O pequeno tordo Rue escrita por Isabela Furiato


Capítulo 6
Capítulo 6 - Não existe sorte


Notas iniciais do capítulo

Vou ferrar com meus e seus sentimentos aqui. Rue vai para os Jogos.



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A luz do sol vinda da Capital lambeu meu rosto e senti um pavor imenso crescendo dentro de mim. Corri para a sala de jantar, onde todos já estavam comendo e comecei a encher a barriga, olhando Thresh tenso. Ele também me olhou. Me olhou com dor nos olhos e dor num ponto fundo da sua alma. Nunca mais nos falaríamos. Começamos a conversar por olhares.

Coragem.

Eu tenho. E você?

Todos temos mas precisamos achá-la.

Eu te adoro.

Você é meu melhor amigo.

Terminamos o café da manhã. Me colocaram uma roupa daquelas pessoas que se aventuram em florestas. Haviam muitas dessas roupas no Distrito 12. Mamãe me contava histórias. Calçaram em mim uma bota preta sob medida, uma calça de cor verde oliva e uma camiseta marrom-castanho.

Dwub apertou um dos meus ombros e suspirou. Estava na hora. Olhei uma última vez para Thresh. Ele não virou o rosto para me encarar. Dwub e eu caminhamos até o elevador do prédio e fomos subindo e subindo até chegarmos na cobertura, onde tinha um aerodeslizador cinza escuro imenso. Ele estava me esperando.

Dwub se virou para mim com uma expressão no rosto de desespero e disse:

– Rue, não saia do seu prato de ferro antes da largada senão você será explodida. A Cornucópia vai ficar bem à sua frente com tudo que você vai precisar para sobreviver. Mas tome cuidado: é lá onde acontece o banho de sangue, onde você morre em menos de 5 minutos. Meu conselho é que não vá para lá. Ache água. E fique viva.

Eu entrei em pânico! O que eu iria fazer? Eu não ia conseguir!

– Eu vou morrer, Dwub! - gritei rouca. - Eu não vou conseguir fugir!

O mentor me segurou pelos braços e me olhou intensamente com os olhos cor de mel, uma cor rara no Distrito 11. Eu o olhei de volta, retida e começando a ter tremedeiras. Ele fechou os olhos com força e me puxou para si, apertando as minhas costas num abraço confortável.

– Você vai vencer. Eu sei. Jogue o jogo e salvarei você. Agora vá.

Fui largada bruscamente pelo meu mentor e fui puxada por dois braços fortes até o aerodeslizador. Os Pacificadores não me olhavam, não se olhavam e tinham em mãos armas poderosas. Subi na escada de ferro do aerodeslizador e ia subir até a cabine, mas fui congelada. A escada foi me puxando para cima e pude entrar em segurança no automóvel. Sentei-me no banco duro e metálico. Era frio como o meu destino.

Começamos a deslizar pelo céu azul, com algumas nuvens rasgadas passeando. Dois Pacificadores estavam lado a lado ao meu lado esquerdo, encostados numa parede. Atrás da parede haviam os pilotos do aerodeslizador. Não demorariam nem 10 minutos para chegarmos até a arena.

Com um tranco, o automóvel parou e o senti descer. Me levantei e andei até a escada, fui congelada, desci em segurança até um departamento, fui guiada até uma sala com um sofá de couro branco e um estilista. O meu estilista. Lis.

Ele correu até mim e me abraçou fortemente. Eu retribuí o gesto, porque, mesmo sendo da Capital, um sem cérebro ou estimulado pelo Snow, eu gostava de Lis. Ele não era ruim, não era malvado. Ele gostava de seus tributos. E odiava vê-los morrer.

Lis me mostrou uma jaqueta comprida e preta, térmica. Se ajustava ao meu tamanho. Ouvi a contagem de segundos para entrar no tubo de plástico. Entrei em desespero e olhei para Lis, me agarrando a ele.

– Rue, querida pequenina! Fique calma! Eu sei que não é fácil, mas...

– 7,6,5,4... - uma voz eletrônica anunciava o fim de meu tempo. Me enfiei no tubo e ele deslizou para cima, me trancando.

Lis se aproximou e disse algo, mas eu não consegui ouvir. Fui sendo erguida para cima e continuei a olhá-lo, fazendo leitura labial. Ele disse-me "boa sorte".

Era um túnel. Preto, vazio, sem sons. Eu sentia a pressão me levando para o alto. Senti a terra sendo atravessada. Eu estava dentro dela. Fachos de luz começaram a iluminar a terra e meu rosto. Fim da viagem.

Meus olhos se acostumaram com a luz, visualizando uma onda verde ao fundo, um céu azul claro, um borro preto à minha frente. Eu queria fugir, mas estava ciente que seria morta. As formas se fundiram com a luz, dando origem a um imenso chifre da Cornucópia e um mar de árvores ao fundo. A arena era uma floresta. Um labirinto que provavelmente teria diversos tipos de perigos.

Olhei em volta. Tributos com os corações aos pulos. Cato estava a mais ou menos 4 tributos do meu lado esquerdo. Ele sorria com satisfação. Eu estava num ponto estratégico bem longe dos suprimentos. Sou veloz. Sou pequena. Posso correr bem rápido antes dos outros me alcançarem.

60 segundos. 43. 31. 28.

Meu tempo estava passando. Eu ia pegar alguma coisa. Foquei minha atenção numa grande bolsa preta no final da boca da Cornucópia, próxima à entrada da floresta. Bingo. 12 segundos. 10. 9. 8. 4. 3. 2. 1. Soa o gongo.

Disparo como um foguete sem controle até a minha bolsa, os outros estão para me alcançar. Sou alvo de uma garota do 4 mas ela é atacada antes de eu fugir floresta adentro com as minhas coisas. As coisas me manteriam vivas. Eu ouvi os gritos e os assovios de facas cortando corpos à medida que eu ia me afastando. Eu estava completamente assustada e surpresa por ter sido tão ágil! Pensei ter visto Katniss Everdeen ir para o outro lado da floresta. Bom saber que ela não foi morta.

Escalo a árvore mais alta que acho e me escondo entre as folhas verdes. Quando entro sutilmente entre elas, espanto um bando de tordos na cor castanho escuro para todos os lados. Eu rio. Eu amo tordos. Decidi analisar a minha bolsa.

Uma rede de pesca. (?) Duas garrafas cheias de água. Bandagens. Um elástico. Dois potes de bolacha e 5 tiras de chocolate amargo. Uma faca.

Com isso eu iria viver mais até o fim dos Jogos. Meu conhecimento em reconhecer alimentos e ferimentos vai ser útil. Escuto passos. Só agora percebo que não tenho armas. A faca não causaria nem cócegas. O garoto do 10 que riu do comentário do Thresh na entrevista aparece.

MEU DEUS, Thresh! Só consegui vê-lo fugir com uma faca gigante. Meu coração disparou de preocupação pelo meu melhor amigo.

O garoto do 10 parou embaixo da minha árvore. Ele se sentou e começou a ingerir água. Mas já? Nem deu 5 minutos de Jogos.

Mais passos. Desta vez mais fortes e rápidos. O garoto se levanta e corre para o norte e o observo. Uma menina com sangue nos olhos corre atrás dele com duas facas nas mãos. Ela o alcança, joga as facas com precisão e uma se crava em sua panturrilha. Ele a retira e continua correndo desenfreado para longe. A garota que é Clove, sorri e dá meia volta até a Cornucópia de novo.


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