Eu era um idiota. Me apaixonar por um holograma? Só eu mesmo para fazer isso. Um fracasso total.

Já tinha 24 anos e não tinha nem arranjado uma namorada ainda. Em pleno fim de século e as mulheres ainda preferiam os bonitos idiotas aos inteligentes meia boca. Claro que com essa idade eu já seria motivo de chacota para meus amigos. Se eu tivesse algum. Meu pai sempre teve vergonha de mim por não gostar das mesmas coisas que os demais garotos gostam. E daí se eu prefiro ficar em casa? Eu sou hetero porra, mas não depende só de mim para arranjar um casamento.

Mas vamos esquecer de mim. Era natal e eu estava num shopping próximo à minha casa, mais precisamente em uma livraria. Ela – a menina do holograma – tinha uma tabela. Dependendo do dia e da hora ela apareceria em determinada loja. E eu já tinha anotado tudo. Sabia onde e quando ela apareceria.

Estava de olho então ela apareceu. O holograma a mostrava em uma biblioteca, cheia de livros, com estantes feitas de cedro.  Lia um exemplar da constituição norte-americana. Logo depois a constituição se tornou um exemplar do 2º volume da sensação do momento, As Crônicas do Contador da História, intitulado da Pedra à Bomba de Anti-Matéria. Em seguida mudou para um clássico. Ilíada. E dentre tantos outros livros que eu conhecia, do título passava para o seu rosto. Depois de mais alguns livros, eu olhei novamente para o seu rosto, mais precisamente para seus lindos olhos verdes. Foi quando ela os levantou do livro e olhou em minha direção. Então ela fechou o livro e quando eu pensei que ela iria embora ela pulou para o vidro e começou a bater na janela. Logo pensei que era um defeito no holograma, mas então eu vi palavras sendo formadas pela sua boca, apesar de não ouvi-las.

Socorro! Estou presa em algum tipo de instalação, alguém me ajude! Eu...

E sumiu.