Olá caro leitor. Ou devo chamá-la de leitora? Está pronto para uma aventura? Daquelas que tiram seu folego e marejam seus olhos. Mistério, ação e dor, mais dor do que eu gostaria de admitir.

Mas, onde foram parar meus modos? Desculpe, nunca fui muito bom com as palavras quando não usadas para discutir ou fazer escárnio. Não é do meu feitio começar as coisas pela metade.

Bom, você tem em mãos a história íntima de uma das pessoas mais incríveis, mais faladas, poderosas e humildemente modestas dessa geração, eu.

Mas, você deve estar se perguntando: Quem sou eu? Considero essa pergunta um tanto quanto vaga, por isso, nada melhor do que uma resposta igualmente vazia: Seth. Chamo-me Seth.

A partir daí surgiria uma nova dúvida: De que Seth estamos falando? Nesse caso eu responderia: Seth, aquele Seth. “Qual Seth?” Aquele! “Aquele qual?!” Aquele! Você sabe quem é, eu sei que sabe. “O prisioneiro?” Isso! Isso mesmo. O prisioneiro. O vagabundo. O ladrão, mentiroso, covarde e tantos outros mais adjetivos que lhe venham à cabeça!

Ao dizer isso, sentiria um toque de decepção em sua voz: “Que pena, achei que falávamos do Seth, o salvador, o prodígio, o cavaleiro arcano. Aquele que guerreiro incrível que domava tudo e todos ao seu redor. Aquele mago astuto. Aquele mestre da adaga”.

Mas, espere! Quer ouvir um segredo? E se eu dissesse que aqueles dois Seths eram o mesmo Seth? “Impossível, aquele Seth que venceu setenta bandidos com apenas uma mão não poderia estar na cadeia.” Setenta? Mas ouvi por ai que eram sessenta e com os olhos vendados.

Agora entende o problema que temos aqui? As histórias por si só variam de formas inimagináveis. O mesmo conto tem tantas versões que é difícil saber o que é certo ou não.

Primeiramente, tudo sobre mim eram flores e superação. Lutava com ladrões, espíritos, bruxas, monstros e mais, muito mais.

Depois do que aconteceu, passei a ser motivo de chacota, um vilão feito para assustar crianças que não queria ir para a cama.

Sem saber o que pensar de mim, as histórias se multiplicaram pela boca do povo até o ponto em que ninguém soubesse quantos Seths existem, muito menos o que cada um fez de verdade.

A verdade é que a linha entre a imaginação e os contos populares é muito tênue para você dar ouvidos à outros senão eu.

Mas, chega de falar sozinho, ou melhor, escrever sozinho, não é uma coisa sensata a se fazer, prejudica o pensamento. Talvez seja culpa da cadeia, ando passando muito tempo sozinho. Pensando bem, não. Nunca fui uma pessoa sensata, um pouco menos louco talvez, mas de forma alguma sensato.

Espere! Estou perdendo o foco de novo. Vamos ao que interessa. Tem um motivo para este livro estar contigo, não foi coincidência você achá-lo em um canto da rua ou em uma viela vazia. Tudo nos planos de nosso belo artífice, destino.

Bom, se alguém está lendo isso, significa que meus esforços não foram em vão e a hora de nosso reino ruir não chegou, ainda. Preste atenção jovem, tens em suas mãos a chave da sobrevivência desse lugar imundo que chamamos de lar.

É de vital importância que você leia a minha história, mesmo que não acredite ou tenha raiva de mim, muita gente tem. Não gosto de admitir, mas preciso de sua ajuda. Não você em especial, alguém, qualquer um, se o livro o escolheu não vou me opor.

Além do mais, agora que você entrou em contato com a magia aqui presente, logo, as pessoas erradas podem vir a encontrá-lo, tente não se assustar.

Primeiramente, gostaria de esclarecer alguns pontos: Essa de forma alguma é uma historinha de ninar, na vida real as coisas não costumam dar sempre certo.

Também não vou mentir. Já menti demais em todos esses anos para precisar repetir o feito nesse livro. Tudo isso, toda essa lenda, começou por uma busca implacável e insaciável por vingança. Não me culpe, o sentimento sempre levou os homens à loucuras, coisas incríveis decerto, mas loucuras.

Então gostaria de fazer-lhe uma proposta. Leia minha narrativa com atenção e depois, se você dá valor ao nosso reino, me ajude.

Ou vá, esconda-se embaixo dos lençóis! Mas, pense nisso: Se as coisas continuarem assim, todos vão morrer no final. A diferença está em como você quer morrer, como um covarde ou como um herói.

Tendo tudo definido, estamos prontos para partir. Em direção à uma terra de traição, luxuria e morte. Claro, existem algumas alegrias e amizades, mas esses são luxos para poucos. Rezo pelo sucesso dessa história, você deveria rezar também. Vamos partir para o mundo real.