As Crónicas de Hermione escrita por Khaleesi Dracarys


Capítulo 3
Expresso de Hogwarts - O regresso


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos que lêem esta estória.

Primeiro, queria pedir desculpa por demorar tanto tempo, mas comecei um trabalho novo e fiquei sem tempo para nada.

Segundo, tive de dispensar a minha beta Eileen (querida, um dia eu volto para fazer tudo como deve ser), por isso os capítulos serão postados apenas com a minha correção, se passar algum erro (ortográfico ou de coerência) peço desculpa, a culpa será só minha. Mas quero terminar o que comecei, e só assim será possível.

Terceiro, agradeço às minhas autoras preferidas que aceitaram vir aqui ler essa minha fic: Lêeh Malik Malfoy, Mione Malfoy, Anne Lizzy Bastos e Fabiih, vocês são divas, espero não as desapontar! Jade Di Ângelo seja bem-vinda.

Vai ter muitos factos, informações neste capítulo, espero que compreendam.

Não esqueçam de ler as notas finais, tá?
Boa Leitura!



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Hermione já sabia qual a cabine que iria utilizar durante a viagem até Hogwarts. Calmamente, ela dirigiu-se até à última carruagem, onde sabia que uma cabine iria ficar vazia, pois os seus antigos ocupantes não iriam regressar.

Embora não houvesse lugares reservados no Expresso, ao fim de uns anos a frequentar a mesma escola, alguns alunos acabavam por se sentar no mesmo lugar, ano após ano. Daí que quando um novo ano começava cada um já sabia mais ou menos aonde se dirigir, e toda a gente sabia que a última carruagem “pertencia” aos Slytherin. Como nesse ano, grande parte dos Slytherin não voltaria, Hermione soube que podia ocupar uma cabine nessa carruagem.

Desta forma, ela podia viajar sozinha, sem olhares nem comentários de alunos curiosos, uma vez que todos evitavam aproximar-se daquela carruagem. Se já antes os alunos daquela casa eram os mais detestados, agora, depois que muitos tinham tomado o partido de Lord Voldemort, os novos e velhos alunos preferiam manter-se à distância.

Hermione entrou na cabine escolhida, arrumou a sua bagagem, e fechou o compartimento, esperando realmente não ser perturbada.

A jovem mal acreditava que estava novamente no Expresso de Hogwarts, a minutos de iniciar a viagem para mais um ano na sua escola preferida. O último ano.

Naquele momento um grupo de alunos passou a gritar, mas calaram-se de repente, sussurrando: “era aqui que os Slytherin costumavam viajar”, “vamos voltar para o outro lado, aqui é sombrio”. Hermione teve a certeza que a sua viagem ia ser tranquila.

Tratava-se de uma situação peculiar, ela nunca imaginaria que um dia a cabine dos slytherin, que ela tanto detestava e que eles tanto odiavam por ela ser uma sangue-de-lama, lhe traria tanta calma. “Incrível como a vida dá voltas” pensou Hermione.

Já instalada junto à janela, pode observar as diferentes cenas que se desenrolavam na plataforma. Muitos alunos antigos que ela reconhecia dos anos que passara em Hogwarts, mas com os quais nunca tinha falado, corriam por ali, revendo colegas, abraçando-se, rindo, felizes pelo reencontro. E os novos alunos que olhavam o Expresso com algum receio, talvez porque em breves minutos iriam dizer adeus à sua família e iniciar um percurso que os levaria até Hogwarts, e a uma nova realidade, uma nova família. Era assim que Hermione se sentia, já não tinha ali a sua família a quem dizer adeus, mas regressaria ao espaço que considerava como casa, onde reencontraria alguns amigos e professores, que ela considerava família.

Nisto, reparou num grupo de ruivos que se abraçava ali perto: a família Weasley e Harry junto deles. Por segundos pensou levantar-se e ir-lhes falar, despedir-se deles, eram uma família feliz apesar de tudo. Tinham-na recebido sempre como mais uma deles, mas ela escolheu ficar onde estava, não ia suportar encontrá-los e logo despedir-se, tinha medo de desabar em lágrimas e ela não queria isso. Desejava regressar calma e em paz consigo mesma. Uma parte de si dizia-lhe que estava a ser injusta e ingrata para com os Weasley, mas a outra dizia-lhe que ela devia pensar em si primeiro. Se eles gostavam dela como se fosse família, mais cedo ou mais tarde iriam entender as suas decisões, agora era o momento de ela ser egoísta. “Tenho de alicerçar a minha felicidade como disse Tom Smith” pensou. Olhou uma última vez para Ron que abraçava a irmã, dando lugar a Harry que se despediu envergonhadamente. Por fim Arthur e Molly Weasley, que embora parecessem cansados tinham optado por levar a sua menina ao Expresso, como todos os anos.

Viu Ginny, despachada como sempre, afastar-se e encontrar-se com uma menina loira e um rapaz alto que estavam de costas. Hermione presumiu que se tratavam de Luna Lovegood e Neville Longbottom. Quando estes se viraram, confirmando a sua suspeita, ela ficou feliz por ter mais dois grandes amigos com quem contar no regresso à Escola.

Suspirou ao ouvir o último apito chamando os mais atrasados e sorriu ao ver os alunos mais retardatários que entravam no velho comboio, enquanto as famílias acenavam um último adeus. Baixou a cabeça, para que ninguém a reconhecesse enquanto o comboio arrancava devagar, continuava de óculos escuros, não queria de todo que a vissem. Não adiantava de muito, todos sabiam que ela estava a bordo e que escolhera de livre vontade não ver ninguém. Uma lágrima mais rebelde soltou-se do canto do seu olho esquerdo, ali dizia adeus à velha Hermione, e começava a viagem da sua descoberta. Quando já se encontravam a uma velocidade constante entre altas e verdes montanhas, levantou finalmente a cabeça e começou a prestar atenção à cabine onde se encontrava.

Mesmo sendo subtis, a jovem rapariga reparou em pequenos detalhes que os slytherin tinham alterado, diferenciando a “sua” cabine das demais. Eram pormenores que à primeira vista passariam despercebidos a quem olhasse apenas de relance: uma pequena serpente prateada no puxador da porta, os sofás tinham finas linhas verdes e prateadas, e mesmo o compartimento para as malas tinha relevos de bom gosto, que provavelmente mais nenhuma outra cabine teria. Nesta procura pelos detalhes, Hermione reparou numa pequena inscrição no canto da janela. Tinha sido feita cuidadosamente para que ninguém reparasse nela, a não ser que estivesse sentado no lugar que ela agora ocupava. Numa letra cuidada alguém escrevera “DM”, não era difícil perceber quem tinha sido. “Só mesmo aquele furão albino e imprestável seria tão egocêntrico para marcar o Expresso. Quanta modéstia, Draco Malfoy!” Foi apenas o que ocorreu ao pensamento da rapariga.

Tratava-se de uma situação inédita, sem dúvida: uma Gryffindor, sangue-de-lama, na cabine dos Slytherin, puros-sangues. Hermione Granger no lugar de Draco Malfoy. A jovem pensava no que diriam Ron e Harry se a vissem ali, ficariam chocados com certeza. Ela própria considerava aquilo como uma afronta, de certa forma uma traição. Durante 6 anos, os alunos que costumavam viajar naquela parte do comboio, gozaram com ela devido ao facto dos seus pais serem Muggles, e chamavam-lhe nomes por ela ser inteligente.

Enquanto frequentou Hogwarts, Hermione foi um dos alvos preferidos dos slytherin, e principalmente de Malfoy. E agora ali estava ela, naquela que tinha sido a cabine preferida daquele grupo que a odiavam, e cujo sentimento era recíproco. Mas os tempos tinham mudado, os slytherin tinham caído em desgraça e a maior parte não regressaria à Escola de Hogwarts.

Hermione recordou que logo após o fim da guerra muitos dos antigos “colegas” de escola, cujas famílias estavam ligadas às artes das trevas, fugiram do país, para escapar a Azkaban. Muitos tinham sido capturados por aurores, e já se encontravam a cumprir pena, alguns continuavam desaparecidos. Outros tinham morrido.

Lembrou-se principalmente do grupo de slytherins, que costumavam gozar com ela sempre que a viam, e que este ano não regressariam. Vincent Crabbe morrera quando, juntamente com Malfoy e Zabini, seguira o trio de ouro até à Sala das Necessidades (Sala Precisa), e conjurara o Fogo Maldito, quase matando os próprios amigos também. Gregory Goyle tinha fugido com a família para o estrangeiro, e não se sabia nada deles desde o fim da guerra. Blaise Zabini tinha sido visto pela última vez em Itália, onde os seus pais tinham morrido. A família de Pansy Parkinson tinha-se mudado para França, apesar de simpatizarem com o lado das trevas, não foi possível reunir provas contra eles e por isso não foram condenados. Quanto a Draco Malfoy, o chefe do gangue, contra todas as expectativas era o único que já se encontrava preso em Azkaban. Hermione ainda mal acreditava nisso.

A jovem tinha sabido de todos estes detalhes através de Ron e Harry, que ao trabalharem no Departamento de Aurores tinham conhecimento de tudo o que acontecia. Quais os devoradores da morte que já tinham sido capturados, quais os que se mantinham em fuga. E quando surgia um nome conhecido na lista, faziam questão em partilhar a notícia com Hermione. Foram eles que lhes contaram os pormenores da captura de Draco Malfoy e do seu julgamento. Hermione sempre pensara que de todos os slytherin, o Malfoy seria o último a ser preso e julgado, mas até ela se enganava.

Flashback On

Tinha passado uma semana, desde que Harry Potter tinha derrotado Lord Voldemort nos jardins do Castelo de Hogwarts. Tinham sido dias intensos, era tempo de enterrar os mortos e cuidar dos feridos. No meio de tanta confusão não havia tempo para pensar nos próprios problemas, havia sempre alguém que precisava de ajuda. Com o Castelo de Hogwarts ainda parcialmente destruído, o grande salão funcionava como enfermaria e ali se encontravam todos os que tinham ficado feridos na guerra. Hermione tinha ficado ali como voluntária, ajudando Madame Pomfrey e outros enfermeiros e curandeiros que tinham vindo de São Mungo. Pensava nos seus pais e onde estariam, mas por enquanto ela era mais útil ali, cuidando dos feridos.

A rapariga tinha escolhido ficar, não só para ajudar os que se encontravam feridos fisicamente, mas também para apoiar a sua melhor amiga Ginny Weasley e a sua mãe, Molly Weasley. Estas, apesar da dor que sentiam por ter perdido um membro da família, não desistiram de ajudar os outros, mostrando a sua bondade. Hermione admirava o seu carácter e a sua vontade de ajudar mesmo naquelas circunstâncias.

Era verdade, que durante algum tempo, Percy Weasley se manteve afastado da sua família por ser demasiado ambicioso. Mas logo quando tudo estava bem entre todos, a maldita guerra tinha acontecido, e tinha levado de vez o filho pródigo. A família Weasley ficou dilacerada. Mas mal teve tempo de chorar a sua morte, entre os muitos feridos, encontrava-se Charlie Weasley, que num duelo com os irmãos Carrow, tinha sido atingido gravemente. Todo o lado direito tinha sido atingido, e temia-se o pior.

Foi uma semana longa, para os que tinham escapado sem ferimentos e tinham-se voluntariado para ajudar na enfermaria improvisada.

Harry e Ron tinham optado por partir com um grupo de aurores, que fora reunido exclusivamente para capturarem os devoradores da morte que tinham conseguido fugir de Hogwarts naquela noite terrível e sangrenta. Hermione sentia falta dos rapazes. Tinham passado os últimos meses juntos, e agora ela sentia-se ansiosa com a separação abrupta. Sabia que estavam bem acompanhados, os aurores escolhidos para aquela missão eram considerados os melhores do departamento, mas mesmo assim ficava em pânico quando eles demoravam a dar notícias.

Ela e Ron nem tiveram tempo para falar sobre o beijo que tinham trocado na Câmara dos Segredos. Com a morte de Percy e o ferimento de Charlie, Ron não suportava ficar em Hogwarts sem fazer nada, assistindo apenas à dor que os olhos da sua mãe transmitiam e que tentava esconder com um sorriso. Os Weasley eram fortes e positivos, sorriam mesmo quando a dor se fazia sentir, mas também camuflavam os seus sentimentos, refugiando-se no trabalho. Era isso que todos faziam naquele momento, mantinham-se ocupados para amenizar a dor.

A semana passou, os feridos começaram a melhorar e iam sendo transferidos para São Mungo ou iam simplesmente embora. O castelo ia sendo reconstruido, e aos poucos ia recuperando a sua antiga forma.

Durante a segunda semana, já poucos restavam em Hogwarts. A família Weasley e Hermione eram quase os únicos por ali. Charlie recuperava lentamente, mas recuperava e era uma questão de dias até poder ir para casa. Todos ansiavam pelo dia em que regressariam à Toca, apesar de saberem que ainda demoraria para se restabelecerem das perdas que tinham sofrido. No entanto, a ideia de se reunirem num ambiente familiar era reconfortante e proporcionava uma vontade de recomeçar de novo.

Neste período, e perante o cenário de devastação, Hermione teve de atrasar a sua vontade de partir em busca dos pais. Para além dos amigos precisarem dela, ainda era demasiado cedo para recuperar a sua família. Muitos devoradores da morte encontravam-se a monte, e desejosos de se vingarem de alguma forma. Por isso, adiar uns dias ou umas semanas a sua procura seria até o mais sensato a fazer. Já para não falar que Harry e Ron continuavam com a equipa de aurores, e ela queria esperar que eles voltassem.

Todos os dias, Hermione recebia pequenos bilhetes de Ron, às vezes apenas para dizer que ele e Harry estavam bem, que nada tinha acontecido. Esta atitude de Ron, que antes se mostrava insensível e distante, fazia-a sorrir e esperar ansiosamente pelo rapaz, pois sabia que era chegado o momento em que ficariam juntos. Afinal, no meio de tanta tristeza, tudo o que tinha acontecido não podia ter sido em vão. O sacrifício de todos, assim como a morte dos entes queridos, só seria justificado se todos os sobreviventes lutassem por um mundo melhor, construindo um futuro mais feliz.

Lentamente, os dias foram passando. Charlie foi levado para A Toca, onde deveria repousar, pois ainda se encontrava bastante fraco. Mas como seria de esperar, mesmo que a família Weasley estivesse de luto, quando todos se reuniam as chances de repouso eram quase nulas. Os gémeos tentavam evitar grandes brincadeiras quando a sua mãe estava presente. Porém não conseguiam evitar. Se já antes eram os cómicos de serviço, agora era como se tivessem sido incumbidos de animar toda a gente que se encontrasse na Toca. Eles simplesmente não permitiam que as pessoas lamentassem vezes sem conta o que tinha acontecido. Era óbvio que também eles ficavam tristes, sobretudo quando encontravam a mãe a chorar sozinha, mas logo faziam um disparate qualquer. Diziam que enquanto a mãe gritava com eles, pelo menos não chorava. Hermione achava-os fantásticos por isso.

Na última semana de Maio, decorreram as cerimónias fúnebres dos que tinham falecido. Foi também nessa semana que Harry e Ron voltaram. Era altura para ficarem junto da família e não de perseguirem fugitivos.

No dia 28 de Maio, todos juntos, partiram da Toca para encontrarem amigos e conhecidos no jardim de Hogwarts, onde a cerimónia iria acontecer. Tinha sido o local escolhido, por ter sido ali onde tudo terminara e onde a maioria tinha perdido a vida, assim todos podiam despedir-se daqueles heróis em conjunto. Eram muitos os caixões reunidos no Jardim, Hermione ficou arrasada, as lágrimas rolaram pela sua face. Sentiu alguém apertar a sua mão, quando olhou para o lado viu Ron, com lágrimas nos olhos, e sem pensar apenas o abraçou, e ele correspondeu. Era reconfortante estar ali.

Antes de a cerimónia começar, Hermione observou algumas das pessoas presentes. O semblante carregado de tristeza era geral, imagem que ficaria sempre na sua memória. Viu ao longe o actual Ministro da Magia, Kingsley Shackelbolt, que tentava transmitir conforto às famílias presentes. Bem perto encontrava-se Minerva Mcgonagall, recém-nomeada Directora da Escola de Hogwarts, e Severus Snape, ainda combalido devido aos ferimentos provocados por Voldemort.

Harry, Ron e Hermione entreolharam-se. Aproximaram-se, e cumprimentaram-se. Kingsley foi amável e cordial. A Professora Mcgonagall abriu um amplo sorriso, apesar da tristeza, e agradeceu mais uma vez ao trio, já que era a primeira vez que os via novamente juntos desde a última batalha. Severus Snape acenou ligeiramente com a cabeça, e nem uma palavra disse.

Snape tinha sido o professor odiado ao longo dos seus anos na Escola, e sempre pensaram que o sentimento era recíproco. No entanto, a guerra tinha revelado que o professor sempre tinha sido leal ao bem, a Dumbledore e à Ordem, e acima de tudo, permanecera fiel a Lilly, mãe de Harry. Tinham-no encontrado quase morto, após a batalha, enquanto transportavam os feridos para o hospital improvisado. Mas, milagrosamente, os curandeiros conseguiram trata-lo a tempo e agora ali estava ele. Aparentemente continuava o mesmo, com o seu ar de desdém, típico slytherin, apesar de debilitado. Porém, agora quase todos sabiam que essa pose era somente isso: aparente. Não era verdadeira. Mas o grupo preferiu respeitar a sua atitude e não alterar, muito, a maneira como o tratavam.

Quando se encaminhavam para as cadeiras onde se sentariam, onde já se encontravam os restantes membros da família Weasley, Hermione reparou numa mulher, particularmente triste. Ela tentava sentar-se bem ao fundo, onde não fosse notada. Todavia, Hermione reconheceu-a.

Era Tonks, que tentava passar despercebida. Tinha desaparecido, quando encontraram o corpo de Lupin e ninguém a tinha visto, até àquele dia. Agora, Hermione percebia que mesmo que tivesse passado por ela, não a teria reconhecido à primeira. Tinha um ar apagado. O seu cabelo, antes sempre colorido, estava “quase” normal, só não o era porque mudava ligeiramente a sua tonalidade escura. Hermione preparava-se para a ir cumprimentar, quando Harry, que também observava Tonks, lhe segurou a mão e lhe sussurrou que a deixasse sozinha.

Hermione respeitou. Mais tarde, Harry contou-lhe que Tonks enviara uma coruja à mãe, avisando que estava bem, que iria à cerimónia, mas que preferia ficar sozinha. O pequeno Ted estava com a avó entretanto, e foi numa visita de Harry ao afilhado, que a avó do menino lhe contara.

A cerimónia foi breve, pois as famílias tinham pedido para que os discursos não se prolongassem. Deste modo, apenas o Ministro da Magia discursou, lembrando o nome de todos os que pereceram no combate contra o mal. E pedindo a todos que não esquecessem esses nomes e essa guerra que finalmente tinha acabado, e que tentassem ser felizes, pois só assim a sua morte não teria sido em vão. No fim, lembrou as palavras de Dumbledore: “A felicidade pode ser encontrada até mesmo nos tempos mais sombrios, se um só se lembrar de ligar a luz”. Mesmo que em contextos diferentes, Hermione achou que aquelas palavras se adequavam também a tempos de dor como aqueles que se viviam.

Foi nesse dia que Hermione decidiu que era altura de partir e procurar os seus pais. Era o seu tempo de “ligar a luz” e ser feliz.

Os dias seguintes na Toca variavam entre a tristeza pela morte de Percy, e a alegria por ver Charlie recuperar. O segundo mais velho dos irmãos Weasley tinha ficado marcado para o resto da vida, tinha perdido o braço direito um pouco acima do cotovelo. Isto significava que teria de reaprender a fazer tudo com o seu braço e mão esquerda, mas também indicava que estava vivo e que sobrevivera a uma maldição terrível, durante uma guerra medonha.

O mês de Junho começava e Hermione decidiu então comunicar a todos a intenção de partir para a Austrália, para encontrar os seus pais. Esperou pelo jantar, quando todos estivessem reunidos, pois era normal que apenas a essa hora todos já estivessem em casa.

Harry e Ron tinham deixado de ir para o terreno, agora tratavam apenas de burocracias para os julgamentos que começariam em breve. Por isso era usual que se atrasassem e chegassem apenas para jantar. Mas naquele dia, chegaram adiantados um par de horas.

– Draco Malfoy foi preso – disse Ron assim que entrou na sala.

– Como?! – perguntaram Hermione e Ginny, sentadas no sofá.

– É verdade, – insistiu Ron – conta-lhes, Harry.

Harry começou então a contar o que tinha acontecido nesse dia:

– Tínhamos chegado ao Ministério há poucos minutos, quando recebemos uma denúncia. Alguém que tinha visto o jovem Malfoy perto da cidade de Guildford, no condado de Surrey. Foi formada uma equipa imediatamente para ir averiguar essa denúncia, mas não nos deixaram ir. Disseram que era melhor ficarmos no departamento, pois não seria bom envolvermo-nos na captura de alguém que conhecíamos tão bem.

– Mas que aconteceu depois? – perguntou Ginny.

– Bom, ficámos à espera de notícias. A equipa chegou ao local indicado, mas não encontrou vestígios de magia. E não havia qualquer testemunha que tivesse visto algum Malfoy por ali. Sabíamos que a família estava junta quando fugiu, e eles são reconhecíveis em qualquer parte, não é verdade? – continuou Harry.

– O melhor viria à tarde, – interrompeu-o Ron, não conseguindo ficar calado – já passavam das 4h quando os aurores comunicaram que tinham uma nova pista. Passado meia hora, chegava a notícia. Tinham capturado o mais novo dos Malfoy, ou seja, Draco estava preso. – Ron sorria satisfeito quando terminou.

Hermione estava de boca aberta. Nunca pensou que Draco Malfoy fosse capturado, assim, tão rápido, sozinho. Era uma situação muito estranha.

– Mas ele estava sozinho? Não lutou? – ela começou um verdadeiro interrogatório – Ele estava com os pais quando fugiu, porque não os prenderam também? E os amigos? O Malfoy nunca estava sozinho. Tinha sempre um truque na manga. Como foi preso assim?

– Calma, Hermione. – disse Ron.

– Hermione, ele está preso, mesmo. Nós vimos, podemos confirmar. – Harry tentava acalmar a amiga – Os aurores levaram-no para o Ministério para começar o seu interrogatório, mas ele manteve-se calado. Por isso levaram-no para dormir em Azkaban.

– Não sabemos nada sobre os pais, – Ron continuou – estava sozinho, perto duma estrada secundária. Os aurores disseram que ele pareceu quase satisfeito por ter sido capturado, pois não deu qualquer luta. Nós só o vimos ao longe, acho que ele nem nos viu. Senão fosse o Malfoy, diria que ele parecia envergonhado.

– O Malfoy?! Envergonhado?! – Ginny perguntou, sarcástica. – Só se foi por ter sido estúpido e ter sido apanhado.

– Mas como é que os pais o abandonaram? – Hermione insistiu nesse ponto, pois para ela não fazia sentido. – Eles fugiram juntos. E mesmo tratando-se dos Malfoy, não podemos negar que eram uma família. Como é que deixaram o Draco ser preso sozinho?

Harry e Ron assentiram com a cabeça, ficaram calados por um instante e pensaram. Realmente a amiga tinha a sua razão. Onde estariam os Malfoy, para deixarem o filho ser preso sozinho?

– Provavelmente devem ter fugido quando viram tantos aurores, – Ron disse finalmente – é mais fácil manterem-se escondidos e planearem um modo de libertar o filho, do que serem todos presos.

– Sim, - concordou Harry – temos de admitir que os Malfoy como bons slytherin que são, não são conhecidos pela sua coragem.

Hermione calou-se mas não ficou muito satisfeita com aquela explicação. Algo não batia certo naquele raciocínio.

Os seus pensamentos foram interrompidos por Ginny, que perguntava agora pelos outros slytherin que normalmente acompanhavam Draco Malfoy em Hogwarts. Foi Harry quem lhe respondeu.

– Bem, o Crabbe morreu ainda Hogwarts, como sabes. Goyle fugiu com a família e ainda não se sabe nada deles, pensa-se que já saíram do país há algum tempo. Os pais de Zabini morreram em Itália, quando os aurores italianos os tentaram capturar, mas o Blaise desapareceu. Pansy Parkinson encontra-se em Paris com a família, apesar de tudo não havia provas contra eles, por isso não podem ser presos.

– Basicamente o grupinho do Malfoy desapareceu por completo, pareciam ratazanas a abandonar o navio antes de se afundar. – completou Ron, rindo com gosto.

Conversaram sobre o assunto até ao jantar. Hermione já não suportava o tema quando começaram a comer. Mas teve de ouvir tudo novamente, pois os outros membros da família ainda não sabiam e agora faziam perguntas atrás de perguntas, a que Ron e Harry respondiam com agrado. Quando percebeu, já era demasiado tarde para ela comunicar a todos que ia partir dentro de um dia ou dois. Teria de esperar pela manhã do dia seguinte.

Assim, que acordou, Hermione dirigiu-se à cozinha dos Weasley. Nesse momento apenas Molly se encontrava ali, a jovem rapariga sorriu-lhe e começou a ajudá-la. Enquanto colocava as coisas na mesa, os outros membros foram chegando. Primeiro Ginny, logo seguida pelo pai. Depois, Charlie e os gémeos, que riam de alguma piada. E por último, Harry e Ron, como sempre os mais atrasados. Mas finalmente estavam todos juntos à mesa, e enquanto Molly trazia café e leite quente, Hermione forçou um pigarro e chamou a atenção de todos.

– Não sei como agradecer terem-me acolhido durante este tempo, a Toca sempre foi uma segunda casa e neste momento foi muito mais. Foi família, amizade, carinho. – Ela ia dizendo, e quando viu que Molly e Arthur iriam interrompê-la, apressou-se a continuar – Nunca esquecerei isso. Mas amanhã mesmo vou partir para a Austrália. Preciso encontrar os meus pais e recuperar a minha família.

Ron ficou assustado, engasgou-se e disse-lhe imediatamente que não iria permitir que ela fosse sozinha. Que havia outras maneiras.

Hermione levantou-se e disse apenas que estava decidido. Referiu que não obtendo resposta aos seus requerimentos, tinha falado com Kingsley e que este não a podia ajudar imediatamente, e como tal ela não queria esperar. Ela própria teria de, sozinha, resolver a situação. Aí começou a confusão, todos queriam falar e dar a sua opinião.

No fim, o patriarca da família exprimiu o seu parecer e todos concordaram com ele:

– Hermione, querida, compreendemos a tua decisão e apoiamos-te em tudo. Mas não podes partir assim, sozinha. Espera uns dias, planeia a viagem, que nós ajudar-te-emos em tudo.

O sol entrava pela janela, indício que seria um bom dia. Hermione observou as colinas verdes que rodeavam a Toca, e ponderou as palavras de Arthur Weasley. De facto, ela sempre fora adepta de planos. Ela própria insistia com Harry e Ron, durante a guerra, para se prepararem o melhor possível antes de entrarem em acção. Estudar um plano, preparar-se e depois executá-lo, apenas quando tudo estivesse bem assimilado, era meio caminho andado para tudo dar certo. Era assim que ela pensava. Agora não podia agir de modo diferente. Por isso aceitou ficar, e preparar a sua viagem antes.

Essa sua decisão trouxe outros desenvolvimentos. Ron pareceu levar um choque de realidade, e naquele dia, chegou a casa depois de almoço e pediu para Hermione ir caminhar com ele. Começou por lhe dizer que não deixaria que ela fosse sozinha para um país estranho, mas como não a podia demover da ideia de partir, a única coisa que podia fazer era ir com ela. A jovem feiticeira ia interrompê-lo e dizer-lhe que não era necessário, mas ele impediu-a. Continuou a falar da amizade que tinham há tantos anos, e quando Hermione revirou os olhos imaginando o que viria a seguir, Ron surpreendeu-a:

– Hermione, sei que deves pensar em mim apenas como um amigo, afinal não sou ninguém ao lado de Harry Potter ou de Viktor Krum, mas mesmo que não sintas o mesmo, eu preciso confessar-te uma coisa. Ao longo destes anos, fui-me apaixonando por ti. Não reconheci imediatamente o sentimento, mas agora tenho a certeza. Eu gosto de ti! Preciso saber o que tu pensas, o que sentes. – Olhou cabisbaixo para a rapariga à espera de uma resposta.

– Mas porque não me disseste antes? Porque me ignoraste depois de nos beijarmos? – Hermione perguntou antes de falar sobre os seus sentimentos.

– Ora, eu não sabia o que pensar. Tu nunca mostravas o que sentias, e... e... eras demasiado para mim. Eras demasiado inteligente, demasiado bonita. Parecia que eu não era suficiente. – Disse triste, e continuou – Quanto ao beijo, por Merlin, foi o melhor que dei em toda a minha vida! Mas não fui o único que ignorou a situação, tu também não disseste mais nada. Por isso pensei que tinha sido um erro, uma coisa do momento, por estarmos em perigo de vida.

– Ron, eu nunca fui demasiado. Aliás, nenhum rapaz se mostrou interessado em mim para além de Krum. Sempre me senti rejeitada. A minha auto-estima nunca foi grande coisa, e se eu aceitei sair com Krum foi porque tu nunca me viste para além de uma amiga que te ajudava nos deveres da escola. Foi de ti que sempre gostei! Tive de suportar o teu namoro com a Lavander Brown, e tudo… E depois beijámo-nos e tu nunca mais falaste sobre isso. Eu pensei que tu tinhas achado o nosso beijo um erro! – Hermione frisou bem o eu e o tu.

– Tu sempre gostaste de mim?! – Ron tinha parado de a ouvir nessas palavras.

– Sim, idiota! E tu sempre me ignoraste… - Hermione ia continuar a refilar com Ron, mas foi interrompida por um beijo do rapaz.

Agora não era um erro. Agora não estavam numa situação de vida ou de morte. Agora era a sério. Um beijo verdadeiro que demonstrava os sentimentos que ambos escondiam há tanto tempo. Não era um beijo sôfrego como o primeiro, era calmo e ritmado. Quando se separaram, ambos sorriam. Tinham esperado muito tempo por aquele beijo.

Depois de uns minutos em silêncio, olhando-se nos olhos, Ron falou:

– Hermione Jean Granger aceitas namorar comigo?

A rapariga só não estava mais feliz, porque os seus pais ainda estavam longe, mas entre tudo o que tinha acontecido e depois de tanto sofrimento, finalmente ela sorria verdadeiramente.

– Sim, é claro que sim, Ronald Bilius Weasley! – disse por fim.

Nesse dia a Toca celebrou. Já todos sabiam dos sentimentos que ambos nutriam e esperavam ansiosos pelo dia em que os dois iriam assumir.

Foram dias alegres que antecederam a sua viagem. Ron tinha deixado temporariamente o seu trabalho no Ministério para ajudar Hermione com o seu plano. Estavam mais unidos que nunca, e pela primeira vez desde que a guerra terminara, Hermione não se sentia tão sozinha. Estava feliz com o seu namoro, e com a ideia de em breve se reunir com os seus pais.

Flashback Off

Hermione despertou daquelas memórias. Já sabia o que se seguiria. Iria relembrar toda a sua estadia na Austrália, e não valia a pena. Era incrível como as suas lembranças vagueavam. Tinha recordado todo aquele mês de Maio apenas por ter pensado na prisão do Malfoy. Todo o sofrimento, todas as tristezas que tiveram de ser superadas, tinham voltado.

Mas o facto de estar na cabine dos slytherin, trazia-lhe mais memórias. Lembrou-se do dia em que Harry e Ron lhe contaram sobre o julgamento de Draco Malfoy. Ela ainda estava na Austrália, era meados de Julho. Os amigos disseram-lhe que o Malfoy estava irreconhecível, muito magro, com um ar totalmente desmazelado. Não se arranjara sequer para o julgamento. E sobretudo a sua atitude mudara, estava cabisbaixo, sem a pose altiva de puro-sangue. Disseram que se mostrara mesmo arrependido, apesar de não ter dito uma palavra durante todo o julgamento. Recusara-se a responder a qualquer pergunta e não se defendera, uma vez que tinha abdicado do direito de ter um defensor. No fim aceitou a pena que lhe fora aplicada de bom grado e foi levado para Azkaban.

Mesmo depois de ter regressado, e de ter lido sobre o assunto, ainda hoje e ainda mais por se encontrar ali, Hermione mal acreditava naquela atitude de Malfoy. Era contrária a tudo o que ela conhecia do rapaz. Ela ainda achava que alguma coisa estava errada naquela estória toda. Sobretudo, era estranho ele ter sido preso e condenado sozinho, e até agora não haver sinais dos seus pais. Algo tinha acontecido, disso tinha certeza.

Harry e Ron insistiam que Narcissa e Lucius Malfoy tinham fugido, e estariam algures a planear a fuga de Draco, da prisão de Azkaban. Ron ficava furioso por não terem conseguido apanhá-los. Quando Hermione regressara, numa das poucas vezes que estiveram juntos, tinham discutido por causa disso. Ron insistia que tinha sido Lucius que tinha assassinado os seus pais, Hermione tinha reticências. Não havia provas, e sobretudo não tinha muita lógica. Se tivesse sido ele, ela iria precisar de provas consistentes. Apesar de querer que o culpado fosse apanhado e condenado, ela não era injusta e não queria acusar ninguém sem provas.

Enquanto se lembrava destes pormenores, e tentava perceber porque tinha tantas discussões infantis com Ron, seu namorado, um barulho fê-la voltar à realidade. Alguém tentava abrir a porta.

De repente, a porta escancarou-se e ao mesmo tempo Hermione ficou de boca aberta, estupefacta.


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Notas finais do capítulo

Eu uso os termos ingleses, penso que todos conhecem mas aqui fica:
Slytherin: Sonserina; Gryffindor: Grifinória; Ravenclaw: Corvinal; Hufflepuff: Lufa-Lufa
Em Portugal, Comensal da Morte é Devorador da Morte; Sala Precisa é Sala das Necessidades. :)
Bom, acho que dá pra perceber, caso contrário me avisem. :)

Falei de muitas personagens para que comecem a perceber quem morreu e quem sobreviveu, ficou confuso?

Vou tentar voltar mais rápido, prometo! O próximo capítulo terá surpresas... xD

Bjs
Dani