A aula de laboratório transcorria normalmente. Meu grupo era composto por mim, Nessie, Luna e o namorado dela John. Sobre nossa mesa haviam alguns vidros rotulados com os nomes das respectivas substâncias e em nossa frente uma folha com instruções indicando as medidas precisas para a experiência. John e Luna eram realmente ótimos nesta matéria, e aparentemente não se importaram em fazer a experiência sozinhos.

Luna media, ele acrescentava o líquido ao béquer e eu tentava entender o sentido daqueles líquidos de diferentes cores formarem outra substância. Claro, isso não era fácil com outros pensamentos em mente, como a lembrança do luau da semana anterior. Praticamente todos os amigos de Jacob e Nessie estavam lá, exceto por Ivan. Qual teria sido o motivo que o mantivera fora do evento? Revirei os olhos. Luna diria que eu iria me juntar ao fã clube se eu falasse em voz alta meus pensamentos.

Nessie aparentemente estava tão fora da aula quanto eu. Ela desenhava algo em seu caderno e, discretamente, espiei sua folha sendo preenchida por um lobo avermelhado. A quantidade de detalhes era impressionante, principalmente em relação aos olhos do animal. Quando ela percebeu que eu olhava seu desenho, ela corou e fechou o caderno, fingindo se interessar pelo trabalho de química.

Quando o sinal para a próxima aula soou, eu estava tão desesperada para tomar ar fresco que, em minha distração, meu cotovelo esbarrou em um dos vidros de uma substância, que se espatifou no chão. John me garantiu que era uma substância atóxica, mas quando o professor se aproximou de mim; soube que eu estava encrencada.

– Natalye Hale Cullen, eu sugiro que se encaminhe para a coordenação. Você ficará lá até o fim das aulas! Em outras palavras... Detenção.

Engoli em seco.

– Professor, juro que eu não tive a intenção. -Tentei argumentar.

– Srta. Cullen, encaminha-se imediatamente para a coordenação, e não quero ouvir suas reclamações. - Ele falou irritado e se encaminhou para pegar suas coisas, pronto para dar sua próxima aula.

Nessie me deu um aperto amigável no ombro.

– Não se preocupe. Em casa te empresto meu caderno para você copiar as anotações das outras aulas.

– Obrigada, Nessie. Eu sei que posso contar com você.

Quando entrei na sala da coordenação, havia dois jovens na sala além da coordenadora. E um deles era Ivan. Havia apenas um sofá, portanto, tive de me sentar a seu lado.

A coordenadora me perguntou quem me enviara, e depois de ouvir o nome do professor ela escreveu algo em seu caderno e permaneceu em silêncio. Eu não conseguia evitar encarar os ponteiros do relógio, que pareciam congelados.

A espera me tornou impaciente, e já que não podia mexer no celular nem em minha bolsa, tudo o que podia fazer era cruzar e descruzar as pernas a cada minuto, apenas para ter o que fazer. O movimento pareceu incomodar a coordenadora, que informou que iria ao banheiro e saberia se fugíssemos de sua sala.

Por alguns segundos o silêncio continuou implacável, até Ivan murmurar em meu ouvido.

– Então, o que faz para Joseph te enviar para esta sala?

– Eu quebrei um frasco com uma substância no final da aula de laboratório, por distração.

Ivan virou o rosto em direção ao meu, até ficarmos nos olhando face a face.

– Isso é algo leve. Eu estou aqui por ter jogado uma bola de basquete com muita força, e acidentalmente a bola ultrapassou a quadra e quebrou uma janela onde a primeira série tinha aula. Felizmente para as crianças, estavam todos reunidos na parte da frente da sala, onde a professora contava uma estória infantil.

– Nossa! Ainda bem que ninguém se feriu.

Ele sorriu, seus dentes contrastando contra sua pele morena e seus olhos verdes brilharam, e me senti sorrindo também.

– Não fomos devidamente apresentados. Ivan Call.

– Natalye Hale Cullen.

– Cullen? - Ele levantou suas sobrancelhas em confusão. – Eu não sabia que havia mais adolescentes entre os Cullen além de Nessie.

– Eu, meu irmão e Bárbara fomos adotados há cinco meses.

– Acho que Jacob se esqueceu de mencionar isso.

– Por falar nele, semana passada fomos a um luau em La Push para comemorar o aniversário dele. Por que você não compareceu? - Não contive minha curiosidade.

– Eu estava ocupado. Mas eu vou dar o meu "parabéns" atrasado a ele mais tarde. Depois que sair dessa detenção.

A coordenadora voltou à sala e ao ver Ivan e eu conversando ela deu um olhar mortal em nós. Isso, é claro, não impediu Ivan de cochichar bobagens em meu ouvido e eu tentando segurar uma risada sem que a coordenadora nos desse outro olhar. Quando a detenção finalmente acabou, Ivan me acompanhou até alcançar Nessie, e depois de conversar conosco ele se despediu, indo embora em sua moto.

– Vejo que conheceu Ivan na detenção. - Nessie tirou sarro da minha sorte.

– Menos de um ano na escola, e eu já ganho minha primeira detenção. Rosalie e Emmett ficarão tão orgulhosos. - Ironizei.

Jacob nos deixou em casa, e meu irmão sem nem tirar a mochila das costas correu para a cozinha, esfomeado. Bárbara parecia feliz ao abraçar Alice e Jasper e contar as novidades de seu dia. Nessie me emprestou seu caderno e percebi que não havia perdido muita matéria. Não havia nenhuma tarefa, então ela se despediu e foi para sua casa com seus pais.

Respirei fundo e confessei o que aconteceu na escola com meus pais. Achei que eles iriam brigar comigo, mas eles me abraçaram e me fizeram prometer que seria mais cuidadosa perto de frascos com substâncias químicas da próxima vez. Tudo parecia muito bem, e então quando desci para jantar, e não me surpreendi por somente eu, Alex e Bárbara estarem comendo. Estávamos a cinco meses nesta casa, e nunca compartilhamos uma refeição com os adultos. Aparentemente eles seguiam outros horários para café da manhã, almoço e janta.

Quando fui dormir, relembrei de Ivan e de seu jeito fácil de me fazer rir. Não sei como Jacob escondeu a notícia de nós estarmos morando aqui por cinco meses. Talvez ele fosse apenas um pouco desligado. Iria perguntar a Nessie isso mais tarde. Os olhos verdes de Ivan não deixavam meus pensamentos. Dormi em meio a um sorriso.

Nas semanas seguintes, eu não conseguia ficar mais de dez minutos sem pensar em Ivan. E não, eu não estava apaixonada. Eu não conseguia ficar longe dele, por que ele me entendia, me fazia rir e em resumo, se tornara uma pessoa que eu podia contar para tudo. Sempre que eu me sentia triste eu sabia que era só olhar para ele e meu dia ficava melhor. Ele se tornara meu melhor amigo.

Ele me contou algumas histórias engraçadas de sua infância na tribo Quileute como, por exemplo, crescer junto com Seth e palhaçadas que só quem viveu perto de seu primo Embry conhecia. Ele ouvia com atenção sobre a minha infância no orfanato, e sugeriu outros apelidos para Matilde. Descobri que Ivan era bom em química, então ele começou a me ajudar em alguns exercícios. Quando tirei uma nota boa em uma das provas, vim logo orgulhosa mostrar para ele.

– Sou um professor melhor do que Joseph! - Ele disse sério, e tive que rir de sua exibição.

Durante as aulas, Luna ficava falando que agora eu era a fã número 1 dele.

– Luna, você sabe que não é assim.

– Sei... Eu pensava a mesma coisa quando conheci John. E veja só: Estamos namorando a um ano e nenhum dos dois pretende romper esse relacionamento.

– Fico feliz por você, mas eu falo sério quando digo que não penso em Ivan nesse sentido.

Luna revirou os olhos.

Quando olhei ao redor da sala, percebi Nessie com os olhos perdidos. Não era necessariamente uma expressão de tristeza, mas soube que algo a estava incomodando. Quando eu chegasse em casa, iria perguntar a ela.