa com a caça do dia numa mão e com um arco e uma aljava improvisados apoiados no ombro livre.

Eu corro com vontade de vencer, pois essa é uma das poucas coisas para se divertir neste mundo.

O mundo dois anos depois do Fim.


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Notas finais do capítulo

Enfim, comenta aí. Se pelo menos cinco criaturas gostarem, quem sabe eu escrevo o resto...

P.S.: Pra ser sincero, não faço ideia de como continuar. Aceito sugestões.



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