Enquanto Bárbara cuidava das crianças, passava as roupas e cozinhava; eu limpava a cozinha, já pensando que depois iria arrumar as camas, limpar o banheiro e depois Matilde apareceria reclamando que eu não fizera nada do jeito certo. Era essa nossa rotina, minha e da minha melhore amiga Bárbara desde que Matilde se tornara a dona do orfanato.

Eu nunca conheci meus pais, pois fui deixada aqui desde quando tinha três anos e hoje tenho catorze. Meu irmão Alex era ainda um bebê de colo, com um ano. Logo fizemos amizade com Bárbara, que possui a mesma idade de meu irmão. Alimentei a esperança de ser adotada por uma década, até desistir. Não valia a pena sonhar por coisas impossíveis.

Uma xícara caiu na pia, acordando-me dos pensamentos. Ainda bem que não quebrara. Matilde faria um escândalo. A campainha soou na entrada do orfanato e espiei pela porta da cozinha para ver se Matilde estava por perto. Logo a vi aparecer, parecendo uma doce senhora. Como as aparências enganavam! Continuei com meus afazeres, e em poucos minutos a cozinha estava limpa.

Enquanto secava minhas mãos em uma toalha, distraída, virei o corpo e dei de frente com um desconhecido. Ele aparentava ser jovem, cerca de vinte e dois anos e possuía um físico forte como um atleta, cabelos acobreados e olhos dourados impressionantes. Parecia uma pessoa simpática.

– Olá, você trabalha aqui? - Ele perguntou.

– Não. Sou apenas uma das órfãs mais velhas, portanto, tenho de ajudar a cuidar do local, ou este orfanato viraria de pernas para o ar.

O estranho riu e então se apresentou.

– Sou Emmett Cullen. Estou aqui com minha esposa e mais alguns membros de minha família à procura de crianças ou adolescentes para adoção.

– Meu nome é Natalye. - Um pensamento esperançoso cruzou minha mente. Eles não queriam adotar apenas crianças pequenas. Estavam dispostos a aceitar órfãos mais velhos também.

Justamente nesse momento meu irmão resolveu entrar na cozinha. Emmett e ele começaram a conversar e logo pareciam velhos amigos.

Depois de alguns segundos, uma mulher que parecia ser a esposa de Emmett Cullen e Matilde entraram no recinto e um silêncio se fez presente, quebrado pela voz da “bruxa”.

– Queridos - Matilde nos deu um sorriso falso - este casal está disposto a adotá-los!

Vi os olhos de meu irmão brilharem de contentamento e não pude deixar de compartilhar de sua emoção. A mulher se aproximou de mim e percebi que era linda, com os mesmos olhos dourados do marido. Seu cabelo era loiro e se vestia com elegância.

– Sou Rosalie Hale Cullen. É um prazer conhecê-los. Eu e meu marido esperamos dar a vocês todo o amor que seus pais não deram a vocês, que se sintam acolhidos e que possamos juntos construir uma família, dia após dia. - Ela falou com uma voz encantadora.

Meu irmão, sem acanhamento, abraçou fortemente a mulher e ao homem que estavam tão felizes quanto nós por este momento.

– Eu quero muito morar com vocês! Eu nem sei o que dizer... Obrigado. - Ele falou e quando se voltou para meu lado, percebi que havia lágrimas em seus olhos.

Abracei Emmett e Rosalie, feliz de que um sonho que parecera tão distante se realizara. Antes tarde do que nunca, pensei alegremente.

Depois Matilde levou o casal para assinar alguns papéis. Ficaríamos uma semana de experiência com a família, para depois finalmente morarmos definitivamente com eles e adotar seus sobrenomes como nossos.

Eu e meu irmão fomos arrumar as malas. No corredor, encontrei-me com Bárbara. Ela parecia tão animada, e descobri o motivo quando outro casal com aqueles olhos dourados surgiram e o homem a abraçou. Nada melhor do que irmos todos juntos para uma mesma família.

Emmett levou minhas malas, ou melhor, meu pai, e enquanto saia do orfanato dei um sorriso satisfeito para Matilde. Ela nunca mais iria poder controlar a mim ou a Bárbara. Entramos em um carro vermelho esportivo. Emmett dirigia e Rosalie estava sentada no banco do passageiro. Atrás, eu com meu irmão Alexander no colo e Bárbara ao meu lado. Sua nova mãe e minha tia Alice, sentara no colo de Jasper. Confesso que era um pouco apertado, mas até que a viajem não foi muito longa.

A mansão dos Cullen parecia luxuosa. Fomos apresentados á nossos avós, que pareciam jovens demais para serem chamados desta forma. Em poucos minutos nos sentimos completamente acolhidos.

– É um prazer ter vocês em nossa família! - Esme nos recebeu com um gigantesco abraço. Carlisle também nos abraçou, e logo descobrimos que ele era um ótimo médico.

– Vocês ainda precisam conhecer seu tio e sua tia, Edward e Bella. Eles tem uma filha por volta da sua idade, Renesmee. Seria maravilhoso se vocês se conhecessem. Mas antes, eu e Alice temos uma surpresa para vocês!

Subimos as escadas, e nos deparamos com um grande corredor. Rosalie abriu uma porta e entramos em um lindo quarto com paredes de cor creme.

– Este será seu quarto, Natalye. Espero ter acertado na decoração, mesmo sem ainda conhecer seu gosto.

– É lindo, Rosalie... Digo; mãe. – Para quem vivera a vida inteira em um quarto compartilhado com mais doze crianças, ter um quarto só para mim seria incrível.

Abracei-a, sentindo-a fria no sentido de temperatura física, mas seu abraço era muito confortador no sentido emocional.

– Eu farei qualquer coisa por sua felicidade, Natalye. Pela sua, e pela felicidade de seu irmão. Nunca se esqueça disso... Somos uma família agora.

Alice me apresentou meu closet, que já estava repleto de roupas da moda.

– Um presente de sua nova tia. - Ela falou, e pensei que ela estava mais feliz do que eu pelo closet.

Segui-as para o quarto ao lado, que possuía paredes azul-claras. Era o novo quarto de Alexander. Ele parecia estar em pleno Natal e não demorou meio segundo para pular em cima da cama.

– Vamos deixá-lo se divertir. - Rosalie falou.

Seguimos para outro lado do corredor, onde seria o quarto de Bárbara. As paredes tinham um tom salmão, e parecia ao mesmo tempo moderno e renascentista. Obviamente ela também possuía um closet.

– Queridas, eu recomendo a vocês descansarem da viajem e desarrumarem suas malas. Mais tarde, vocês irão conhecer Renesmee e seus tios...

Quando entrei em meu quarto e fechei a porta, sem ninguém a me observar, corri e me joguei naquela cama, e talvez não tenham se passado minutos até que dormi profundamente e sem nenhum pesadelo. Eu estava em casa, finalmente.