Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 13
Vassouras são ótimas armas para ser usadas contra torturadores


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim, já que eu não estou nada bem... Mas, agora, não vou pegar o tempo de vocês, vamos falar o que realmente importa (LEIAM AS NOTAS OKAY MEOWLITOS?)
Enfim, vou numerar aqui tudo o que quero falar:

1-) Sei que vocês estão cansados dessa velha desculpa, mas sinto muito por ter demorado tento para escrever. Esse é outro capitulo enorme e difícil, então tive que me empenhar bastante nele, para passar todos os sentimentos da Ronnie e tal.

2-) Adivinha quem recebeu recomendação? Adivinha quem recebeu sua primeira recomendação? SIM, A JORNADA DE OURO RECEBEU RECOMENDAÇÃO. Meu Deus, vocês não sabem o quanto eu fiquei feliz por ter ganhado, li ela umas 100 vezes (sem exagero) toda vez que ia escrever e isso acabava me motivando. SÉRIO, muito obrigado, tipo muito obrigada mesmo Amante Imortal, não duvide nada de uma hora dessas eu imprimo sua recomendação e faço um poster para colocar na minha parede. FOI PERFEITA, VOCÊ É PERFEITA !

3-) (agora pode voltar a respirar Giovanna, volte a respirar e se acalme...) Outra pessoa a quem que quero agradecer é a nossa mais nova Beta, uma salva de palmas para Julieta (ou Julia), escritora de I Wanna Be Yours (super recomendo, tipo, é o tipo de fic que tenho vontade de tatuar na testa junto com a da A.Imortal ehuehue)

4-) Titulo provisório até pensar em outro melhor.

5-) Sem mais agradecimentos, vamos ao capitulo, aconselho vocês para preparar o estomago, os lencinhos de papéis (pelo menso eu acho). Esse foi o capitulo mais hard (pesado) que escrevi (provavelmente, será o único de JdO), mas ele é necessário, Ronnie tem que sofrer muito para finalmente explicar a mudança do temperamento e o nível de sanidade dela... SHIU, SEM SPOILERS. u.u
Então, até as notas finais.



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Ronnie

Já tinha perdido a conta de quantas vezes havia acordado e dormido. Não fazia ideia se era dia ou noite, em que mês estávamos ou o que estava acontecendo lá fora. Fazia tempo que estava naquela situação deplorável e acabei perdendo a esperança de sair dela.

Estava em uma espécie de caixa revestida com um tipo de metal desconhecido capaz de impedir que meus poderes alcançassem o lado de fora. Devia ter no máximo 1,20 de altura e 1,50 de largura, e eu só podia ficar sentada ou deitada, não havia outra opção. Apenas um punhado de palha suja era o mais próximo de macio que conseguia, e estava me sentido uma prisioneira da Idade Média.

A camisa de força estava apertada demais, e meu braço direito doía tanto que respirar se tornava algo difícil. Estava suja, desidratada e com fome. Uma vez ou outra eu ouvia a pequena portinha ser aberta e um pedaço de pão seco ou se tivesse sorte um copinho de água era empurrado para dentro. A cada dois dias (pelo menos, era o que presumia ser), a caixa era aberta e eles me puxavam para fora, sem forças para resistir, já quase não era mais necessário me entupir de sedativos. Pelo contrário, eles gostavam de me ver bem acordada para passar pelo pior.

Pessoas com armas de choque dentro do bolso apareciam de tempos em tempos e me arrastavam para fora. Muitas vezes agradecia mentalmente quando eles me levavam para uma espécie de laboratório onde me testavam, arrancavam pedaços de pele, me enchiam de fios e mandavam fazer coisas que mostrassem o limite dos meus poderes, como por exemplo, tentar forjar uma espada com uma placa de ferro. Esse fora o único momento que consegui me sentir melhor, sem a camisa de força, apenas com correntes prendendo meus pés e braços. Pelo menos dava para me mexer um pouco.

Uma das torturas “menos maldosas e muito mais frustrantes” era a do som que dava gastura. Eles colocavam caixas de som em algum lugar para me deixava doida e nervosa.

Mas nem sempre isso acontecia. Às vezes me empurravam para uma sala afastada, sem nenhum foco de luz e com uma única cadeira presa ao chão. Quando sentava ali, passavam várias correias, fechavam cadeados e ligavam os projetores antes dos jalecos brancos saírem. Essa era a parte em que era consumida pelo terror.

As projeções eram em tamanho real e ocupavam todo o espaço. Sempre eram cenas perturbadoras o suficiente para deixar um serial killer com vontade de chorar como um bebê e correr para os braços da mamãe. Por mais que me debatesse, era impossível sair. Não havia qualquer mecanismo na sala que pudesse manipular e bem, e tudo aquilo deixava meus sentidos diluídos. Era obrigada a aguentar firme. Me davam remédios que impediam de fechar os olhos por muito tempo. Teria que assisti-las de qualquer forma.

A cada dia que se passava, mais agoniantes elas eram: pessoas ainda vivas tendo suas peles arrancadas por mãos que me faziam acreditar que eu era a próxima vitima; cenas de violência extrema e abusos; torturas medievais; auto canibalismo e experiências cientificas antigas como corpos humanos costurados uns aos outros.

Chegava a um ponto em que eu não sabia o que fazer, sentia medo de viver e fazia de tudo para tentar cair da cadeira e bater a cabeça, querendo por fim nisso tudo. Contudo, é claro que eles não deixariam isso acontecer, e lá estava eu de volta à caixa, tão perturbada que começava a me arranhar, descabelar e ter ataques epilépticos. E então passaram a me prender com a camisa de força, na tentativa de impedir meus ataques junto com sedativos e calmantes ainda mais pesados.

Uma vez, por um erro da parte deles ao tentar aplicar mais uma dose, o braço de um deles acabou chegando próximo demais da minha boca e o mordi num momento de descontrole, com tanta força que senti gosto de sangue na minha boca. Resultado: acabei com uma mordaça que me deixava com muitas feridas na boca e uma agulha quebrada alojada próxima ao quadril (que só foi tirada depois de um tempo).

Estava tão debilitada mentalmente quanto fisicamente. Mesmo estando dentro da forma de metal, pensei estar em meio a uma tempestade com os pés afundados em uma poça de água. E então um raio me atingia com força, e eu podia sentir o cheiro de pele queimada subir e meu corpo ser dilacerado. Mais remédios e eu ficava calma, talvez um pouco mais lúcida, só que não sabia se isso era bom.

Assim que conseguia manter meus pensamentos estáveis, começava a relembrar da minha vida antes de entrar na Jornada de Ouro e bem, não era nada muito bonita: assim que minha mãe sumiu, passei minha breve infância sobre os cuidados de um casal de idosos que morava na casa vizinha (diferente do que havia contado antes, de que havia me criado sozinha, quer dizer, não totalmente), eles nós conheciam e fizeram questão de cuidar de mim, em um bairro quase rural aos arredores de Nova York (quando digo arredores, é no sentido de suficiente longe para ser desconhecido por todos, Violet Village era exatamente assim). Sr. e Sr.ª Hill eram amáveis, tinham muitos filhos e mesmo assim ainda havia um espaço para mim em sua família. Foram meus anos mais felizes. Eu brincava com seus netos como se fosse do mesmo sangue, e apesar disso, no fundo me sentia um tanto deslocada, como se não pertencesse a eles. Mas me esforçava para ignorar essa sensação.

Porém, tudo isso mudou aos meus 10 anos graças a Dean, um dos netos mais velhos do casal: tinha acabado de voltar de um intercâmbio em Roma, era bonito o suficiente para iludir uma pirralha como eu, que tentava desesperadamente tentar preencher o buraco deixado pela ausência da mãe, imaginando que logo se tornariam melhores amigos e criara mais de um milhão de expectativas com uma olhada. Infelizmente o destino era mais sádico do que parecia: o mauricinho egoísta ficou suficientemente zangado ao perceber que uma parte do amor dado pelos avós estava sendo dividido com uma total estranha, e graças a sua lábia conseguiu motivar quase toda a família contra mim, restando apenas seus avós. Porém eles não poderiam ficar contra seus parentes. Eu era a intrusa ali, sempre fora, e só naquela péssima hora tinha visto o que estava jogado na minha cara. Aprendi que trabalhava melhor sozinha. Fugi de volta para a minha velha casa, bonita com seu estilo vitoriano por fora e terrivelmente bagunçada por dentro. Já tinha 10 anos, a vida tinha me feito amadurecer antes do tempo, podia muito bem me virar sozinha. Havia dinheiro o suficiente em uma conta reserva para que eu pudesse usar livremente e Sr. e Sr.ª Hills passariam a me observar de longe. Prometi nunca mais me apegar às pessoas, nem me aproximar demais delas. No colégio, conseguia facilmente passar despercebida. Não me apegaria a ninguém para logo depois ser apunhalada pelas costas. Estava tão segura de mim que quando alguém me empurrou do pedestal, não pude evitar me machucar. Devia evitar que isso acontecesse de novo e foi o que fiz. Ou pelo menos tentei.

Tinha abrido uma exceção para Valentine pelo único motivo de que se iríamos morrer juntas, era melhor que morressemos como amigas do que completas estranhas (mesmo sabendo muito pouco da antiga vida dela). Além do mais, não queria ser conhecida como uma grande antissocial para sempre. Greg também era outro, afinal, ele não parecia ser do tipo que me apunhalaria pelas costas, e pelo jeito que me idolatrava como se fosse alguma cantora famosa, na minha concepção isso já era digno o suficiente de uma amizade. Além do mais, não há graça em morrer sem que haja alguém para ficar triste e se lembrar de você. Não devemos esquecer as pessoas, principalmente as que fizeram — ou tentaram — fazer grandes coisas. Na verdade, não queria passar o tempo inteiro sozinha e isolada, só não queria me magoar depois.

E, por fim, tinha aqueles que eu considerava perfeitos para ganhar o título de “esse com certeza pode criar um problema”. Dentre os que eu havia conhecido recentemente, no topo da lista está Thomas Lewis; o bruxinho filho de Hecate com cachinhos dourados e feições angelicais não enganava ninguém. Seu triplo temperamento significava o mesmo que “ele é o tipo de coleguinha que você tem que ter muito cuidado na hora de andar no recreio, quem sabe ele não vá mudar de humor e durante um surto desses irá te empurrar da escada porque não dividiu seu lanche?”. E para fechar o topo da lista, estava Nico e sua pose de superior. O nariz empinado e o ar de quem já viveu muita coisa só apontavam o quão pior ele podia ser. Se eu já não estivesse comprometida a fazer algo, daria minha vida para descobrir que tipo de coisas o Rei Fantasma escondia de todos, como o que tinha além naquele caderno de desenho. Alex tinha sido apenas parte do começo, e por mais que tentasse não conseguiria perdoar tão facilmente, não sem devolver o troco. Infelizmente, meu tempo estava curto demais, senão ensinaria a -A como não parecer uma criança brincando de ser má com um celular. Seria uma boa menina e colocaria em pratica as coisas que mamãe havia me ensinado.

Ouvi o barulho de trancas sendo destravadas e passos ecoando pelas paredes blindadas. Fechei os olhos por causa da claridade que vinha depois de a caixa ser aberta. Meia dúzia de mãos me puxaram para fora enquanto mais algumas me erguiam pelas correntes.

— Seja uma boa garotinha. Essa é a sua ultima chance, conte-nos o que sabe — aquela mesma velha que tinha me feito desmaiar nas escadas do Cassino Lótus estava na porta. Seu cabelo branco e curto estava sem nenhum fio saindo do penteado. Os olhos azuis escuros não eram nem um pouco calorosos e a boca em ângulo reto também não ajudava a parecer bonita e gentil, apenas bonita para a idade e friamente má. Depois de dizer isso, atravessou a porta e saiu rumo ao corredor.

— É bom você estar acordada, será melhor você sentir tudo. Assim irá aprender que não deve esconder coisas da gente — cara estranho cujo sobrenome W. Velvet era bordado no jaleco disse, abrindo meus olhos a força com as mãos e mantendo o sorriso perverso no rosto enquanto jogava a luz da lanterna contra eles. — Eu discordo do que a Dra. Howard pensa. Devíamos torturá-la um pouco mais, apenas para mostrar para seus deuses patéticos o que faremos com o resto da sua raça mestiça imunda — desligando o objeto, sinalizou para os outros. — Levem-na para a sala C3. Agora.

— Mas senhor, por que não pode ser a E5? — perguntou um jovem magricelo, de feições desfiguradas e óculos que deslizavam no nariz gigante, que carregava umaprancheta nas mãos. Era o único que não me segurava. Com sua magreza e um único suspiro meu, era possível R. Michel voar e atravessar uma parede.

— Larga de ser medroso, Richard. Se essa coisinha aqui não falar, será a última vez dela. Só uma sala como a C3 para deixá-la realmente pronta para o que está por vir — Bessie, uma gorducha de cabelos armados cor de trigo apertou ainda mais meus ombros. Era a única que cujo nome eu sabia, já que não havia nenhum sobrenome bordado na roupa.

— Não faz diferença, e eu não estou nem aí. Já estou toda fodida mesmo, e se é a minha última vez, estou pouco me importando. Se isso aqui acabar logo, será uma alivio — o tempo em que eu fiquei presa não me ensinou direito a ficar de boca calada. Velvet lascou-me um tapa, fazendo meu rosto virar de lado e me nariz sangrar logo depois.

— Cala a boca.

— Agora sabe por que temos que levá-la para lá? — Bessie cuspiu. — Ainda não sei o motivo de não termos cortado sua língua.

— Tanto faz. Agora vamos seus molengas, a não ser que queiram fazer companhia para ela... — Velvet foi interrompido por outro alguém na porta. Dessa vez um rapaz alto que carregava uma espécie de tablet entre os dedos.

— Desculpe, mas preciso ver como ela está — anunciou, me analisando da cabeça aos pés por muito tempo. Tempo demais. — Ordens da Dra. Howard.

Os outros apenas olhavam enquanto ele alternava seu olhar entre mim e a tela touch, dando voltas.

— O chip ainda está funcionando corretamente. 1,70 de altura. 78 quilos muito bem distribuídos. Musculatura perfeita, descendência inglesa, espanhola e afro-americana. Pressão arterial está boa. Batimentos cardíacos perfeitos. Bem desidratada. O que ela tem nas mãos? É alguma alergia?

— Ninguém sabe. Ela já chegou assim. Essas coisas estavam escondidas debaixo das luvas — Richard disse.

— Era melhor não ter tirado a luvas — concluiu, fazendo cara de nojo. Aquilo era uma ofensa?

— Era melhor vocês passarem a usar luvas. A pele de vocês é suja e foi nojento ter que enfiar meus dentes nela — comecei a rir.

— Quantas vezes tenho que te mandar ficar calada? — Velvet rosnou.

— Só porque não foi você quem teve que tomar uma vacina por causa daquela mordida — Richard suspendeu a manga, mostrando uma marca ainda roxa.

— Espere, realmente acham que vão me fazer falar? Vocês já não tentaram isso várias vezes e fracassaram? — a intensão não era testá-los, estava apenas tentando encontrar uma forma de me sentir melhor, me fazer mais forte.

— Escute aqui, sua peste, você não faz ideia do que somos capazes. Tudo isso que passou nas ultimas semanas nunca foi tão real e tão forte quando o que acontecerá hoje.

— Estou realmente ansiosa por isso — comentei antes de eles cobrirem minha cabeça com algo.

Deveria parar de subestimar as pessoas, principalmente quando elas trabalham para a O.R.D.E.M. Queria poder ter engolido minha língua depois de dizer aquela frase.

(...)

Quando o tecido da viseira foi retirado, minha primeira visão foi que um grande e longo vidro que me separava de 3 pessoas. Por não estar muito acostumada com a claridade, tive que apertar os olhos para enxergá-las direito. E foi aí que levei um susto.

Uma delas mal chagava a altura da cintura da Dra. Howard que estava ao seu lado. A franja que caía sobre o rosto parecia não ser cortada nem penteada há anos. Lágrimas escorriam pela pele achocolatada e só não tremia mais porque estava presa a uma espécie de cama inclinada virada de frente para mim.

— Ela lhe é familiar? Olhe bem, Veronica... Você se reconheceu? — Dra. Howard disse. Dei um pulo ao perceber que também estava atada a uma cadeira. Algo gelado roçava no meu colo e o frio ultrapassava o tecido grosso da camisa de força. — Não se mecha.

Estava sentada dentro de uma espécie de box que lembrava os de banheiros. Três paredes cheias de pregos longos e realmente pontiagudos estavam posicionadas em lugares estratégicos a milímetros de mim, de tal forma que se acabasse respirando forte demais seria espetada de muitas formas.

Um sibilo chegou até meus ouvidos. Nunca tive medo de répteis ou coisas que faria 90% das garotas pular em cima da cama e gritar por alguém, menos daquela vez. Um ser longo, de língua bifurcada e escamas em vermelho vivo se rastejava ali, bem nas minhas coxas.

— Espero que tenha prestado atenção nas aulas de biologia: quanto mais intensa a cor for, mais peçonhenta a cobra é. Diga olá à Mortal. Ela é muito especial — a velha soltou uma risadinha irritante. — Foi geneticamente modificada, aqui mesmo. Mata em questão de minutos, mas o melhor, ou pior, é a mordida. Ela faz a pior dor do mundo parecer apenas uma dorzinha de cabeça. Gostamos de usá-la em casos especiais como o seu. Mortal não gosta de qualquer movimentação. Isso a deixa irada, e vejamos... O que uma cobra faz quando se sente irritada?

Retornei a minha atenção para a menininha. Não sabia o que eles tinham feito para transformá-la na minha versão mais nova, mas provavelmente não tinha sido de uma forma indolor. Isso era extremamente estranho, bizarro e o que diabos eles iriam fazer com ela?

— O que vão fazer? — perguntei, tentando me manter calma, tentando ficar parada.

Não se mecha. Seja imóvel como uma pedra.

— Apenas diga tudo o que sabe: conte-me sobre seus deuses, seus mitos, sobre todas essas coisas... — a Jornada de Ouro não tinha sido mencionada. — Ou se não... Velvet fará uma pequena demonstração.

Ele obedeceu e pegou alguma coisa de uma mesa de instrumentos, um borrifador de flores com tampa cor-de-rosa, mas duvidava que seu uso fosse inofensivo.

A pequena Ronnie se contorceu na cama quando Velvet borrifou algo no braço dela, era forte o suficiente para começar a corroê-lo. Um som horrível e agoniante saiu de sua boca. Tinham feito algo com sua voz, mas mesmo assim ainda estridente e me fez ter uma sequência de arrepios irritados. Queria poder fechar os olhos por mais tempo, mas graças aos remédios, só conseguia apenas piscar brevemente.

— Okay, já chega — continuou a líder, destampando os ouvidos. — Colabore e vocês vão sofrer menos. Onde fica o acampamento?

Aquilo era irônico. Se a O.R.D.E.M era tão poderosa assim como Velvet dissera, eles já não deveriam ter descoberto algo simples como isso?

— Eu não sei — respondi, mordendo a língua. Era verdade, eu não sabia onde ficava. Eu tinha escolhido sacrificar minha vida para salvar esse lugar e nem sabia onde ficava.

— Você esta mentindo. Todos vocês sabem, é algo natural — Howard ralhou. Realmente eles não conheciam a jornada.

— EU NÃO SEI! JÁ DISSE! SOU NOVA E... PASSEI TODA MINHA VIDA NAQUELE CASSINO IDIOTA — gaguejei a ultima parte, denunciando minha meia mentira. Aquilo me deixava frustrada.

— Mentirosa. Mentirosa. Mentirosa. Vou te ensinar a não mentir — e estalou os dedos

O doutor louco pegou uma das mãos da “eu pequena” e a apertou, torcendo sem um mínimo de compaixão. Mesmo com o vidro, era possível ouvir o barulho de ossos se quebrando. Isso doía em mim, a cena era horrível. Parecia que realmente era minha mão sendo triturada e eu precisava ficar tão imóvel quanto uma pedra.

Tinha que parar de pensar que aquela era eu, mas também não podia esquecer que era uma pessoa de verdade que estava sendo torturada por minha culpa. Tive vontade de gritar alto o suficiente para quebrar tudo. Não tinha escolha: também não podia contar e trair os outros. Oh deuses, tudo tinha que ser assim tão complicado?

De uma total desconhecida a uma heroína idolatrada, e agora precisava me tornar uma traidora para não ter um assassinato nas costas. Minha missão tinha tantos altos-e-baixos que devia se passar em cima de uma montanha russa.

— Vai continuar mentindo?

Eu não respondi. Provavelmente, se outro alguém estivesse em meu lugar estaria desabando em lágrimas, mas minhas pupilas estavam secas e o máximo que tinha vontade era de vomitar sem ter o que colocar para fora. Isso só me deixava pior.

— Como são seus poderes? Quais são seus limites? — qual seria o sentido dessa pergunta? Era de interesse para o “plano de extermínio diabólico” deles ou apenas para se prevenir caso eu quisesse fugir?

— Qual o interesse? — tinha vontade de gritar, de estrangular o réptil nojento que se pendurava no meu pescoço. Queria que meus poderes fossem além das máquinas. Gostaria de poder fazer todos eles serem triturados apenas com um pensamento enquanto eram perfurados pelos mesmos pregos que me cercavam.

— Apenas responda.

— Nunca testei.

— Nosso jogo é um simples “verdadeiro ou falso”. Você me diz o que quero saber, tudo fica bem. Quando não diz, “você” sofre enquanto você mesma assiste isso sem poder fazer nada — “tudo fica bem"? Sua percepção de tudo estando péssimo para mim era tão ruim assim ou precisava trocar aqueles óculos? — Mas tanto faz. Próxima: Mestre ordena que aumentemos o número de prisioneiros assim que isso chegar ao fim. Existem mais outros espalhados por aí? Vulneráveis como ratos, assim como vocês estavam? Responda logo.

Velvet puxou o cabelo da pequena Ronnie e encontrar seu olhar desesperado me despedaçou por completo. Sentia meu braço arder com os possíveis respingos de ácido sulfúrico, não conseguia mexer minha mão direita, mas também não podia ter certeza se esta ainda estava inteira lá.

Não podia responder, seria entregar todo o pessoal do Acampamento de Trailers. Tudo bem que eles queriam me executar no começo, mas era apenas um mal entendido. Logo depois acabaram me acolhendo e quase me transformaram em um deles. Não podia. Não mesmo.

— Vou contar até 3 — cantarolou Dra. Howard, e o médico louco puxou ainda mais. Meus ouvidos doíam com os sons da garota gritando.

Estava em uma encruzilhada. Se atravessasse a rua, seria atropelada, se ficasse parada, seria pega, como o que eu estava vivenciando.

— Um.

O som de sua voz calma fazia o tempo rodar mais devagar. Mais berros, mais dores, a cobra continuava a se rastejar lentamente, respirava cansadamente e os pregos pontiagudos estavam gelados próximos à minha pele.

— Se você fechar os olhos, vou mandá-lo puxar mais. Dois.

Mais devagar o tempo passava, mais barulhento tudo ficava. Mesmo depois de ter passado por tantas coisas, nada nunca havia sido pior que isso. Estava começando a ficar sem ar e sem fala, minha garganta estava começando a fechar e não conseguiria segurar todos os espasmos contidos pelas correntes. Suava muito e tinha a sensação que não demoraria muito para explodir de tanta angústia.

— Três. Não vai contar, florzinha? Então tudo bem. Velvet é muito forte — Dra. Howard continuou a cantarolar. Ele tirou uma faca da mesa e colocou a ponta sobre o peito dela.

Pele rasgando, sibilos reptilianos e um som quase animal da “pequena eu” sendo perfurada. Tudo ficou embaçado e acredito que entrei em colapso. Tinha perdido os sentidos, mas estava acordada, me sentindo enjoada e gelada. Talvez como um computador sobrecarregado.

Como se estivesse morta, mas continuava viva. Quer dizer, a “outra eu que não era eu, ou era” estava morta. Por minha causa. Queria estar do mesmo jeito.

Me debati violentamente. Agora estava sobre alguma superfície dura, até que de repente mãos fortes seguram meus ombros e me levantam. Fico sentada até minha visão ir se restaurando aos poucos.

— Respire. Apenas respire — disse aquele mesmo cara que estava me analisando com um tablet. Dessa vez a era sala menorzinha, sem nada com blindagem especial, exceto pela porta.

— Por que me trouxe aqui? — indaguei, quase engasgando. O terremoto nos meus nervos permanecia, as cenas que acabava de presenciar passavam simultaneamente na minha mente. Tentei retomar o controle do meu sistema, mesmo sendo complexo demais.

— Ordem de abate. Você não respondeu às perguntas, então se tornou dispensável. Dra. Howard não gosta que mantemos pessoas aqui por tempo demais sem que elas ofereçam nada. Você surtou, sua pressão arterial foi à altura do solo e teve algo que a ciência não consegue explicar: simplesmente apagou acordada — respondeu calmamente enquanto agitava um recipiente de remédio.

— Vão me matar? Que ótimo, a melhor coisa que fizeram até agora — mordi a língua para dizer isso coerentemente. “Controle-se”, pensei. “Não recorde do que viu”.

— Uma pena, você é tão bonita — largou o frasco de lado e se aproximou. — Queria que a outra estivesse aqui conosco, seria mais divertido, porém ela está muito machucada. Fechei toda a sessão, assim ninguém pode nos incomodar por um tempo.

Embora estivesse grogue, notei que sua mão ia percorrendo toda a extensão da minha perna até a coxa, e subiu até começar a erguer a barra da camisa de força.

Quando seus lábios encostaram nos meus, foi o mesmo de ter jogando um balde cheio de água fria e gelo sobre mim.

Que diabos ele iria fazer? Toda minha parte emotiva tinha sido desligada e a racional posta para trabalhar a toda potência. Isso não estava acontecendo, não naquele momento.

Meu medo e confusão foram substituídos pela fúria. Jurava que estava tão furiosa que era possível estar escorrendo magma viva vulcânica das rachaduras dos meus arranhões. Se aproveitar de alguém era desumano, e se aproveitar enquanto essa pessoa estava incrivelmente mal depois de ser brutalmente e psicologicamente torturada era demais.

Nunca tive tanta certeza em acreditar que, sim, pessoas conseguiam se tornar pior do que monstros.

— O QUE ESTA TENTANDO FAZER? — gaguejei enfurecida, tão alto que fiz o cara se afastar e quase tropeçar para trás com o susto, derrubando um monte de frascos colocados em uma mesa no carpete. A mistura química era altamente inflamável e não bastou um minuto para o fogo subir.

— Quando se entra para a O.R.D.E.M, você perde o direito a qualquer coisa que não envolva seu trabalho. Isso o obriga a tentar usar outras formas de escapar das regras — disse, tirando um revolver diferente de dentro do jaleco, pronto para atirar. Não havia certeza em sua voz, como se duvidasse do que estava fazendo.

Isso me deixou tão nervosa que abandonei a vontade de desistir de tudo e decididi o quanto devia lutar contra a O.R.D.E.M. Queria poder jogar ácido onde seus dedos imundos encostaram-se em minhas pernas.

— Vá em frente. Atire. Acabe logo com isso, aperte o gatilho — era uma arma de choque elétrico com voltagem o suficiente para eletrocutar três homens de uma vez. Não estava totalmente capacitada para usar meus poderes, porém tinha que dar uma forcinha, mesmo que terminasse com uma dor de cabeça monstruosa. Eu devia. Sentia que estava ali por culpa minha e ainda precisava ajudar Valentine. Ordenei mentalmente que seu mecanismo parasse de funcionar, porém não saberia se funcionária. — Aperte.

Suas mãos tremiam. Será um sinal de nervosismo? Isso poderia ser transformardo em uma vulnerabilidade. Quem sabe eles não fossem totalmente monstruosos e tivessem alguma fraqueza, afinal, eles continuavam a ser humanos. Se soubesse qual era, eu poderia derrubá-la... Ou parar de sonhar como uma idiota esperançosa demais.

O gatilho foi apertado diversas vezes e nenhuma faísca ousou cruzar o local. Ele deu um pulo para o lado quando um faz chamas do tapete se expandiu. Queria poder rir.

A porta tinha uma fechadura automática, e sem um isolamento de poderes, pude travá-la completamente; a chave não poderia abri-la. Como previa, o cara tentou fazer isso várias vezes, saindo ainda mais desesperado e sem ter sucesso em nenhuma delas.

— Sua bruxa! Tirem-me daqui! — gritou. Fingi que estava ocupada demais balançando as correntes nos meus pés. Dei um sorrisinho malvado, seguindo a linha do Coringa e só querendo ver a coisa pegar — literalmente — fogo. Seus olhos estavam vermelhos e irritados pela fumaça.

Eu não estava preocupada com o fogo ou com morrer queimada; ser apenas parcialmente vingada já era o suficiente. Mostraria a eles que estavam quase certos em relação a nós, semideuses: já que eles queriam, nós poderíamos ser muito maus.

Fui surpreendida com seu avanço quanto a mim, que por pouco evitei ter aquelas mãos nojentas no pescoço ao pular da maca, meio enrolada nas correntes. Olhei para o teto e descobri que era mais alto que imaginava, com algumas espécies de redes cheias de objetos brilhantes e provavelmente muito pesados. Magia ali era tão evidente que até mesmo um mortal perceberia a existência de Bronze Celestial, Ouro Imperial e outros tipos de metais diferentes forjados com magica.

Aquele devia ser uma espécie de arsenal de apreensão deles, e não uma sala de enfermagem (seria um pouco incomum, eles machucavam pessoas e duvido que fossem curá-las), com armas e objetos que pertenciam a seus prisioneiros.

Ainda atordoada, levou um tempo para que eu pudesse me levantar e perceber que sabe-se-lá-de-onde ele havia tirado um estilete que estava diretamente apontado para mim.

— Me tire daqui agora!

— Você disse que queria se divertir... Vamos fazer isso do meu jeito — respondi. Não me lembrava da minha voz soar tão rouca e fraca.

— Não! — gritou e partiu para o ataque. Sem poder contra-atacar, corri para o lado até ser barrada pelo comprimento das correntes.

Rodopie para a esquerda quando se aproximou de mim, porém ele foi mais rápido e agarrou meu cabelo, colocando a lâmina gelada em meu pescoço.

— Agora você vai? — resmungou raivoso. Não tive escolha a não ser girar para a direita. Não sabia que havia tanta adrenalina no meu sangue a ponto de nem ao menos medir se esse movimento poderia cortar minha cabeça. Ao invés de ir para frente, fiz com que a lamina acabasse indo para trás e me livrando das suas garras.

Gostaria de poder usar minhas mãos para fazer algumas coisas. Infelizmente só me restava ficar desviando dos lugares incendiados e tentando enxergar melhor através da fuligem. A altura das labaredas chegava a mais de um metro e quase todo tapete estava consumido.

Busquei por mais uma saída e me foquei nas prateleiras e nas chamas. Elas não me obedeceriam, mas as coisas de Bronze e outros metais sim. Aquela sala estava se tornando um conjunto de domínios do meu pai, ou seja, também se tornavam meus.

“Talvez pudesse...” “Mesmo que aquela ideia fosse uma completa maluquice...” “Que se dane! Não vai fazer diferença se der certo ou não...”. Travava uma batalha na minha mente, navios buzinavam lá dentro e minha sanidade estava discutindo com a minha loucura.

Mal tive tempo para continuar a refletir direito quando fui empurrada com força contra a parede, com uma espada pressionada contra a minha garganta. Humanos não podiam ser feridos por armas como eles eram diferentes, mas isso não os impedia de usá-las.

— Já sabe, faça o que eu mandar — sussurrou, usando uma das mãos para tirar o suor que escorria pela testa.

Respirei fundo. Minha última chance de ensinar eles a não se meterem com nenhum de nós.

— Não hoje.

Concentrei tudo o que conseguia usar dos meus poderes, quase perdendo o controle de tudo. Fiz com que todas as armas flutuassem com velocidade contra o fogo, criando um impacto contra o chão capaz de fazer as chamas se espalharem ainda mais. A partir dali, a confusão escaldante era maior que a da minha cabeça; o fogo havia tomado toda a sala e os metais derretiam com velocidade. Fui jogada para um canto contrário por uma lufada de ar quente, atravessando uma parede de labaredas.

Devia ter batido a cabeça e ficado zonza (de novo), pois foi em questão de segundos. Tive que esperar algum tempo até me recuperar e ver se nenhuma parte do meu cérebro estava escorrendo pela orelha.

Poeira subia enquanto a madeira de uma prateleira caida era consumida. Não havia nenhum sinal do cara, provavelmente estava queimando debaixo dela. Eu preferi assim. Me esforcei para poder levantar a cabeça, e pequenas queimaduras apareceram em mim. Ainda estava viva, talvez tivesse passado um pouco do ponto, mas estava respirando.

Coloquei todo meu peso nas mãos e me arrastei para fora dali, aproveitando que a blindagem da porta não havia resistido ao calor. O corredor estava vazio, e a única passagem que dava em outro lugar estava fechada e não havia câmeras em lugar nenhum. Só notei que a camisa-de-força tinha sido reduzida a cinzas quando minha pele encostou-se ao chão gelado.

Precisava de roupas.

Estendi o braço até girar a maçaneta de uma porta destrancada e me suspender com muito custo. Uma mulher de no máximo 30 anos e cabelos violeta tingidos usando um macacão de couro estava se arrumando dentro de um quarto tipo alojamento. Ela estava tão concentrada em escolher uma roupa no se guarda-roupa que mal percebeu a hora em que me aproximei e a derrubei com a pancada de um vaso de vidro na cabeça.

Em seguida, desabei em um dos colchões e me enrolei no lençol branco, totalmente destruída.

Tinha encontrado a razão para meu braço dolorido: o curativo que tinha feito antes de ir para o cassino tinha ficado em estado deplorável e acabou soltando, revelando aquela mesma cicatriz que aparecera, antes completamente inflamada, roxa e machucada, um pouco úmida e com pus.

Isso significava que havia passado muito tempo ali. Tempo demais.

No espelho preso a uma das paredes contrárias a do beliche, a imagem refletida era de alguém completamente acabada, com marcas escuras em volta dos olhos, cabelo sujo, embolado e fedendo a coisa queimada, com cicatrizes e marcas terríveis.

Lembrei que tinha que sair dali. Não sabia quanto tempo poderia ficar sem ser encontrada e estava doida para cair fora daquela merda.

Enrolei meu braço em uma tira rasgada da fronha. Sabia que precisaria de um tratamento real e remédios, porém necessitava de rapidez. O curativo bem apertado também ajudaria a estacar a infecção e daria mais dureza aos movimentos.

Arranquei em seguida o macacão e o par de botas de combate da guria desmaiada antes de escondê-la dentro do guarda-roupa. Apesar de ser um numero menor, minha altura inferior favoreceu minha entrada dramática para dentro daquela roupa, ainda tendo que cortar as mangas com uma tesourinha achada por aí para que pudesse mexer meus braços.

Graças ao deus dos calçados, usávamos o mesmo número.

Peguei a tesourinha novamente e fiquei em frente ao espelho. Sem nenhum cuidado a mais, fui picotando minhas mechas escuras até elas ficarem próximas a altura das orelhas, revelando algo que queria esconder, junto com a possível chance de criar fama de “delinquente abandonada”: minha velha e desbotada tatuagem.

A história dela não era muito significativa. Tinha feito em um estúdio ilegal há dois anos, depois de ver algumas garotas famosas e bonitas do meu antigo colégio andar com flores e corações tatuados nos pulsos e pernas. Acabei me tornando uma invejosa de marca maior e desenhado uma também. Foi numa época em que pensei que me tornar um pouco mais popular melhoraria as coisas. Os dois arabescos tatuados na horizontal na parte de trás do pescoço e abaixo da nuca eram interligados por uma estrela de quatro pontas. Era bonitinho, porém não ajudou meu status social e acabei ficando zangada, deixando o cabelo crescer o bastante para cobri-la e por fim esquecer sua existência.

Parei de ficar pensando e voltei à ação. Encontrei o cartão de identificação de Melissa Flowwers, para dar acesso a lugares restritos. Peguei um lenço vermelho pendurado em um gancho e cobri minha boca e nariz. Guardei a tesoura em um dos bolsos, caso precisasse usa-lá. Não era como meu amado e desaparecido Contratempo, todavia serviria como uma boa arma.

Sai do quarto e fui andando em direção ao corredor deserto, sempre de olho nas câmeras, que, felizmente, estavam desligadas. Encontrei uma escada e subi silenciosamente, parando para descansar diversas vezes. O próximo andar era igualmente vazio, porém mais barulhento. Passo abaixada por uma passagem larga e inundada pelo som de risadas e o cheiro de comida quente. Não preciso dizer que meu estômago quase pulou para fora com o cheio.

“Aguente firme, você precisa fazê-los pagar por tudo”.

Passado isso, acabei encontrando dois caras com uniformes e capacetes com viseira, segurando metralhadoras. Meu coração novamente voltou a bater com tanta força que se o prendesse a uma turbina, seria possível gerar energia elétrica.

Escondo-me atrás de um vaso de plantas e solto um assobio abafado, chamando suas atenções e motivando ambos a ir procurar o dono do som. Assim que saem, deixo meu esconderijo despercebido e corro em outra direção.

Não sei para onde estou indo, só queria encontrar a sala de controle, que seria um lugar importante para algo como a O.R.D.E.M. Também não tinha ideia de quantas vezes conseguiria me safar assim. No entanto, do jeito que minha sorte era indecisa, a qualquer hora não teria nenhum vaso ou esconderijo por perto. Precisava me disfarçar melhor.

Volto a dar uma olhada no cartão de Melissa. Sua função ali era trabalhar na área da limpeza do setor 16 do segundo andar, em que eu estava. Fui me orientando pelas placas até encontrar o setor 16 e o armário de produtos de limpeza. Enfio o cartão na fechadura automática e entrei. Visto um avental branco por cima e coloco uma daquelas máscaras que médicos usam e óculos de segurança que encontrei dentro das prateleiras. Para completar o disfarce, amarrei o lenço na cabeça e empurrei um carrinho de limpeza para fora, com uma vassoura, rodo e baldes cheios de produtos nele.

Quase dou um salto quando uma mão agarra meus ombros. Era Bessie sorrindo. Ela nem ao menos se importou em perguntar à Melissa se tinha tomado um banho de sol para estar mais morena.

— Mel, Jorden pediu para você passar um pano no escritório dele agora. O 23, sabe? Então, vai lá — apernas balancei a cabeça baixa em afirmação sem dizer nada e ela saiu cantarolando.

Queria poder mostrar a ela o quanto uma tesourinha inofensiva conseguiria cortar banhas. Bessie estava lá quando me levaram para a maldita tortura, contudo, ela e os outros iriam dançar todos juntos, assim que chegasse à sala de controle e brincasse como uma menina malvada.

Assim que cheguei ao escritório, um cara apressado saiu de lá e me mandou ir rápido. Simplesmente peguei um balde e joguei todo seu conteúdo no chão e nas paredes. Aquele balde deveria ter sido usado faz tempo, pois a água estava escura e fedida. Fui passando o esfregão alegremente pelo chão até encontrar um mapa precioso na parede, mostrando a cede da O.R.D.E.M.

O estudei até terminar o horário de trabalho e sair rumo ao meu lugar preferido ali antes que Jorden (presumi ser ele) voltasse. Assim que desci do elevador lotado que tinha pegado para subir até o primeiro andar (estava no subterrâneo), me dirigi à sala de controle. Fui me livrando do meu disfarce aos poucos, primeiro foram as luvas e o avental, por fim a máscara e o lenço. Não haveria graça se não mostrasse a todos eles quem tinha chegado ao topo da cadeia alimentar.

Adentrei sem bater com o cabo da vassoura em mãos. A equipe lá dentro ficou assustada, colocando suas armas de choque e de fogo em mãos. Sentia meu poder ficar mais forte ali, no meio de tantos computadores, fios e cheiro de máquinas em funcionamento. Bati a vassoura no chão e houve um estalo muito grande. Fiz com que alguns computadores montassem braços mecânicos com seus componentes e agarrassem alguns membros da equipe, fazendo-os bater contra sua base metálica e cair desacordados.

Um deles foi mais rebelde e conseguiu escapar, correndo em minha direção. Apenas girei o instrumento de limpeza e acertei em cheio contra seu peito, com tanta força que ouvi o barulho de uma costela sendo quebrada, e então veio o baque criado pelo indivíduo caindo no chão.

Vassouras funcionam como ótimas armas.

Fui pulando os corpos até chegar a outro nível da sala de controle. Os rádios de voz presos aos seus uniformes chiavam. Estalei os dedos e fiz a passagem ser coberta por uma placa de ferro. Sentei-me em uma cadeira e admirei o coração da O.R.D.E.M.

Aquele tinha sido o primeiro supercomputador que tinha visto. Ocupava toda a cabine com sua tela e caixas de entradas com milhares de botões coloridos. Só o teclado de entrada tinha mais de 200 caracteres.

Eu era apaixonada por hackers e como eles conseguiam invadir sistemas. Porém, o que vi nos filmes e li em sites não me ajudariam em nada. A única coisa útil que me vinha à cabeça era que primeiramente tinha que abalar a matriz para destruir o resto.

A tela verde piscava na minha frente, esperando que os comandos fossem dados. Encostei um dedo em uma das teclas e no mesmo instante minha mente foi invadida por milhares de palavras e números, formando diversos códigos. Um deles ganhava maior destaque, o H3Y-LOL1T4, e foi o que eu usei para entrar no banco de arquivos da O.R.D.E.M.

Milhares de links, pastas e documentos se espalharam pela janela do programa, esperando para serem abertos. Por motivos óbvios, escolhi o M A N U A L D E I N I C I A Ç Ã O.

Tinha aprendido que o começo é a melhor hora para começar uma bagunça.

Coloquei os headphones no ouvido e aumentei o áudio. A tela ficou branca e em seguida foi tomada pelo brasão da O.R.D.E.M: uma águia negra dentro de um circulo com o nome da organização em baixo. A apresentação em formato de slide mostrava um grande resumo sobre a sua historia e funções. Isso não diminuiu minha surpresa.

Ela não era nada mais nada menos que uma super organização secreta, uma versão contrária da S.H.I.E.L.D. Sua existência vinha da ideia que de os humanos deveriam governar a si próprios e a tudo, sem nada de deuses ou seus seres mitológicos. A névoa não funcionava com seus membros e uma das suas principais funções era pegar e exterminar semideuses, pelo fato de não serem totalmente humanos e fazerem parte do mundo mitológico, além de serem uma das principais armas dos deuses. Mais de 3.000 meio-sangues acabaram tornando-se suas vitimas. Antes disso, todos foram torturados e usados para contar informações úteis a eles, para que conseguissem encontrar formas de destruir o mundo mitológico com suas falhas. Além do mais, a O.R.D.E.M. era extremamente rica.

A única cena que me recordava antes de ser pega por eles era quando estávamos saindo do Cassino Lotus e acabamos nos encontrando. Disse alguma coisa para a Dra. Howard e então simplesmente apaguei, com um choque, só acordando depois de vários dias. Precisava saber como eles teriam nos achado.

Meus dedos se mexiam rapidamente pelo teclado enquanto analisava cada documento e arquivo que encontrasse. Estava colhendo qualquer tipo de informação útil, desde quem trabalhava ali, seus turnos e até mesmo que tipos de experimentos eram criados.

Fui descendo a barra de rolagem de uma das páginas. Nomes e mais nomes de semideuses capturados e mortos pela O.R.D.E.M. Não sabia quantos tinham escapado ou pelo menos arriscado, como estava fazendo agora.

Lágrimas queriam começar a escorrer, mas eu disse não. Não deixaria mais a O.R.D.E.M pegar ninguém. Teria que dar um jeito. Ela não causaria sofrimento. Não haveria mais torturas banais. Prometi colocar aquele lugar para baixo e sair dali assim que encontrasse Valentine.

Eu iria, eu tinha, eu precisava.

Só não sabia como.


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Notas finais do capítulo

Enfim, espero que tenham gostado, apesar de nesse capitulo ter maltratado a Ronnie, porém foi necessário, só não me matem por isso? (apesar de gatos ter sete vidas... whatever). O próximo será da Valentine (se jura?), vulgo A Menina Que Brincava Com Os Mortos, será mais explicativo e nem tão forte (terá tortura, mas será física, não mental, como o da Ronnie).
Vou ficando por aqui, não esqueçam de COMENTAR, FAVORITAR, ACOMPANHAR E RECOMENDAR A FIC e de ler a The Snow Queen no Social Spirit, da co-autora de JdO.
(P.S: estou amando o retorno que a fic esta tendo, sério pessoal, amo vocês com todas as forças



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