Os dias de Clair eram monótonos, divididos entre o trabalho e o estudo.

Trabalhava em uma livraria de uma família turca, o dono da livraria Sr. Ayman e sua esposa Samyra era um casal jovem, porém com atitude de idosos. Samyra era extremamente obediente ao esposo, assim como pregava a religião deles. Clair achava interessante essa atitude, mas não a compreendia, pois não conseguia divisar onde começava a superioridade de um e onde terminava a inferioridade de outro. Por fim por não fazer parte dessa comunidade religiosa, não se atrevia a comentar, somente ajudar no que fosse preciso.

Clair lembrava como se fosse ontem, há mais de um ano atrás, só fora contratada para ocupar a vaga de atendente, recepcionista, caixa, vendedora e etc e tal, por ser uma moça de aparência muito agradável que inspira confiança, por ser recatada e discreta, essas foram as características exaltadas por Ayman seu jovem chefe turco. Samyra por sua vez sempre a olhava de esguelha e quase nunca se dirigia a ela. Clair não ligava pois o que tomava conta dos seus pensamentos não eram essas questões tão banais e corriqueiras, mas sim a grande possibilidade de adentrar a universidade pública e ser uma renomada bioquímica.

Nos fins de semana ela dedicava a faxinar a pequena casa onde morava e dar mais atenção a sua mãe. Os dias seguiam e com eles a vontade de Clair aumentava em se libertar da mediocridade humana e intelectual. Sua mãe nesse aspecto não colaborava muito. Com isso tudo, deveria ainda depois da faxina estudar, estudar até a exaustão para a prova de química, era boa nessa disciplina, mas isso não bastava pois seu lugar era no round da excelência. Desejava fechar o ano com conceitos A em todas as etapas de avaliação das disciplinas de química, física e biologia, pois esse fenômeno seria de grande importância na avaliação de seu currículo para adentrar a universidade pública com concessão de bolsa.

Na escola Clair tinha uma amiga, Allana, essa era muito animada, feliz, e não gostava muito de estudar, mas sobrevivia ao sistema de ensino. Clair gostava muito de Allana por essa não questionar quase nada pois se contentava com tudo, inclusive quando Clair passava o fim se semana reclusa em casa estudando, talvez qualquer outra amiga que não partilhasse da mesma visão, não concordaria com tal atitude.

Para Allana era imprescídivel ter alguém para paquerar, não entendia como Clair conseguia não ter nenhum rapaz em sua vida, pois todas as garotas da escola secundária tinham ou tiveram um namoradinho. Clair alegava sempre falta de tempo para essas coisas. Allana nunca se dava por vencida e sempre tentava dar uma de cupido para qualquer rapaz que gostasse de Clair, essa se chateava muito com isso mas logo a perdoava porque não era por mal, e sim por falta de objetivos maiores.

Allana apesar de estudar em escola publica tinha uma vida totalmente difente de Clair, pois tinha uma família estruturada, um irmão mais velho que era um dos garotos mais populares da escola, Allan, o que rendia grandes diversões para Allana junto das garotas interessadas por seu irmão.

No trabalho entre um atendimento e outro Clair procurava folhear o caderno revendo as equações químicas, ora um olho no caderno e outro na loja. Certo dia ao limpar os livros deparou-se com uma revista auto explicativa para ensinar a tocar guitarra e violão, olhou curiosamente cada página, a revista não estava lacrada, olhou as cifras, a partitura e percebeu outro universo além das estruturas químicas de seu universo particular, não sabia nada de música, nem sequer tinha tempo de ouvir, quanto mais estudar, mas de certo modo, achou interessante alguém que quisesse mesmo aprender musica poder fazer isso sozinho, talvez não seria tão rápido e eficiente, mas era possível.

Olhou mais uma vez a revista e achou o valor de compra simbólico.

Clair POV`S: nossa, isso não é caro em relação ao valor das outras revistas, vou comprar essa revista e guardá-la, quem sabe um dia posso presentear alguém, uma amiga que goste desse gênero de música.

Clair POV`S: off.

Com esse pensamento comprou a revista e anotou no livro do caixa como saldo negativo do seu salário. Limpou toda a loja. Atendeu várias mocinhas naquele dia atrás de revistas teen, meninos atrás de revistas de games, enfim cada grupo atrás de estereótipos que os identificassem como membros de determinadas tribos.

Clair POV`S: todo esse povo realmente sabe de que gosta. E eu? de que gosto? Além de estudar? Tem algo mais que gosto? Todos os livros de que necessito estão na biblioteca da escola. Se eu tivesse que escolher algo de que realmente gosto sem ser estudar, o que ou quem seria?

Clair POV`S: off.

Clair ao sair do trabalho estava bem reflexiva, assustou-se com os seus próprios pensamentos mas sua vida parecia resumir-se em estudar e trabalhar, e se não fosse isso realmente o que queria? Mas o que queria? Não sabia dizer se queria algo. Garotos. Por que não se interessava por eles? Além de achá-los imaturos, crianças, bobos e sem-graças, a maioria que conhecia era assim. Como as meninas se interessavam por eles? E ainda brigava entre si?

Envolta nesses pensamentos chegou em casa, tomou banho, fez uma rápida refeição e dormiu.

Enquanto isso em Colorado...