Quanto mais eu corria mais ele se afastava, eu já não conseguia respirar direito, minhas pernas doíam e o vento forte me cegava. Eu não entendia porque ele se afastava de mim, meus braços estavam entendidos em sua direção, mas ele me encarava com os olhos duros, a frieza em sua vez me assustou como o inferno. ‘’Você mentiu para mim, me escondeu a verdade durante um ano, e depois vem dizer que me ama? Você é uma mentirosa, eu não quero mais saber de você. Saia da minha vida. ’’ ‘’Não Castle, por favor. Deixe-me explicar, eu amo você, não me deixe. ’’As lagrimas caiam em abundancia dos meus olhos. A imagem dele sumindo rapidamente.

Acordei gritando e com a respiração acelerada, meu corpo tremia e eu estava suada. Outro pesadelo. Coloquei as mãos no rosto tentando me acalmar. Isso estava me matando, essa mentira estava indo longe de mais, eu tinha que falar com Castle o quanto antes, não dava mais para continuar assim.

Deitei novamente me enrolando no edredom tentando fazer minha respiração regular. Amanhã sem falta eu iria falar com ele e lhe contar tudo. Amanhã.

Dia seguinte. Pov'Terceira pessoa.

-Bom dia detetive. Por que tão cedo? Temos um corpo? - Castle atendeu o celular bem humorado.

-Na verdade não, estou de folga hoje, e eu tenho que falar com você. Será que pode vir aqui em casa? - Beckett respondeu séria.

Castle franziu a testa preocupado.- Eu juro que não fui eu.

Beckett deu uma risadinha. - Não foi nada que você fez Castle. Mas eu realmente preciso falar com você, acha que pode vir aqui?

-Sendo assim, eu posso. Quer que eu vá agora?

-Séria ótimo.

-Estou indo então.

-Estou esperando. - Ela desligou o telefone soltou um suspiro pesado.

Beckett não fazia ideia de como iria começar essa conversa, ela não sabia como iria dizer que tinha mentido para ele.

Quase vinte minutos depois ela escutou batidas na porta.

Ela tomou uma longa respiração era agora ou nunca. -Oi. – Ela abriu a porta e deu um pequeno sorriso a ele.

-Bom dia Beckett. Trouxe chinês. – Ele cumprimentou-a mostrando as bolsas.

-Ótimo, eu estava com fome mesmo. Entre.

Ela pegou as bolsas da mão dele as colocando na bancada da cozinha e em seguida mandou ele sentar fazendo o mesmo depois.

-O que pode ser tão importante para você deixar o chinês de lado? – Ele perguntou fazendo graça, mas parou rapidamente quando viu sua expressão seria.

-É complicado, e eu não sei direito como começar. – Ela torceu as mãos no colo.

-Que tal tentar começar do inicio?

-Certo. – Ela deu um sorriso quebrado.

– Você lembra disso não é? – Ela puxou um pouco o decote da blusa mostrando a cicatriz do tiro.

-Eu me lembro, mas eu não entendo aonde você quer chegar. – Ele franziu as sobrancelhas.

-Quando a bala que deixou essa cicatriz no peito bateu em mim você tentou me salvar. – Ela começou. – E eu me lembro do que você falou quando nós caímos no chão.

Os olhos de Castle se abriram no mesmo momento brilhando. – Você lembrou?

Diferente dos olhos de Castle, os de Beckett estavam cheios de lagrimas.

-Eu nunca me esqueci Castle. – Ela falou com a voz quebrada. – Na verdade eu menti para você, eu omite que me lembrava de tudo.

-Você fez o que? – Ele perguntou desacreditado, agora com os olhos em sangue.

-Eu sinto muito, eu não estava pronta. – Ela chorou.

-E você não podia simplesmente me dizer isso?

-Eu não sabia como, eu sinto muito. Me desculpe Castle.

-Pare de pedir desculpas, me poupe de ter que ouvi-las.

Castle levantou rapidamente se dirigindo para a porta.

– Faça bom proveito do jantar sozinha detetive Beckett. – Ele saiu batendo a porta.

Aquela porta batendo foi direto no coração de Beckett, ela sentiu vontade de gritar, de quebrar as coisas ou correr atrás dele. Mas ela não fez nada disso, Beckett apenas escorregou até o chão, trazendo as pernas bem apertadas contra o peito e chorou. Chorou tudo que precisa e não precisava chorar até adormecer ali mesmo.

Castle chegou em casa dando graças a Deus que ele estava sozinho, entrou em seu escritório fechando a porta atrás de si e ligando a TV, na mesma hora todo o caso da mãe de Beckett apareceu na tela.

-Duas mentiras, e nenhuma delas pode ser perdoada.

Manhã seguinte.

-Não é como se eu estivesse ligando para dizer que perdoo você, mas não sou hipócrita ao ponto de continuar escondendo isso de você. Pode vir aqui por favor?

Beckett nunca tinha escutado a voz dele tão fria e repleta de remorso, mas ela sabia que merecia isso.

-Posso, eu posso ir. - Ela engoliu em seco.

-Estou esperando. – Ele desligou o telefone.

Assim que Beckett chegou à casa de Castle ele a conduziu diretamente até seu escritório. Assim que entrou ela viu a TV ligada, com todos os detalhes do caso de sua mãe, exatamente tudo.

Beckett olhava tudo sem entender quando Castle começou a falar.

– Quando você levou aquele tiro, o capitão deixou o arquivo do caso da sua mãe com um homem, esse homem me pediu para manter você afastada do caso para te proteger, e foi isso que eu fiz durante esse tempo.

Beckett virou para ele surpresa. – Você fez um acordo com um homem que você não conhece para me proteger?

-Sim.

-E não achou que tinha que me contar?

-Eu estava salvando sua vida. Como eu já fiz tantas vezes. - Ele deu de ombros.

-E agora esta passando na minha cara?

-Você que esta dizendo isso!

-Você deu a entender.

-Você esta louca.

-QUAL O SEU PROBLEMA? – Ela alterou a voz.

-QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ QUE MENTIU PRA MIM POR MESES SIMPLESMENTE POR MENTI, EU MENTI PORQUE ESTAVA TE PROTEGENDO.

-O QUE VOCÊ QUERIA QUE EU FIZESSE? QUE EU DISSESSE QUE TE AMAVA,MAS NÃO PODIA FICAR COM VOCÊ? ACHA MESMO QUE SERIA MELHOR?

Castle controlou a voz e a respiração.

-Você passou três meses sem sequer atender uma misera ligação minha. - Sua voz era cheia de acusação. - Eu vi você quase morrer nos meus braços, seu ex-namorado idiota me agrediu, eu corri atrás do seu atirador e nunca cobrei nada, EU SÓ QUERIA QUE TIVESSE SIDO SINCERA COMIGO. – Ele gritou se aproximando dela.

-EU JÁ DISSE QUE SINTO MUITO, O QUE MAIS QUER QUE EU FAÇA? – Ela gritou de volta, o rosto quase colado ao dele.

-DIGA NA MINHA CARA QUE VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO ME AMA...

-Eu não posso disser isso, não posso mentir e dizer que não te amo,PORQUE EU AMO VOCÊ. - Os soluços saiam desesperados de seu peito.

-O que? - Castle parou de repente com os olhos arregalados.

-Por que acha que eu te chamei ontem e te contei tudo? - Ela bagunçou os cabelos.

- Acha que eu faria isso se não amasse você? Que eu preferia ver você com todo esse ódio de mim?

-Eu só não entendo como pode fazer isso. Até que eu entendo ter escondido no primeiro momento, mas e depois Beckett? , depois quando passamos por tanta coisa esse ano? Quase morremos umas três ou quatro vezes, e você não sentiu um pingo de pena de mim? - Uma lágrima escorreu de seu rosto.

-Eu não sei o que mais posso dizer a você. Eu não estava pronta para isso, você foi a única pessoa que me ajudou de verdade com a morte da minha mãe nesses quatro anos, eu não queria te perder. Se eu contasse a você que te amava mas não estava pronta pra ficar com você, você me daria um tempo, mas sairia da minha vida. Como eu poderia passar todas as manhãs sem você lá na delegacia? O que mais você quer que eu diga, eu estava com medo, e continuo com medo. E eu sinto muito, espero que um dia você possa me perdoar.

-E quanto ao que eu fiz? Vai me perdoar?

-Eu não tenho nada que perdoar,eu sei que você não fez por mal . Só não se meta mais nisso. O caso da minha mãe está morto e enterrado,assim como ela. - Sua voz quebrou nas últimas palavras.

-Fico feliz que não esteja com raiva de mim, mas Beckett, eu não consigo entender porque me escondeu uma coisa que você sabia que era importante pra mim, eu sinto muito. - Ele apontou para a porta do escritório.

-Certo. - Ela acenou com a cabeça limpando algumas lágrimas e saiu do escritório em seguida deixando o apartamento.

Como Castle disse, duas mentiras grandes demais não podem ser perdoadas.