Pov. Gabi
Cá estou eu, no culto em homenagem a ela. E como eu estou me sentindo? Indignada. Você deve estar pensando. Porque Gabi, porque? Sabe porque?!
Porque mesmo que no velório dela eu tenha feito um mine escândalo porque eu tinha avisado que era para todos estarem de azul, eles continuam me desobedecendo e vindo de preto.Cara qual é a dificuldade de vir de azul de um culto para a Valentina que adorava azul? Poxa ela tinha dito para mim que queria que todos estivessem de azul no enterro dela, eu queria que todos estivessem que preto e chorando. Porque? Porque eu quero que eles chorem pensando que nunca mais vão poder ver meu rostinho bonito.

Além de todos estarem de preto igual ao enterro dela, o que mais me deixa indignada é que no enterro dela o igreja estava lotada, ano passado ela tinha menos pessoas e hoje? Hoje mal vejo os colegas de classe dela.

Mas também não posso culpa-los por tentar esquece-lá. É doloroso demais pensar que não poderá vê-lá nunca mais, mas poxa eles podiam ao menos ir ao culto dela, eu não estou pedindo muito, o culto só acontece uma vez ao ano.

Estava sentada na primeira fileira tentando esquecer dos problemas ao redor, como o fato das pessoas estarem de preto (ok eu sei que não é legal eu ficar repetindo isso mas eu realmente estou indignada), a falta de pessoas ou o fato da musica deprimente que ela tinha me especificado que não queria de jeito nenhum. Resolvi aprestar atenção no pastor que estava pregando, ele falava como se a conhecesse e isso estava me irritando, ele falava ela era especial, ela faz falta, já faz dois anos que perdemos a jovem e bela Valentina. Cara eu nem sei se ele tinha visto ela na vida, provavelmente só quando ela estava num caixão. O fato dos meus pais não estarem aqui também me incomoda mas eles não eram presentes na vida dela porque seriam na morte?

O culto estava acabando quando o padre pergunta se alguém tem algo a dizer, eu ai levantar a mão mas o Gabriel foi mais rápido. Ele subiu as escadas para o cupitu, pegou o microfone e começou

–Bom...Oi, eu queria agradecer os presentes e também queria falar um pouco sobre a Val,que como todos sabem era minha namorada- ele respirou fundo e prosseguiu- Ela era a pessoa mais incrível que já conheci, ela sempre estava comigo, sempre ajudando o próximo. Ela faz falta, muita falta-suspirou- Eu a amava... Eu a amo. Ela deixou um buraco no meu coração que eu duvido muito que vá se cicatrizar- ele parou por um instante respirou fundo e prosseguiu- como vocês já perceberam não sou muito bom em expressar meus sentimentos então vou dar a palavra para minha amiga... Bem quase, Gabi- essa me pegou de surpresa, eu queria falar mas era para demonstrar minha insatisfação e agora tenho que expor os meus sentimentos? Como farei isso sem gaguejar.

Subi no cupitu e me posicionei no centro, o pastou me deu o microfone e eu comecei a falar

–Ér... Primeiramente obrigada por todos presentes, embora no próprio enterro tivesse mais pessoas. Estou... Realmente desapontada- todos me olhavam confusos- ano retrasado eu tinha pedido para todos virem de azul, ano passado idem, e hoje também, e em nenhuma dessas três datas vocês vieram de azul- todos me olhavam como se eu fosse louca, mas bem, eu estou acostumada- mas vou deixar passar, embora outras coisas me irritem aqui como o fato dela ter me pedido para não ter musica deprimente no próprio velório e o fato do pastor falar como se tivesse conhecido ela- respirei fundo- irei falar sobre ela. Bem o que falar sobre uma ou se não for "a" pessoa mais importante da sua vida? A única coisa que vem a minha cabeça quando falam nela é que eu a perdi, não a terei mais comigo, ela estava comigo quando eu achei que um monstro estava no meu armário, ela esteve comigo na minha primeira aula de piano, ela esteve comigo na primeira vez que um garoto quebrou meu coração, ela esteve comigo no meu primeiro beijo, ela esteve comigo no meu primeiro recital de musica, ela esteve comigo quando eu quase chorei pela minha nota baixa em química, ela esteve comigo quando eu me machucava, ela esteve comigo quando eu tive ataque de pânico dentro da ala de repteis do zoológico, ela esteve comigo em todos os momentos importantes e a única coisa que consigo pensar é... Ela não vai estar comigo na minha formatura do ensino médio, ela não vai estar comigo quando eu for para NY, ela não vai dividir o apartamento comigo como sempre sonhamos, ela não vai estar comigo quando eu terminar a faculdade, ela não vai estar comigo quando "ele" me pedir em casamento, ela não vai estar na minha festa de solteiro com strippers, ela não vai estar no meu casamento, ela não vai estar comigo na minha gravides, ela não vai poder ser a madrinha da minha filha que vai se chamar Anna, sabe porque? Porque ela morreu, porque ela esta a sete palmos da terra e isso não esta me deixando muito bem-falei chorando- ela era como se fosse minha segunda mãe- "se não a primeira" acrescentei para mim mesma- sabe eu a amo e estar longe dela me faz mal, mais você não entendem, vocês não sabem o que eu estou sentindo- parei para conter as lagrimas- por isso irei toca uma musica que minha irmã adorava, geralmente era seu namorado que tocava mas eu treinei para poder tocar essa musica no aniverssario dela, mas como esse evento não aconteceu vou tocar hoje- fui ate o piano e comecei a tocar "Cler de Lune", esta indo bem mas as lagrimas estavam atrapalhando minha visão então errei uma nota, mas prossegui, a musica estava terminando e quando faltava apenas uma nota eu errei.

Encostei minha cabeça no piano e comecei a chorar, eu senti uma mão no meu ombro e quando eu olhei para cima era a Lara, não sei porque mas esperava outra pessoa. Me levantei olhei em volta e todos me olhavam igual, eles estavam com pena, eu não sou digna de pena. Sai correndo para fora da igreja.

Estava chovendo mas não me importei apenas tirei o meu salto e sai correndo, corri uma quadra ate o cemitério. Corri mais um pouco ate o túmulo dela. Me agachei e comecei a chorar mais

–Não agüento mais- falei um tanto alto- eu sinto sua falta, você é a minha irmã mais velha poxa, era para você estar aqui, aqui do meu lado me ajudando a curar um machucado, me dando conselhos, ate mesmo brigando comigo, eu só a quero aqui, eu me sinto só sem você- parei para pensar- eu estou sozinha...

–Não você não esta sozinha- me virei para para ver quem é mesmo já tendo reconhecido a voz, me levantei e fiquei de frente à ele

–E quem eu tenho?- perguntei

–Você tem seus amigos, seus irmãos, você tem... Você tem a mim- respirei fundo, dei uma risadinha sem humor

–Você? Você?- ri- você passa o tempo todo tentando me irritar, me magoar, me machucar

– Não sabia que te machucava-abaixou a cabeça- eu só faço isso porque...porque...porque sei lá é divertido- idiota

–Para você não para mim-falei

–Me desculpa- falou ainda de cabeça baixa- mas você sempre pode contar comigo-sorri sem humor- sempre vou estar aqui caso precise

–Obrigada- me limitei a falar

–Eu sei o que você esta sentindo

–Oi?!

–A dor, a dor da perda

–Você não sabe o que eu estou sentindo

–Você esta sendo egoísta- essa me pegou de surpresa- não é só você que sente falta dela

–MAS NÃO É SÓ FALTA QUE EU ESTOU SENTINDO-gritei- é culpa- falei voltando a chorar- se eu não tivesse insistido se eu tivesse ouvido meus pais- falei chorando mais- se eu não tivesse pedido para ela me levar à aquela festa idiota- chorei mais ainda, se é que é possível- ela estaria aqui do meu lado

–Você não teve culpa- falou

–É o que você diz- falei

Ficamos em silencio por um tempo só se encarando, eu queria morrer, não sirvo para nada mesmo, ninguém vai sentir falta. Meus pais não se importam, meu irmão quer que eu morra, minha irmã mal esta falando comigo, não tenho ninguém. Em um movimento inesperado o Gabriel me abraçou me tirando de meus devaneios, e por um momento não me senti tão só

–Vem vamos para casa- falou começando a andar mais sem tirar o braço de meus ombros- à e a propósito, nunca ouviu falar em maquiagem a prova d'água não?- ri, provavelmente por causa da minha maquiagem que não deve estar nada intacta

–Quem vai tirar a maquiagem você ou eu?!- ele riu. E nos prosseguimos o nosso caminho ate em casa.
–----x------
Acordei com um som irritante, o meu despertador. Ou ou espera ai quem colocou Macarena como meu despertador? Gabriel. Ah se vocês estão pensando que nos agora somos amiguinhos, vocês estão muito enganados.

Depois de fazer toda a minha higiene matinal, eu fui para escola, não parei para tomar café e nem esperar carona pois queria ir a pé para pensar um pouco.
Assim que cheguei a escola todos ficaram me encarando com cara de dó.
Droga porque ficam me olhando assim? Agh... Fui andando ate o meu armário e o que eu li ali me deixou, digamos mal. Peguei a folha e fui atras de quem provavelmente escreveu.

Pov. Gabriel
Estava perto do meu armário, tinha acabado de ficar com uma loira gostosa. Eu estava conversando com a galera quando sem mais nem menos sou atacado por uma louca psicopata. Ela me derrubou no chão e começou a me estapear, ok os tapas dela mal faziam cócegas. Ela gritava coisas como "Como você pode" "Eu te odeio seu filho de uma boa mãe" e tals. E a única coisa que saia da minha cabeça era o que eu fiz para essa doida? Ate que ela parou de me bater e se jogou no meu lado e começou a chorar. Sim chorar, o menina bipolar.

–Você é um cretino- falou se levantando

–O que eu fiz?- só agora percebi que tinha umas pessoas a nossa volta.

–Como se não soubesse- jogou um papel amassado em mim e saiu correndo.

Me levantei e peguei o papel, nisso eu percebi que tinha algo escrito então o desdobrei. O que estava escrito me deixou muito bravo, quem foi o idiota que fez isso com a Gabi?

"Fica chorando pelos cantos mas sabe que foi você a culpada. Assassina"

Não sei quem foi mas quando descobri eu vou matar essa pessoa.
O sinal bateu e todos foram para a sua respectiva sala. Eu ia ter aula de química, droga eu odeio química. A professora falava sei lá o que, desculpa mas eu não estava nem ai, quando a diretora aparece na porta, logo atras dela estava a Gabi, com sua pior cara.

–Com licença- pediu- eu gostaria de retirar o senhor Salvatore da sala- droga o que eu fiz agora?

–Claro- falou a bruxa da professora com uma falsa simpatia- Gabriel vá com a diretora- me levantei e todos começaram com "Iiiih se ferrou" "Vish cara, o que você fez agora?" e etc. Eu juro quando eu sai da sala a professora lançou um olhar do tipo "Hehehe se ferrou".

Estávamos no corredor indo em direção a diretoria, a Gabi nem olhava para mim, ela só olhava para frente com uma expressão elegível.

Entramos na diretoria e a diretora mandou nos sentarmos, obedecemos e a única coisa que eu pensava era "O que eu fiz?" mas preferi ficar quieto

–Bom... Acho que vocês já devem imaginar o porque estão aqui- não, eu não sei, mas achei melhor ficar quieto outra vez- Bom brigar nessa escola é razão de expulsão- ata é por causa da "briga", espera expulsão?- mas como é a primeira vez que a senhorita arruma confusão vou apenas aplicar um castigo- ficamos quietos, porque aqui é igual cadeia, qualquer coisa que você falar pode ser usado contra você- vocês vão ter que limpar o refeitório e vão reformar a sala de artes

–O que?- perguntei- isso é trabalho escravo

–Senhor Salvatore se eu fosse o senhor eu permanecia quieto, você só não vai ser expulso porque eu achei injusto expulsar uma aluna exemplar pela sua primeira advertência- falou- e você que não é tão exemplar assim, seria expulso só que não posso expulsar apenas um envolvido- abaixei a cabeça esperando ela prosseguir- vocês vão ficar até mais tarde hoje e terão que se organizar para achar tempo para reformar a sala de artes, lembrando que quanto antes terminarem na sala de artes mais rápido estarão liberados do castigo- depois da palavra final ela pediu para nós nos retirarmos e voltarmos para as nossas salas. No corredor eu tentei me aproximar da Gabi para perguntar o que estava martelando na minha cabeça "Porque você achou que tivesse sido eu?" mas ela andou mais rápido e chegou na sua sala, então fui para a minha, afinal, teremos bastante tempo para conversar essa tarde.