O pequeno tordo Rue escrita por Isabela Furiato


Capítulo 4
Capítulo 4 - A consequência




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Fui me encaminhando para aquela porta imensa que se abria sozinha. Então eu passei por lá e vi que estava dentro de uma sala grande, metálica, com instrumentos utilizados por outros tributos em um canto. Passei os olhos pelas paredes até achar um camarote com um vidro de proteção onde estavam os Idealizadores. Grandes imbecis que só pensam em comer e morte. Minha morte.

Vejo na minha frente tudo que preciso. Escadas íngremes que chegam até o teto, caixas de metal, uma maior que a outra, formando uma espécie de escadinha com vácuos generosos entre elas. Redes de escalação e refletores de lasers no chão e nas paredes. Eu ia começar mas hesitei.

– Pode começar, Distrito 11. - disse Seneca Crane, apreciando sua barba num espelhinho.

Eu o olhei com raiva.

Coloquei minhas mãos primeiro na escada. E avancei. Sou veloz. Subi rapidamente até o teto, me segurei nas cordas de tecido coladas a ele, e fui indo para a frente desviando-me dos lasers ardidos que começavam a surgir. Um veio bem na direção do meu rosto e soltei das cordas, parando suavemente numa das caixas grandes de metal no chão. Três dos lasers começaram a me seguir velozmente enquanto eu corria caixa abaixo. Me joguei no chão e eles acertaram a parede. Logo depois rodopiei meu corpo e corri sobre as caixas, agora para cima, pulei na escada desviando-me de mais luzes vermelhas. Árvores instaladas dos dois lados daquele centro me chamavam a atenção. Subi mais na escada, passei entre os ferros, dei impulso nos meus pés e voei para o teto; me jogando logo após em cima da árvore. Eu estava em pé e de braços levemente abertos, ofegante. Saltei daquelas folhagens para o chão. Olhei para os Idealizadores.

Alguns mastigavam carnes e saladas, outros dois anotavam meu desempenho. Seneca levemente acenou a cabeça em aprovação, mas não acreditei muito naqueles olhos. Ele não me daria muita esperança. Quando fui dispensada e passei pela porta, vi por alguns segundos, Avoxes trajados retirando meus equipamentos da sala para Thresh mostar suas habilidades.

Ele passou por mim para entrar na sala.

– O que eles disseram? - perguntou.

– Tudo que ouvi foi a mastigação deles. - eu disse olhando o chão. Minha voz tremia com a raiva acesa dentro de mim.

Thresh, meu grande amigo, encostou a testa na minha e se foi.

Olhei-o caminhar até aquele lugar. Meus olhos agora pareciam se inchar e lágrimas azedas brotavam levemente. Vi, no banco comprido onde os tributos esperavam a chamada, Katniss esfregando as mãos, aflita.

Eu acho que gostava dela. Cabelos escuros em uma trança, olhos cinzentos e pele levemente morena. Ela me lembrava os tordos nas pequenas florestas do 11. Delicados e suaves, voando pelos céus. Livres.

Virei-me de costas a ela e fui embora.

Acho que estava dormindo... Aquele almoço estava tão gostoso. Peito e coxas de frango assado, com molho de carne, cozido de carneiro, couve flor no molho de tomate, brócolis misturado no arroz com uvas passas cozidas. Um suco perfeito feito das laranjas do 11. E a sobremesa foi a melhor coisa do mundo! Chantilly feito com o melhor creme de leite, retirado do leite fresco das vacas do 10. Torta fundida no bolo de morango e chocolate, avelãs que derretiam na boca e um pote de cerejas e morangos lavados e saborosos. Lembrei-me de tudo. Estava muito bom, mesmo. Então, eu...

Eu acordei. Estava sonolenta e ansiosa. Daqui a dois dias. Respire e inspire.

– Acordou na hora certa, querida. - disse Milla a mim. Ela agora estava muito engraçada.

Usava roupas bufantes e maquiagem nos olhos, que se transformavam em pequenos trigos. Sua boca estava desenhada como um morango vermelho, pontilhado cuidadosamente com a mais precisa tinta labial preta.

– Está na hora de anunciar as notas dos tributos. Thresh! Venha cá!

– Muito bem, crianças! - Dwub sentou-se no sofá esfregando as mãos. - Vamos ver se vocês sobreviverão na arena.

– Isso não vai decidir se vamos morrer ou viver. Números não decidem minha vida, Dwub. - eu disse.

Ele me olhou e riu.

– Rue, minha querida, esses números são sua vida. Sem eles acima de 6, diga adeus aos seus patrocinadores! - Dwub voltou a se jogar no sofá.

Agora sim eu comecei a tremer e ter meus batimentos cardíacos acelerados. Olhei Thresh que concordava com a afirmação dolorosamente.

– Não seja idiota, Dwub. - ouço uma voz aguda atrás de mim. - Rue é uma competidora forte e vai vencer. Não assuste ela.

Era uma mulher de pele muito escura, cabelos ondulados e negros até a cintura. Ela usava uma saia cheia de adornos, enfeites coloridos. Suas tatuagens variavam pelo seu corpo nas cores fosforescentes. Eu a olhei timidamente. Ela piscou um olho para mim.

Não pude evitar que um sorriso mínimo aparecesse. Acho que ela era da equipe de preparação da parte de Thresh. A vi pela primeira vez. Um barulho chamou minha atenção. Ah, o hino da Capital... Sua insígnia... E Caesar Flickerman.

O apresentador mais famoso dos Jogos agora introduzia as aberturas das notas dos tributos, depois de três dias de avaliações cuidadosas. A maioria dos Carreiristas obtinham nota entre 8 e 10. A média dos outros tributos era de 5.

– Distrito 9, nota 6 e 4! Distrito 10, nota 9 e 8! Distrito 11...

Agora eu senti a facada sólida das minhas emoções atuando.

Thresh! Nota 8!

– Oh, meu Deus, Thresh! - exclamei. - Parabéns.

Rue! Nota 7!

Meu coração rodopiou dentro do meu peito. Fui elogiada com parabenizações e uma generosa caixa de doces que Milla me entregou. Pude dar ao menos alguns sorrisos naquele momento até visualizar o rosto de Thresh. Ambos sabíamos que isso era só temporário e que coisas ruins estão por vir.

Tentei deixar esse pensamente longe e substituí-lo por vencer. Olhei a televisão para ver as notas do 12. Peeta ficou com 8 e Katniss com... 11! Ninguém mais prestava atenção na TV além de mim. Comemorei internamente. A tela se apagou e fui obrigada a olhar os prédios da Capital da enorme janela. O céu estava muito bonito, com o sol beijando todas as partes dos montes lá no horizonte... As nuvens muitos gordas e fofas vagavam pelo céu bem azul... Me ajeitei no sofá confortável.

Thresh sentou-se comigo e nós dois ficamos olhando aquela paisagem da Capital.


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