Mais uma vez, a lua se ergueu no céu, trazendo consigo, o véu negro que esconde o azul, tingindo tudo de preto. A brisa passeou barulhenta por entre as árvores da antiga floresta, brincando com as folhas. Apesar disso, tudo continuava com sua aura silenciosa e até mesmo assustadora. O doce silêncio que poderia acalmar, e ao mesmo tempo, provocar tremedeiras.

Uma bela noite para as criaturas noturnas saírem e colocarem suas vidas em risco, à procura de sustento. Lá estavam elas. Animais, demônios, todos seguindo a dança da brisa, correndo pelo mato, se espreitando por entre as plantas. Não demorou para gritos, rugidos, uivos, rosnados serem ouvidos. As sombrias personificações da noite agitavam-se, e tudo se tornava uma bagunça.

Mas por quê? Qual era o motivo de tanta agitação? Simples resposta. Encontraram comida.

A passos rápidos e desesperados, um humano seguia por dentro da floresta, somente guiado pelos fracos raios lunares. Era óbvio que já havia escutado o barulho que as criaturas haviam feito. Ele precisava correr, ou seria engolido pela escuridão, e pelos monstros que nela residem.

Animais e demônios o seguiam naquele labirinto sem saída. Assustada, a lua escondeu-se atrás de nuvens cinzentas e grossas. O intruso tremeu. Sem sua luz, para onde iria? Não enxergava nada!

Sua respiração era descontrolada e ofegante, o suor frio escorria pela pele já ferida por garras que tentavam rasgá-lo. Pensamentos pessimistas rondavam por sua mente perturbada e que enegrecia cada vez mais. Sem luz. Sem esperanças. Sem fé.

A bomba pulsante dentro de si falhou uma batida ao ter seus passos atrapalhados por um tronco que não havia visto. Caíra no chão, ralando o corpo. Embora tentasse levantar, o humano não tinha forças. Paralisado pelo medo da escuridão e das vozes dos monstros, a única coisa que lhe restou fazer foi ceder.

As criaturas celebraram com uivos altos e estranhos ruídos enquanto pulavam sobre o intruso, já fincando suas garras e presas na pele quente e úmida pelo suor. Dilaceravam e rasgavam a carne. Os gritos da comida não podiam ser ouvidos por eles. A fome era tanta que só poderiam pensar em fazê-lo em pedaços.

Nem mesmo as nuvens puderam aguentar aquela cena. Choraram suas lágrimas acima da floresta sombria. Pareciam lamentar pelo homem que por engano entrou naquele beco sem saída, mas isto já havia se tornado tão comum que não existiam motivos para chorar. Os humanos estão sempre se perdendo na escuridão, e sendo devorados por monstros.

Afinal, a escuridão seria sua mente perturbada, e os monstros seriam seus pesadelos.