Rebelião escrita por Nina F


Capítulo 13
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Postando porque... Não sei, estou com uma terrível sensação de trabalho inacabado, portanto, vou postar dois capítulos hoje. Espero que gostem.



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Boggs avisa que já estamos partindo para o 13 assim que o espaço aéreo é verificado e nos manda sentar, mas eu não estou nem aí. Não quando vejo Violet à minha frente, sozinha com as duas irmãs, com os olhos inchados num claro sinal de choro recente.

– É melhor a gente se sentar, a Breeze ta pesada e meus braços estão doendo. - ela diz pra mim.

Nós nos sentamos perto dos meus pais, que também olham Violet com estranhamento. Gabe acabou dormindo sentado no colo da minha mãe.

– Cadê a sua mãe? - é a primeira coisa que pergunto.

Violet arruma a Breeze nos braços, a pequena parece estar num sono tão pesado.

– Ela... Ela ficou lá. - Violet engasga, vejo seus olhos se encherem.

– Porque? - eu torno a perguntar, incrédulo.

– Porque ela deixou a gente, Cato. - ela levanta os olhos de Breeze pra mim. - De vez.

Violet começa a tecer toda a história pra mim e eu fico horrorizado à medida que ouço tudo. Quando ela apareceu em casa, Beatrice a cobriu com a culpa de colocar ela e as irmãs em perigo, fez questão de deixar claro e disse com as próprias palavras que Violet era uma criminosa por ser um Tordo. Beatrice não quer uma filha que vá contra a sua tão amada Capital, ao que eu vejo. Na verdade ela não queria nem sequer uma filha, Violet me corrige.

A verdade é que Violet foi, segundo ela mesma me diz, um acidente. Tobias e Beatrice só se casaram porque ela estava grávida, ela nem ao menos queria se casar com ele. No final Beatrice nunca amou Tobias, Violet, ou Rose, nem mesmo Breeze, ela não queria sua vida, nunca quis as filhas e por isso nunca se dignou a cuidar delas.

– Ela deixou claro que não viria e me entregou as meninas de bandeja. Eu simplesmente as peguei e sai de lá. - Violet termina, sua voz é um pouco embargada, mas nenhuma só lágrima escapou.

– Ela... Ela teve a coragem?! - eu me indigno, enojado e furioso pelo que Beatrice foi capaz de fazer com Violet. Pelo sofrimento ao qual ela submeteu as próprias filhas.

Violet assente.

– Ela disse que iria embora da base rebelde de manhã, mas eu disse que não me importava e não me importo mesmo. Beatrice não é mais a minha mãe, nem das meninas. Disse que era pra ela sumir e nunca mais aparecer na minha frente de novo.

Eu quero dizer alguma coisa, mas se abrir a boca nesse exato momento o que sairá dela serão apenas palavras nada bonitas. Rose ouviu tudo no assento ao lado de Violet, com a cabeça baixa, e agora está deitada como pode sobre o colo da irmã. O que deve ser para uma criança de oito anos ver a própria mãe se afastando assim, ou pra uma de nove ouvir que sua vida é um erro, que foi o que aconteceu com Violet?

– Eu não quero ficar remoendo isso, o que aconteceu, aconteceu. - ela diz, me olhando. - O que me preocupa é o que vai acontecer lá na frente... Sabe que eu não tenho a certeza de que vou estar aqui sempre.

A última parte ela sussurra tão baixo que penso que apenas eu ouvi, mas é a verdade.

– Eles vão achar o Tobias, sério Violet, seu pai ta vivo e eu sei disso.

Ela não diz nada, mas posso ver o medo estampado em seus olhos então meu primeiro instinto é passar meu braço sobre seus ombros e trazê-la pra mim. A surpresa mesmo vem quando minha mãe se inclina para frente, põe uma das mãos sobre o joelho de Violet e diz que ela não tem com o que se preocupar, que ela pode ser muito mais forte que isso.

Pelo resto da viagem eu mesmo não falo mais nada, Violet troca algumas palavras com os meus pais, mas é só. Parece que a volta é mais demorada e no final todos nós acabamos sendo vencidos pela exaustão, eu mesmo durmo escorado no assento, com Violet suspirando no meu ombro, nós só somos acordados quando chegamos ao 13. Gabe, que sempre teve sono muito pesado, tem de ser carregado nas costas do meu pai para fora do aerodeslizador, mas quando Violet tenta acordar Rose eu a impeço.

– Não, deixa ela dormir, eu posso levar ela. Elas vão ficar no nosso compartimento, não é?

Violet hesita.

– Bem, é... - ela encolhe os ombros, ainda sonolenta. - Mas, não sei, achei que você não fosse querer isso, eu estava pensando em pegar um compartimento pra mim e pra elas.

– De jeito nenhum. - eu balanço a cabeça. - Elas ficam com a gente, sem problemas.

Com alguma dificuldade Rose se põe de pé e eu a pego facilmente, assim que pisamos fora do aerodeslizador sinto que ela já está dormindo de novo. Meus pais estão um tanto quanto impressionados com o lugar, mas eu me apresso em dizer que isso aqui não é nada. Quando Boggs os puxa para um lado para explicar algumas coisas a eles, já que agora vão viver aqui, eu e Violet achamos melhor irmos logo para o nosso compartimento. Temos duas crianças conosco que precisam de um lugar decente pra dormir.

Após alguma confusão para dar aos meus pais um compartimento, todos nós, que participamos da missão, achamos por bem fazermos qualquer outra coisa depois de dormirmos um pouco. Coin foi avisada imediatamente da nossa chegada, mas sequer deu as caras. Boggs faz com que algumas camas extras sejam rapidamente arranjadas para as irmãs da Violet, não sei de onde eles tiram as camas de armar mas elas são levadas e instaladas no nosso compartimento em alguns minutos. É provisório, mas ele diz que se elas forem ficar conosco por muito tempo talvez seja melhor mudarmos para um compartimento capaz de comportá-las melhor.

Quando Violet e eu finalmente ficamos sozinhos, primeiro temos de colocar as meninas nas camas pequenas mas que reduziram consideravelmente o tamanho do nosso alojamento. É fácil, elas nem se mexem quando o fazemos e continuam dormindo profundamente enquanto Violet as cobre.

– Tudo bem se eu for tomar banho primeiro? - eu sussurro.

– Não, - ela maneia com a cabeça. - pode ir.

Ela me olha quando responde, mas sinto o quão longe está. A carga de adrenalina baixou e agora estou com tanto sono que não me demoro no chuveiro, quando saio do banheiro Violet está sentada na cama de Rose, olhando a irmã concentradamente.

– Como ela reagiu? - eu pergunto, me aproximando dela, que nem se sobressalta. - Ela ouviu não foi? Tudo o que você e Beatrice disseram...

– Não sei se ouviu tudo, ela estava dormindo quando eu cheguei. Mas ela... Ela simplesmente entendeu.

As camas ficaram próximas à mesa, de modo que eu puxo uma cadeira para me sentar bem perto de Violet.

– Quando eu pedi para ela se despedir da minha mãe, ela não reclamou. Só me perguntou, depois, se ela tinha nos deixado.

– E o que você respondeu?

Violet ergue os olhos pra mim.

– Falei a verdade, disse que ela tinha nos deixado de uma vez por todas. Mas ela entendeu, não fez mais nenhuma pergunta, não se abalou nem nada... Agiu com tanta maturidade que me surpreendeu. Rose está diferente desde a última vez que eu a vi. Não é mais aquela menininha que correu pra mim, chorando, no dia da Colheita.

Eu olho para a figura pequena de Rose, debaixo das cobertas agora, os traços não são muito diferentes dos de Violet. Inevitavelmente eu me lembro daquela cena do dia em que fomos para o massacre, o choro desesperado de Rose, a luta de Violet para se manter firme.

– Eu não queria isso pra ela, todo esse sofrimento. Isso tudo que ta acontecendo, ta forçando ela a crescer muito rápido, Cato.

Ela se levanta, pega suas roupas no armário e segue para o banheiro, se trancando lá enquanto eu a sigo com os olhos.

O que ela acaba de dizer fica ecoando na minha mente, enquanto eu tiro os olhos da porta para as duas crianças dormindo. Forçados a crescer, é isso que todos nós somos no final, tirados de nossas vidas comuns e jogados em ambientes como esse. Está acontecendo com Rose e... foi o que aconteceu com Violet. Eu analiso o quanto ela mudou desde que nos conhecemos e me assusto com como não havia percebido uma diferença tão acentuada. Não que ela esteja irreconhecível, mas não é mais a garota de aparência frágil que eu vi subir ao palco da colheita pela primeira vez. E não é porque acabei descobrindo que de fraca ela não tem nada, mas é que aquilo que vi nos olhos dela pela primeira vez, aquilo que me mostrou que ela talvez não fosse fraca, a coisa se espalhou. E eu sei exatamente quando isso aconteceu. Violet foi forçada a amadurecer de uma vez por todas quando pulou à minha frente na Colheita, me protegendo com seu próprio corpo, se voluntariando para ir comigo para o massacre. Se preparando para morrer por mim se fosse preciso. Isso liquidou com toda a fraqueza que ela ainda tinha.

Violet deve saber o quanto é ruim ter de enfrentar algo maior que você, ter de se tornar maior que isso, é por isso que não quer que o mesmo aconteça à Rose.

Quando ela sai do banho eu ainda estou sentado na cadeira. Observo Violet colocar tudo em ordem no compartimento e esvaziar uma mochila que Rose trazia nas costas. Há apenas duas bonecas lá, o que a faz soltar uma risada triste.

– Foi meu pai quem deu a elas. - ela me olha. - Rose ganhou a sua quando era bem pequena, assim como Breeze. Ele trouxe todas do 6, não sei onde conseguiu isso lá.

– Você tinha uma? - eu pergunto.

Ela assente.

– Ele me deu na primeira vez que voltou pra casa, depois de ter virado pacificador. Eu tinha a minha guardada dentro do armário, na Aldeia dos Vitoriosos. Deve ter ficado pra trás quando elas foram levadas pelos rebeldes.

Ela devolve as bonecas às meninas, mas elas nem se mexem.

– O que foi? - ela me pergunta quando vê que não tiro meus olhos dela.

– Nada, é que... - um bocejo me interrompe quando eu me levanto. - acho que já não posso te chamar de baixinha.

Violet ri de novo, arqueando uma sobrancelha pra mim.

– Você nunca pôde, Cato.

Quando vamos pra cama, Violet simplesmente se deita para a parede e vira as costas pra mim, o que me faz estranhar. Ela nunca faz isso. É quando escuto o suspiro e vejo seu corpo balançar levemente, sei que ela está chorando e decido não interferir muito então simplesmente a abraço. Ela se enrosca contra o meu peito. Antes de cair no sono a única coisa que percebo é que o seu choro cessou.

– Eu ainda não acredito, Violet, simplesmente não acredito. - Enobaria diz, toda a dor transpassando sua voz.

– Acredite, mas esqueça. - ela diz. - Já era, aconteceu e pronto, o que eu tenho que fazer agora é cuidar das meninas enquanto acham o meu pai.

– Por falar nisso, - eu interfiro. - alguma notícia do Distrito 6?

Enobaria tira os olhos do caminho e balança a cabeça.

– Ainda não.

No Comando dá para se perceber claramente quem é que estava na missão na noite passada, são os mais quebrados e que aparentam necessitar de uma xícara de café forte. Eu me sento com Enobaria, mas Violet é chamada por Haymitch do outro lado da mesa.

– Como ela reagiu? - Enobaria me pergunta preocupada.

– Chegou pra mim de olhos inchados no aerodeslizador, - eu rodo um pouco na cadeira. - foi forte todo o tempo. Ela só chorou na hora de dormir, mas não quis sequer que eu visse, simplesmente se virou de costas e começou.

– Tobias vai ficar possesso...

Eu sorrio pra ela.

– E você já está plenamente convicta de que ele vá voltar, não é?

Enobaria me dá um sorriso inviesado e afasta um pouco do cabelo.

– Tenho quase certeza.

Eu solto uma risada baixa e Enobaria me acompanha.

Coin ainda não chegou então todos continuam conversando, Violet agora está do outro lado da mesa, em pé com Katniss. Fico realmente curioso para saber o que elas estão falando, mas não consigo escutar. Elas têm se dado até bem, foi um pouco estranho na primeira vez que se viram cara a cara depois que Violet voltou do coma, mas em alguns minutos elas estavam fazendo piada do fato de Violet ter acertado Katniss na cabeça com o rolo de Beetee. Não é nada muito íntimo, assim como eu e a própria Katniss, mas pelo menos elas não se estranham.

Quando Coin chega todos nós nos arrumamos, quem estava de pé, se senta. Violet já está na cadeira ao meu lado quando ela começa a falar sobre a missão que foi concluída e mais outras coisas que eu mesmo não escuto. Meu torpor só acaba quando me ouço sendo incluído na conversa.

– Acho por bem começarmos logo com o trabalho com os Tordos, ninguém tem mais alguma exigência não é? - Coin sibila para nós, ameaçadoramente.

Tanto eu como Violet discordamos com a cabeça.

– É melhor assim. Desta maneira, acha que pode começar a trabalhar amanhã, Plutarch?

– Certamente, presidenta. - ouço-o responder.

– Então amanhã, sem mais nenhum atraso, - Coin olha de nós dois para Katniss. - sem nenhuma falha. Vão começar a atuar como Tordos.

Olho para Violet, mas ela já está com os olhos em mim. Finalmente vamos servir pra alguma coisa aqui, finalmente vamos entrar na rebelião.


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