E se eu dissesse que te amo? escrita por Lola


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu já postei essa fic antes, mas desanimei e parei de escrever só que um dia lá estava eu vasculhando meu Word e achei ela. Me deu uma vontade de saber o final! Acabei escrevendo, ficou curtinha mas ok. Espero que gostem!



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“Estava sentada ao lado do meu namorado, Eduardo, no refeitório quando Daniel, meu melhor amigo, veio falar comigo.

– Natalie, posso falar com você um minutinho?

– Agora? Não posso nem terminar de comer meu pudim? Ele tá uma delícia!

Ele não riu e nem fez um comentário engraçado, o que me fez perceber que o assunto era sério. Dei um selinho em Eduardo e fui até ele.

– O que foi? – perguntei

Ele não respondeu, apenas entrelaçou seus dedos bem firmes aos meus e saiu me guiando pelo refeitório. Ele não diminuiu o ritmo até chegar ao jardim, escolheu um banco embaixo de uma árvore e sentamos.

– Natalie... Eu vou me mudar.

– Que legal, vai para que prédio?

– Você não tá entendendo, meu pai foi transferido no trabalho dele e nos vamos morar na Noruega – ele falou isso usando seu tom mais calmo de voz, assim como fazia todas as vezes que me dava uma notícia ruim. Só que dessa vez foi a pior notícia que ele me deu. Eu não consegui falar nada, fazer nada, apenas encarei-o, incrédula, me lembrei de tudo que vivemos juntos desde o dia em que nós conhecemos até hoje, as lembranças rapidamente se transformaram em lágrimas que escorriam dos meus olhos.

Daniel se aproximou e enxugou meu rosto fazendo um movimento sutil com o polegar, o que fez meu corpo todo arrepiar-se como toda vez que ele me toca desse jeito.

– Não chora – sussurrou ele beijando a ponta do meu nariz.

– Não vai...

Ele me envolveu com seus braços e meu choro que antes tinha um pouco de dignidade, tornou-se vergonhoso. Daniel apenas me abraçou com mais força.

– Temos que voltar para o refeitório porque se demorarmos muito Eduardo vai imaginar que estamos nos agarrando ou coisa do tipo – suas palavras vieram acompanhadas de um sentimento que não consegui identificar, raiva, talvez.

Assenti tristemente.

– Ok – respondi em meio às lágrimas.

Depois que descobri que Daniel ia se mudar, quis aproveitar o máximo de tempo com ele. De manhã na escola, não saia do seu lado, de tarde, eu ia para a sua casa ou ele ia pra minha, ou saíamos juntos. Fazíamos diversas coisas como, jogar videogame, conversar, ler, tinha vezes que apenas ficávamos abraçados na cama em silêncio enquanto ele cheira meus cabelos que, segundo ele tem cheiro de maçã e comíamos muito, muito pudim.

Quem não estava gostando nem um pouco disso era Eduardo.

Um dia eu estava na casa de Daniel e ele estava cheirando e acariciando as ondas cor de mel que caiam sobre meus ombros e eu estava rindo porque fazia cócegas quando meu telefone toca. De novo!

Quem adivinhar quem é ganha um prêmio!

Nem cheguei a atender, reuni toda força que consegui e joguei meu celular na parede.

– Existe jeitos mais fáceis de desligar o celular mas eu gostei desse – observou Daniel.

Eu ri bastante e ele começou a rir da minha risada de eu da dele e nós rimos até a barriga doer e mesmo assim não paramos e essa foi uma das sensações mais gostosas que já senti, depois de cinco minutos, paramos para recuperar o fôlego e eu disse:

– Estou com fome.

– Nossa que novidade! – Falou ele com a voz carregada de ironia.

– O que você acha de fazer pudim?

– Quem vai fazer?

– Eu.

– Você? Haha!

– Isso é um desafio, Daniel Linton?

– Sim, senhorita Willians.

E, eu estava delirando ou ouvir ele sussurrar “...e futura Senhora Linton.”? Acho que estava ficando doida.

Depois de pesquisar a receita na internet, fomos até a cozinha colocar a mão na massa.

– Ok, eu preciso de eu preciso de 1 lata de leite condensado, um pouco de leite de vaca e 4 ovo inteiros e para calda 1 xícara de chá de açúcar e 1|3 de água.

– O leite condensado está no armário e o resto está na geladeira.

Ele se encostou à parede e ficou me observando com um sorriso super maroto que só ele tem com aqueles olhos verdes brilhantes cravados em mim, seu cabelo preto brilhava em contado da luz do sol que entrava da janela e aqueles lábios rosados e carnudos... Fiquei imaginando como seria beijar eles... Que droga eu estou pensando? Natalie, foco! Você tem namorado! Repreendi a mim mesmo por pensar em Daniel daquele jeito.

– Por que você está me encarando? – sua pergunta interrompeu meus devaneios e me trouxe de volta à realidade.

– Eu não estou te encarando – respondi na defensiva e caminhei rapidamente até o armário para pegar o leite condensado.

– Está na parte de cima – disse Daniel.

Subi na ponta de pé para pegar mas não consegui alcançar. Rindo, Daniel caminhou até meu lado e disse:

– Deixa que eu pego para você.

Quando ele levantou o braço para pegar, sua camisa subiu um pouco e pude ver um pouco do seu tanquinho, que por sinal, era muito definido, me obriguei a desviar o olhar e acabei olhando para os seus bíceps bem talhados e de novo tive que desviar o olhar só que dessa vez eles foram parar nos seus lábios e, pela segunda vez em menos de uma hora, tive vontade de beija-lo e nunca mais parar. Puta merda, o que tá acontecendo comigo? Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos.

Depois de pegar todos os ingredientes, comecei a preparar a receita.

Primeiro, bata tudo. – li o que estava escrito na receita em voz alta – Bem, isso parece fácil.

Como eu disse parece fácil mas não é, eu tive muito problema na hora de quebrar os ovos. Você sabia que se você bater muito forte na hora de quebrar, ele voa em cima de você? Pois é, eu não sabia e acabei me melando toda de ovo. Daniel começou a rir descontroladamente.

– Pare de rir, seu idiota!

– Eu não consigo! – Disse ele rindo ainda mais.

Fui até ele com um ovo na mão e quebrei-o bem na cabeça dele.

– Filha da puta! – Ele exclamou e pegou a farinha de trigo no armário e jogou em mim.

– Maldito! Agora estou toda suja!

– Oww, coitadinha, vem cá deixa que eu limpo. – ele tirou a camisa e... UAU! Meu deus! Como nunca percebi o quanto ele é gostoso?

Ele pegou a camisa de começou a tirar ovo e farinha de trigo do meu rosto, com os mesmo movimentos suaves que ele usou para enxugar minhas lágrimas. Ele estava tão distraído que nem percebeu quando peguei a xícara com açúcar e joguei nele.

– Pensou que não ia ter troco? – ele apenas riu e me deu um abraço bem apertado me sujando toda de açúcar mas eu não liguei, apenas retribui o abraço.

No final das contas resolvemos tomar sorvete mesmo e no fim da tarde eu disse que precisava ir para casa e ele fez questão de me levar.

Nós fomos andando pela rua parecendo dois doidos. Eu tive dificuldade em acompanhar o seu ritmo porque ele caminhava muito rápido e eu tinha pernas curtas.

– Você anda muito devagar, Willians.

– Quer me carregar, Linton?

Ele não respondeu, simplesmente me pegou no colo e saiu correndo.

Chegamos à minha casa, eu ainda estava no seu colo e ele se recusava a me colocar no chão. Abri a porta rindo e encontrei uma cena que me surpreendeu e me deixou envergonhada...

Os pais de Eduardo e o próprio Eduardo, estavam conversando com meu pai e minha mãe quando eu entrei em casa. Quando Daniel viu o que estava acontecendo, me colocou imediatamente no chão, só que foi um pouco tarde porque Eduardo viu e estava fervendo de ciúmes. O Sr. e a Sra. Evans, estavam horrorizados e meu pai e minha mãe estavam se controlando para não rir.

– Bem, eu já vou indo. – falou Daniel, me deu um beijo na bochecha e saiu. Desgraçado! Me deixou aqui sozinha.

– Oi Sr. e Sra. Evans. – cumprimentei os pais de Eduardo e em seguida olhei para ele a procura de ajuda.

– Oi meu amor, - disse ele – eu acho que nós chegamos um pouco cedo para o jantar que havíamos combinado.

Puta merda! Como eu pude esquecer? Uma semana atrás eu o convidei para vir jantar aqui em casa com seus pais.

– Não, você chegou no horário certo – não podia colocar a culpa nele, ele não merecia isso – eu é que me atrasei um pouco, me desculpem.

– Não tem problema. – disse Eduardo e se aproximou para me beijar. Foi meio estranho porque meus pais e os dele estavam vendo mas mesmo assim eu retribui. Depois de um tempo ele se afastou e disse:

– Eca, você está com gosto horrível de farinha e ovo. – seu comentário fez todos – inclusive eu – rirem.

– É que eu não sei fazer pudim. Agora, se me dão licença, vou tomar banho.

Depois que retornei à sala, o clima da conversa estava agradável e todos conversavam alegremente, a mesa estava posta e a comida cheira tanto que me deu água na boca.

Eu usava um vestido branco de alcinha e meu cabelo estava preso em um coque bagunçado, o que me dava o ar de menininha inocente e isso vai me ajudar bastante quando minha mãe for me dar uma bronca por me esquecer do jantar.

– Agora que você está aqui, podemos jantar. – falou meu pai com um tom descontraído que eu admiro bastante nele.

A comida estava tão deliciosa assim como o cheiro. Minha mãe fez risoto de camarão, o meu favorito, e suco de morango, também o meu favorito, para mim e Eduardo já os adultos tomavam vinho.

Chegou aquele ponto constrangedor da conversa que seus pai começam a falar sobre seu futuro e eles chegaram a falar do meu casamento com Eduardo, isso fez nós dois corarmos, principalmente Eduardo que era muito branco e seus cabelos dourados arrumadinhos ressaltaram ainda mais o avermelhado em seu rosto. É claro que eu gosto dele mas eu nunca havia pensado em casar, começo a imaginar meu casamento com Eduardo e de alguma forma sinto que estou traindo Daniel. Me perco nos meus pensamentos e só percebo que a Sra. Evans está me fazendo uma pergunta quando Eduardo me dá um leve chute na perna.

– O que? – pergunto com uma expressão confusa.

– Quem era aquele que te trouxe? – ela repete a pergunta com um leve tom de impaciência.

– Aquele é Daniel, ele é meu melhor amigo desde que eu tinha 4 anos, - explico – e ele vai... ele vai...

Não, eu jamais vou conseguir pronunciar essas palavras em voz alta, são dolorosas demais, cruéis demais, quando soube que Daniel ia embora, uma ferida foi aberta no meu coração e toda vez que todo nesse assunto, parece que alguém esta passando álcool nela. Eu não vou chorar. Digo para mim mesma. Trinco os dentes, olho para cima, pisco os olhos mais rápido, porém nada é capaz de conter as lágrimas que caem silenciosamente dos meus olhos.

– Ele vai se mudar para Noruega. – Eduardo completa a frase para mim. Lanço a ele um olhar de agradecimento e ele alisa minha mão de uma maneira reconfortante.

Terminamos o jantar em silêncio e depois a família Evans se despediu e agradeceu o ‘’jantar delicioso’’ e depois foram embora.

Fodeu, agora é a hora que minha mãe vai me dar uma baita bronca pelo meu atraso.

– Os Evans são muito gentis e educados. – foi tudo o que ela disse e depois foi para cozinha arrumar a bagunça.

Eu fui para o meu quarto e tentei dormir mas não consegui pregar os olhos. Perto da meia-noite, peguei o telefone fixo e, sem parar para pensar, meus dedos involuntariamente, discaram o número da casa de Daniel.

– Quem fala? – perguntou a senhora Linton.

– Oi, sou eu, Natalie. O Daniel está ai?

– Ele não está com você? Ele passou aqui em casa para se trocar e me disse que ia sair com você.

– Merda! – uma preocupação tomou conta do meu corpo e sem um pingo de educação, desliguei o telefone na cara dela.

Vesti um casaco por cima do pijama do Bob Esponja e saí de casa correndo.

Por que a preocupação? Bem, o Daniel faz coisas bem estupidas quando está chateado e por alguma razão acho que a cena dos meus pais conversando com os de Eduardo o afetou bastante, apesar de ele saber disfarçar bem.

Provavelmente ele estava no mesmo lugar de sempre mas eu não tinha certeza, ele era uma caixinha de surpresas.

Já tinha me afastado um quarteirão da minha casa quando começou uma garoa que logo se transformou em uma tempestade e aos poucos a rua foi esvaziando. O frio fazia meu corpo tremer mas eu ligava? Nem um pouco, tudo que eu queria era ter certeza de que Daniel estava bem porque eu sabia que não conseguiria dormir caso contrario. Finalmente cheguei onde imaginava que ele estivesse e como eu imaginava ele estava lá, sentado no balanço do parquinho que nos conhecemos quando tínhamos 4 anos.

Eu estava brincando de Barbie quando ele passou correndo e pisou na minha mão, fiquei furiosa e fui tirar satisfação com ele, eu queria brigar mas acontece que ele tinha uns brinquedos tão legais que eu o perdoei com uma condição: ele teria que deixar eu brincar com seus brinquedos.

– Seu puto! – gritei, ele se levantou do balanço com um sobressalto. – Caralho, Daniel! Você ainda vai me matar de preocupação! Como é que você some sem avisar a ninguém! Poderiam acontecer coisas horríveis e ninguém ia saber on...

– Eu sabia que você me encontraria. – disse ele me cortando no meio da frase, não aguentei e corri até ele e o abracei bem forte e ele retribuiu.

– Eu sabia que você viria mas não sabia que viria com esse pijama sexy do Bob Esponja. – falou me analisando de cima a baixo, eu sabia que ele estava brincando mas mesmo assim enrubesci – E você fica bem mais gata na chuva.

– Cala boca, idiota. – falei rindo.

Depois fomos para o balanço e ficamos nos balançando como antigamente.

– Vamos para casa, minha mãe vai ter um infarto se descobrir que eu saí – falei.

(...)

– VOCÊ É DOIDA?!?! – gritou minha mãe quando eu cheguei à minha casa – Como você sai sem avisar nada? Ainda mais com essa chuva! O que você e o Daniel têm na cabeça?

Eu me controlei para não rir, eu já sabia que ela ia surtar desse jeito por isso não me importei.

Depois da bronca, ela ligou para a mãe de Daniel e elas ficaram horas falando como nós dois somos impossíveis. Eu me tomei banho e fui dormir.

(...)

O tempo passou, logo chegou o dia que eu teria que dizer adeus ao Dan. Era uma terça-feira, me despedi dele na escola, assim como todos, mas aquilo não era o suficiente, o avião dele partiria às três da manhã e eu faria questão de ficar com ele até ele entrar naquele avião, só que queria fazer uma surpresa então não contei a ele meus planos.

– Definitivamente, não! – disse minha mãe quando falei a ela que iria ao aeroporto.

– Por que não?

– Você sabe muito bem porque, o voo vai sair muito tarde e amanhã você tem prova!

– Foda-se a prova, mãe, eu vou de qualquer jeito.

– Nem pensar, mocinha, você tem que tirar notas boas e se você fizer a prova de matemática morrendo de sono vai tirar um zero bem redondinho.

Ela tinha razão mas eu não estava nem aí para a prova, eu queria me despedir direito do Dan e ninguém ia me impedir...

Coloquei o despertador para uma e meia da manhã e quando ele tocou, acordei em um sobressalto. No começo fiquei confusa sem saber por que o despertador estava tocando àquela hora mas depois de um tempo me lembrei. Arrumei o cabelo e prendi-o em um rabo de cavalo alto e vesti uma calça jeans escura e uma blusa branca simples, toda lisa e folgadinha, coloquei uma jaqueta, peguei minha bolsa e saí silenciosamente do quarto com o sapato na mão.

Fui até a sala e desativei o alarme, procurei a chave da porta mas como eu esperava, não estava lá, ela devia estar bem segura e longe das minhas mãos no quarto da minha mãe. Acha que eu vou desistir fácil assim, mamãe? Claro que não. Voltei ao meu quarto e saí pela janela. Queria poder dizer que fiz uma aterrissagem graciosa do outro lado mas infelizmente não, eu tropecei e caí com tudo no chão provocando um tremendo barulho, felizmente o quarto dos meus pais são no andar de cima e eles dormem com portas e janelas fechadas por causa do ar condicionado que por sua vez é um tanto barulhento e por isso eles não me escutaram.

O portão da frente é daqueles que a chave não sai dele então não tive problemas para sair de casa. A rua estava deserta e isso me deu um pouco de medo mas mesmo assim continuei. Cheguei a um ponto de táxi e entrei em um que a motorista era mulher e eu gostei disso porque é raro encontrar mulheres nesse ramo.

– Para o aeroporto, por favor.

Infelizmente ela tinha um gosto musical de merda e passei o caminho todo escutando arrocha e essas outras porcarias que o ser humano foi capaz de inventar. Fico me perguntando o que leva uma pessoa a escrever isso? E pior. O que leva uma pessoa a gostar disso?

Quando chegamos ao aeroporto, eu já não aguentava mais e dei graças a Deus ao sair do carro.

O aeroporto como sempre estava lotado, fiquei procurando Dan em meio à multidão, havia muitas pessoas felizes com os reencontros e outras chorando com as partidas e percebi que em breve seria uma delas. Depois de um tempo avistei aqueles inconfundíveis olhos verdes. Corri até ele, esbarrando em várias pessoas no meio do caminho - que me xingaram de tudo quanto é nome - quando cheguei perto dele, me joguei em seus braços e percebi que meus olhos estavam molhados e os dele também. Ficamos assim por um bom tempo até que ele me soltou e só então percebi que algumas pessoas, inclusive os pais dele, estavam nos observando.

– Não sabia que você viria. – disse Dan.

– Essa era a intenção. – falei com um sorriso travesso no rosto.

Depois de cumprimentar os pais dele, nós dois fomos para a praça de alimentação enquanto o Sr. e a Sra. Linton ficavam fazendo aquelas merdas todas que tem que fazer.

Permanecemos em silêncio e ao mesmo tempo falamos milhares de coisas um para o outro através de olhares.

Ele comprou um sorvete e nós tomamos enquanto andávamos, ele sujou um pouco a boca e eu ri dele e limpei (com minha mão, ok?). Ficamos tão próximo que eu podia sentir o calor da sua pele e pude sentir seu hálito com cheiro de pasta de dente. Ele envolveu minha cintura e ficamos assim nos encarando, ele estava olhando fixamente para meus lábios e não posso negar que eu também estava olhando para os dele, aproximamos nossos rostos cada vez mais até que nos beijamos, seus lábios eram gelados por causa do sorvete e me provocaram as melhores sensações do mundo, me senti muito culpada mas eu era incapaz de parar, eu tinha plena consciência de que estava traindo Eduardo mas foda-se eu só queria aproveitar aquilo enquanto podia. Eu coloquei os meus braços em volta do seu pescoço, aproximando-o ainda mais de mim e ele me abraçou com mais força e nos beijamos por um bom tempo até que ele parou de repente e percebi que seu rosto estava bem vermelho.

– Desculpe, eu precisava fazer isso... Pelo menos uma vez. – murmurou ele.

Eu beijei-o e apesar de ter sido pego de surpresa, retribuiu. Eu me afastei para que pudesse ver seus olhos e olhando bem no fundo deles, sussurrei:

– E se eu dissesse que te amo?

– Eu seria o cara mais feliz do mundo. – respondeu ele e me beijou com mais fervor que nunca. E naquele momento, eu era sua e ele era meu e nada mais importava. Percebi que eu o amava, na verdade, sempre o amei mas fui cega e não enxerguei. Poderíamos ter ficado assim a vida inteira porém anunciaram a última chamada para o voo dele e infelizmente tivemos que parar.

– Vou voltar. Vou voltar por você. Eu prometo. E vamos ficar juntos. – disse ele.

– E eu vou te esperar... – e nós nos beijamos mais uma vez e provavelmente essa seria a última.

15 anos depois

Eduardo dirigia com cuidado pelas ruas movimentadas, o trânsito perto do aeroporto estava um inferno. Nós estávamos indo buscar minha amiga Gabriela e seu noivo. Eu a conheci na faculdade e desde então nos tornamos super amigas, porém ela vive viajando, não para em um país por mais de dois anos. Atualmente ela estava na Noruega, viria para cá me visitar e visitar sua família. Era a primeira vez que eu iria ver o noivo dela, ela me disse apenas que era o assistente de trabalho dela, mas não deu detalhes para ser surpresa. A Noruega me traz lembranças que tento esquecer nos últimos quinze anos. O amor da minha vida foi para lá e levou meu coração junto. O amor da minha vida, essa expressão me parece proibida agora que sou noiva de Eduardo. Durante os primeiros anos, eu e Daniel nos falávamos sempre, mas depois as ligações, os e-mails ou até mesmo as cartas foram se tornando raras e sem assunto. Pensar nele doí tanto, mordo o lábio e olho para cima para conter as lágrimas. Eu tinha que estar feliz! Eu vou ver Gabi, ela é como uma irmã para mim. Chegamos em pouco tempo ao aeroporto, que está lotado, fui ao balcão de informações para perguntar sobre o voo da Gabi, eles me disseram que atrasou um hora. Merda, eu teria que ficar no caralho do aeroporto por mais uma hora. Tento manter a calma, eu odeio esse lugar. Ainda me lembro de eu correndo para os braços de Daniel e de suas promessas de voltar por mim.

– Ei, porque está com essa cara? – Eduardo me pergunta.

– Nada – minto. Ele sabe que tem alguma coisa me incomodando, mas tem juízo suficiente para não me fazer perguntas. Eduardo é o tipo de noivo perfeito, educado, bonito, atencioso. Só que eu não quero a perfeição.

– Por que não bebemos algo? – ele sugere.

– Boa ideia, podemos ver o bolo de casamento enquanto isso – a ideia de me casar ainda me assusta um pouco, ainda lembro-me de quando Eduardo me pediu em casamento. Era minha formatura de arquitetura, eu estava muito animada e ao mesmo tempo triste porque queria compartilhar esse momento com Daniel. Eu tinha acabado de receber o diploma quanto Eduardo chamou a atenção de todos para si e fez o pedido. Fiquei sem reação, eu queria dizer não, porque lá no fundo eu ainda tinha esperanças de que Daniel voltaria, porém a palavra que saltou da minha boca começava com ‘s’. Não sei o que deu em mim, acho que eu não queria magoa-lo. Enfim, casaríamos em um mês e eu não estava nem um pouco ansiosa com isso.

Eduardo chamou minha atenção e perguntou se aquela não era Gabi. Meus olhos se encheram de lágrimas quando eu vi que aquela realmente era minha amiga e que ela estava com um barrigão. Corri o mais rápido que minhas pernas permitiram e dei um abraço de urso nela. Era impossível evitar as lágrimas que caiam copiosamente pela minha face e mais impossível ainda conter meu sorriso, porém este foi desfeito assim que eu vi aqueles familiares olhos verdes atrás dela.

Eu já tinha imaginado milhões de vezes como seria meu reencontro com Daniel, mas eu nunca imaginei que fosse daquele jeito. Eu não consegui falar, andar, tenho sérias dúvidas se eu estava respirando naquele momento. Eu queria correr para seus braços e recuperar todo tempo perdido, jogar tudo que eu tinha com Eduardo para o alto e ser apenas dele. Foi ai que eu vi a aliança dourada em sua mão, brilhando tanto que tornava impossível que eu desviasse olhar. Olhei novamente para Gabi, depois para Daniel e logo em seguida para a barriga de Gabi. A ficha caiu e meu coração se despedaçou junto com ela. Foi como se eu não tivesse chão, parecia que tinha tirado o oxigênio da atmosfera. Antes tivessem tirado, ai eu morreria e não teria que sentir aquela dor. Eu achava que já tinha sentido dor demais com a partida de Daniel e por isso meu coração estaria anestesiado, pois eu estava muito enganada. Parecia que tinham várias agulhas perfurando meu coração e uma mão contorcendo meu estômago. Eu achava que ver Dan novamente, traria as cores que ficaram faltando nos meus dias desde que ele se foi, entretanto tudo ficou ainda mais escuro. Poderíamos ter ficado assim por um tempão, apenas nos encarando incrédulos se Gabi não tivesse falado nada.

– Nat, esse é meu marido, Daniel.

Ouvir essas palavras pronunciadas em claro e bom som de uma maneira tão animada por Gabi, rompeu o meu último fio de sanidade. Desatei a chorar. Daniel me abraçou e eu me joguei nele, era estranho como os nossos corpos se encaixarem tão bem, era como se eles ainda lembrassem um do outro apesar de tanto tempo separados. Porém eu queria mais, eu queria beija-lo e nunca mais parar. Queria recomeçar o que paramos há quinze anos, neste mesmo local. Pude sentir algumas lágrimas de Dan molhar minha camisa e isso partiu ainda mais meu coração, ou o que restou dele.

– Nat, eu senti tanta falta sua...

Aquela voz... O som preferido dos meus ouvidos, eu já não ouvia a um bom tempo. Tão familiar e ao mesmo tempo tão diferente.

De repente, um sentimento muito ruim começou a crescer dentro de mim. Raiva. Eu senti raiva de Gabi, por ter ‘roubado’ Daniel de mim. Senti raiva de Daniel, por não ter cumprido sua promessa. E principalmente, senti raiva de mim, por ter sido tão boba e ter achado que ele ficaria tanto tempo me esperando, quando eu mesma não esperei por ele.

– Eu também senti sua falta.

Depois disso, não tocamos mais no assunto. Fizemos o trajeto todo do aeroporto até meu apartamento e o de Eduardo sem falarmos um com o outro. Eu só conversava com Gabi, ela me contava como era a vida dela na Noruega e eu contava como era a minha no Brasil. Toda vez que ela tocava no assunto do relacionamento dela com Dan, eu sentia uma pontada no meu coração que eu tentava ignorar, mas não era tão fácil assim.

Eu já tinha contado a ela sobre Daniel, porém nunca tinha falado a ela o nome dele. Achava uma coisa irrelevante. Contei a história bem por cima, talvez esse tenha sido o meu maior erro. As possibilidades do que teria acontecido caso eu tivesse contado que o cara por quem eu era secretamente apaixonada era Daniel povoavam minha mente me atordoando. Ela poderia ter conhecido ele, ligado os pontinhos e em vez de se apaixonar, ela poderia ter me ajudado a reencontrar ele. ‘E se’, ‘e se’, ‘e se’. Essas duas palavras era as que mais ocupavam minha mente, a todo momento eu estava fantasiando o que poderia ter sido diferente para que nós dois ficássemos juntos, era meio que uma forma de punição. Vê-lo reabriu uma ferida no meu coração que estava recém-cicatrizada e eu tinha certeza de que ela nunca mais se fecharia.

Gabi acabou descobrindo a história da pior maneira possível. Era meu chá de panelas, eu não estava nem um pouco animada e qualquer pessoa podia notar isso, minhas amigas fizeram de tudo para me animar, porém nada funcionava. Voltei para casa arrasada, Eduardo tinha saído com os amigos e por isso eu teria tempo para chorar sozinha. Mal tinha entrado no apartamento e minha visão já estava manchada por lágrimas, mesmo assim eu consegui enxergar um pequeno pedaço de papel no chão. Nele havia apenas seis palavras que fizeram meu coração bater esperançoso mais uma vez. ‘Me encontre no lugar de sempre. ’

Cheguei ao parquinho em tempo recorde. Ele era um pouco longe de onde eu estava morando, então fui rápido que pude, sem dar a mínima para o limite de velocidade, estacionei o carro de qualquer jeito e fui ao encontro dele. Daniel estava sentado deitado na grama, fitando as estrelas, quando percebeu minha presença, se sentou e fez um gesto para que eu me aproximasse. Fiquei onde eu estava apenas me sentei.

– Acho que eu te devo uma explicação – Daniel quebrou o silêncio.

– Não há nada que você possa explicar. Você desistiu de mim, seguiu sua vida, eu já entendi.

– Depois desse tempo todo meu coração continua batendo por você. Eu não amo Gabi, ela é uma ótima pessoa mas eu não a amo. É em você que eu penso todas as noites antes de dormir e é em você que eu acordo pensando. O destino foi cruel e nos separou, mas agora estamos juntos de novo.

– Por mais quanto tempo? Até você ir embora e levar meu coração junto mais uma vez! E me deixar sozinha esperando que um dia você vá voltar, acreditando feito uma tola nas suas estúpidas promessas de amor!

– Você ficou me esperando? Diga isso para o seu noivo!

– Olhe quem fala! Você vai ter um filho! Eu estava disposta a largar tudo com Eduardo e ficar com você e aposto que você faria a mesma coisa com Gabi, porém tem a criança.

– Eu não queria nada disso! Mas Gabi é minha chefa, eu não podia simplesmente dizer não para ela! As coisas saíram do controle, mas em nenhum momento eu deixei de pensar em você e eu me senti podre porque estava te traindo mesmo que nunca tenhamos tido uma coisa séria!

Não esperei que ele dissesse mais uma palavra, eu o beijei. Nos beijávamos de maneira desesperada, como se fosse um daqueles sonhos que pudesse acabar a qualquer momento por isso tínhamos que aproveitar. Um simples toque dos lábios dele fez com que eu me sentisse viva como eu nunca mais tinha me sentido. Ele trouxe toda a felicidade de volta pro meu coração que antes só batia por bater. O tempo pareceu congelar enquanto roçávamos nossos lábios. Sua língua explorava cada canto da minha boca. Eu só tinha sentido aquela coisa uma vez na vida há quinze anos. Foi como se nunca tivéssemos parado aquele beijo do aeroporto. Eu queria mais, muito mais. Ele passou a mão pela minha cintura, colando nossos corpos. Acabamos caindo na grama, mas não interrompemos o beijo. Ele começou a alisar meu rosto e foi descendo para meu pescoço onde ele sabia que eu sentia muitas cócegas. Mordi seu lábio inferior em resposta a isso. Parei de beijar seus lábios e fiz um tour de beijos pelo seu rosto, fui descendo para o pescoço. Ele deu uma fraca mordida em minha orelha o que me causou arrepios. Voltamos a nos beijar nos lábios, porém dessa vez de uma maneira mais lenta e calma. Poderíamos ter ido bem mais longe se Gabi não tivesse aparecido.

O grito horrorizado dela nos trouxe de volta para a realidade. Paramos o beijo e olhamos para ela sem reação. Ela, por sua vez, teve reação e foi me bater. Ela teria acabado comigo, apesar de ser fraca e magrinha, não sei de onde ela arrumou essa força toda. Daniel a segurou, ela não parava de gritar, acho que ela acabou com o estoque de palavrões do mundo.

– Gabi! Pare! Lembre-se do bebê! – Tentei colocar um pouco de sanidade na cabeça dela, ela finalmente parou de se debater nos braços de Daniel e exigiu uma explicação. Nenhum de nós falou nada, porém ela chegou a uma conclusão sozinha.

– Ai. Meu. Deus. Aquele menino que você disse que gostava e que foi para Noruega, ele... Ele é Daniel?

Eu apenas assenti.

A partir daquele dia, Gabi nunca mais falou comigo, ela perdoou Daniel, acho que porque estava realmente apaixonada. Gabi saiu da minha casa e se hospedou em um hotel, eu só fui vê-los novamente no dia da partida. Durante esse período, Daniel passava horas e mais horas falando ao telefone comigo durante a madrugada. Houve até uma noite que nós nos encontramos e bem... você sabe. Várias vezes ele cogitou voltar para o Brasil, porém eu não podia fazer isso com ele. A família dele estava lá, ele tinha uma criança para cuidar e estava ganhando muito bem no emprego.

Duas semanas depois, lá estávamos nós no aeroporto de novo. Eu estava escondida, não queria que Gabi me visse e armasse uma cena novamente. Daniel disse a ela que iria comprar um lanche e foi me encontrar. Não falamos muito, fiz o maior esforço do mundo para não chorar. Não nos beijamos, ficamos apenas abraçados, eu sabia que no momento que meus lábios encontrassem os dele, eu desistiria de tudo, compraria a primeira passagem para Noruega, iria nadando ou dentro da mala dele se fosse preciso. Antes que ele fosse, fiz a ele meu último pedido. Tentei soar firme, mas minha voz não passou de um sussurro ao pé de seu ouvido.

– Por favor, não fique sofrendo por mim. Esqueça-me.

– Você não pode me pedir isso. Sabe essa dor que me acompanha todos os dias desde que eu me separei de você pela primeira vez? Ela é a única coisa que faz eu me sentir vivo.

Dito isso, ele me entregou um bilhete e uma rosa, beijou o topo da minha cabeça e saiu. Quando eu o perdi de vista, abri o bilhete com cuidado. Era pequeno e tinha pouca coisa escrita nele.

E se eu dissesse que ainda te amo?

– Eu largaria tudo e ficaria com você – respondi com um sussurro em meio às lágrimas mesmo sabendo que ele não poderia me ouvir.”

Natalie termina sua narrativa, ambas estamos chorando. Ela tira a aliança do dedo e a joga bem longe. Ela cai mais uma vez no choro e eu a abraço de maneira reconfortante.

“E o pior de tudo é que eu ainda o amo, Nic! E olhe para mim, olhe onde estamos! Estamos no camarim da no salão de festas do meu casamento!

Eu sou amiga dela há anos e nunca a tinha visto chorar dessa maneira. A noiva chorar no casamento é normal, porém do jeito que Natalie estava chorando não. Apesar de todo mundo ter atribuído desse chororô à emoção do casamento, eu não me dei por convencida, então depois da cerimônia, eu a trouxe para o camarim e exigi que ela me falasse o que estava acontecendo, eu só não esperava que fosse aquilo. Eu não sei o que falar, já tinha sofrido por amor algumas vezes, mas nada se comparava a isso.

“Qual o número dele?”

“O que? Tá doida? Uma ligação para Noruega custa uma fortuna! Além do mais, falar com ele só vai fazer com que eu me sinta pior!”

Nesse momento, Eduardo entra no quarto com o rosto vermelho de tanto chorar.

“Nicole, você poderia nos deixar a sós?”

Eu saio do camarim, porém fico escutando tudo do lado de fora. Por alguns minutos tudo o que eles fazem é chorar e Natalie pergunta se ele ouviu tudo, ele diz que sim. Depois Eduardo pergunta a ela:

“Você algum dia já me amou?”

Como resposta, ela fica calada.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem, favoritem, recomendem, façam a festa! Leiam minhas outras fics! Obrigada por ler até o final! Beijos, Lola!