Já passava das quatro da tarde, e nós ainda estávamos ali. Ela, por obrigação, eu... Eu, não sei. Era a quinta xícara de café que ela tomava naquela meia hora, e eu pensei numa coisa legal para fazermos. Como amigos, é claro.

Ela largou a caneta sobre a mesa, sobre os papéis cheios de palavras corretíssimas, sem nenhum erro de coesão, e descansou a cabeça sob os braços. Os olhos dela estavam fechados, os lábios, entreabertos, e eu, mais do que nunca, senti uma vontade monstruosa de beijá-la. Ela era quase como um imã para mim.

- Não aguento mais. – ela murmurou, cansada.

- Eu imagino, deve ser um saco... – eu respondi.

- Obrigada pelo apoio, Castle. – ela riu.

Os olhos dela novamente se abriram, observando-me com audácia. Eu a fitei de volta, com o meu olhar sedutor, o que eu acho que não a atinge, já que já estamos trabalhando juntos há três anos e ela nunca me olhou com outros olhares.

- Tive uma ideia – ela murmurou – Somos só nós dois aqui...

Eu congelei diante às palavras dela, afinal, que tipo de homem não faria o mesmo?

- Então, por que nós não... – ela riu baixinho, olhando de um lado para o outro, certificando-se de que estávamos sozinhos – Fugimos?

Ela pronunciou a última palavra tão baixo que eu quase não escutei. Meu coração voltou ao normal, e a quantidade de sangue que estava prestes a se acumular em um local indevido voltou a circular pelo resto do corpo.

- Err, sim... – eu suspirei – Mas para onde?

- Me surpreenda. – ela sorriu, pondo o casaco.

°°

No carro, eu pus uma venda em seus olhos, o que a fez reclamar por uns cinco minutos, mas logo depois ela parou. Eu sorri por todo o percurso. Levá-la à praia era um sonho bem antigo, que eu conservava, e que ninguém sabia.

- Castle, se você me assustar, eu mato você. – ela disse, e, pelo tom de voz, ela não estava brincando.

- Relaxe, você vai gostar...

°°

Desci do carro, abrindo a porta do passageiro logo depois. Ela desceu meio cambaleante, e eu tive que segurá-la por um tempo.

- É melhor você retirar estes sapatos, não quer que fiquem sujos ou molhados. – e ouvimos uma onda quebrando atrás de nós.

O sorriso dela foi algo quase instantâneo, o que eu não esperava, de verdade. Ela retirou a venda, mesmo com as minhas reclamações, e sorriu para mim. Sentando-se no banco novamente, ela pôs os pés para dentro, deixando as botas gigantescas no chão. Eu segurei-a pelos pulsos, levando-a comigo.

Assim que a areia úmida entrou em contato com nossos pés, soltamos suspiros de satisfação e, enquanto a brisa marítima tomava conta de nós, os cabelos dela voavam ao vento, o que só me deu uma melhor impressão da mulher à minha frente.

- Castle, é lindo... – ela sorriu – Eu não imaginei que quisesse me trazer num lugar tão bonito, senão, eu não teria reclamado boa parte da viagem...

Eu ri, apertando minha mão contra a dela. Nossos olhos se encontraram, e ela se aproximou ainda mais de mim, eu gaguejei, é óbvio, e ela só sorriu, aproximando cada vez mais nossos rostos.

Sem o salto, eu tinha uma vantagem no tamanho, o que, possivelmente, a faria ficar na ponta dos pés para tocar meus lábios, isso, só se eu não tivesse encolhido minhas costas para tocar os lábios dela.

E, Deus, há quanto tempo eu não esperava isso!

Os lábios dela eram como... Como...

Uau!

Separamo-nos por ela, que sorriu para mim, abraçando-me pela nuca. Eu pus os braços ao redor da cintura dela, e ficamos ali, só abraçados. Sim, aquele tinha sido o melhor passeio à praia que eu já havia feito.