Ron não conseguia dormir com a ideia de que Harry sabia de algo que ele não sabia. Principalmente, quando o que ele tanto procurava tinha alguma coisa a ver com Hermione, com Malfoy, ou qualquer outra coisa importante que ele vinha sendo excluído ultimamente. E para completar, Gina também começou a agir estranho. Na verdade, ainda mais estranho. Sua irmã se recusava a falar com ele depois do incidente com Lilá Brown. Mas de qualquer forma, ela nem se dava mais ao trabalho de lançar um olhar gélido e repreensor, como de praxe. Algo estava acontecendo.

–- Ron.

Ele se virou. Era Gina.

–- Ah, resolveu lembrar que tem um irmão? – Ron disse, sarcasticamente.

A garota bufou, e jogou o cabelo para o lado.

–- Um não. Seis. Mas é bom você parar de gracinha e me ouvir, antes que eu mude de ideia e resolva continuar deixando você de fora.

Ron aquiesceu-se.

–- Me deixar de fora do que?

–- Eu sei que você percebeu que tem alguma coisa rolando. E acho melhor eu te contar antes que você resolva investigar sozinho, e acabe estragando tudo.

O ruivo abriu a boca para protestar, mas ela o calou, fitando-o, irritada.

–- Além disso, acho que você pode nos ajudar. A coisa toda é que eu e Harry suspeitamos que Hermione e o Malfoy estão... como dizer... erm... ficando.

–- Você e Harry estão trabalhando juntos? – perguntou, escandalizado.

–- Não. – Gina corou. – Mas eu sou a melhor amiga da Mione. Ela me conta as coisas, e eu posso garantir que é extremamente suspeito a opinião dela sobre o Malfoy ter mudado drasticamente em questão de semanas.

–- Certo... – Ron concordou com a cabeça, mas não estava totalmente convencido. – O que ela fala sobre o Malfoy?

Gina suspirou.

–- No começo, ela negava. Mas eu sabia que havia alguma coisa entre esses dois. Foi então que eles fizeram uma aposta. O primeiro que assumisse os sentimentos, e se rendesse, teria que fazer o que o outro manda. Mas é óbvio que o Malfoy ia trapacear. Foi ai que eu sugeri que ela “trapaceasse” também. E então ela foi falando mais dele, e mudando suas atitudes... até que hoje foi a gota d’água.

–- O que aconteceu? – ele perguntou.

–- Indo pro corujal, flagramos o Malfoy pegando outra menina. Astoria Greengrass.

–- Greengrass? É parente da Daphne?

–- É, irmã dela.

Ron assobiou.

–- Enfim. Depois de vermos isso, ela sumiu. Saiu correndo, totalmente descontrolada. Eu a procurei pelo castelo todo, e ela apareceu muito depois, na Sala Comunal. Mas antes que me explicasse qualquer coisa, já saiu toda apressada de novo, dizendo que não tinha tempo pra explicar. Quando voltou, ela me disse que eles estavam juntos, e assumiram os sentimentos um pro outro. Hum... Aí tem, Ron, aí tem...

–- O QUÊ?! JUNTOS? HERMIONE ENLOUQUECEU? É O MALFOY! COMO É QUE É?!

–- Shhhhh! Cala essa boca! Quer acordar todo mundo, seu idiota?

–- NÃO, NÃO CALO! FODAM-SE TODOS, EU NÃO ME IMPORTO. NÃO CONSIGO ACREDITAR NISSO!! GINA, ELES ESTÃO JUNTOS! J-U-N-T-O-S!! JUNTOS!

–- Grita mais alto, acho que ainda não te ouviram em Beauxbatons... – Gina resmungou.

Ron afundou o rosto no assento da poltrona, e gritou, frustrado. Felizmente, sua voz saiu abafada. Quando levantou o rosto novamente, seus olhos estavam úmidos.

–- Gin... E-eu... Não consigo acreditar. Simplesmente não dá.

–- Ah, qual é! Você está chorando?

Ele passou o punho pelos olhos rapidamente, corando.

–- Óbvio que não.

A garota arqueou as sobrancelhas.

–- Tá... Eu estou. Pode zoar da minha cara, mas eu não me importo. Não consigo aceitar que perdi minha Hermione, a garota mais incrível de todas para... para o Malfoy... Está tudo tão errado! Perdi a garota que eu amo por nada! Ela me escapou como areia nos dedos, Gina!

–- Pois acho muito bem feito!

–- Nossa, que grande irmã você é! – Ron protestou, fungando.

–- Não é essa a questão. Se você não tivesse sido um completo filho da puta com a Mione, eu não diria isso. Você fez por merecer.

–- Eu fiz por merecer? Você acha que eu mereço isso?

–- Acho! Acho sim senhor, e não banque o ridículo. Você beijou a Brown enquanto estava com ela. Você a traiu!

–- Foi um momento de fraqueza!

–- Momento? Faz-me rir, Ronald! Você fez isso porque é fraco. Pensa só com a cabeça de baixo, não mede as consequências dos seus atos!

–- Eu não sou fraco! – Ron esbravejou. – E você fala como se o Malfoy fosse melhor que eu! Ele é muito pior!

–- Acontece que o que ele faz já é de se esperar. Porque ele é escroto com todas as garotas, um mulherengo de primeira. Mas você, garoto, você é trouxa! Nunca foi macho o suficiente para chegar em nenhuma garota, tanto que quando você pediu pra namorar a Mione, foi uma surpresa pra todo mundo. Ninguém achava que você conseguisse trocar mais de duas palavras com uma menina sem vomitar em cima dela.

As orelhas de Ron estavam escarlates.

–- E por isso – Gina continuou. – o que você fez foi mil vezes pior do que qualquer outra coisa que o Malfoy um dia pudesse fazer. Porque você a deixou confiar plenamente em você pra destruir os sentimentos dela como se não valessem merda nenhuma. Deixou que ela lhe escapasse por uma vadiazinha qualquer!

–- CHEGA! Chega disso, ok? Eu sei que errei! Não precisa esfregar na minha cara. Me arrependo do que fiz, e se pudesse voltar no tempo, nunca teria beijado a Lilá.

–- Acontece, Ronald, que arrependimento não vai consertar a merda que você fez. E o que está feito, está feito.

Ron abaixou a cabeça, desolado. Quando levantou-a, se deparou com Harry olhando a cena, atônito.

–- Eu estou atrapalhando? – ele perguntou, sem jeito.

Gina bufou.

–- Não Harry. Não está. – ela disse, e passou pelo moreno como um furacão, em direção ao dormitório feminino.

Harry arqueou uma das sobrancelhas, como se esperasse alguma explicação de Ron.

–- Por que você não me contou o que tinha descoberto? – o ruivo perguntou, apoiando-se na poltrona, com a expressão carregada de ressentimento.

Harry suspirou.

–- Eu ia contar, de verdade...

–- Ah, ia sim... Porra, Harry, chega de mentiras! Eu sei que você não ia me contar porque eu ia surtar exatamente como eu fiz agora, com a Gina.

–- Eu só não queria precipitar as coisas, e te deixar paranoico por uma coisa que eu nem tinha certeza ainda.

–- Tá, tanto faz agora... Eles estão juntos mesmo...

Harry arregalou os olhos, e se ajoelhou ao lado de Ron.

–- O que você disse?

–- Que eles estão juntos. Namorando. Gina disse.

–- NÃO! Não, não, não pode ser.

–- Infelizmente pode, Harry. É melhor eu me conformar.

–- Não, Ron. Ainda não. – Harry disse. – Você não entende o quão perigoso isso pode ser? Eu não estou mais investigando a relação entre ele e a Hermione. Agora eu preciso ter certeza com o que estamos lidando. Ele é um Comensal.

–- Eu sei! Como você acha que eu me sinto com o fato de ter sido trocado pelo inimigo, em todos os sentidos?

–- Sei disso. Porque eu não sei como a Hermione teve coragem de fazer isso comigo, com a gente... Eu quero sua ajuda também... Eu, você, Pansy, e talvez Gina também, se ela quiser... – Harry corou levemente, mas Ron não percebeu.

–- Peraí. Pansy? Você vai pedir a ajuda dela também?

–- Ela que vem me ajudado com isso por enquanto, desde que se intrometeu naquele dia. E ela tem toda uma coisa com o Malfoy, então não é justo deixá-la de fora.

Ron arqueou as sobrancelhas.

–- Você vai provocar a próxima guerra bruxa, isso sim! Pansy e Gina no mesmo espaço? Está maluco?

–- Sei lá, é por uma boa causa. Além disso, o que mais te animaria além de acabar com essa maluquice?

–- Um belo lanche da noite, por enquanto... – Ron disse, e Harry riu. – Vamos lá na cozinha? Acho que Winkie tem as sobras do jantar.

–- Só se for agora. Preciso comer para espairecer. Tomei uma detenção.

Ron riu, pela primeira vez naquela noite.

–- Detenção? Por que?

–- McGonagall viu Malfoy e eu duelando no corredor.

–- Que merda... Olha aí mais um motivo pra eu te ajudar. Quando eu pegar esse cara, vou fazer ele se arrepender por tudo o que já fez pra mim, pra você, e principalmente pra Hermione.

Harry deu um tapinha nas costas de Ron.

–- O mesmo vale para você, cara... Agora vamos comer, pelo amor de Merlin!

–- Está com o Mapa?

Harry tirou o pergaminho do bolso.

–- Claro! Ainda mais agora... Juro solenemente não fazer nada de bom. – ele disse, e os corredores de Hogwarts, junto com os nomes dos que perambulavam por eles, começavam a aparecer. Ele sorriu para si mesmo. – Vamos.

Ron entrou debaixo da Capa da Invisibilidade, e os dois seguiram rumo à cozinha.